domingo, 31 de maio de 2009

Conto Brasileiro: Gaetaninho (Alcântara Machado)


"- Xi, Gaetaninho, como é bom!


Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford. O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.


- Eh! Gaetaninho Vem pra dentro.

Grito materno sim : até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.


- Subito!



Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.


Eta salame de mestre!

Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.


O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como? Atrás da Tia Peronetta que se mudava para o Araçá. Assim também não era vantagem.


Mas se era o único meio? Paciência.

Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.


Que beleza , rapaz! Na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a Tia Filomena para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério noivo dela de lenço nos olhos. Depois ele. Na boléia do carro. Ao lado do cocheiro. Com a roupa marinheira e o gorro branco onde se lia: ENCOURAÇADO SÃO PAULO.


Não. Ficava mais bonito de roupa marinheira mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas pretas segurando as meias. Que beleza, rapaz! Dentro do carro o pai, os dois irmãos mais velhos (um de gravata vermelha, outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone. Muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas dos palacetes, vendo o enterro. Sobretudo admirando o Gaetaninho.


Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito. Queira ir carregando o chicote. O desgraçado do cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só.


Gaetaninho ia berrar mas a Tia Filomena com mania de cantar o "Ahi, Mari!" todas as manhãs o acordou.


Primeiro ficou desapontado. Depois quase chorou de ódio. Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho. Tão forte que ele sentiu remorsos. E para sossego da família alarmada com o agouro tratou logo de substituir a tia por outra pessoa numa nova versão de seu sonho. Matutou, matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, seu Rubino, que uma vez lhe deu um cocre danado de doído.



Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade quinhentão no elefante. Deu a vaca. E eles ficaram loucos de raiva por não haverem logo adivinhado que não podia deixar de dar a vaca mesmo.


O jogo na calçada parecia de vida ou morte. Muito embora Gaetaninho não estava ligando.


- Você conhecia o pai do Afonso, Beppino?

- Meu pai deu uma vez na cara dele.

- Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!

O Vicente protestou indignado:

- Assim não jogo mais ! O Gaetaninho está atraplhando!

Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades.


O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou pronto para a defesa.


- Passa pro Beppino!



Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o guardião sardento e foi parar no meio da rua.


- Vá dar tiro no inferno!

- Cala a boca, palestrino!

- Traga a bola!


Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e matou.


No bonde vinha o pai de Gaetaninho.


Agurizada assustada espalhou a notícia na noite.


- Sabe o Gaetaninho?

- Que é que tem?

- Amassou o bonde!


A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.


Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho não ia na boléia de nenhum dos carros do acompanhamento. Lá no da frente dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas, mas não levava a palhetinha.


Quem na boléia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino."

*do livro Brás, Bexiga e Barra Funda

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O AUTOR:

ANTÔNIO CASTILHO DE ALCÂNTARA MACHADO D'OLIVEIRA nasceu em São Paulo em 25 de maio de 1901. De família ilustre, o pai fora escritor e professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Forma-se em direito no ano de 1924, mas não exerce a profissão, pois se dedica ao jornalismo, chegando a ocupar o cargo de redator-chefe do Jornal do Comércio.

No ano de 1925 realiza sua segunda viagem à Europa, onde já estivera quando criança. De lá traz crônicas e reportagens que originaram seu livro de estréia, Pathé-Baby (1926), prefaciado por Oswald de Andrade.
Em 1922 não participa da Semana de Arte Moderna, mas, no ano de 1926, junto com A.C. Couto de Barros, funda a revista Terra Roxa e Outras Terras. Em 1928 publica a obra "Brás, Bexiga e Barra Funda". Na primeira edição dessa obra o prefácio é substituído prefácio por um texto intitulado "Artigo de fundo", disposto em colunas, como as de uma página de jornal, onde afirmava:

"Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo".

Essa introdução revela uma característica fundamental de sua obra: a narrativa curta, muito semelhante à linguagem jornalística. Nessa obra Alcântara Machado revela a sua preocupação em descrever os habitantes e os costumes das pessoas que habitam os bairros humildes da capital paulistana. Assim, fez surgir um novo tipo de personagem na literatura brasileira: o ítalo-brasileiro.

Em 1928 une-se a Oswald de Andrade para fundar a Revista de Antropofagia. Alcântara Machado, juntamente com Raul Bopp, foi o diretor dessa revista no período de maio de 1928 a fevereiro de 1929. Ainda em 1929 lança a obra "Laranja da China".

Em 1931 dirige a Revista Hora, junto com Mário de Andrade. Ingressando na política, muda-se para o Rio de Janeiro, onde exerce também a crítica literária. Candidata-se ao cargo de deputado federal. Eleito, não chega a ser empossado, pois falece em conseqüência de complicações de uma cirurgia de apêndice, no Rio de Janeiro, em 14 de abril 1935. (biografia do Mundo Cultural)

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SAIBA MAIS SOBRE O AUTOR E SUA OBRA:

Alcântara Machado: A vozdos Ítalo-Paulistas (Aline Soler Parra - Unicamp)
O artigo contém dados sobre a biografia do autor, seu contexto de produção e a análise do conto "Gaetaninho".

Download do livro BRÁS, BEXIGA E BARRA FUNDA

sábado, 30 de maio de 2009

Contos do Mundo: A Morte (Thomas Mann)


País de Origem: Alemanha
Autor: Thomas Mann
Tradução: Ana Carolina da Costa e Fonseca



10 de setembro

......Agora o outono está aí, e o verão não voltará; jamais o verei novamente...
......O mar está cinzento e calmo, e cai uma chuva fina, triste. ......Quando eu a vi hoje pela manhã, dei adeus ao verão e saudei o outono, meu quadragésimo outono, que agora realmente se aproxima, inexoravelmente. E inexoravelmente ele trará aquele dia cuja data às vezes digo baixo para mim mesmo com um sentimento de devoção e de espantosa tranqüilidade...


12 de setembro

......Passeei um pouco com a pequena Assunção. Ela é uma boa companhia, que fica calada, e apenas às vezes ergue para mim seus os olhos grandes e carinhosos.
......Fomos pela beira da praia até Kronshafen, e voltamos oportunamente antes de encontrarmos mais do que uma ou duas pessoas.
......Enquanto caminhávamos, alegrei-me com a visão da minha casa. Como a escolhi bem! Simples e cinza, vista desde a colina, cuja grama ora murcha e úmida e cujo caminho ora encharcado estão para além do mar cinzento. Atrás passa a estrada, e atrás dela ficam os campos. Mas eu não reparo nisso; eu reparo apenas no mar.


15 de setembro

......Esta solitária casa sobre a colina em frente ao mar sob o céu cinza é como uma lenda lúgubre, misteriosa; e assim eu a quero em meu último outono. Hoje à tarde, quando eu olhava pela janela do meu escritório, havia uma carroça que trazia mantimentos, o velho Franz ajudava a descarregar, e havia barulho e diversas vozes. Eu não posso dizer como isso me incomodou. Estremeci diante da minha própria reprovação: ordenei que semelhante coisa apenas de manhã cedo devesse acontecer, quando eu dormisse. O velho Franz disse apenas: “Às ordens, senhor Conde.” Mas seus olhos estavam tomados de medo e de dúvida.
......Como ele poderia me entender? Ele nada sabe. Eu não quero que alterem a trivialidade e o aborrecimento nos meus últimos dias. Antes, eu temo que a morte possa ter algo de burguês e de ordinário em si. Ela deve ser para mim há muito algo estranho e peculiar no grande, sério, enigmático dia – em doze de outubro...


18 de setembro

......Durante os últimos dias, eu não passeie, mas fiquei a maior parte do tempo na chaise-longue. Eu tampouco podia ler muito, porque meus nervos me atormentavam. Eu simplesmente fiquei taciturno e olhei para a chuva incansável, vagarosa.
......Assunção veio seguidamente, e uma vez me trouxe flores, algumas magras e úmidas plantas que ela encontrou na praia; quando beijei a criança para agradecer, ela chorou, porque eu estava “doente”. De quão doloroso e inefável modo tocou-me seu meigo e triste afeto!


21 de setembro

......Eu olhei por muito tempo pela janela do meu escritório, e Assunção estava sentada sobre meus joelhos. Nós olhamos o cinza e distante mar, e atrás de nós no grande aposento, com porta alta, branca e com rígidos móveis, reinava o profundo silêncio. E enquanto eu afagava lentamente o macio cabelo da criança, que preto e singelo caia sobre seus frágeis ombros, eu pensava em minha vida caótica, confusa; pensei em minha juventude, que foi tranqüila e protegida, em minhas andanças pelo mundo, e nos períodos breves, luminosos de minha felicidade.
......Tu te lembras da encantadora e ardente afetuosidade da criatura sob o aveludado céu de Lisboa? Foi há doze anos que ela lhe deu a criança e morreu tendo ainda o braço em torno do seu pescocinho.
......Ela tem os olhos escuros da mãe, a pequena Assunção; eles são apenas mais cansados e mais pensativos. Acima de tudo, ela tem sua boca, esta maciez infinita e, no entanto, um pouco amarga, que é mais bonita quando silencia e apenas de modo totalmente vago sorri.
......Minha pequena Assunção! Se tu soubesses que eu tenho de te abandonar. Choraste por que estava eu “doente”? Ah, o que se pode fazer! O que se pode fazer com o doze de outubro!...


23 de setembro

......Dias, em que eu posso novamente pensar e me perder em lembranças, são raros. Há quantos anos eu era capaz apenas de pensar no futuro, apenas para esperar por esse grande e estremecedor dia, pelo doze de outubro de meus quarenta anos de vida!
......Como será, apenas como será! Eu não temo, mas me parece que ele se aproxima devagar e angustiante, este doze de outubro.


27 de setembro

......O velho doutor Gudehus veio de Kronshafen, ele veio de carroça pelo caminho da estrada e almoçou com Assunção e comigo.
......“É necessário”, ele disse e comeu meia galinha, “que o senhor se movimente, Senhor Conde, muito movimento ao ar livre. Não leia! Não pense! Não medite! Eu o tomo realmente por um filósofo, he, he!”
......Eu lhe dei os ombros e agradeci gentilmente seu esforço. Também para a pequena Assunção havia conselhos, e ele contemplou-a com seu sorriso forçado e constrangido. Ele teve de aumentar minha dose de bromo; talvez para que eu agora possa dormir um pouco mais.


