sexta-feira, 31 de julho de 2009

Atelier: Magritte - o criador de mistérios

"Tudo o que vemos esconde outra coisa, e nós queremos sempre ver o que está escondido pelo que vemos."


O maior dos pintores surrealistas belgas tem finalmente um museu, em Bruxelas. São mais de 250 obras e documentos que mostram como Magritte passou a vida a subverter a realidade. Estão lá os pássaros-céu, as mulheres enigmáticas, os cartazes elegantes que anunciam tardes de tango.

As manhãs de domingo são confusas. Há dezenas e dezenas de pessoas em cada um dos andares, as vozes dos guias sobrepõem-se umas às outras e as obras mais conhecidas são praticamente inacessíveis - estão rodeadas de turistas e de alunos de História de Arte, com os seus blocos cheios de esboços e apontamentos. O Museu Magritte, o mais recente pólo do Museu de Belas-Artes da Bélgica, na Place Royale, em Bruxelas, tem apenas dois meses, mas é já apresentado como um caso de sucesso, com os seus 75 mil visitantes.

Para Virginie Devillez, directora de projecto deste museu que nasceu em 2005 na cabeça de Michel Draguet, director do Museu de Belas-Artes, e de Charly Hersovici, presidente da Fundação Magritte, e que começou a ser montado três anos mais tarde, o êxito não é surpreendente. "Bruxelas é uma cidade pequena, mas com pessoas de toda a Europa, com um nível cultural elevado", explica ao P2 por telefone. Muitas dessas pessoas estão habituadas à obra de René Magritte (1898-1967) - em livros e catálogos, na publicidade e no cinema - e algumas até já tiveram oportunidade de estar frente a uma das suas obras, em museus europeus ou americanos, mas "não querem perder a oportunidade de ver tantos quadros juntos de um dos pintores mais reproduzidos do mundo".

O novo Museu Magritte tem a maior colecção de obras do pintor surrealista belga. São 250 pinturas, esculturas, desenhos, posters, fotografias e outros documentos, incluindo dezenas de manuscritos e até pautas ilustradas, distribuídos por três níveis de exposição (ao todo são 2500 metros quadrados), segundo um programa que procurou aliar a organização temática à cronológica, apostando na componente cenográfica, inspirada na obra do próprio pintor. "O tom escuro das paredes vem directamente d' O Império das Luzes, é ele que faz sobressair os quadros como se fossem jóias", diz Devillez.

As jóias, garante a directora deste projecto, que custou sete milhões de euros e junta dois dos mais importantes acervos de obras de Magritte - o da sua viúva, Georgette, e o de Iréne Harmoir-Scutenaire, viúva de Louis, um dos maiores amigos do pintor - e empréstimos de várias colecções privadas, podem ser alguns dos quadros mais importantes (como Le Domaine d'Arnheim ou Le Retour), cartas íntimas ou fotografias do casal Magritte. "Neste museu, que, por causa da mistura de material biográfico e documental com a obra, pode parecer mais uma exposição temporária do que permanente, a vida de Magritte é importantíssima, porque ajuda a contextualizar os vários períodos de criação", explica Devillez. "Sem compreendermos a vida, as mudanças que ela trouxe, não podemos compreender o artista", diz, acrescentando que a palavra "compreender", quando usada em relação à obra de Magritte, é sempre "vaga" e "dúbia" - só o simples esforço de compreensão por parte do visitante irritaria o artista, que preferia que a sua pintura fosse sentida como poesia e não analisada como uma substância qualquer na bancada de um laboratório.

O que Magritte faz a cada quadro, a cada um dos deliciosos filmes exibidos no museu (como o que nos mostra Irène Hamoir comendo uma banana), é desafiar quem o observa, com uma irreverência que parece ter tanto de cerebral como de infantil. É com essa irreverência que se propõe subverter a realidade a partir das coisas simples do dia-a-dia, um jogo de criança que transporta para a vida adulta.

Começo difícil
"Não consigo pensar em circunstância alguma que possa ter determinado a minha personalidade ou a minha arte. Não acredito no 'determinismo'", diz o pintor, num dos muitos aforismos distribuídos pelas paredes do museu. Magritte não gostava que críticos e jornalistas procurassem explicar a sua arte a partir da sua vida, nem que tentassem encontrar numa reflexos da outra. Mas esse processo, irresistível para especialistas como Marcel Paquet e Patrick Roegiers, é quase sempre inevitável.

Magritte nasceu no Sul da Bélgica, em 1898, numa família de baixos recursos, com um pai alfaiate e uma mãe modista de chapéus. Por natureza calado e tímido, Magritte e os seus dois irmãos mudaram frequentemente de casa com os pais, que procuravam dar-lhes uma vida melhor. Adeline, a mãe, preocupava-se com a educação dos seus três rapazes, mas cedo deixou de os acompanhar - suicidou-se quando Magritte era ainda um adolescente (teria 13 ou 14 anos, os dados divergem). As memórias mais fortes desses primeiros anos, haveria de contar mais tarde, diziam respeito a uma caixa cheia de objectos que ficava sempre junto ao seu berço, a um balão de ar quente pousado no telhado da sua casa, e ao rosto da mãe coberto por um pano quando retiraram o seu corpo do rio (há quem veja uma relação evidente entre este momento e quadros como Os Amantes, de 1928).



É a pintar que Magritte se sente livre. Começara a estudar pintura em 1910, em Châtelet, e continuara, três anos mais tarde, em Charleroi, quando já começava a ser evidente o poder que tinham sobre ele as aventuras de Fântomas, as viagens de Robert Louis Stevenson e o universo literário de Edgar Allan Poe.

Já andava na Academia de Belas-Artes há mais de dois anos quando decidiu fazer os primeiros quadros, inicialmente cubistas, depois futuristas. Começa a dar-se com alguns pintores e poetas, entre os quais E.L.T. Mesens, marca duradoura na sua vida e no seu trabalho, tal como Marcel Leconte.

Enquanto estuda e anda pelos cafés de Bruxelas, em tertúlias e discussões políticas (aderiu duas vezes ao Partido Comunista, para o qual chegou a desenhar cartazes, que nunca foram aceites), Magritte vai formando o seu imaginário, em que a realidade aparece invertida. "Quer mostrar o mistério da vida", explica Devillez, "mas só para provar que ela é estranha e importante."

Na fachada de um dos cafés que Magritte e o seu grupo frequentavam - La Fleur en Papier Doré, na Rue des Alexiens - brinca-se com a histórica ligação do maior dos surrealistas belgas (é assim que é descrito) àquele pequeno espaço que ainda mantém a decoração original, com a sua lareira rude e velhas molduras nas paredes amareladas, cobertas de colagens e de frases encorajadoras: "Todo o homem tem direito a 24 horas de liberdade por dia."

"Isto não é um museu: aqui consome-se...", diz a parede exterior, que fica colada à da florista. Há ruas e praças do centro da cidade, como as do bairro de Le Sablon, em que o pintor do chapéu de coco - imagem de marca de Magritte (lembram-se do quadro Le Fils de L'Homme, de 1964, que aparece no filme O Caso Tomas Crown?) - se instalou na montra de livrarias, lojas de chocolate e clubes de xadrez, paixão que o autor de L'Oiseau de Ciel (1966, símbolo da companhia aérea Sabena) partilhava com Man Ray e Marcel Duchamp. Mas havia paixões que Magritte não partilhava.

Georgette, sempre Georgette
Ela está por todo o lado. Nos quadros, nas fotografias, nas cartas e nos poemas. Mesmo quando não temos a certeza de que é a ela que Magritte se refere, Georgette está lá, com os olhos grandes, claros, entrando nas sessões fotográficas do marido - com um cachimbo sobre a cabeça pousada na areia ou enrolada num lençol branco amarrotado, divertida - ou como destinatária invisível de uma mensagem, de um esboço.

"No museu há um lindo poema de amor, que provavelmente seria para Georgette, mas não temos certeza", lembra a directora do projecto. A meio do papel amarelecido, escrito à mão, pode ler-se: "Tenho o coração desta mulher. (...) A dois, o nosso poder serve-nos para inventar um empreendimento surpreendente..."

"Magritte era louco por ela, isso sabemos. Há uma carta de 1922 em que admite que não consegue trabalhar por estar demasiado apaixonado. Não consegue pensar em mais nada."

Magritte e Georgette conheceram-se em 1913, escreve Marcel Paquet em René Magritte: O Pensamento Tornado Visível. Ele tinha 15 anos e ela não chegara ainda aos 13. Foi nesse dia, em Charleroi, que andaram pela primeira vez de carrossel (não sabemos se René se atreveu a segurar-lhe na mão). Reencontraram-se em 1920, no Jardim Botânico de Bruxelas, e nunca mais se separaram - Georgette passou a ser o seu modelo e, dois anos mais tarde, também sua mulher.

"Estavam sempre juntos", diz Devillez. "Passamos horas a ler os documentos e chegamos à conclusão de que eles não viviam um sem o outro. Parece um filme. Magritte faz-lhe as vontades, muda de casa porque ela quer um jardim, muda de país porque ela se sente sozinha [foi assim durante a Segunda Guerra Mundial, quando troca o Sul de França por Bruxelas, onde ela ficara]..." Aparentemente, o pintor não tinha dúvidas de que valia a pena. "Feliz aquele que atraiçoa as suas convicções pelo amor de uma mulher", escreve.