30 de setembro

......O último setembro! Agora não falta muito. São três horas da tarde, e eu calculei quantos minutos ainda faltam para o começo do doze de outubro. São 8460.
......Eu não consegui dormir à noite, pois o vento soprava e o mar e a chuva ressoavam. Eu fiquei deitado e deixei o tempo passar. Pensar e meditar? Ah, não! Doutor Gudehus me toma por um filósofo, mas minha cabeça está muito fraca, e eu posso apenas pensar: a morte, a morte!


2 de outubro

......Estou profundamente comovido, e em minha emoção mistura-se um sentimento de triunfo. Às vezes, eu pensava sobre isso e alguém me olhava com medo e desconfiança, eu notei que alguns me tomavam por demente, então eu mesmo me examinei com desconfiança. Ah, não! Eu não estou demente.
......Hoje eu li a história daquele imperador Friedrich, que alguém profetizou: morrerá “sub flore”. Ele evitava as cidades de Florença e Florentium, mas outrora mesmo assim ele foi a Florentium: e ele morreu. – Por que ele morreu?
......Uma profecia é em si não importante; interessa se ela exerce poder sobre outrem. Mas se o consegue, já está provada e será uma realização. – Como? E é uma profecia que em mim mesmo se abre e se fortalece não valiosa como algo que vem de fora? E é o inabalável conhecimento do momento em que se morrerá mais duvidoso do que o do lugar?
......Oh, há uma permanente aliança entre o ser humano e a morte! Tu podes aspirar em sua esfera com teu desejo e com tua convicção, tu podes puxá-la para ti, que ela caminhará para ti, para a hora em que tu pensas...


3 de outubro

......Freqüentemente, quando meus pensamentos emanam de mim como um corpo d’água cinza, que de mim resplandecem imensamente, porque eles estão velados pela névoa, eu vejo algo como o nexo das coisas e penso conhecer a futilidade dos conceitos.
......O que é suicídio? A morte voluntária? Mas ninguém morre involuntariamente. O renunciar à vida e a dedicação à morte decorrem indistintamente de uma fraqueza, e esta fraqueza é o constante efeito de uma doença ou do corpo ou da alma, ou de ambos. Não se morre antes de se estar de acordo com a morte...
......Estou de acordo? Devo estar perfeitamente de acordo, pois penso que poderia ficar demente se eu não morresse em doze de outubro...


5 de outubro

......Eu penso constantemente sobre isso e isso me ocupa totalmente. – Eu reflito sobre isso, quando e de onde vem meu conhecimento, eu não estou em condições de dizer! Eu sabia com dezenove ou vinte anos que eu deveria morrer com quarenta anos, e um dia, como eu insistentemente me perguntava em que dia isso aconteceria, então eu soube também o dia!
......E agora isso ele se aproxima e está tão perto, tão perto, que eu penso sentir o frio hálito da morte.


7 de outubro

......O vento se intensificou, o mar troava e a chuva batia no telhado. Eu não dormi à noite, fui lá para baixo, na praia, com minha capa de chuva e sentei-me sobre uma pedra.
......Atrás de mim estava, na escuridão e na chuva, a colina com a casa cinza, na qual a pequena Assunção dormia, minha pequena Assunção! E diante de mim, o mar rolava sua turva espuma até meus pés.
......Durante toda noite eu olhei para fora e pensei: assim deve ser a morte ou o após a morte: lá, além e longe, um certo mistério infinito e sombrio troava. Sobreviverá e dará frutos um pensamento, uma intuição, algo de mim que será eternamente ouvido a partir do rugido incompreensível?


8 de outubro

......Eu quero agradecer à morte, pois ela virá em breve me atender, como se eu ainda pudesse esperar. Ainda três curtos dias de outono e acontecerá. Como eu estou curioso pelo último momento, o último de todos! Não deve ser um momento de encanto e de indizível doçura? Um momento do mais intenso prazer?
......Ainda três curtos dias de outono e a morte caminhará aqui, em meu quarto, para mim – como ela se comportará? Ela me tratará como um verme? Ela me agarrará pelo pescoço e me estrangulará? Ou ela apanhará meu espírito com sua mão? – Eu a imagino grande e bela e de uma selvagem majestade!


9 de outubro

......Eu disse para Assunção, que estava sentada sobre meus joelhos: “Se eu me fosse em breve de algum modo, tu ficarias muito triste?” Então, ela aconchegou sua cabecinha em meu peito e chorou amargamente. – Senti um nó na garganta.
......Aliás, tenho febre. Minha cabeça está quente e eu tremo de frio.


10 de outubro

......Ela estava em minha casa, nesta noite ela estava em minha casa! Eu não a vi e não a ouvi, e mesmo assim conversei com ela. É cômico, mas ela se comporta como um dentista! – “Será melhor se nós fizermos logo um acordo”, ela me disse. Mas eu não queria e lutei contra. Com poucas palavras mandei-a embora.
......“Será melhor se nós fizermos logo um acordo!” Como isso soou! Foi-me profundamente desagradável! Tão austero, tão enfadonho, tão burguês! Nunca conheci um sentimento de tão fria e sarcástica decepção.


11 de outubro (11 horas da noite)

......Compreendo-a? Oh! Acredite em mim, eu a compreendo!
......Há uma hora e meia, quando eu estava sentado em meu quarto, o velho Franz veio até mim; ele tremia e soluçava. “A senhorita!”, ele gritou, “a criança! Ah, venha rápido, senhor!” – E eu fui rapidamente.
......Eu não chorei, e apenas um frio arrepio estremeceu-me. Ela estava deitada em sua caminha e seus cabelos pretos emolduravam seu pálido e sofrido rosto. Eu me ajoelhei ao seu lado e nada fiz e nada pensei. – O doutor Gudehus chegou.
......“Foi uma insuficiência cardíaca”, ele me disse e anuiu como alguém que não estivesse surpreendido. Esse tolo e trapalhão age como se soubesse!
......Eu, mas – eu a compreendi? Oh, quando eu estava sozinho com ela – lá fora chuva e mar ressoavam, e o vento uivava na chaminé – eu bati na mesa, em um momento tornou-se claro para mim! Por longos vinte anos eu me aproximei da morte, do dia que começará em uma hora, e profundamente dentro de mim algo era sabido, algo oculto era sabido, eu não podia desamparar essa criança. Eu não poderia morrer depois da meia-noite, mas isso deveria ser! Eu deveria novamente mandá-la embora quando ela chegasse: mas ela foi primeiro para a criança porque ela deveria obedecer meu conhecimento e minha crença. ......– Eu mesmo coloquei a morte em sua caminha, eu a matei, minha pequena Assunção? Ah, essas são palavras pífias e miseráveis para coisas sutis e misteriosas!
......Adeus, adeus! Talvez eu reencontre um pensamento, uma intuição, lá fora. Então veja: o ponteiro do relógio se move, e a lâmpada que ilumina seu doce rosto logo estará apagada. Eu seguro sua mão pequena, fria, e aguardo. Logo ela caminhará em minha direção, e eu apenas anuirei e fecharei os olhos quando a ouvir dizer: “Será melhor se nós fizermos logo um acordo”...


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O Autor:
Thomas Mann nasceu em 1875, em Lübeck (Alemanha), filho de um alemão e de uma brasileira. Após a morte de seu pai, em 1891, muda-se para Munique, onde freqüenta a universidade local.

Depois de trabalhar num escritório de seguros, passa a dedicar-se à literatura. Seus primeiros contos foram reunidos em O Pequeno Senhor Friedemann (1898). Em 1901, sai - com enorme impacto - o romance Os Buddenbrooks, baseado na decadência de sua própria família. Em 1912, ele lança a novela Morte em Veneza.

A Montanha Mágica é de 1924; confirmou a reputação de Mann como um dos escritores de maior arrojo filosófico na modernidade. Cinco anos depois, ele receberia o Prêmio Nobel de literatura.

Em 1933, quando Hitler se torna chanceler, o escritor muda-se para a Suíça e passa a editar um jornal de resistência. Depois de escrever uma tetralogia de romances condenando o racismo e o anti-semitismo, muda-se para Nova Jersey (EUA), dando aulas na Universidade de Princeton. Em 1947 sai Doutor Fausto, um dos maiores romances jamais escritos sobre a arte da música. Thomas Mann volta à Suíça em 1952, onde morre em 1955. (*do banco de dados da Folha)

Poesia Africana: Alda Espírito Santo (Alda Graça)


No mesmo lado da canoa

As palavras do nosso dia
são palavras simples
claras como a água do regato,
jorrando das encostas ferruginosas
na manhã clara do dia-a-dia.

É assim que eu te falo,
meu irmão contratado numa roça de café
meu irmão que deixas teu sangue numa ponte
ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta
[com o gandu (1)
Minha irmã, lavando, lavando
p'lo pão dos seus filhos,
minha irmã vendendo caroço
na loja mais próxima
p'lo luto dos seus mortos,
minha irmã conformada
vendendo-se por uma vida mais serena,
aumentando afinal as suas penas...
É para vós, irmãos, companheiros da estrada
o meu grito de esperança
convosco eu me sinto dançando
nas noites de tuna
em qualquer fundão, onde a gente se junta,
convosco, irmãos, na safra do cacau,
convosco ainda na feira,
onde o izaquente(2) e a galinha vão render dinheiro.
Convosco, impelindo a canoa p'la praia
juntando-me convosco
em redor do voador panhá(3)
juntando-me na gamela
vadô tlebessá(4)
a dez tostões.

Mas as nossas mãos milenárias
separam-se na areia imensa
desta praia de S. João
porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p'la vida,
tu pensas irmão da canoa
que nós os dois, carne da mesma carne
batidos p'los vendavais do tornado
não estamos do mesmo lado da canoa.

Escureceu de repente.
Lá longe no outro lado da Praia
na ponta de S. Marçal
há luzes, muitas luzes
nos quixipás(5) sombrios...
O pito dóxi(6) arrepiante, em sinais misteriosos
convida à unção desta noite feiticeira...
Aqui só os iniciados
no ritmo frenético dum batuque de encomendação
aqui os irmão do Santu
requebrando loucamente suas cadeiras
soltando gritos desgarrados,
palavras, gestos,
na loucura dum rito secular.

Neste lado da canoa, eu também estou irmão,
na tua voz agonizante, encomendando preces, juras,
[ Maldições.

Estou aqui, sim, irmão
nos nozados(7) sem tréguas
onde a gente joga
a vida dos nossos filhos.
Estou aqui, sim, meu irmão
no mesmo lado da canoa.

Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.
Queremos unir as nossas mãos milenárias,
das docas dos guindastes
das roças, das praias
numa liga grande, comprida
dum pólo a outro da terra
p'los sonhos dos nossos filhos
para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

E a tarde desce...
A canoa desliza serena,
rumo à Praia Maravilhosa
onde se juntam os nossos braços
e nos sentamos todos, lado a lado,
na canoa das nossas praias.

(É nosso o solo sagrado da terra)


Notas:

1 - Gandu: tubarão;

2 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético;

3 - Vadô Panhá: espécie de peixe voador que no tempo seco se apanha na praia;

4 - Vadô tlebessá: peixe voador que se distingue do vadô panhá por apenas se pescar em alto mar;

5 - Quixipás: barracas feitas com folhas de palmeira;

6 - Pitu dóxi: "apito doce", literalmente. Flautista virtuoso;

7 - Nozado: velório.

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A Autora:


Alda Espirito Santo, também conhecida por Alda Graça, nasceu em São Tomé em 1926 e teve a sua educação em Portugal. Ainda freqüentou a Universidade, mas teve que abandonar, em parte devido às suas atividades políticas, mas também por motivos econômicos. Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", o qual é até ao momento o seu trabalho mais importante.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Literatura africana mostra laço com o Brasil

O Prêmio Nobel da Literatura foi entregue pela primeira vez a um africano em 1986. O contemplado foi Wole Soyinka, reconhecido por abordar os conflitos entre os valores tradicionais africanos e a influência ocidental no continente. Em 2003, foi a vez do escritor sul-africano John Maxwell Coetzee, 63, receber da Academia Sueca o Prêmio Nobel de Literatura. Ambos estudaram em escolas britânicas e escrevem em inglês.

Mas, a literatura do continente negro não se resume aos romances feitos na língua inglesa. Há também uma literatura africana em língua portuguesa, que mesmo sem ganhar a mesma atenção do mundo, começa a se firmar. "No caso de Angola, por exemplo, vê-se que há uma preocupação com a literatura desde o século 19; mas o movimento literário ganha mesmo força a partir da década de 40 do século 20", comenta Tânia Macedo, doutora pela USP e professora de literatura africana na Unesp. "Isso ocorre por conta dos processos históricos por que passam os países africanos. E a literatura fica mais evidente quando surgem autores que começam a pensar em um projeto para seu país". Além de Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe também possuem o português como língua oficial (veja o quadro abaixo).

Tânia explica que o colonialismo promovido pelos portugueses na África do século XX - tardio em relação ao Brasil - fez com que a literatura africana se desenvolvesse em um ritmo único. "Podemos dizer que a literatura africana apresenta tempos históricos diferentes e, por isso, tem uma periodização distinta com relação às literaturas portuguesa e brasileira", comenta.

A pesquisadora lembra que, apesar de trajetos distintos, há pontos em comum entre literaturas africana e brasileira. "Da mesma forma que o Brasil se espelhou nos modelos franceses do século 19 para consolidar sua literatura, época do romantismo, percebemos que a África volta os olhares para o Brasil para negar um modelo português de literatura", explica Tânia. Para ela, a literatura brasileira pode ser considerada um "paradigma" da literatura africana. "A literatura modernista de 22 e a geração da década de 30 estão muito próximas da África. É visível a presença de Manuel Bandeira na poesia de autores de Cabo Verde, por exemplo. Seu poema Pasárgada criou dois partidos literários nesse país: um pró Pasárguada e um contra Pasárguada", destaca.

Para Rita Chaves, professora de literatura africana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, a produção africana se caracteriza por enfatizar questões extra-literárias. "Temos autores contemporâneos como o angolano Pepetela que busca usar a literatura para preencher uma lacuna deixada por historiadores. E ainda o moçambicano Mia Couto, autor que trabalha na fronteira entre a tradição do interior de seu país e a modernidade que chega para desagregar essa ordem tradicional", aponta Rita.

Rita lembra que a USP foi a primeira universidade brasileira a abrir espaço para as literaturas africanas de uma forma sistematizada. "Isso ocorreu em plena ditadura militar, no final dos anos 70, com a criação de um curso sobre o neorealismo português e sobre literatura africana, uma iniciativa corajosa da professora Maria Aparecida Santilli apoiada pelos professores Fernão Mourão e Antônio Cândido", conta.



*USP Online

MP entra com ação contra uso do Enem na UFPel

Para Procuradoria da República, alteração do vestibular foi feita de maneira rápida demais

A aplicação do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como único critério para o processo seletivo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) no vestibular de verão foi alvo de uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF). A Procuradoria da República entende que a alteração do vestibular foi feita de maneira rápida demais e que prejudicará os estudantes que desejam ingressar na universidade.

De acordo com o procurador Max dos Passos Palombo, a aplicação do novo Enem como critério exclusivo de seleção já no vestibular deste ano causa impacto na orientação do Ensino Médio. Para Palombo, a mudança torna os candidatos despreparados para ingresso na UFPel, já que os estudantes necessitam se adaptar rapidamente aos novos padrões de seleção. A sugestão do procurador é de que a universidade aplique o novo Enem a partir de 2011, permitindo uma preparação mais adequada dos estudantes:

– Surpreende é o fato de ser o único critério. Outras instituições de ensino estão aplicando outras opções além do Enem. Na UFPel, tudo ocorreu de uma forma muito rápida.

Segundo a pró-reitora de Graduação da UFPel, Eliana Póvoas, a decisão de aplicar o novo Enem no vestibular de verão foi tomada para valorizar a nova proposta do governo federal e aprovada com unanimidade dentro do Conselho de Ensino da instituição. Caso a ação seja acatada pela Justiça, o vestibular não será cancelado. A seleção, no entanto, voltará a ser por meio de provas promovidas pela UFPel

Definida toda a logística do Enem 2009

Desde março, quando foi anunciada a reformulação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), muito se tem especulado sobre o assunto. Agora, todas as dúvidas operacionais já podem ser esclarecidas. O Inep/MEC divulgou hoje, dia 28/05, a portaria que institui e sistematiza toda a operacionalização do exame em 2009.

O novo Enem manterá a característica de ser um exame voluntário. Alunos concluintes do ensino médio e pessoas que terminaram este nível de ensino em anos anteriores, os chamados egressos, ainda podem realizar a prova. A novidade é que a prova vai valer também para certificação de conclusão do ensino médio, o que torna o Enem também uma oportunidade para cidadãos sem diploma nesse nível de ensino, desde que na data de realização da prova tenham 18 anos, no mínimo.

As médias do Enem poderão ser usadas no vestibular das instituições federais de ensino e também em processos seletivos de cursos profissionalizantes pós-médios. A partir do ano que vem, a avaliação vai medir ainda o desempenho acadêmico dos estudantes ingressantes nas instituições de ensino superior.

Inscrições serão exclusivamente via Internet
Todas as inscrições para o Enem 2009 serão realizadas exclusivamente pela Internet, no endereço http://enem.inep.gov.br/inscricao.

Os concluintes de escolas públicas e privadas poderão se inscrever a partir das 8h do dia 15 de junho, até às 23h59 do dia 17 de julho, e deverão adotar o seguinte procedimento:
- acessar a página da Internet http://enem.inep.gov.br/inscricao, durante o período das inscrições;
- preencher o cadastro de inscrição;
– enviar os dados e verificar se a transferência foi concretizada, mediante confirmação por mensagem de retorno, que será enviada para o e-mail informado no cadastro de inscrição;
– o concluinte do ensino médio da escola pública deverá imprimir, na seqüência, o comprovante de inscrição;
– o concluinte do ensino médio da escola privada deverá imprimir, na seqüência, o boleto para efetuar o pagamento em qualquer agência de estabelecimento bancário, no valor de R$ 35,00 (trinta e cinco reais), ou solicitar isenção da taxa de inscrição;

Os comprovantes de inscrição dos participantes concluintes estarão disponíveis, após sua efetivação, até o dia 24 de julho de 2009, no endereço eletrônico http://enem.inep.gov.br/inscricao.

Os que já finalizaram a escolarização básica em anos anteriores e interessados na certificação do ensino médio terão um prazo maior para inscrição. Nesses casos, o período vai de 8h do dia 15 de junho até às 23h59 do dia 19 de julho. O procedimento de inscrição para esse grupo é:
– acessar a página da Internet http://enem.inep.gov.br/inscricao e preencher o cadastro de inscrição;
– enviar os dados e verificar se a transferência foi concretizada, mediante confirmação por mensagem de retorno, que será enviada para o e-mail informado no cadastro de inscrição;
– imprimir, na seqüência, o boleto bancário e efetuar o pagamento, ou solicitar isenção de taxa.

Os comprovantes de inscrição desse grupo estarão disponíveis, após sua efetivação, no endereço eletrônico em que foi processada, até 31 de julho de 2009.

Atendimento especial
Para receber atendimento apropriado, o participante com deficiência física deverá obrigatoriamente declarar, no ato da inscrição, o tipo de atendimento especial que necessita para realizar o exame.

Aos detentos ou internos, matriculados em programas especiais de educação de ensino médio em unidades prisionais ou hospitalares, será oferecido aplicação da prova nos locais de detenção ou internação em que se encontrem, mediante termo de compromisso específico. Para isso, a coordenação responsável deverá solicitar ao Inep o formulário do Termo de Compromisso para a aplicação do Enem. O documento deverá ser encaminhado ao Instituto até o dia 17 de julho.

Isentos
Serão isentos do pagamento da inscrição os concluintes do ensino médio, em qualquer modalidade, matriculados em instituições públicas de ensino e todos os participantes do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) 2006, 2007 e 2008. Para os outros casos, a isenção deverá ser solicitada de 15 a 19 de junho 2009, no endereço eletrônico www.enem.inep.gov.br/inscricao. A relação de pedidos deferidos será divulgada até 3 de julho.

Manual do Inscrito
Todos os devidamente inscritos receberão o Manual do Inscrito, contendo as informações gerais sobre o Enem 2009, as competências e habilidades a serem avaliadas, os critérios de avaliação de desempenho dos participantes nas provas, bem como o questionário socioeconômico, com folha de respostas própria. O Manual do Inscrito será enviado, via Correios, para o endereço indicado no ato da inscrição. O inscrito no Enem 2009 deverá responder o questionário socioeconômico e entregar a folha de respostas no dia e local de realização das provas.