O inquieto
Profundamente influenciado pela obra de De Chirico - outro dos grandes do surrealismo -, Magritte desenvolve um universo muito singular, opondo-se por vezes às directrizes da "escola" francesa, liderada pelo poeta André Breton, com quem mantém uma tensa relação de amizade, desde 1927, quando o belga se muda para Paris e os dois partilham horas de trabalho e boémia com o pintor Marcel Duchamp e outro poeta, Paul Éluard.

Nos três anos parisienses do casal Magritte, o pintor torna-se mais livre. Graças a um contrato com uma galeria tem um ordenado e não precisa de perder tempo a trabalhar em publicidade.

"Aqui consolida-se a sua forma de pensar a pintura. O que lhe interessa nela não é a técnica, mas a poesia", explica Devillez. "Magritte não é um espontâneo. Quando começa a pintar, sempre muito lentamente, tem o quadro todo na cabeça, sabe exactamente que tipo de reacção procura do observador." É um "criador de mistérios" que dizia muitas vezes que pintar era cansativo porque implicava pensar de mais.

Quando se percorrem as galerias do novo museu, sente-se a inquietação que marca a sua produção artística, tanto nos quadros mais populares, como La Magie Noire, como nos do chamado período vache, mais luminoso e lúdico, apesar de por vezes muitíssimo duro, inaugurado em 1947 como reacção a uma ruptura com Breton (L'Ellipse e L'Art de Vivre).

"A colecção vache que temos no museu, e que influenciou alguns artistas contemporâneos, é muito significativa", acrescenta a conservadora, para concluir que nesse período, como nos restantes, Magritte se mantém sempre distante. Mesmo quando escreve coisas aparentemente simples como estas: "Amo o humor subversivo, sardas, joelhos, os cabelos compridos das mulheres, os sonhos das crianças, a rapariga que corre pela rua."

Texto: Lucinda Canelas
in Jornal Público | 30 de Julho de 2009

"Biografia" de chimpanzé concorre a prêmio literário


A lista com os 13 finalistas do prêmio literário britânico Man Booker Prize 2009 foi divulgada na última terça-feira, dia 28 de julho, e uma surpresa “animal” está dando o que falar, como mostra matéria do Terra. Um dos livros indicados ao premio é uma "autobiografia" de um chimpanzé. O livro de ficção Me Cheeta - My Life in Hollywood, lançado no fim de 2008, foi escrito por James Lever como se o macaco contasse sua história. Uma vida agitada, diga-se de passagem.

O relato contém os detalhes sobre os bastidores de Hollywood nas décadas de 1930 e 1940, a "era de ouro” dos grandes estúdios de cinema. O livro conta ainda a sua “fuga” da África, a perda da virgindade com algumas macacas na mansão de Charles Chaplin, até o estouro como astro de cinema, fiel companheira de Tarzan, vivido no cinema por Johnny Weissmuller.

O jornal inglês Telegraph fez uma resenha de Me Cheeta em que considera a obra uma “sátira de humor negro do showbizz”. Já o Time Online disponibiliza uma reportagem de 2008 que conta um pouco sobre a vida de Cheeta e sua “carreira” em Hollywood. O blog Bibliotecário de Babel repercute o livro.

A tempo: o vencedor do Man Booker Prize 2009 será anunciado no próximo dia 6 de outubro.

"Pai" do Pequeno Príncipe, Exupéry desapareceu há 65 anos

*Claudio R S Pucci - Portal Terra

Reduzir Normal Aumentar Imprimir Não há quem não conheça a história do Pequeno Príncipe, a profunda, metafórica e enigmática obra de Antoine Jean-Baptiste Marie Roger de Saint-Exupéry, um piloto e escritor francês que desapareceu em um vôo de reconhecimento em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial e virou uma lenda.

Saint-Exupéry nasceu no dia 29 de junho de 1900 em uma família nobre de Lyon, seu pai era visconde. Quando estava se formando em arquitetura na Escola de Belas Artes, acabou alistando-se no exército francês em 1921, primeiramente na cavalaria leve e depois passando por um treinamento para piloto, apesar do descontentamento de seus pais e se sua então noiva, a futura escritora Louise Leveque de Vilmorin.

A partir de 1926, sua paixão por voar o colocou no serviço postal entre Toulouse e Dakar, em uma época onde aviões eram precariamente equipados. Em 1929, passou um tempo na Argentina, onde foi diretor da Companhia Aeropostal daquele país. Foi nesse ano que publicou seu primeiro livro, Correio do Sul. De volta ao norte da África, passou a fazer a rota Casablanca-Dakar.

Em 1931, suas experiências profissionais o inspiram a lançar mais uma obra, Vôo Noturno. Também neste ano, casou-se com a artista plástica e escritora salvadorenha Consuelo Suncin. O matrimônio, muito tumultuado, o levava a ficar mais tempo no ar do que em casa, por conta disso, tinha uma série de amantes por onde passava.

Em 1935, Exupéry e seu navegador sofreram um acidente no setor líbio do deserto do Saara quando tentavam bater o recorde de tempo entre Paris e Saigon. Apesar de saírem relativamente ilesos da queda, os dois passaram quatro dias vagando pelo inóspito local até serem encontrados por um beduíno. A desidratação era tão evidente que os dois nem mais suavam. Segundo o escritor, os dois experimentaram alucinações visuais e auditivas e a experiência que o inspiraria a escrever O Pequeno Príncipe, onde a história é justamente contada por um piloto que cai no deserto.

Com a segunda guerra mundial, ele voltou a se alistar e primeiramente fez parte da Força Aérea Francesa. Com a capitulação de seu país à Alemanha nazista, Antoine migrou para os Estados Unidos onde viveu em Nova York e em Long Island, mudando-se posteriormente para Quebec, no Canadá. Foi em 1942 que escreveu sua obra mais famosa, sobre o principezinho no planeta do tamanho de uma casa e com três vulcões (dois ativos e um inativo) e a bela flor.



As muitas mortes de Exupéry


Em 1944, de volta à Europa para lutar ao lado das Forças Livres da França, ele decolou de sua base na Córsega em uma missão de reconhecimento e nunca mais foi visto. Uma mulher reportou ter visto um avião caindo em 1º de agosto na costa de Carqueiranne, em Toulon, na França. Um corpo de uma soldado francês foi encontrado alguns dias depois, mas não foi possível identificar quem era e o corpo acabou sendo enterrado em Carqueiranne.

Em 1998, um pescador encontrou um bracelete de prata com os nomes de Saint-Exupéry e de sua mulher, Consuelo. Dois anos depois, o mergulhador Luc Vanrell encontrou um avião P-38 Lightning, o mesmo do voo fatídico do escritor na costa de Marselha. Em 2003, partes do aeroplano foram resgatadas. Investigadores do Departamento de Arqueologia Submarina da França confirmaram se tratar do avião de Exupéry, mas não encontraram marcas de balas na fuselagem.

Finalmente em março de 2008, o ex-piloto alemão da Luftwaffe, Horst Rippert, declarou ao jornal La Provence que fora ele quem derrubou o aeroplano de Exupéry. Segundo ex-piloto, ele derrubou um avião francês no dia 31 de julho de 1944, quando mais tarde soube que havia matado um de seus escritores favoritos, preferiu guardar segredo. O grande problema é que a versão de Rippert foi negada até pelo governo alemão, já que nos arquivos de sua força aérea não há qualquer menção sobre o fato. O mistério continua e, provavelmente, o mundo nunca saberá a verdade, apesar de ser sabido que Exupéry era o recordista de acidentes de sua companhia.

Após a morte de Exupéry, mais sete livros de sua autoria foram lançados. Sua importância na literatura francesa é imensa e sua história já foi contada em filmes como A Vida de Saint-Exupéry, de 1996, com Bruno Ganz como o escritor, e Wings of Courage, de Jean-Jacques Annaud. Seu último voo inspirou o livro The Last Flight of the Little Prince, de Jean-Pierre de Villers, e até mesmo um dos grandes mestres do quadrinho, o sensacional Hugo Pratt, chegou a imaginar essa aventura derradeira em Saint-Exupéry : Le Dernier Vol.

Eterno no imaginário das pessoas, Saint-Exupéry deixou valiosas lições de moral e ética e chegou a afirmar: "Se a vida não tem preço, nós comportamo-nos sempre como se alguma coisa ultrapassasse em valor a vida humana... Mas o quê?". Acreditamos que no caso dele foi o amor por voar.

Conto Brasileiro: Famigerado (Guimarães Rosa)


Foi de incerta feita — o evento. Quem pode esperar coisa tão sem pés nem cabeça? Eu estava em casa, o arraial sendo de todo tranqüilo. Parou-me à porta o tropel. Cheguei à janela.

Um grupo de cavaleiros. Isto é, vendo melhor: um cavaleiro rente, frente à minha porta, equiparado, exato; e, embolados, de banda, três homens a cavalo. Tudo, num relance, insolitíssimo. Tomei-me nos nervos. O cavaleiro esse — o oh-homem-oh — com cara de nenhum amigo. Sei o que é influência de fisionomia. Saíra e viera, aquele homem, para morrer em guerra. Saudou-me seco, curto pesadamente. Seu cavalo era alto, um alazão; bem arreado, ferrado, suado. E concebi grande dúvida.

Nenhum se apeava. Os outros, tristes três, mal me haviam olhado, nem olhassem para nada. Semelhavam a gente receosa, tropa desbaratada, sopitados, constrangidos coagidos, sim. Isso por isso, que o cavaleiro solerte tinha o ar de regê-los: a meio-gesto, desprezivo, intimara-os de pegarem o lugar onde agora se encostavam. Dado que a frente da minha casa reentrava, metros, da linha da rua, e dos dois lados avançava a cerca, formava-se ali um encantoável, espécie de resguardo. Valendo-se do que, o homem obrigara os outros ao ponto donde seriam menos vistos, enquanto barrava-lhes qualquer fuga; sem contar que, unidos assim, os cavalos se apertando, não dispunham de rápida mobilidade. Tudo enxergara, tomando ganho da topografia. Os três seriam seus prisioneiros, não seus sequazes. Aquele homem, para proceder da forma, só podia ser um brabo sertanejo, jagunço até na escuma do bofe. Senti que não me ficava útil dar cara amena, mostras de temeroso. Eu não tinha arma ao alcance. Tivesse, também, não adiantava. Com um pingo no i, ele me dissolvia. O medo é a extrema ignorância em momento muito agudo. O medo O. O medo me miava. Convidei-o a desmontar, a entrar.

Disse de não, conquanto os costumes. Conservava-se de chapéu. Via-se que passara a descansar na sela — decerto relaxava o corpo para dar-se mais à ingente tarefa de pensar. Perguntei: respondeu-me que não estava doente, nem vindo à receita ou consulta. Sua voz se espaçava, querendo-se calma; a fala de gente de mais longe, talvez são-franciscano. Sei desse tipo de valentão que nada alardeia, sem farroma. Mas avessado, estranhão, perverso brusco, podendo desfechar com algo, de repente, por um és-não-és. Muito de macio, mentalmente, comecei a me organizar. Ele falou:

"Eu vim preguntar a vosmecê uma opinião sua explicada..."

Carregara a celha. Causava outra inquietude, sua farrusca, a catadura de canibal. Desfranziu-se, porém, quase que sorriu. Daí, desceu do cavalo; maneiro, imprevisto. Se por se cumprir do maior valor de melhores modos; por esperteza? Reteve no pulso a ponta do cabresto, o alazão era para paz. O chapéu sempre na cabeça. Um alarve. Mais os ínvios olhos. E ele era para muito. Seria de ver-se: estava em armas — e de armas alimpadas. Dava para se sentir o peso da de fogo, no cinturão, que usado baixo, para ela estar-se já ao nível justo, ademão, tanto que ele se persistia de braço direito pendido, pronto meneável. Sendo a sela, de notar-se, uma jereba papuda urucuiana, pouco de se achar, na região, pelo menos de tão boa feitura. Tudo de gente brava. Aquele propunha sangue, em suas tenções. Pequeno, mas duro, grossudo, todo em tronco de árvore. Sua máxima violência podia ser para cada momento. Tivesse aceitado de entrar e um café, calmava-me. Assim, porém, banda de fora, sem a-graças de hóspede nem surdez de paredes, tinha para um se inquietar, sem medida e sem certeza.

— "Vosmecê é que não me conhece. Damázio, dos Siqueiras... Estou vindo da Serra..."

Sobressalto. Damázio, quem dele não ouvira? O feroz de estórias de léguas, com dezenas de carregadas mortes, homem perigosíssimo. Constando também, se verdade, que de para uns anos ele se serenara — evitava o de evitar. Fie-se, porém, quem, em tais tréguas de pantera? Ali, antenasal, de mim a palmo! Continuava:

— "Saiba vosmecê que, na Serra, por o ultimamente, se compareceu um moço do Governo, rapaz meio estrondoso... Saiba que estou com ele à revelia... Cá eu não quero questão com o Governo, não estou em saúde nem idade... O rapaz, muitos acham que ele é de seu tanto esmiolado..."

Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.

O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, inseqüentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá:

— "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-megerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara com riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?

— "Saiba vosmecê que saí ind'hoje da Serra, que vim, sem parar, essas seis léguas, expresso direto pra mor de lhe preguntar a pregunta, pelo claro..."

Se sério, se era. Transiu-se-me.

— "Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo — o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam... A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"

Se simples. Se digo. Transfoi-se-me. Esses trizes:

— Famigerado?

— "Sim senhor..." — e, alto, repetiu, vezes, o termo, enfim nos vermelhões da raiva, sua voz fora de foco. E já me olhava, interpelador, intimativo — apertava-me. Tinha eu que descobrir a cara. — Famigerado? Habitei preâmbulos. Bem que eu me carecia noutro ínterim, em indúcias. Como por socorro, espiei os três outros, em seus cavalos, intugidos até então, mumumudos. Mas, Damázio:

— "Vosmecê declare. Estes aí são de nada não. São da Serra. Só vieram comigo, pra testemunho..."

Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.

— Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...

— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"

— Vilta nenhuma, nenhum doesto. São expressões neutras, de outros usos...

— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"

— Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...

— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"

Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:

— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...

— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.

Saltando na sela, ele se levantou de molas. Subiu em si, desagravava-se, num desafogaréu. Sorriu-se, outro. Satisfez aqueles três: — "Vocês podem ir, compadres. Vocês escutaram bem a boa descrição..." — e eles prestes se partiram. Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse: — "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!" Seja que de novo, por um mero, se torvava? Disse: — "Sei lá, às vezes o melhor mesmo, pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse: — "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..." Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois. Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

UFPR adia inscrições para vestibular e feira de profissões devido à gripe suína


A UFPR (Universidade Federal do Paraná) decidiu adiar o prazo de inscrições para o vestibular 2010, devido à gripe suína. O período iria de 16 de agosto a 14 de setembro. Novas datas ainda serão definidas pela universidade.

A instituição informou nesta quinta-feira (30) que as aulas ficarão suspensas até 10 de agosto como prevenção à influenza A (H1N1). A sétima edição da feira "UFPR Cursos e Profissões", inicialmente prevista para 14 a 16 de agosto também foi transferida. A nova data será de 11 a 13 de setembro.

O edital do processo seletivo deve ser publicado pelo Núcleo de Concursos na próxima semana. A antecedência mínima entre a publicação do edital e o início das inscrições é de 15 dias.

As provas da primeira fase estão previstas para 15 de novembro. As da segunda fase, para os dias 6 e 7 de dezembro.

Outras informações podem ser obtidas no site da instituição.

MEC corrige questão de ciências de simulado do Enem 2009

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) corrigiu, nesta quinta-feira (30), uma questão de ciências da natureza do simulado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009.


Veja a prova de ciências da natureza corrigida (arquivo em .pdf)

As outras provas não sofreram modificações. Confira:


Enem 2009: ciências humanas e suas tecnologias (arquivo em .pdf)

Enem 2009: linguagens, códigos e suas tecnologias (arquivo em .pdf)

Enem 2009: matemática e suas tecnologias (arquivo em .pdf)

Segundo comunicado da assessoria de imprensa, o enunciado antigo trazia "o valor errado para massa molecular da glicose (120 g/mol) - o valor correto é 180 g/mol".

"Com o dado de 120 g/mol, era possível calcular e assinalar como 'correta' a alternativa B: 'retirada de 2,20 x 106 kg de gás carbônico da atmosfera, além da emissão direta de toneladas de gás oxigênio para atmosfera'. Apesar disso, os técnicos da área refizeram as alternativas com o valor correto da massa molecular da glicose e o item está sendo novamente disponibilizado, sem alteração de gabarito."

A nota à imprensa informa ainda que não há novas alterações previstas para o restante do simulado.

Os exemplos de questões do simulado, de acordo com o órgão do MEC (Ministério da Educação) foram elaborados a partir de critérios técnicos e pedagógicos, com itens contextualizados e voltados para a realidade do estudante.

Dicas para história e química no Enem 2009; veja os temas mais prováveis


Tanto história quanto química no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009, deverão ter um ponto comum: a exigência de paciência do candidato. Isso porque a prova promete trazer enunciados longos, cobrando capacidade de leitura e de interpretação. É isso o que avaliam os especialistas ouvidos pelo UOL Vestibular.


Faça o simulado online divulgado pelo Inep


Veja as orientações dos professores para cada uma das disciplinas.


História
Para o professor de história do ensino médio do colégio Sion, Marcello Sarraino Fonseca, a aposta principal no Enem são grandes temas, como direitos humanos, escravidão e liberdade, igualdade e desigualdade. Dentro desses assuntos, será possível abordar conteúdos da história e suas relações com o presente. Daí a necessidade de estar bem informado.


"O Enem poderá fazer questões que comparem a situação do passado com o presente. Uma possível questão seria sobre a crise atual e suas relações com a crise de 1929", afirma Fonseca.

O conhecimento do mundo contemporâneo, para o professor, é fundamental. Confira alguns temas que o professor avalia importantes na hora de revisar o conteúdo:


História do Brasil - ênfase no Brasil independente, principalmente no Brasil República, no . Conceitos como oligarquias, ditadura e democracia fazem parte deste período.