Cartão de confirmação
O inscrito também irá receber um Cartão de Confirmação de Inscrição, enviado para o endereço indicado no ato da inscrição. O cartão contém o local onde será realizado o exame, o número de inscrição, a senha de acesso aos resultados individuais e a folha de leitura óptica para as respostas do questionário socioeconômico. Caso o inscrito não receba o seu Cartão de Confirmação de Inscrição até o dia 25 de setembro de 2009, deverá entrar em contato com o Programa Fala Brasil, pelo telefone 0800-616161 ou acessar a página htt://enem.inep.gov.br/consulta.

A prova
O Enem 2009 é concebido a partir das orientações curriculares previstas para o ensino médio, que estão estruturadas em quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Por isso, o exame será constituído por quatro provas, contendo 45 questões objetivas de múltipla escolha cada.

A redação deverá ser feita em Língua Portuguesa e estruturada na forma de texto em prosa do tipo dissertativo-argumentativo, a partir de um tema de ordem social, científica, cultural ou política.

Aplicação da prova
O Enem 2009 será aplicado em 1.619 municípios brasileiros, nos dias 03 e 04 de outubro, da seguinte maneira:
no dia 03/10/2009 (sábado): das 13h às 17h30 – Prova I: Ciências da Natureza e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias.

no dia 04/10/2009 (domingo): das 13h às 18h30 – Prova II: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias e Redação; e Matemática e suas Tecnologias.

Os portões de acesso aos locais de prova serão abertos às 12h e fechados às 12h55, horário de Brasília-DF. As provas serão aplicadas às 13h, em todo o território nacional.

É recomendável que o inscrito compareça ao local de realização da prova com antecedência de uma hora. Será necessário apresentar original ou cópia devidamente autenticada de documento de identificação, Cartão de Confirmação de Inscrição, folha de respostas do questionário socioeconômico, caneta esferográfica de tinta preta, lápis preto nº 2 e borracha macia.

Resultados individuais
A partir da segunda quinzena de janeiro de 2010, os participantes do Enem 2009 receberão o Boletim Individual de Resultado. As médias serão enviadas via Correios no endereço indicado na ficha de inscrição. Para consultar os resultados individuais pelo site do Inep serão necessários o número do CPF e a senha de acesso, cadastrados na fase de inscrição.

*do site oficial do INEP

Ufpel realizará vestibular de inverno dias 25 e 26 de julho


A Ufpel acaba de divulgar o seguinte cronograma:

Inscrições: de 1 de junho a 3 de julho de 2009

Provas: 25 e 26 de julho de 2009

Taxa de inscrição
: R$ 90,00

Vale lembrar que o vestibular de inverno ocorre normalmente, como os anteriores. A adesão integral ao ENEM passa a valer para o processo seletivo de verão.

O EDITAL AINDA NÃO FOI DISPONIBILIZADO. FIQUE LIGADO, COLOCAREMOS AQUI MAIS INFORMAÇÕES, EDITAIS E O MANUAL DO CANDITATO.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Novo Enem terá 180 questões e 10h de duração

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2009 terá 180 questões e tempo de duração total de 10h, sendo 4h30 no primeiro dia e 5h30 no segundo. As informações foram divulgadas no Diário Oficial da União desta quinta-feira (28). As provas serão realizadas nos dias 3 e 4 de outubro.

No primeiro dia de provas (3/10) haverá provas de ciências da natureza e suas tecnologias e, depois, ciências humanas e suas tecnologias. Nesse dia, os candidatos terão 4h30 para resolver as questões.

No segundo dia (4/10), serão aplicadas a prova de linguagens, códigos e suas tecnologias, que inclui a redação, e a prova de matemática e suas tecnologias. Os estudantes terão 5h30 para a resolução dos exames desse dia.

Até agora, 42 faculdades federais já declararam que irão utilizar o exame em seus vestibulares. O MEC (Ministério da Educação) definiu que o Enem poderá ser usado de quatro formas:


- como prova única para a seleção de ingresso;
- substituindo apenas a primeira fase do vestibular pelo Enem;
- combinando a nota do Enem com a nota do vestibular tradicional; nesta modalidade, a universidade fica livre para decidir um percentual do Enem que será utilizado na média definitiva;
- usando o Enem como fase única apenas para as vagas ociosas da universidade.



Inscrição
As inscrições do exame devem ser feitas somente pela internet, das 8h de 15 de junho às 23h59 de 17 de julho (horário de Brasília (DF)). É preciso preencher o cadastro e imprimir o comprovante de inscrição e o boleto de pagamento; a taxa custa R$ 35. Os comprovantes de inscrição estarão disponíveis via web até o dia 24 de julho.

Estudantes que tenham estudado em escolas públicas ou em instituições participantes do Encceja 2006, 2007 e 2008 têm isenção de taxa. Também terão isenção de taxa candidatos de baixa renda, bem como os inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais; para isso, é necessário fazer requerimento entre os dias 15 e 19 de junho, pela web. A relação dos isentos será divulgada até 3 de julho.

O resultado do Enem deverá ser enviado aos candidatos via Correios, a partir da segunda quinzena de janeiro de 2010.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Entre a Ficção e a Realidade: Irritado, chinês empurra de ponte homem que ameaçava suicídio


O chinês Chen Fuchao passou horas em cima de uma ponte no sudeste da China ameaçando se matar até que um motorista se aproximou, apertou sua mão e o empurrou ponte abaixo. O soldado aposentado Lai Jiansheng, 66, decidiu ajudar Chen a concluir seu desejo de se jogar da ponte depois de passar cinco horas completamente parado em um grande congestionamento causado pelo bloqueio do local.

O soldado aposentado atravessou o bloqueio policial, chegou perto de Chen, o cumprimentou e lançou ponte abaixo. Chen caiu cerca de oito metros em um colchão de ar parcialmente enchido pelas autoridades --o suficiente para que sobrevivesse com ferimentos nos cotovelos e na espinha.

Lai afirmou estar cansado do que chamou de "egoísmo" de Chen, afirma a agência Xinhua. A tentativa de suicídio levou ao isolamento da área pela polícia por cinco horas.

"Eu o empurrei porque suicidas como Chen são muito egoístas. Suas ações violam o interesse público", disse, citado pela Xinhua. "Eles não têm coragem de se matar. Em vez disso, eles querem apenas chamar a atenção das autoridades do governo a seus apelos."

Segundo a Xinhua, Lai foi levado pela polícia.

A agência afirma ainda que Chen tentou o suicídio porque tinha uma dívida de US$ 290 mil de um projeto de construção fracassado. Na quinta-feira passada (22), ele decidiu ir até a ponte Haizhu, onde 11 pessoas tentaram se matar desde abril.

Lai se ofereceu para conversar com Chen, mas foi impedido pela polícia. Ele decidiu então quebrar o bloqueio, escalar até onde Chen estava sentado e jogá-lo.

A imprensa chinesa afirma que Lai foi libertado sob fiança na sexta-feira passada (22) e que ele recebia tratamento para "uma doença mental" há décadas.

Chen está se recuperando dos ferimentos no hospital, afirma a Xinhua.



*Notícia publicada no Folha de São Paulo, em 27 de Maio de 2009.


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Faço minhas as palavras de Mark Twain:

A diferença entre a ficção e a Realidade: Ficção tem que fazer sentido

terça-feira, 26 de maio de 2009

Realizado Ato Público Contra o AI-5 Digital pela sociedade gaúcha



Realizado dia 25 de maio, em Porto Alegre, o Ato Público Contra o AI-5 Digital reuniu, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, entidades, lideranças políticas e civis de vários setores interessados em protestar contra o projeto do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que pretende criar uma espécie de “censura” na Internet.


Conduzida por Josué Franco Lopes, da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO), a manifestação contou com uma breve apresentação do membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil - CGIBR e representante do Projeto Software Livre Brasil (PSL), Everton Rodrigues, que analisou o projeto proposto pelo senador tucano e salientou os objetivos do encontro.


A deputada federal Manuela D’ávila (PCdoB-RS), presente na manifestação, salientou a necessidade de derrotar o projeto em questão e a importância de termos novas formas de difundir diferentes opiniões. Manuela afirmou que por os membros do Congresso não conviverem com o universo tecnológico, acabam por não compreender a importância deste tema para sociedade contemporânea. Segundo a deputada, “é preciso conscientizar os parlamentares para ganharmos os votos contrários à aprovação. A Internet é um mundo desconhecido no Congresso”.


O embaixador da Associação Software Livre.Org (ASL), Sady Jacques, abordou a importância da Internet como ferramenta para a produção e distribuição do conhecimento, e ainda afirmou que este é o momento de buscarmos a mobilização de todos os setores da sociedade em relação à luta em defesa da liberdade na Internet.


Na ocasião, o deputado estadual Elvino Bohn Gass(PT-RS), afirmou que ao perceber o tom autoritarista do projeto proposto pelo senador Azeredo resolveu se unir a entidades representativas da sociedade civil neste manifesto para clamar pela não aprovação do projeto e mostrar a importância da realização de debates sobre o tema, afim de construir uma lei dos direitos civis na Internet de uma forma mais justa. “Queremos sim uma legislação que garanta a segurança do usuário contra esses crimes, mas rejeitamos a ampliação da vigilância do Estado e a banalização da quebra de sigilo das comunicações”, disse.


Estiveram entre os presentes, os representantes dos gabinetes do deputado federal Pompeo de Mattos (PDT) e dos deputados estaduais do PT Adão Villaverde, Daniel Bordignon, Ronaldo Zulke e Raul Pont, e, do PCdoB, Raul Carrion.


O Ato Público Contra o AI-5 Digital teve transmissão da TV Software Livre e cobertura em tempo real através do Twitter e do Facebook. Após ter ocorrido em São Paulo e Porto Alegre, o ato em defesa da liberadade na internet irá ocorrer, no início de junho, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.


Entre os participantes da manifestação ocorrida hoje na capital gaúcha estiveram as seguintes entidades: Associação de Mulheres “Vitória-Régia”, Pontão Cultura Digital Minuano, Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, Ponto de Cultura Odomodê, Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Movimento Música para Baixar, Ponto de Cultura Voluntário “Vitória-Régia” e Rede de Trocas Solidárias do RS, União Nacional dos Estudantes, Central de Movimentos Populares de Porto Alegre - CMP-POA, POA TV - Canal Comunitário de Porto Alegre, Conrad - Conselho Regional de Rádios Comunitárias, DIST-Brasil - Democracia, Inclusão Social e Trabalho, Comissão do Rio Grande do Sul Pró-Conferência Nacional de Comunicação, CATARSE - Coletivo de Comunicação, Coletivo Ciberativismo, ABCID - Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital, Associação Gaúcha dos Profissionais na Área de Tecnologia da Informação e Comunicação - APTIC e Comissão do Rio Grande do Sul Pró-Conferência Nacional de Comunicação.