História geral - mundo moderno e contemporâneo, a partir da Revolução Francesa. Questões sobre a política, a economia, o modelo liberal, os fascismos, as guerras podem ser estudados neste período.

Temas que podem ser listados como candidatos a questões são:
- guerras;
- crise econômica;
- gripe suína e os paralelos com a peste negra e com a gripe espanhola;
- a questão nuclear e a Guerra Fria;
- a questão do negro na sociedade brasileira;
- o trabalho escravo;
- desigualdades sociais e a constituição da realidade contemporânea brasileira.

"Temos de pensar o que o elaborador das questões quer. E o Enem quer um estudante crítico. Para isso, uma forma é a comparação com a atualidade", avalia. Por isso, o professor julga que temáticas como a Idade Média ou da monarquia brasileira devam aparecer com menor frequência na prova do MEC (Ministério da Educação).

Já a república romana e a democracia ateniense podem ser abordadas em itens que exijam a correlação com o mundo contemporâneo.

Se você está preocupado porque não consegue se lembrar de datas e nomes da história, relaxe. A "decoreba" não deverá ser cobrada. "O que importa na prova não é tanto o conhecimento desses dados, mas a interpretação do enunciado e das questões", diz Fonseca.


Química
Na avaliação do coordenador de química do Objetivo, Antonio Mario Salles, o programa da disciplina cobrado no Enem 2009 é o mesmo da Fuvest. "Mas isso não quer dizer nada. Os examinadores devem dar mais importância para competências e habilidades. Os enunciados deverão trazer muita informação", diz.

De acordo com o professor, o texto que apresenta a questão poderá até trazer substâncias "moderninhas", mas a pergunta deverá oferecer as informações básicas para que o candidato consiga responder. "Não vai ser necessário saber coisas de cabeça. É preciso ter um pouco de conceitos".

A abordagem da química deverá privilegiar conceitos relacionados ao cotidiano, em problemas ambientais ou de saúde, por exemplo. Assim, questões sobre poluição, chuva ácida, efeito estufa ou até mesmo radioatividade são fortes candidatas a aparecerem.

Veja os principais tópicos a revisar:


Cálculo estequiométrico - devm cair, mas não em questões rebuscadas.


Ácidos, bases, sais e óxidos - podem cair, por isso é importante ter o conceito fixado. A banca deverá fornecer informações sobre fórmulas, caso sejam necessárias.


Ligações químicas.


Química orgânica - questões ligadas ao cotidiano costumam tratar deste tópico da química.


Físico química - perguntas sobre pH são tradicionais, sempre com alguma historinha do dia a dia.

"Agora o estudante deve treinar leitura e se dedicar aos capítulos mais importantes da química", diz Salles.

UFMG adia início das inscrições para o vestibular 2010; prazo começa no dia 12


A UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) adiou, nesta quinta-feira (30), o início do prazo de inscrição para o vestibular 2010. O período de inscrições começaria no dia 7 de agosto, mas foi transferido para o dia 12.

De acordo com a instituição, a mudança ocorreu, porque o Conselho Universitário vai analisar o sistema de bônus no dia 4. Como o órgão poderá sugerir alterações na bonificação, o adiamento das inscrições seria necessário para a publicação de um eventual edital.

A universidade terá 650 novas vagas em 11 cursos inéditos no vestibular 2010. As informações foram divulgadas no edital do processo seletivo.

Ao todo, serão oferecidas 6.600 vagas, distribuídas em 75 cursos. Do total de vagas, 240 serão oferecidas no campus de Montes Claros, no norte de Minas Gerais, e o restante (6.360), em Belo Horizonte.

Os cursos de comunicação social, farmácia, filosofia e geografia ganharam, ao todo, 160 novas vagas, que serão oferecidas em 2010.


Inscrições
Os interessados devem se inscrever para o vestibular 2010 de 12 de agosto a 8 de setembro de 2009, exclusivamente pela internet. O valor da taxa de inscrição é de R$ 130.
Só poderá concorrer a uma das vagas o candidato que tiver concluído ou estiver regularmente matriculado na 3ª série do ensino médio, ou de curso equivalente. Quem não se enquadrar nesse critério, mas desejar, mesmo assim, participar do concurso poderá se inscrever como "treineiro". Os interessados que optarem pelo treinamento não concorrem a uma das vagas oferecidas pela universidade.


Bônus
No ato da inscrição, o candidato que comprovar ter cursado e ter sido aprovado nas quatro últimas séries do ensino fundamental e todo o ensino médio em qualquer escola pública do país poderá optar por concorrer ao Programa de Bônus de 10% em sua nota final, em cada uma das etapas do concurso. À nota final de cada etapa do candidato será aplicado um multiplicador de 1,10.

Além disso, o aluno de escola pública que se autodeclarar pardo ou negro, também poderá concorrer pelo Programa de Bônus de 15%, em sua nota final, em cada uma das etapas do concurso. Ou seja, à nota final de cada etapa desse candidato será aplicado um multiplicador de 1,15.

O sistema de bônus no processo seletivo da UFMG foi adotado pela primeira vez em 2009.


Provas
A primeira etapa do vestibular será aplicada em 29 de novembro; a segunda etapa vai de 4 a 11 de janeiro de 2010.


Para o vestibular 2010 é pedida a leitura obrigatória dos seguintes livros:



Sermão da Sexagésima; Padre Antônio Vieira;
Bom crioulo; Adolfo Caminha;
Cobra Norato; Raul Bopp;
Crônica da Casa Assassinada; Lúcio Cardoso;
Antes do Baile Verde; Lygia Fagundes Telles.


Outras informações podem ser obtidas no site da UFMG.

Modelo das questões do NOVO ENEM

O INEP acaba de disponibilizar modelos de questões das 4 áreas que irão compor o Novo ENEM. Confira:

- Ciências da natureza e suas tecnologias
- Ciências humanas e suas tecnologias
- Linguagens, códigos e suas tecnologias
- Matemática e suas tecnologias
- Para baixar os mesmos quatro arquivos compactados

*Os arquivos estão em PDF e já trazem o gabarito no final.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Enem 2009: veja 11 temas de matemática e biologia


*do UOL Vestibular

O candidato que se inscreveu no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009 ainda tem dois meses para ficar afiado para a prova. Neste momento, a orientação de especialistas é que o estudante tome contato com questões e testes anteriores. Embora o formato da avaliação seja outro neste ano, perguntas antigas podem servir como treinamento.


De acordo com o diretor pedagógico do ensino médio do Colégio Móbile, Blaidi Sant'Anna, o primeiro passo é conhecer bem o que será cobrado nas questões. "O aluno tem de ter o domínio da língua portuguesa e fazer a transposição desse conhecimento para a linguagem matemática, artística e científica. É preciso também compreender fenômenos e enfrentar situações problemas", resume.

Com esse conteúdo em mente, a segunda etapa é resolver questões de vestibulares e de edições do Enem que exijam raciocínio, interpretação de texto e conteúdo. Confira as orientações para biologia e matemática.


Biologia
Segundo o coordenador de biologia do curso Objetivo, Luís Carlos Bellinello, o novo modelo do Enem, seguindo os anúncios do MEC (Ministério da Educação), deverá ter abordagem semelhante à dos maiores vestibulares do país.

"A maior parte dos vestibulares já não cobra decorebas nem picuinhas. Acho que está muito certo andar por esse caminho", aponta. Confira os temas prioritários de biologia.


Vírus - deve ser cobrado na prova, principalmente porque o assunto está na crista da onda. A gripe suína deve inspirar a banca examinadora.


Genética molecular - a síntese de proteínas e o conhecimento sobre o DNA são assuntos tradicionais.


Ecologia - É importante estudar as cadeias e teias alimentares e os ciclos do carbono e do nitrogênio. Estudar com foco em problemas concretos, como a interferência desses temas na agricultura, pode ser um bom exercício.


Poluição - a qualidade do ar nas grandes cidades e a contaminação das águas e dos solos são assuntos candidatos a caírem em perguntas do Enem. No campo, um tema possível é o uso dos agrotóxicos e suas implicações no ambiente.


Fotossíntese e respiração - dois assuntos que nunca saem de moda nos processos seletivos.


Saúde humana - conhecer as causas e consequências de doenças como pressão alta e diabetes deve render pontos a mais nas questões.


Angiospermas - essas são as plantas cultivadas pelo homem e devem ser o ramo da botânica mais explorado no Enem.

"O Enem deve abordar problemas relacionados com o cotidiano. Por exemplo, em genética, pode cair problemas sobre a transfusão sanguínea. Ao estudar, o aluno deve voltar seu olhar para o nosso dia a dia", diz Bellinello.


Matemática
Para o supervisor de matemática do curso Anglo, Glenn Van Amson, o Enem deverá abordar assuntos básicos de álgebra e de geometria - trabalhados durante o fim do ensino fundamental e o início do ensino médio.

"Agora, o estudante deve fazer o maior número de testes do estilo do Enem. E testes fáceis: não adianta pegar os problemas cabeludos para resolver", afirma. A sugestão do professor é buscar exames anteriores da UFABC (Universidade Federal do ABC), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista) - que têm testes semelhantes aos que devem ser cobrados na prova do MEC.

Veja os tópicos com maior probabilidade de estarem presentes no novo Enem:


Geometria - semelhança de figuras e proporção entre as medidas; cálculo de área e de volume de figuras básicas, como paralelepípedo, cilindro e esfera.


Álgebra - leitura de gráficos, conhecimento das principais funções (primeiro grau, segundo grau, exponencial, logarítmica).


Progressão aritmética e geométrica.


Estatística - noções básicas de conceitos como moda, mediana e média; técnicas de contagem; cálculo de probabilidades.

Segundo Amson, problemas práticos como o de juros compostos, se baseiam em conhecimentos de funções. "O modelo matemático para estudar a disseminação da gripe suína, por exemplo, segue o mesmo princípio do de juros compostos", afirma.

O professor Blaidi Sant'Anna ainda adverte o estudante para manter um pé sempre na realidade. "É muito importante resolver as questões até o final. E, depois, cada aluno deverá estimar se a resposta é coerente com a realidade. Muitas vezes, o estudante chega a um resultado que seria impossível no cotidiano", diz.

MEC divulga 40 questões em simulado do Enem 2009; confira à meia-noite


O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), divulga à meia-noite de quarta-feira (29) para quinta-feira (30) um simulado com 40 questões-modelo da nova avaliação.

São dez questões para cada uma das quatro áreas: ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; linguagens, códigos e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias. Serão quatro arquivos disponibilizados em pdf, cada um com seu gabarito e indicação sobre a quais habilidades da nova matriz do Enem estão relacionadas às questões.

De acordo com o Inep, a mudança do Enem o aproxima das diretrizes curriculares nacionais e dos currículos praticados nas escolas, mas sem abandonar o modelo de avaliação centrado nas competências e habilidades.

Os exemplos de questões foram elaborados a partir de critérios técnicos e pedagógicos, com itens contextualizados e voltados para a realidade do estudante.


Limitações do simulado
A divulgação dos itens-modelo, diz o órgão do MEC (Ministério da Educação), pretende aproximar os participantes da nova estrutura de prova. O gabarito vai permitir a checagem das alternativas corretas e a melhor compreensão das habilidades abordadas, mas não será possível simular uma nota dentro da nova escala proposta para o Enem 2009, em Teoria de Resposta ao Item.

Cada uma das quatro áreas do Enem 2009 será composta por 45 itens de múltipla escolha, totalizando 180 questões. No dia 3 de outubro (sábado) serão aplicados 45 itens de ciências da natureza e suas tecnologias e 45 itens de ciências humanas e suas tecnologias.

No dia 4 de outubro (domingo), serão 45 itens de linguagens, códigos e suas tecnologias e 45 itens de matemática e suas tecnologias, além de uma proposta de redação. Essa configuração permitirá ao Enem 2009 a aferição mais exata do conhecimento dos participantes, e servirá ainda para selecionar os calouros para universidades federais.

Inep apresenta modelo de prova do Enem 2009

O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Reynaldo Fernandes, apresenta hoje (29), às 14h30,em Brasília, exemplos de questões do Enem 2009 (Exame Nacional do Ensino Médio), que será aplicado em outubro.

Segundo o Ministério da Educação, 4,5 milhões de estudantes inscreveram-se na prova, que permitirá o ingresso em 40 universidades federais. O Enem também é obrigatório para quem quer concorrer a uma bolsa de estudos do Programa Universidade para Todos em faculdades particulares.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cresce adaptação de livros para história em quadrinhos

PEDRO CIRNE
colaboração para a Folha de S.Paulo

Não é de hoje que editoras nacionais investem em adaptações de clássicos da literatura brasileira para quadrinhos, mas 2009 está sendo um ano de crescimento do gênero.
Entre os lançamentos recentes estão "Jubiabá" (ed. Quadrinhos na Cia., 96 pág., R$ 33), em que Spacca recria Jorge Amado; "O Pagador de Promessas" (ed. Agir, 72 pág., R$ 44,90), peça de Dias Gomes ilustrada por Eloar Guazzelli; Luiz Gê e Ivan Jaf transportando "O Guarani" (ed. Ática, 96 pág, R$ 22,90), de José de Alencar, aos quadrinhos; e uma nova adaptação de "O Alienista" (ed. Ática, 72 pág., R$ 22,90), agora por Luiz Antonio Aguiar e Cesar Lobo.



Esses lançamentos e as promessas de novas adaptações mostram que editoras e quadrinistas têm se aprofundado no gênero. Para 2009, estão previstos "O Ateneu", de Bira Dantas (Escala); "O Cortiço", de Ivan Jaf e Rodrigo Rosa (Ática); e "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Edgar Vasques e Flavio Braga (Desiderata).

Uma novidade é o reaparecimento de Luiz Gê, grande quadrinista dos anos 80, que volta a fazer HQs para uma editora depois de quase uma década parado. O resultado é "O Guarani", que não deixa o lado romântico de lado, mas prima pelas sequências de aventura.

"É preciso ter estrutura editorial para fazer quadrinhos de página [publicados em livros ou revistas], que é diferente das tiras em quadrinhos [publicadas em jornais]", diz Gê, ao explicar por que se envolveu com projetos fora das HQs. "As editoras grandes abriram os olhos e estão publicando quadrinhos. É a primeira vez na minha vida que existem boas condições para fazer quadrinhos no Brasil."

Se "O Guarani" foi para Gê um retorno aos quadrinhos, "Jubiabá" foi para Spacca uma mudança de gênero -suas três últimas obras foram biografias de pessoas ligadas à história brasileira. O livro é uma adaptação de um dos primeiros romances escritos por Jorge Amado, em 1935.

"A história traz muitas situações que seriam abordadas em outras obras de Jorge Amado: circo, greve, pai de santo, Recôncavo Baiano, boxe como espetáculo público, jagunço...", comenta Spacca.

Já em "O Pagador de Promessas", Eloar Guazzelli adapta a peça de teatro de Dias Gomes. "É impossível adaptar uma peça de teatro sem fazer interferências. Posso cortar, mas não posso colocar nada extra", diz. "A diferença é a liberdade. Em um trabalho autoral, faço o que quero."

"O Alienista" parece ter caído no gosto dos quadrinistas nacionais. A versão de Luiz Antonio Aguiar e Cesar Lobo é a terceira em três anos --as outras duas foram dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, em 2007, e a de Lailson de Holanda Cavalcanti, no ano passado.

Futuro

Para Spacca, a onda de adaptações literárias pode servir para criar novos leitores de quadrinhos. "Espero que sejam uma brecha para impactar os leitores e mostrar que as histórias em quadrinhos são muito mais que isso."

Guazzelli vê um paralelo entre as adaptações da literatura para os quadrinhos de hoje com as para a televisão feitas décadas atrás. "A televisão começou assim e, se você olhar hoje para adaptações televisivas, verá que são verdadeiras obras-primas", afirma. "É um espaço que se está criando. Tenho certeza de que o nível do material está entre médio e bom."

"Cada um que aparece mostra um jeito independente de adaptar", pondera Luiz Gê. "Muito pode ser feito. O gênero está longe de se esgotar."

13 Cascaes: Autores de livro indicado para o vestibular da UFSC debatem com estudantes


Uma das etapas mais temidas por quem vai fazer concurso para ingressar na universidade é a prova de redação. Apesar de não existir fórmula mágica para elaborar um bom texto, uma iniciativa em Florianópolis pretende ajudar vestibulandos a superar o medo em relação à língua portuguesa. O projeto “Conversas sobre o 13 Cascaes” vai colocar frente a frente autores da coletânea de contos indicada para o Vestibular da UFSC 2009/2010 e alunos de cursos pré-vestibular. O encontro será realizado nesta terça-feira (28/07), das 10h às 19h, na Casa da Memória, no Centro. A promoção integra as comemorações dos 22 anos da Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC).

Oito cursos preparatórios para vestibular da área central foram convidados a participar do projeto, que nesta primeira edição vai atender 150 alunos do Curso e Colégio Tendência. Cada debate, limitado a 50 estudantes, terá cerca de duas horas de duração e participação de três autores. Além da conversa com os escritores catarinenses, os vestibulandos irão assistir ao documentário Franklin Cascaes – também produzido pela FCFFC em 2008 – visando à contextualização sobre a importância da obra do pesquisador e folclorista.

O projeto “Conversas sobre o 13 Cascaes” pretende aproximar os estudantes da literatura, promovendo a interação com o autor e a familiarização com o processo criativo da obra. A mediação das discussões será feita pelo Coordenador de Patrimônio Cultural da FCFFC, Dennis Radünz, que é Gerente da Casa da Memória. “Esperamos despertar o interesse dos alunos pela literatura e, com isso, contribuir para a formação de leitores”, justifica.

Os encontros com vestibulandos serão realizados até novembro, conforme a disponibilidade dos autores e o agendamento prévio pelo telefone 3333-1322. Após confirmar a participação no projeto, os cursinhos devem discutir o conteúdo do livro em sala de aula, antes do debate com os escritores. No dia do evento, o livro 13 Cascaes estará à venda na Casa da Memória a R$ 25.