Por Priscila Cabrera
Assessoria de Imprensa ASL.Org

Poesia Africana: Agostinho Neto


Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairros de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.



Adeus à hora da largada


Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico

somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos

Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.


*Poemas extraídos do livro "Sagrada Esperança (1974)"

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"A poesia de Neto traz o reconhecimento de que nunca se está só, de que não se pode ignorar a presença do outro, mesmo que o outro reduza suas possibilidades de ser. O outro, nas palavras de Agostinho neto, mistura-se ao Eu-angolano, define-o, mas não lhe rouba as origens. Antropofagicamente, o outro é assumido, compondo a imagem autêntica do ser angolano contemporâneo: ser África porque, ' calibanescamente', o outro - que historicamente determinou os desvios da cultura originária angolana - se fez presença no corpo de Angola. Ser África dos caminhos entrecruzados, mas fazer-se África."
("O Eu e o Outro em Sagrada Esperança" de Marcelo José Caetano - Caderno CESPUC de pesquisa PUC - Minas - BH, n.5, abr.1999)

O Autor


António Agostinho Neto (Ícolo e Bengo, 17 de Setembro de 1922 — Moscovo ou Moscou, 10 de Setembro de 1979) foi um médico angolano, formado na Universidade de Lisboa, que em 1975 se tornou o primeiro presidente de Angola até 1979. Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o "Prêmio Lênin da Paz".

Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa ou Guerra do Ultramar como também é conhecida. Foi preso pela PIDE e deportado para o Tarrafal, sendo-lhe fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente honorário desde 1962.

Literatura Africana em Língua Portuguesa


Não se pode falar da literatura africana sem se falar da "Negritude"; aliás, esta última constitui o tema fundamental da literatura africana.

A literatura africana de expressão portuguesa nasce de uma situação histórica originada no século XV, época em que os portugueses (cronistas, poetas, historiadores, escritores de viagens, homens de ciências e das grandes literaturas europeias) iniciaram a rota de África, continuando depois pela Ásia, Oceânia e América.

Gomes Eanes de Zurara, João de Barros, Diogo de Couto, Camões, Fernão Mendes Pinto, Damião de Góis, Garcia de Orta, Duarte Pacheco Pereira são alguns nomes cujo discurso é alimentado do "saber de experiência feito" alcançado a partir do século XV, em declínio já no século XVII) esgotado no século XVIII. A obra de Gil Vicente (século XVI) ou, embora escassamente, a de poetas do cancioneiros (séculos XIV e XV) ao lado das "coisas de folgar", foram marcadas pela expansão ao longo dos «bárbaros reinos». É uma literatura feita pelos portugueses, fruto da aventura no além-mar, no período renascentista, a que se denominou de literatura dos descobrimentos.

Esta literatura, nascida de uma experiência planetária, nada tem a ver com a literatura africana de língua portuguesa. Este registo serve apenas para contextualizar no passado factos relacionados com o quadro cultural, político que século depois havia de surgir.

Com efeito, a partir do século XV, inicia-se o processo de colonização em África, o que condiciona, séculos mais tarde, o aparecimento de nova literatura, a literatura colonial (1900-1939).

Em que difere a literatura colonial da literatura dos descobrimentos?

Enquanto a literatura dos descobrimentos se baseava no relato de viagens feito por navegadores, escritores, comerciantes, etc.., e narrava factos ocorridos ao longo dessas viagens, a literatura colonial retrata a vivência dos portugueses no além-mar. Nesta literatura, o centro do universo narrativo e poético é o homem europeu e não o homem africano. Era uma literatura profundamente racista, onde predominavam as ideias de inferioridade do homem negro, que teóricos racistas, como Gobineau, haviam derramado, e para as quais teria contribuído o filósofo Lévy Bruhl com a sua tese de mentalidade pré-lógica. Importa dizer ainda que, nesta literatura, a África era vista apenas como uma linda paisagem, ou um paraíso, e o protagonista dessa paisagem era o homem europeu. Trata-se, pois, de uma literatura caracterizada fundamentalmente pela exploração do homem pelo homem.

É preciso dizer que estes discursos racistas eram fruto da mentalidade da época, no ponto de vista político-social. Todavia, houve alguns escritores como João de Lemos (Almas Negras) e José Osório de Oliveira (“Roteiro de África”) que tentaram entender a mentalidade do homem negro, pois há nas suas obras uma intenção humanística.



São precisamente as duras e condenáveis características da literatura colonial, e os outros factores como a criação e desenvolvimento do ensino oficial e o alargamento do ensino particular, a liberdade de expressão, a instalação da imprensa (a partir da década de 40 do século XIX) que vão propulsionar o aparecimento de uma nova literatura a que se convencionou chamar de literatura africana de expressão portuguesa.

Com efeito, alguns anos mais tarde, após a instalação da imprensa em Angola, ocorre a publicação do livro “Espontaneidade da minha alma” (1949) do angolano mestiço José da Silva Maia Ferreira, o primeiro livro impresso na África lusófona, mas não a mais antiga obra do autor africano. Anterior a esta, há conhecimento do poemeto da cabo-verdiana Antónia Gertrudes Pusish, "Elegia à memória das infelizes vítimas assassinadas por Francisco de Mattos Lobo, na noute de 25 de Junho de 1844”, publicado em Lisboa no mesmo ano.

A literatura africana, como um conjunto de obras literárias que traduzem uma certa africanidade, toma esta designação porque a África é o motivo da sua mensagem ao mundo, porque os processos técnicos da sua escrita se erguem contra o modismo europeu e europeizante. John chamou-a de literatura Neo-africana por ser escrita em línguas europeias e para diferenciá-la da literatura oral produzida em língua africana. Nesta literatura, o centro do universo deixa de ser o homem europeu e passa a ser o homem africano.

É necessário frisar que este tipo de literatura, chamada literatura africana de expressão portuguesa, ganha uma nova especialização, tomando a designação de literatura de raiz africana. Esta literatura teve a sua origem através do confronto, da rebelião literária, linguística e ideológica, da tomada de consciência revolucionária a partir da década de 40 (século XIX). Importa referir que era uma literatura dirigida particularmente aos africanos e escrita em línguas locais em mistura com o "português", pois o propósito era tornar a escrita inacessível aos europeus, isto é, não permitir ao homem branco descodificar as suas mensagens. Daí a introdução nas obras de poetas angolanos (Agostinho Neto, António Jacinto, Pinto de Andrade, Luandino Vieira, etc.) de palavras e frase idiomáticas em quimbundo e umbundo, e em muitos outros autores africanos como Mutimati Bernabé João (Moçambicano).

Esta fase vai de meados da década de 40 até às independências (meados da década de 70). “A vida verdadeira de Domingo Chavier” de Luandino Vieira e “Sagrada esperança” de Agostinho Neto são textos impregnados de marcas visíveis da revolta política que mais se traduzem nos quatros cantos do mundo.

A literatura africana combate o exotismo sob todas as formas, quer se apresente recuperando narrativas tradicionais, quer utilize ritmos significantes emprestados das culturas populares.

Nilton Garrido - SEUC Sec - Turma SA

Texto extraído de http://www.prof2000.pt/

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ato contra lei que institui vigilância na Internet mobiliza sociedade gaúcha

Acontece nesta segunda-feira, 25, uma das maiores mobilizações contra o projeto de lei que visa à vigilância e o controle da Internet brasileira - o Ato Público Contra o AI-5 Digital, que será realizado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Manifestações dessa natureza estão acontecendo, também, em outras regiões do País. Em Porto Alegre a expectativa é de também reunir um grande público

Entidades, lideranças políticas e civis de vários setores, estarão reunidas para protestar contra o projeto do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que pretende criar uma espécie de "censura" na Internet.

O embaixador da Associação Software Livre.Org, Sady Jacques, que participará da manifestação, diz que a "lei de cibercrimes, além de coibir a liberdade de acesso e de uso da internet e provocar a paranoia coletiva, pode trazer um prejuízo muito grande para a produção e distribuição do conhecimento".

Recentemente, em carta-resposta enviada às entidades gaúchas da sociedade civil e do setor de tecnologia, entre elas a Associação Software Livre, o ministro da Justiça, Tarso Genro, criticou o projeto do senador.

"Somos contrários, evidentemente, ao estabelecimento de quaisquer obstáculos à oferta de acesso por meio de redes abertas e à inclusão digital, ao vigilantismo na Internet e a dificuldades para a fruição de bens intelectuais disseminados pela Internet".

Assim como entidades e lideranças políticas, o ministro da Justiça também conclamou a sociedade civil a reagir contra a aprovação do projeto ao afirmar que "a aprovação do projeto de lei no Senado demonstrou o perigo de uma legislação com esses problemas ser aprovada caso não haja reação forte e decidida dos setores democráticos da sociedade".

Para participar é só acessar www.petitiononline.com/veto2008/petition.html. E quem quiser se aprofundar no tema pode acessar www.internetlivre.org, onde estão sendo divulgadas as ações articuladas em todo o Brasil, e também o site http://meganao.wordpress.com/. (Fonte: Assessoria de Imprensa fisl10)

Como a Lei Azeredo põe as liberdades individuais em risco



Neste momento, dois grupos de acadêmicos trabalham num projeto de lei alternativo para crimes de informática. Enquanto isso, tramita no Congresso o PL 84-99 original, que fez fama como Lei Azeredo ou, como a apelidou um grupo de militantes, AI-5 Digital.


Por Pedro Doria


Os especialistas trabalham no texto alternativo são da Fundação Getúlio Vargas do Rio e da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, da USP. Há vários trechos polêmicos na lei que pretende definir os crimes e as punições na era digital. O mais polêmico é o artigo 22, que obriga provedores a armazenar os logs de acesso de usuários por três anos.



Conversei por Skype com Ronaldo Lemos, da FGV-Rio, um dos maiores especialistas em Direito digital do Brasil. Numa discussão marcada por extremos, Ronaldo é um moderado. E se às vezes parece que os críticos da lei estão na esquerda, é engano. O projeto atenta contra as liberdades individuais e arrisca a criação de um Estado de vigilantismo que ofende os valores de qualquer liberal.



Diz o artigo 22: “O responsável pelo provimento de acesso à rede de computadores, comercial ou do setor público é obrigado a manter em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de três anos, com o objetivo de provimento de investigação pública formalizada, os dados de endereçamento eletrônico da origem, hora, data e a referência GMT da conexão efetuada por meio de rede de computadores e fornecê-los exclusivamente à autoridade investigatória mediante prévia requisição judicial.”



Há três argumentos contra o texto: não há precedentes no mundo; é tão aberto que concede poderes demais ao Estado ferindo direitos constitucionais básicos; e impõe um custo muito alto.



“Dados de endereçamento eletrônico” não quer dizer nada. Se o texto se refere ao endereço IP, provedores podem guardá-los por 10 anos que não serão úteis. São números. Para que sejam úteis, além do tal endereçamento, é preciso saber quem estava ligado ao IP naquela hora.



A vaguidão vai além. Provedor de acesso à rede de computadores não é mais só quem liga computadores à internet. As operadoras de celular seguem na lista. E como não está claro que dados de endereçamento eletrônico são estes, as telefônicas talvez se vejam obrigadas a armazenar seus registros, como a localização física localização física de seus clientes. Seremos rastreados.



Thomas Jefferson, autor da Declaração de Independência dos EUA, estaria de cabelos em pé. Talvez nem tanto. Afinal, Jefferson pensou as leis dos EUA, não as do Brasil. Nos EUA, o Estado não obriga provedores a armazenar logs. Alguns países da Europa obrigam — por seis meses. Azeredo argumenta que o projeto adequa o Brasil à Convenção Internacional de Budapeste para Cibercrimes, que o País não assinou e que exige que logs sejam guardados por 90 dias.



É uma lei sem precedentes. Arrisca as liberdades individuais e o direito de ir e vir sem ser observado. Por fim, o custo. A armazenagem em “ambiente controlado e de segurança” é caro, e o cibercafé da esquina talvez não tenha como pagar. Seria um custo do Estado. O contribuinte vai adorar saber.

*Extraído de vermelho.org.br

Concurso de Contos Josué Guimarães recebe inscrições até 1º de junho



Primeiro colocado ganhará, além de R$ 5 mil, estágio de 10 dias na Universidade de Santiago de Compostela





A 11ª edição do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, criado em 1988, está com inscrições abertas até o dia 1º de junho. Podem participar autores de contos inéditos. Como acontece tradicionalmente, os vencedores serão conhecidos na abertura da 13ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, entre os dias 24 e 28 de agosto.

Assim como ocorreu na 10ª edição, o concurso este ano terá uma premiação especial. Além de R$ 5 mil para o primeiro colocado e R$ 3 mil para o segundo, o vencedor ganhará um estágio de 10 dias na Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, com direito a passagem aérea, hospedagem, participação em seminários de literatura e encontros com professores e críticos literários. Os dois primeiros colocados também recebem o troféu Vasco Prado.

Para a professora Tania Rösing, coordenadora geral da 13ª Jornada Nacional de Literatura, a premiação especial que está sendo oferecida só foi possível graças à continuidade do intercâmbio entre a Universidade de Passo Fundo e a Universidade de Santiago de Compostela, que teve início na 10ª edição do Concurso de Contos, promovida em 2007. “Este é o único concurso brasileiro a oferecer ao vencedor um período de estada num país europeu para ampliação do diálogo cultural e literário”, destaca a coordenadora.

Conforme prevê o regulamento, a Comissão Julgadora poderá conceder Menção Honrosa a alguns concorrentes. Os contos premiados poderão ser editados em antologia organizada pelo Instituto Estadual do Livro, a ser publicada em coedição com a Fundação Universidade de Passo Fundo e com a Prefeitura Municipal de Passo Fundo.

Os trabalhos serão julgados por uma comissão indicada pelas instituições promotoras – Universidade de Passo Fundo, Prefeitura de Passo Fundo, Governo do Estado do Rio Grande do Sul e Instituto Estadual do Livro. Cada participante deverá apresentar três contos em quatro vias, a serem enviadas pelo Correios ou entregues pessoalmente no na Universidade de Passo Fundo (Campus I, BR 285 - KM 171 – Bairro São José – CEP 99001-970 – Passo Fundo/RS), mencionando o assunto 13ª Jornada Nacional de Literatura – 11º Concurso de Contos Josué Guimarães no envelope.

Os vencedores do 10º Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, realizado em 2007, foram Lúcia Bettencourt (1.º lugar) e Bruno Dorigatti (2.º lugar). Receberam Menção Honrosa os contistas Marcus Vinicius Teixeira Quiroga Pereira, Francisco Carlos Lopes, Katja Plotz Fróis, Silvio Luiz Rocha, Jorge Júlio Schwartz Rein e Luci Collin.

Mais informações sobre o concurso e o regulamento estão nos sites www.upf.br, no menu Editais, e www.jornadadeliteratura.upf.br, ou pelo telefone (54) 3316-8368 ou e-mail jornada@upf.br.


*Assessoria de Imprensa UPF

Semana da África: Postagens especiais

Celebra-se esta segunda-feira (25/5) o Dia de África


Celebra-se esta segunda-feira o Dia de África, data que relembra um encontro, em 1963, de 32 chefes de estado africanos se reuniram para discutir a questão do colonialismo e onde se decidiu criar a Organização da União Africana.

De acordo com o ex-secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan «o Dia de África constitui a ocasião de medir os progressos realizados na África, avaliar as suas dificuldades e reflectir sobre as enormes potencialidades do continente».

Foi há 46 anos, no dia 25 de Maio, que os líderes presentes no encontro que teve lugar em Adis Abeba, na Etiópia, decidiram criar a Organização da União Africana, conhecida actualmente por União Africana. Em 1972, as Nações Unidas resolveram instituir a data, como Dia da Libertação de África.

Um grupo de embaixadores e Altos-comissários Africanos, em Moçambique, numa nota sobre o 46º aniversário do continente, consideraram o dia uma ocasião para se avaliarem os progressos realizados em África, e as dificuldades ainda existentes. Já o vice-ministro da cultura angolana, Cornélio Caley, realçou a necessidade de haver um estudo mais aprofundado da realidade africana que possa contribuir para um «futuro cada vez melhor».

O dia é celebrado em África, através de diversas acções. O ministério da cultura angolana promove, por esta ocasião, um ciclo de conferências com grandes nomes académicos africanos. Em Portugal, a data também não é esquecida. Na Universidade da Beira Interior, os estudantes africanos organizaram várias actividades, tais como a noite Interactivo-Cultural, uma exposição e conferências, sobre o continente.

Texto do portal PNN (Portuguese News Network)

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Durante esta semana, faremos uma série de postagens especiais sobre a literatura do continente africano, e também sobre a presença negra na cultura do Brasil.

Fique ligado e confira!

Literatura Comentada: "Ao Respeitável Público" (Crônica de Rubem Braga)


Ao Respeitável Público

Chegou meu dia. Todo cronista tem seu dia em que, não tendo nada a escrever, fala da falta de assunto. Chegou meu dia. Que bela tarde para não se escrever!

Esse calor que arrasa tudo; esse Carnaval que está perto, que vem aí no fim da semana; esses jornais lidos e relidos na minha mesa, sem nada interessante; esse cigarro que fumo sem prazer; essas cartas na gaveta onde ninguém me conta nada que possa me fazer mal ou bem; essa perspectiva morna do dia de amanhã; essa lembrança aborrecida do dia de ontem; outra vez, e sempre, esse calor, esse calor, esse calor…


Portanto, meu distinto leitor, minha encantadora leitora, queiram ter a fineza de retirar os olhos desta coluna. Não leiam mais. Fiquem sabendo que eu secretamente os odeio a todos; que vocês todos são pessoas aborrecidas e irritantes; que eu desejo sinceramente que todos tenham um péssimo Carnaval, uma horrível quaresma, um infelicíssimo ano de 1934, uma vida toda atrapalhada, uma morte estúpida!

Aproveitem este meu momento de sinceridade e não se iludam com o que eu disser amanhã ou depois, com a minha habitual falta de vergonha. Saibam que o desejo mais sagrado que tenho no peito é mandar vocês todos simplesmente às favas, sem delicadeza nenhuma.

Por que ousam gostar ou aborrecer o que escrevo? O que têm comigo? Acaso me conhecem, sabem alguma coisa de meus problemas, de minha vida? Então, pelo amor de Deus, desapareçam desta coluna. Este jornal tem dezenas de milhares de leitoras; por que é que, no meio de tanta gente, vocês, e só vocês, resolveram ler o que escrevo? O jornal é grande, senhorita, é imenso cavalheiro, tem crimes, tem esporte, tem política, tem cinema, tem uma infinidade de coisas. Aqui nesta coluna, eu nunca lhes direi nada, mas nada de nada, que sirva para o que quer que seja. E não direi porque não interessa; porque vocês não me agradam; porque eu os detesto.

Portanto, se a senhorita é bastante teimosa, se o cavalheiro é bastante cabeçudo para me ter lido até aqui, pensem um pouco, sejam bem-educados e dêem o fora. Eu faço votos para que todos vocês amanheçam amanhã atacados de febre amarela ou de tifo exantemático. Se houvesse micróbios que eu pudesse lhes transmitir assim, através do Jornal, pelos olhos, fiquem sabendo que hoje eu lhes mandaria as piores doenças: tracoma, por exemplo.

Mas ainda insistem? Ah, se eu pudesse escrever aqui alguns insultos e adjetivos que tenho no bico da pena! Eu lhes garanto que não são palavras nada amáveis: são dessas que ofendem toda a família. Mas não posso e não devo. Eu tenho de suportar vocês diariamente, sem descanso e sem remédio. Vocês podem virar a página, podem fugir de mim quando entenderem. Eu tenho de estar aqui todo dia, exposto à curiosidade estúpida ou à indiferença humilhante de dezenas de milhares de pessoas.

Fiquem sabendo que eu hoje tinha assunto e os recusei todos. Eu poderia, se quisesse, neste momento, escrever duzentas crônicas engraçadinhas ou tristes, boas ou imbecis, úteis ou inúteis, interessantes ou cacetes. Assunto, não falta, porque eu me acostumei a aproveitar qualquer assunto. Mas eu quero hoje precisamente falar claro a vocês todos. Eu quero, pelo menos hoje, dizer o que sinto todo dia: dizer que se eu os aborreço, vocês me aborrecem terrivelmente mais.

Amanhã eu posso voltar bonzinho, manso, jeitoso, posso falar bem de todo mundo, até do governo, até da polícia. Saibam, desde já, que eu farei isto porque sou cretino por profissão; mas que com todas as forças da alma eu desejo que vocês todos morram de erisipela ou de peste bubônica.