13 Cascaes - Embora a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC) tenha publicado anteriormente vários títulos, 13 Cascaes marca um momento especial para a instituição. É o primeiro livro lançado com o selo da Fundação Franklin Cascaes Publicações, que comemora um ano de atividade desenvolvendo uma cuidadosa linha de produtos voltados ao resgate da memória local e outros prestigiando a literatura e a arte contemporâneas de Florianópolis.

Sucesso editorial desde que foi lançado, o livro 13 Cascaes é uma coletânea de contos de escritores catarinenses que inclui textos de Adolfo Boos Jr., Amilcar Neves, Eglê Malheiros, Fábio Brüggemann, Flávio José Cardozo, Jair Francisco Hamms, Júlio de Queiroz, Maria de Lourdes Krieger, Olsen Jr., Péricles Prade, Raul Caldas Filho, Salim Miguel e Silveira de Souza, com depoimento de Gelci José Coelho (Peninha), ilustrações de Tércio da Gama e edição de Dennis Radünz.

A obra tem como elemento central a figura do múltiplo artista e folclorista Franklin Cascaes. Cada autor, à sua maneira, construiu uma história em que Cascaes, ou sua obra, aparecem ora como protagonista, ora como figurante da trama criada. Idealizado por Salim Miguel e Flávio José Cardoso, o livro foi lançado em 2008, integrando as comemorações do centenário do nascimento do pesquisador catarinense.

Entre as oito publicações do selo da FCFFC, 13 Cascaes é o titulo mais vendido. Indicado para o Vestibular da UFSC 2009/2010, o livro já atingiu a tiragem de 4.300 exemplares e tem impressão de mais 2.500 unidades prevista para agosto. A segunda publicação mais vendida com o selo da Fundação Franklin Cascaes também é inspirada no folclorista catarinense. É o livro Bruxarias nos desenhos de Franklin Cascaes, escrito por Péricles Prade.

. [Debates, no dia 28 de julho (terça-feira), das 10 às 19 horas, na Casa da Memória / FCFFC, Rua Padre Miguelinho nº 58 – Centro | Telefone para agendamento/ informações: (48)3333-1322. Gratuito]

O que estudar para o Novo Enem: Veja dicas para física e geografia no Enem 2009; confira as seis áreas que devem ser cobradas

*do UOL Vestibular

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009 vai cobrar do estudante muito mais raciocínio e poder de relacionar temas do que conteúdo memorizado. Ao menos, essa é a opinião de especialistas e a promessa do MEC (Ministério da Educação).

Tanto em física, quanto em geografia, uma habilidade é fundamental: a capacidade de leitura de gráficos e de enunciados longos. Confira as dicas dos professores ouvidos pelo UOL Vestibular. Às terças e quintas, você pode conferir reportagens com orientações para se preparar melhor para a avaliação.


Física
Na opinião de Cláudio Behr, professor de física do curso Etapa, em física, o conteúdo cobrado deverá ser parecido com o de questões contextualizadas de outros vestibulares. O exemplo citado por Behr é o das questões interdisciplinares da Fuvest.

"O Enem é uma prova que exige mais de leitura do que conteúdo. O modelo do novo Enem, deverá cobrar um pouco mais de conteúdo do que as provas anteriores", avalia.

Para o professor, o fundamental é se preparar para encontrar textos longos, que exijam capacidade de interpretação. Além disso, orienta Behr, é importante treinar a resistência física para enfrentar dois dias seguidos de provas.

Se você pretende revisar o conteúdo, o docente aposta em uma distribuição de perguntas semelhante à dos principais vestibulares. Confira a hierarquia dos temas nas provas de física:


Mecânica - normalmente a área mais abordada. É tema para 40% ou 50% dos testes.

Eletricidade - segunda área com mais perguntas nos principais vestibulares.

Ótica e ondas - questões sobre lentes ou sobre a propagação das ondas são o terceiro tópico na hierarquia.

Termologia - o conhecimento sobre as trocas de calor deve ser o menos abordado das quatro áreas citadas. Porém pode garantir alguns pontos.

Dica importante: de acordo com Behr, o Enem deverá abordar problemas do cotidiano. Assim, vale a pena procurar, em exames anteriores, testes que tratem de assuntos do seu dia a dia. Um exemplo? "Saber interpretar uma conta de luz; descobrir quais aparelhos são responsáveis pelo gasto maior de energia; escolher qual aparelho cortar para diminuir gastos", aponta.


Geografia
De acordo com a coordenadora de geografia do curso Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes, o candidato que vai prestar o Enem deve se preparar para enfrentar gráficos, tabelas, textos longos nas questões de geografia.

"No Enem, o aluno tem de ler bem o que está sendo perguntado. Às vezes, uma questão oferece um mapa e pede a consequência ou a causa do fenômeno que aparece na figura. Não basta saber olhar uma tabela ou gráfico: é preciso ver o que está sendo pedido", diz.

A dois meses das provas, a melhor preparação em geografia é alternar a prática de exercícios, com questões anteriores do Enem, com a leitura de atualidades. Confira os temas principais, na avaliação da docente:


Geopolítica:
- eleições no Irã e testes atômicos;
- situação da Coreia do Norte e conflitos com a Coreia do Sul;
- crise econômica nos Estados Unidos;
- a economia dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China);
- conflito no Oriente (entre Israel e Palestina);
- relações dos EUA com o Afeganistão;
- Índia e a conquista do Oscar;
- crise e golpe em Honduras;
- Paraguai e a energia de Itaipu;


Temas tradicionais do Brasil:
- relevo;
- vegetação;
- clima;
- população;
- urbanização;
- comércio exterior;
- estatísticas da educação;
- números da mortalidade infantil.

Para a professora, um bom conhecimento de temas das atualidades e da geografia ajuda, inclusive a produzir uma boa redação.

Em 7 federais, novo Enem será classificatório para segunda fase

da Folha de S.Paulo

Em 7 das 12 universidades federais que terão segunda fase própria, ir mal no novo Enem pode fazer o estudante ser eliminado do vestibular.

Isso ocorrerá em quatro federais de Minas Gerais (UFU, Unifei, Ufop e UFJF), duas do Rio (UFRJ e UFF) e uma do Espírito Santo (Ufes). Nessas instituições, o desempenho no Enem será classificatório; em outras cinco federais que unirão o Enem à segunda fase, o exame não eliminará ninguém.

Nas sete universidades em que o Enem é decisivo, uma situação inusitada pode ocorrer: o candidato terá de se inscrever na segunda fase, geralmente a partir de agosto, sem saber se tem nota suficiente para ir à próxima etapa. Os resultados do Enem saem apenas em dezembro (para as universidades) e janeiro (para os alunos).

Na UFRJ, por exemplo, essa definição depende da publicação do edital, em 1º de setembro. Até lá, estuda-se a possibilidade de serem convocados para a segunda fase um número de candidatos equivalente a quatro vezes o total de vagas.

Assim, se um instituto oferece 50 vagas, serão chamados para a etapa final os 200 candidatos mais bem colocados no Enem. A comissão que define o edital, diz a instituição, está atenta à data de divulgação do resultado do Enem.

Os estudantes podem se inscrever nessas sete federais a partir de setembro -as exceções são a UFMG e a UFF, que abrem inscrição em agosto.

Em duas das sete universidades (Ufop e UFMG), a data do vestibular está definida. As demais estão em fase final de discussão e devem publicar em breve os editais.

Unifesp

As cinco federais com segunda fase em que o Enem não será eliminatório são: UFMS (MS), Unifesp e UFSCar (SP), UFSJ (MG) e UFPE (PE).

A Unifesp definiu que o Enem valerá um terço do vestibular para sete cursos --que estão entre os mais concorridos da instituição, como medicina e enfermagem. A universidade também usa o Enem de outro modo: para 19 cursos, o exame servirá como seleção única.

Na UFSJ, se o aluno quiser, a nota no exame pode substituir a prova de conhecimentos gerais, que vale 25% do vestibular. A universidade terá segunda fase para 90% das vagas --nas restantes, o Enem será a única forma de seleção.

Na UFPE, a prova objetiva do Enem valerá 45% da nota final. Já na UFMS, o exame substituirá a primeira fase, mas todos os candidatos serão convocados para a segunda etapa.

Na UFSCar, por sua vez, a nota final será composta 50% pelo Enem e 50% pelas provas próprias. As inscrições para a segunda etapa ocorrem em setembro, antes do Enem --em outubro. Todos os candidatos inscritos no Enem e na segunda etapa farão as duas provas.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Federal do Rio Grande do Norte abre inscrições nesta 2ª

As inscrições para o vestibular 2010 da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) podem ser realizadas a partir desta segunda-feira (27) e vão até as 23h59 do dia 30 de agosto de 2009, somente pela internet. Para se inscrever, o candidato deverá, obrigatoriamente, ter CPF (Cadastro de Pessoa Física), documento de identificação e preencher todos os campos do formulário de inscrição. A taxa é de R$ 100.

CLIQUE AQUI PARA FAZER A SUA INSCRIÇÃO

O manual do candidato, o edital do vestibular 2010 e o formulário de inscrição podem ser consultados no site da universidade. O pagamento da taxa de inscrição deverá ser feito até o dia 31 de agosto de 2009, no local indicado no boleto.

Este ano serão oferecidas 6.307 vagas nos cursos de graduação. O bacharelado em engenharia de software será oferecido pela primeira vez.

Na inscrição, o candidato poderá optar por, no máximo, dois cursos (1ª e 2ª opções) de uma mesma área, no Campus Central (Natal, Jundiaí e Santa Cruz) ou no Ceres (Centro de Ensino Superior do Seridó), exceto quando a área não oferecer essa possibilidade.

O candidato com necessidades especiais deverá entregar um requerimento (em duas vias), acompanhado de atestado médico com a descrição de sua necessidade e especificando o tratamento diferenciado adequado. O requerimento e o atestado médico deverão ser entregues na sede da Comperve, no período de 27 de julho a 31 de agosto de 2009, no horário das 7h30 às 11h30 ou das 13h30 às 17h30 ou enviados por Correios com Aviso de Recebimento, endereçados à Comperve (BR 101, Campus Universitário, Lagoa Nova, 59078-900, Natal, RN). O candidato será avaliado por uma junta médica da UFRN, nos dias úteis do período de 5 a 9 de outubro de 2009.

As provas serão realizadas nos dias 22, 23 e 24 de novembro. Outras informações podem ser obtidas no site da UFRN.

Em "O Meu Nome é Legião", António Lobo Antunes dá mais um passo para mudar a literatura




DANIEL BENEVIDES
do portal UOL

Mudar a literatura, criar uma nova linguagem. Simples assim, e bastante ambicioso, é o objetivo do português António Lobo Antunes, que veio ao Brasil no início do último mês de julho para a Flip.

Capa do mais recente livro de Lobo Antunes lançado no Brasil

LEIA TRECHO DO LIVRO
"Os suspeitos em número de 8 (oito) e idades compreendidas entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos abandonaram o Bairro 1º de Maio situado na região noroeste da capital e infelizmente conhecido pela sua degradação física e inerentes problemas sociais às 22h00 (vinte e duas horas e zero minuto) na direcção da Amadora onde julga-se que por volta das 22h30 (vinte e duas horas e trinta minutos) hipótese sujeita a confirmação após interrogatório quer dos suspeitos quer de eventuais testemunhas até ao momento não localizadas furtaram pelo método denominado da chave-mestra (sujeito a confirmação também e que adiantamos como provável derivado ao conhecimento do modus operandi do grupo) 2 (duas) viaturas particulares de média potência estacionadas nas imediações da igreja a curta distância uma da outra e no lado da rua em que os candeeiros fundidos (vandalismo ou situação natural?)permitiam actuar com maior discrição após o que se dirigiram para a saída de Lisboa no sentido da auto-estrada do norte utilizando a via rápida que por não se acharem as ditas viaturas munidas do dispositivo magnético necessário à sua utilização registou as matrículas conforme fotocópia anexa aliás não muito nítida e previne-se peitosamente o comando para a urgência de melhoramentos no equipamento caduco: fotocópia número 1 (um) embora perceptível é verdade com uma lupa decente.

Temos motivos para adiantar com base em actuações pretéritas essas sim já aferidas que os suspeitos se distribuíram nos veículos de acordo com a ordem habitual ou seja o chamado Capitão de 16 (dezasseis) anos mestiço, o chamado Miúdo de 12 (doze) anos mestiço, o chamado Ruço de 19 (dezanove) anos branco e o chamado Galã de 14 (catorze) anos mestiço na dianteira e os restantes quatro, o chamado Guerrilheiro de 17 (dezassete) anos mestiço, o chamado Cão de 15 (quinze) anos mestiço, o chamado Gordo de 18 (dezoito) anos preto e o chamado Hiena de 13 (treze anos mestiço assim apelidado em consequência de uma malformação no rosto (lábio leporino) e de uma fealdade manifesta que ousamos sem receio embora avessos a julgamentos subjectivos classificar de repelente (vacilámos entre repelente e hedionda) a que se juntava uma clara dificuldade na articulação vocabular muitas vezes substituída por descoordenação motora e guinchos logo atrás, salientando-se a importância do chamado Ruço ser o único caucasiano (raça branca em linguagem técnica) e todos os companheiros semi-africanos e num dos casos negro e portanto mais propensos à crueldade e violência gratuitas o que conduz o signatário a tomar a liberdade de questionar-se preocupado à margem do presente relatório sobre a justeza da política de imigração nacional. Cerca das 23h00 (vinte e três horas e zero minutos) as duas viaturas alcançaram a primeira estação de serviço do trajecto Lisboa-Porto a cerca de 30 (trinta) quilómetros das portagens tendo parado com os motores a trabalharem
(existia apenas uma furgoneta numa das bombas) diante do estabelecimento envidraçado no qual se efectua a liquidação do montante de gasolina adquirida e onde se pode malbaratar dinheiro em revistas jornais tabaco (espero bem que não álcool) pastilhas elásticas e ninharias. No citado estabelecimento encontrava-se o empregado a conversar sentado à caixa registadora com o condutor da furgoneta e outro empregado mais idoso a varrer o soalho adjacente a uma porta de escritório ou compartimento de arrumos (deseja-se que não destinado à venda clandestina de bebidas espirituosas)
com a placa Interdita A Entrada mal aparafusada à madeira. Os suspeitos apetrecharam-se de gorros de lã e óculos escuros e ingressaram sem pressa no local (de acordo com o depoimento do empregado da caixa um deles e ignora a especificação do indivíduo assobiava) transportando espingardas de canos serrados e pistolas do Exército e concedo-me uma breve digressão no meu entender não inteiramente despicienda para sublinhar no caso de me autorizarem uma nota íntima que as estações de serviço à noite iluminadas na beira do caminho me fazem sentir menos desditoso e só quando regresso de Ermesinde aos domingos de madrugada da visita mensal à minha filha, o mundo com as suas árvores confusas e as suas povoações logo perdidas cujo nome desconheço me surge demasiado grande para conseguir entendê-lo e as bombas de gasolina próximas, nítidas, ia escrever cúmplices mas retive-me a tempo me garantem que apesar de tudo possuo um lugar ainda que ínfimo no concerto do universo, alguém talvez me espere tomara descobrir em que sítio com a chávena de um sorriso numa toalha amiga e eu comovido senhores, eu grato, peço perdão de inserir num documento oficial e em papel do Estado este desabafo importuno e este desejo absurdo de companhia: rodar a fechadura e escutar na despensa, na sala, não ouso sugerir que no quarto uma voz que pronuncia o meu nome
- És tu?
em vez do silêncio do costume e da indiferença das coisas de modo que as estações de serviço à noite, escrevia eu, se avizinham da noção de felicidade que há tanto tempo procuro. Adiante. Prosseguindo o presente relatório de que sem desculpa
(estou cônscio do erro e penitencio-me dele) me desviei os suspeitos transportando espingardas de canos serrados e pistolas do Exército ingressaram sem pressa
(um deles, e a dúvida de qual deles, assobiava) no local sem que o empregado da caixa ou o condutor da furgoneta lhes dessem atenção ocupados a comentarem a notícia
de um periódico desportivo e foi o empregado que varria o soalho adjacente ao escritório ou compartimento de arrumos (o qual não continha, acrescento com alegria, bebidas espirituosas embora não ponha de parte, que vigaristas não faltam, a hipótese de as haverem ocultado antes da minha visita) quem se apercebeu do assalto erguendo a vassoura e prevenindo o sócio - Olha estes miúdos pretos César
sem oportunidade para mais considerações dado que uma das espingardas de canos serrados disparou 5 (cinco) projécteis consecutivos não se lhe notando sangue na roupa, o sangue na parede atrás dele depois de cair em estremeções sucessivos isto é poisando as nádegas no chão a olhar os suspeitos ou não olhando ninguém conforme o meu padrasto levantava a cabeça cega das palavras cruzadas a remoer sinónimos e a baixava de novo preenchendo os quadradinhos em maiúsculas triunfais, a mão direita
(do empregado não do meu padrasto) alongou-se, o médio, que durou mais que os outros dedos encolheu um tudo nada (estou a vê-lo daqui) e pondero se o vento tocava os arbustos lá fora ou os deixava em paz: durante séculos em criança pensei que as árvores sofriam, os teixos por exemplo uma mágoa quieta, eu às pancadinhas nos
troncos
- O que se passa com vocês?

e nenhuma resposta, dores secretas como em geral os ramos, fingem continuar, disfarçam-nas e no entanto quando pensam que os não vemos fabricam um lagarto numa ranhura da casca que é a sua forma de segregarem lágrimas, o condutor da furgoneta julgou recuar um passo e proteger-se com uma pilha de revistas sem recuar passo algum, uma coronha de pistola apanhou-lhe o ombro e a metade esquerda dos ossos que uma sobrancelha a tremer amparava, desajustou-se da direita o meu padrasto esse aguentava a cólica renal com o auxílio não da sobrancelha, da palma empurrando-a para o interior da cintura
- Não me atormentes agora

e tenho a certeza que os arbustos da estação de serviço a sacudirem flores miúdas sem nome, tantas folhas a vibrarem desejando que as socorrêssemos
- Eu eu

um dos suspeitos deu a volta ao balcão e entornou a gaveta da caixa num saco, um automóvel desceu para as bombas de gasolina porque buxos novos surgiram do escuro, uma claridade geométrica fixou-se no tecto, aumentou e o que eu não pagava para observar os buxos, o condutor da furgoneta indiferente a eles mancou um passo na direcção dos faróis com a sobrancelha a puxá-lo e a metade que não pertencia à sobrancelha um peso mole a resistir, o cano da pistola um fuminho, ninguém se apercebeu do ruído (ter-me-ia apercebido do ruído se estivesse com eles?) o condutor da furgoneta de joelhos contra a vontade da sobrancelha indignada com a desobediência
- O que é isto?