Até amanhã. Passem mal.



(Rubem Braga)



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COMENTÁRIO

Inicialmente, cumpre aqui destacar que Braga constitui um verdadeiro fenômeno por ter adquirido perenidade como escritor de talento reconhecido e respeitado não apenas pelo público, mas pela crítica, mesmo dedicando-se a um gênero considerado “menor”, efêmero, como a crônica.

Nesse sentido, retomamos uma idéia já explanada aqui no blog (postagem sobre o gênero cônica): o cronista por excelência tem seu próprio público, seu leitor fiel com quem se estabelece uma relação de cumplicidade. Há um ‘pacto’ presumido entre o colunista e o leitor, no qual, em troca da fidelidade deste, aquele se apresenta com características temáticas e estilísticas relativamente estáveis.

É nesse aspecto que a leitura da crônica "Ao Respeitável Público" torna-se particularmente interessante. Conhecendo-se o ‘espírito’ dos textos de Braga, espera-se dele uma escrita cordial, uma predisposição benigna de solidarizar-se com qualquer criatura humana, especialmente aquelas mais fragilizadas pelo contexto social de seu tempo. O Braga habitual oferece ao seu leitor imagens poéticas de rara sensibilidade e delicadeza. O compromisso de fazê-lo sempre, a exigência de apresentar-se sempre voltado de forma altruísta ao outro é tarefa hercúlea, provavelmente não percebida por aqueles que se alimentam do cronista.

Então, num exercício de metalinguagem, Braga se permite um momento de catarse. O tema da falta de assunto, solução que todo cronista usará um dia, se apresenta sob a forma de desabafo. A polidez dá lugar a um tom agressivo e irônico, que, de certa forma, o leitor acredita até o final irá dissipar-se, o que acaba, de fato, não ocorrendo.

O próprio título remete a uma saudação típica dos espetáculos circenses. O mestre de cerimônias dirige-se aos seus espectadores, conduzindo os acontecimentos. De certa forma, há uma referência a essa expectativa frívola do público pela sua ração diária de entretenimento e uma inconformidade do escritor com essa situação.

Assim, Braga conduz o texto numa espécie de ‘diálogo desaforado’ (na verdade, um monólogo) com o leitor, a quem se dirige ironicamente como “respeitável”, “distinto leitor”, “encantadora leitora”, promovendo uma ruptura com o pacto já mencionado. Em referências explícitas ao veículo em que publica o texto, o autor irá testar a fidelidade de seu público, remetendo-o a outras colunas ou sessões do jornal. Àqueles que insistem em continuar lendo, Braga termina dizendo:

“Amanhã eu posso voltar bonzinho, manso, jeitoso, posso falar bem de todo mundo, até do governo, até da polícia. Saibam, desde já, que eu farei isto porque sou cretino por profissão; mas que com todas as forças da alma eu desejo que vocês todos morram de erisipela ou de peste bubônica.
Até amanhã. Passem mal.”.

E você, o que achou da crônica? Se fosse o leitor, como reagiria ao abrir o jornal e deparar-se com esse texto? Deixe aqui o seu comentário!

domingo, 24 de maio de 2009

Adaptação do livro de Chico Buarque, 'Budapeste' chega aos cinemas



Misturando idiomas, filme estreiou nesta sexta-feira (22).
No elenco, Leonardo Medeiros e a atriz húngara Gabriella Hámori.


Livro de Chico Buarque, “Budapeste” ganhou das mãos do cineasta Walter Carvalho e da roteirista Rita Buzzar adaptação para os cinemas, que entra em cartaz nesta sexta-feira (22). Para levar às telas a história de um ‘ghost writer’ que cai de amores por uma húngara, o diretor carregou parte da equipe para Budapeste e montou um grupo com profissionais de várias nacionalidades e, o mais difícil –idiomas.

“As filmagens na Hungria foram uma epifania. Eles só falam húngaro, que é uma língua muito difícil. A grande maioria falava inglês também, mas no set tinha de tudo: espanhol, francês, alemão. Era como uma Torre de Babel”, contou Carvalho. E apesar da aparente barreira inicial, a iniciativa de tentar repetir palavras em húngaro do diretor-assistente Rafael Salgado abriu as portas para a comunicação. “Rafa se arriscou, e eles começaram a perguntar também sobre as palavras em português. Sem falar nos palavrões”, brincou o cineasta. “Isso nos uniu.”


Teve até choradeira na despedida da equipe brasileira da Hungria. “Eles nos disseram que mudamos a forma de eles fazerem cinema, porque eram acostumados a trabalhar com os americanos que, dizem, são antipáticos. A gente não se entendia, é verdade, mas havia uma comunicação. Passamos momentos de grande emoção”, contou Carvalho.


Quem mais sofreu com a língua foi o ator Leonardo Medeiros, que tinha muitas falas em húngaro e teve que estudar o idioma e a pronúncia. Aos olhos –e ouvidos– do público brasileiro, parece tudo perfeito e admirável. Mas ele diz que não chegou nem perto de dominar o húngaro. “Quando comecei a estudar, três meses antes das filmagens, percebi que jamais dominaria a língua. Aí me dispus a fazer um mergulho nas falas do personagem e, quando filmamos, me dediquei a aprendê-las. O húngaro é meio lírico, parece que você está dizendo poesia.”


Primeiro encontro

Carvalho afirmou que queria muito improviso no filme, pois acredita que as cenas, feitas espontaneamente, dão um frescor ao filme que, de outra forma, não pode ser conquistado. “O primeiro encontro dos personagens do Léo (Leonardo Medeiros) e da Gabriella (Hámori, atriz húngara que participa do longa), em cena, foi também o primeiro encontro dos dois atores.”



Na história, o “ghost writer” Costa (Medeiros), passeando por Budapeste, conhece Kriska (Gabrielle) ao cogitar comprar um livro para aprender húngaro. Ela diz: “Húngaro não se aprende nos livros”. E se dispõe a colocar o idioma –“o único que o Diabo respeita”– “na cabeça” do protagonista. Os dois vivem uma história de amor, interrompida quando Costa tem que voltar ao Rio de Janeiro, para sua mulher (Giovanna Antonelli) e seu trabalho.



Ao lançar um livro que vira best-seller, e cujo autor parece seduzir sua esposa, Costa se sente traído e ressentido. Decide abandonar tudo e retorna para Budapeste, onde, apesar de não entender perfeitamente o idioma, se sente em casa. Ele retoma sua ligação com o idioma, estudando, se aprofundando e escrevendo muito, ao mesmo tempo em que, pouco a pouco, consegue reconstruir também seus laços com Kriska.


Atriz húngara de teatro e cinema, Gabriella Hámori foi escolhida por Walter Carvalho para “Budapeste” depois de alguns testes. “Meu personagem serve para ajudar Costa a ver ele mesmo, a se encontrar. Kriska também parece ter saído de um sonho. Às vezes, eu sinto como se ela não precisasse fazer nada além de existir”, conta a atriz.

No Brasil para a divulgação do filme, ela se disse orgulhosa de ser húngara, e definiu seu povo como “incrível”. “Eles são mais cautelosos, dificilmente aceitam algo de primeira. “ Talvez por isso a atriz tenha afirmado que, apesar de gostar dos improvisos pedidos pelo diretor, prefere saber exatamente o que tem de dizer e fazer com antecedência.

“Mas procurei atender tudo o que o Walter pediu. Quando ele disse que não queria que eu e o Leonardo nos encontrássemos antes da primeira cena, respeitei e nem busquei a foto dele na internet. Queria que fosse tudo muito real e totalmente livre.”


Gabriella afirmou que o livro de Chico Buarque não foi muito bem recebido pelos húngaros. "As pessoas que leram o livro gostaram, mas não penetrou fundo. Há muitos clichês sobre a Hungria, e talvez isso tenha influenciado", analisa.


O autor -que fez uma participação especial no filme- já afirmou que escreveu "Budapeste" antes de conhecer a cidade. "Tinha uma ideia onírica dela. Quando a conheci, fiquei com medo de encontrar na realidade uma coisa que imaginei tanto, e foi engraçado porque muita coisa que eu tinha sonhado realmente correspondia à realidade -embora o livro nunca tenha tido essa intenção porque não é realista."

*Texto do portal G1

CONFIRA O TRAILER OFICIAL DO FILME:

O moço do saxofone (Lygia Fagundes Telles)


Eu era chofer de caminhão e ganhava uma nota alta com um cara que fazia contrabando. Até hoje não entendo direito por que fui parar na pensão da tal madame, uma polaca que quando moça fazia a vida e depois que ficou velha inventou de abrir aquele frege-mosca. Foi o que me contou o James, um tipo que engolia giletes e que foi o meu companheiro de mesa nos dias em que trancei por lá. Tinha os pensionistas e tinha os volantes, uma corja que entrava e saía palitando os dentes, coisa que nunca suportei na minha frente. Teve até uma vez uma dona que mandei andar só porque no nosso primeiro encontro, depois de comer um sanduíche, enfiou um palitão entre os dentes e ficou de boca arreganhada de tal jeito que eu podia ver até o que o palito ia cavucando. Bom, mas eu dizia que no tal frege-mosca eu era volante. A comida, uma bela porcaria e como se não bastasse ter que engolir aquelas lavagens, tinha ainda os malditos anões se enroscando nas pernas da gente. E tinha a música do saxofone.

Não que não gostasse de música, sempre gostei de ouvir tudo quanto é charanga no meu rádio de pilha de noite na estrada, enquanto vou dando conta do recado. Mas aquele saxofone era mesmo de entortar qualquer um. Tocava bem, não discuto. O que me punha doente era o jeito, um jeito assim triste como o diabo, acho que nunca mais vou ouvir ninguém tocar saxofone como aquele cara tocava.

— O que é isso? — eu perguntei ao tipo das giletes. Era o meu primeiro dia de pensão e ainda não sabia de nada. Apontei para o teto que parecia de papelão, tão forte chegava a música até nossa mesa. Quem é que está tocando?

— É o moço do saxofone.

Mastiguei mais devagar. Já tinha ouvido antes saxofone, mas aquele da pensão eu não podia mesmo reconhecer nem aqui nem na China.

— E o quarto dele fica aqui em cima?

James meteu uma batata inteira na boca. Sacudiu a cabeça e abriu mais a boca que fumegava como um vulcão com a batata quente lá no fundo. Soprou um bocado de tempo a fumaça antes de responder.

— Aqui em cima.

Bom camarada esse James. Trabalhava numa feira de diversões, mas como já estivesse ficando velho, queria ver se firmava num negócio de bilhetes. Esperei que ele desse cabo da batata, enquanto ia enchendo meu garfo.

— É uma música desgraçada de triste — fui dizendo.

— A mulher engana ele até com o periquito — respondeu James, passando o miolo de pão no fundo do prato para aproveitar o molho. — O pobre fica o dia inteiro trancado, ensaiando. Não desce nem para comer. Enquanto isso, a cabra se deita com tudo quanto é cristão que aparece.

— Deitou com você?

— É meio magricela para o meu gosto, mas é bonita. E novinha. Então entrei com meu jogo, compreende? Mas já vi que não dou sorte com mulher, torcem logo o nariz quando ficam sabendo que engulo gilete, acho que ficam com medo de se cortar...

Tive vontade de rir também, mas justo nesse instante o saxofone começou a tocar de um jeito abafado, sem fôlego como uma boca querendo gritar, mas com uma mão tapando, os sons espremidos saindo por entre os dedos. Então me lembrei da moça que recolhi uma noite no meu caminhão. Saiu para ter o filho na vila, mas não agüentou e caiu ali mesmo na estrada, rolando feito bicho. Arrumei ela na carroceria e corri como um louco para chegar o quanto antes, apavorado com a idéia do filho nascer no caminho e desandar a uivar que nem a mãe. No fim, para não me aporrinhar mais, ela abafava os gritos na lona, mas juro que seria melhor que abrisse a boca no mundo, aquela coisa de sufocar os gritos já estava me endoidando. Pomba, não desejo ao inimigo aquele quarto de hora.

— Parece gente pedindo socorro — eu disse, enchendo meu copo de cerveja. — Será que ele não tem uma música mais alegre?

James encolheu o ombro.

— Chifre dói.

Nesse primeiro dia fiquei sabendo ainda que o moço do saxofone tocava num bar, voltava só de madrugada. Dormia em quarto separado da mulher.

—- Mas por quê? — perguntei, bebendo mais depressa para acabar logo e me mandar dali. A verdade é que não tinha nada com isso, nunca fui de me meter na vida de ninguém, mas era melhor ouvir o tro-ló-ló do James do que o saxofone.

— Uma mulher como ela tem que ter seu quarto — explicou James, tirando um palito do paliteiro. — E depois, vai ver que ela reclama do saxofone.

— E os outros não reclamam?

— A gente já se acostumou.

Perguntei onde era o reservado e levantei-me antes que James começasse a escarafunchar os dentões que lhe restavam. Quando subi a escada de caracol, dei com um anão que vinha descendo. Um anão, pensei. Assim que saí do reservado dei com ele no corredor, mas agora estava com uma roupa diferente. Mudou de roupa, pensei meio espantado, porque tinha sido rápido demais. E já descia a escada quando ele passou de novo na minha frente, mas já com outra roupa. Fiquei meio tonto. Mas que raio de anão é esse que muda de roupa de dois em dois minutos? Entendi depois, não era um só, mas uma trempe deles, milhares de anões louros e de cabelo repartidinho do lado.

— Pode me dizer de onde vem tanto anão? — perguntei à madame, e ela riu.

— Todos artistas, minha pensão é quase só de artistas...

Fiquei vendo com que cuidado o copeiro começou a empilhar almofadas nas cadeiras para que eles se sentassem. Comida ruim, anão e saxofone. Anão me enche e já tinha resolvido pagar e sumir quando ela apareceu. Veio por detrás, palavra que havia espaço para passar um batalhão, mas ela deu um jeito de esbarrar em mim.

— Licença?

Não precisei perguntar para saber que aquela era a mulher do moço do saxofone. Nessa altura o saxofone já tinha parado. Fiquei olhando. Era magra, sim, mas tinha as ancas redondas e um andar muito bem bolado. O vestido vermelho não podia ser mais curto. Abancou-se sozinha numa mesa e de olhos baixos começou a descascar o pão com a ponta da unha vermelha. De repente riu e apareceu uma covinha no queixo. Pomba, que tive vontade de ir lá, agarrar ela pelo queixo e saber por que estava rindo. Fiquei rindo junto.

— A que horas é a janta? — perguntei para a madame, enquanto pagava.

— Vai das sete às nove. Meus pensionistas fixos costumam comer às oito — avisou ela, dobrando o dinheiro e olhando com um olhar acostumado para a dona de vermelho. — O senhor gostou da comida?

Voltei às oito em ponto. O tal James já mastigava seu bife. Na sala havia ainda um velhote de barbicha, que era professor parece que de mágica e o anão de roupa xadrez. Mas ela não tinha chegado. Animei-me um pouco quando veio um prato de pastéis, tenho loucura por pastéis. James começou a falar então de uma briga no parque de diversões, mas eu estava de olho na porta. Vi quando ela entrou conversando baixinho com um cara de bigode ruivo. Subiram a escada como dois gatos pisando macio. Não demorou nada e o raio do saxofone desandou a tocar.

— Sim senhor — eu disse e James pensou que eu estivesse falando na tal briga.

— O pior é que eu estava de porre, mal pude me defender!

Mordi um pastel que tinha dentro mais fumaça do que outra coisa. Examinei os outros pastéis para descobrir se havia algum com mais recheio.

— Toca bem esse condenado. Quer dizer que ele não vem comer nunca?

James demorou para entender do que eu estava falando. Fez uma careta. Decerto preferia o assunto do parque.

— Come no quarto, vai ver que tem vergonha da gente — resmungou ele, tirando um palito. — Fico com pena, mas às vezes me dá raiva, corno besta. Um outro já tinha acabado com a vida dela!

Agora a música alcançava um agudo tão agudo que me doeu o ouvido. De novo pensei na moça ganindo de dor na carroceria, pedindo ajuda não sei mais para quem.

— Não topo isso, pomba.

— Isso o quê?

Cruzei o talher. A música no máximo, os dois no máximo trancados no quarto e eu ali vendo o calhorda do James palitar os dentes. Tive ganas de atirar no teto o prato de goiabada com queijo e me mandar para longe de toda aquela chateação.

— O café é fresco? — perguntei ao mulatinho que já limpava o oleado da mesa com um pano encardido como a cara dele.

— Feito agora.

Pela cara vi que era mentira.

— Não é preciso, tomo na esquina.

A música parou. Paguei, guardei o troco e olhei reto para aporta, porque tive o pressentimento que ela ia aparecer. E apareceu mesmo com o aninho de gata de telhado, o cabelo solto nas costas e o vestidinho amarelo mais curto ainda do que o vermelho. O tipo de bigode passou em seguida, abotoando o paletó. Cumprimentou a madame, fez ar de quem tinha muito o que fazer e foi para a rua.

— Sim senhor!

— Sim senhor o quê? — perguntou James.

— Quando ela entra no quarto com um tipo, ele começa a tocar, mas assim que ela aparece, ele pára. Já reparou? Basta ela se enfurnar e ele já começa.

James pediu outra cerveja. Olhou para o teto.

— Mulher é o diabo...

Levantei-me e quando passei junto da mesa dela, atrasei o passo. Então ela deixou cair o guardanapo. Quando me abaixei, agradeceu, de olhos baixos.

— Ora, não precisava se incomodar...

Risquei o fósforo para acender-lhe o cigarro. Senti forte seu perfume.

— Amanhã? — perguntei, oferecendo-lhe os fósforos. — Às sete, está bem?

— É a porta que fica do lado da escada, à direita de quem sobe.

Saí em seguida, fingindo não ver a carinha safada de um dos anões que estava ali por perto e zarpei no meu caminhão antes que a madame viesse me perguntar se eu estava gostando da comida. No dia seguinte cheguei às sete em ponto, chovia potes e eu tinha que viajar a noite inteira. O mulatinho já amontoava nas cadeiras as almofadas para os anões. Subi a escada sem fazer barulho, me preparando para explicar que ia ao reservado, se por acaso aparecesse alguém. Mas ninguém apareceu. Na primeira porta, aquela à direita da escada, bati de leve e fui entrando. Não sei quanto tempo fiquei parado no meio do quarto: ali estava um moço segurando um saxofone. Estava sentado numa cadeira, em mangas de camisa, me olhando sem dizer uma palavra. Não parecia nem espantado nem nada, só me olhava.

— Desculpe, me enganei de quarto — eu disse, com uma voz que até hoje não sei onde fui buscar.

O moço apertou o saxofone contra o peito cavado.

— E na porta adiante — disse ele baixinho, indicando com a cabeça.

Procurei os cigarros só para fazer alguma coisa. Que situação, pomba. Se pudesse, agarrava aquela dona pelo cabelo, a estúpida. Ofereci-lhe cigarro.

— Está servido?

— Obrigado, não posso fumar.

Fui recuando de costas. E de repente não agüentei. Se ele tivesse feito qualquer gesto, dito qualquer coisa, eu ainda me segurava, mas aquela bruta calma me fez perder as tramontanas.

— E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada?

— Eu toco saxofone.

Fiquei olhando primeiro para a cara dele, que parecia feita de gesso de tão branca. Depois olhei para o saxofone. Ele corria os dedos compridos pelos botões, de baixo para cima, de cima para baixo, bem devagar, esperando que eu saísse para começar a tocar. Limpou com um lenço o bocal do instrumento, antes de começar com os malditos uivos.


Bati a porta. Então a porta do lado se abriu bem de mansinho, cheguei a ver a mão dela segurando a maçaneta para que o vento não abrisse demais. Fiquei ainda um instante parado, sem saber mesmo o que fazer, juro que não tomei logo a decisão, ela esperando e eu parado feito besta, então, Cristo-Rei!? E então? Foi quando começou bem devagarinho a música do saxofone. Fiquei broxa na hora, pomba. Desci a escada aos pulos. Na rua, tropecei num dos anões metido num impermeável, desviei de outro, que já vinha vindo atrás e me enfurnei no caminhão. Escuridão e chuva. Quando dei a partida, o saxofone já subia num agudo que não chegava nunca ao fim. Minha vontade de fugir era tamanha que o caminhão saiu meio desembestado, num arranco.

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DEBATE
A temática da solidão e da hipocrisia nas relações humanas permeia a ficção de Lygia Fagundes Telles. No conto em tela, tudo indica que há uma espécie de traição consentida. Mas nesse caso, embora seja aparentemente traído, não estaria o saxofonista usando a mulher em proveito da sua arte?

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