e isto é um peito que tomba, não uma pessoa, um sapato a dilatar-se, a argola das chaves que se desprendeu da algibeira e a argola que esquisito um ruído imenso, lento, o empregado da caixa sem entender o sapato enorme e as chaves, um nariz que escorregou para a boca (engole-o não o engole?) os (não engole) suspeitos em número de 8 (oito) e idades compreendidas entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos abandonaram a estação de serviço às 23h10 (vinte e três horas e dez minutos), continuaram para Santarém e os arbustos serenos, a certeza que num ponto do escuro, talvez na minha cabeça (creio que na minha cabeça) uma janela a bater, o meu padrasto para a minha mãe do interior das palavras cruzadas
- A janela

(de tempos a tempos quando menos espero um incómodo de gonzos, a voz dele
- A janela

eu a espreitar em torno, nem uma corrente de ar para amostra e no entanto a certeza de um estranho respirando-me no pescoço comigo a perguntar
- Qual janela?)

as viaturas furtadas cortaram à direita 12 (doze) quilómetros acima e o dispositivo magnético esquecido da sua obrigação
(- Qual janela?)

não assinalou as matrículas, pinheiros bravos, carvalhos (não sou forte em Botânica e estava aqui a pensar se arrisco castanheiros ou não, não arrisco, como descrever um castanheiro em condições?) vivendas de emigrantes algumas por completar
(quase todas por completar, basta de imprecisões rapaz, gosto de me tratar por rapaz aos sessenta e três anos, dá-me a ilusão que a morte, deixemos o assunto, siga a banda) um cozinheiro de cerâmica de tamanho natural com a ementa em riste a anunciar uma churrascaria ou seja uma esplanada de cadeiras empilhadas e guarda-sóis recolhidos, a sedazinha turva de um gato a escorrer almofadado de um tapume, um rádio numa varanda aberta que os suspeitos não escutaram, depois do chafariz uma travessa, duas travessas, a nossa casa que podia ser acolá e não era, a minha mãe para o meu padrasto

- Fazias melhor se largasses o jornal e vedasses a janela

insistem que me pareço com a minha mãe e argumento que não, comparando com o retrato
(não me lembro em pormenor das feições) talvez as orelhas e o contorno do queixo, a expressão nem sonhar, de acordo com a minha mãe de resto eu o meu pai por uma pena
- Já não me bastou um tenho que aturar outro quando o meu pai um pacífico coitado, depois da reforma cantava no orfeão da paróquia e via a chuva cair, tardes e tardes no sofá murmurando não imagino o quê
(a minha mãe imaginava- Lá estás tu)

a ver a chuva cair, uma travessa, duas travessas, no fim da segunda travessa um largo e no largo uma loja de telemóveis, o meu pai trabalhou na Polícia também não como agente de investigação claro, faltavam-lhe miolos, nos Serviços Gerais, copiava minutas, carimbava, contava as moscas no estore, o chefe do fundo
- A pensar na morte da bezerra Gusmão?

quatro dos suspeitos, 23h48 (vinte e três horas e quarenta e oito minutos) saíram dos bancos da retaguarda das viaturas furtadas e quebraram a montra sem se preocuparem com o alarme que principiou aos uivos, não uma campainha, uma espécie de sereia a sacudir o sistema solar a mãos ambas, onde moro as ambulâncias descolam-me o lustre com os seus berros de esfaqueadas e os pingentes arrepiam-se trocando de posição enquanto os vizinhos
- Que susto

os suspeitos encheram as bagageiras de caixotes cabos instrumentos acessórios e decorridos onze minutos precisamente, às 23h59 (vinte e três horas e cinquenta e nove minutos) seguiram em sentido inverso de regresso a Lisboa, a segunda travessa, a primeira travessa, o chafariz com uma torneira de latão que mesmo fechada
continuava a pingar, a música do rádio que não escutavam enquanto a sereia transmitia as suas ânsias num deserto de sombras, os pinheiros bravos, os carvalhos, a via rápida que desta vez(há coisas que funcionam valha-nos isso num país em decadência)
fotografou as matrículas conforme consta do respectivo documento apenso
(no caso de não ter caído ao chão)
que se o meu pai continuasse vivo e escriturário
(não tenho vergonha do meu pai não se acredite nisso)
lhe passaria pela mesa para o visto de entrada
(não se demorava a lê-lo pois não senhor?)
terminando no colega que os despejava num cesto em que não se mexia, mais maçadas para quê o que não falta são crimes
(- Desculpe se a contrario mãe mas o que herdei do meu pai?)
hesitaram na estação de serviço na volta entramos não entramos, principiaram a travar, guinaram para um cachorro vadio sem conseguir atingi-lo, desistiram da estação de serviço e do bicho que aliás desapareceu numa madeixa de moitas, preferiram um casal num carro, o homem ao volante todo pinoca e a mulher a pentear-se inclinada para a frente no espelho da pala, colocaram o carro do casal entre as viaturas furtadas
(não tenho vergonha do meu pai?)
e foram abrandando tocando-lhe de leve, a mulher deixou de pentear-se e diminuiu no banco, o pinoca tentou obliquar para a outra faixa e uma batida no ângulo do pára-choques impediu-o de maneira que o carro e o casal imobilizados aos poucos, 00h14 (zero horas e catorze minutos) de acordo com o depoimento da mulher sujeito ao erro do medo, na minha opinião eu que refiz o percurso 00h30 (zero horas e trinta minutos) no mínimo e um espaço à direita
para os postes de chamada de quando os radiadores avariam, experimentei-o e uma mudez comprida
(afinal nem uma só coisa trabalha num país em decadência)
eu para ali feito parvo de aparelho no ar e o meu ajudante pelo vidro descido
- Largue isso
cheio de opiniões o presunçoso, faça assim não faça assim, mais alto que eu, com dois terços da minha idade e o cabelinho abundante, decidido a tomar-me o lugar e há-de tomar-me o lugar é uma questão de meses porque neste Purgatório injusto são os que sabem agradar aos patrões não os que trabalham quem ganha
(tenho sentido isso na carne, não me promovem há anos, a mesma função, o mesmo ordenado e agradece)
e ao tomar-me o lugar não me atreverei a palpites pelo vidro descido
- Largue isso
fico à espera obediente, composto, tem razão senhora, eis o meu pai chapadinho, dêem-me um carimbo e eu feliz, humedeço-o na almofada e o escudo da República brilhante de tinta no ângulo superior direito das páginas, o carro do casal adornado na berma com as viaturas furtadas encostando-se a ele, não árvores desta feita e por conseguinte não hipótese de castanheiros que não me atreveria a descrever, pinheiros e carvalhos vá lá, castanheiros
não, tenho consciência dos meus limites, não árvores, um carril de protecção a impedir um valado com um ribeiro em baixo, visto que lodo a saltar entre caniços e na primavera seixos transformados em rãs que ganham pernas, se arqueiam, diz-se que comem mosquitos, os suspeitos fora das viaturas sem gorros nem óculos, um branco,
um preto e seis mestiços
(creio ter mencionado isto tudo)
de idades compreendidas
(curiosa expressão, quem compreende as idades?)
entre os 12 (doze) e os 19 (dezanove) anos, o mais velho o branco a que chamam Ruço e não mandava um cisco, o pinoca a travar as portas, a mulher esquecida do cabelo
- Jesus
não se estava na primavera e portanto não rãs, seixos que não ligavam aos mosquitos e ervinhas com ambições de juncos não realizadas por enquanto, os suspeitos utilizaram as chaves-mestras nas portas, um camião passou por eles com um atrelado de vitelos de que se distinguiam reflexos de pêlo, mandíbulas, baba, um dos pneus solto ia dançando no eixo e o sujeito na cabine com uma ferradura no tejadilho a dar sorte, nunca acreditei em amuletos, ferraduras figas trevos de quatro folhas de esmalte, ou se nasce de cu para a lua ou não se nasce, não nasci e acabou-se não vou chorar por isso embora haja ocasiões em que uma lágrima não me caísse mal, impeço-a de chegar ao olho empurrando-a com o polegar e que remédio tem ela senão voltar para dentro e desistir, adeus lágrima, a porta do pinoca e a porta da mulher escancaradas, o pinoca"


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Não se pense porém que o escritor, sempre lembrado para o Nobel, é um mero arrogante. Na verdade sua postura é até meio espartana e relativamente modesta, a julgar por outras declarações. Obstinado, fica feliz quando consegue escrever uma página em um dia -- para ele, "ficção é trabalho árduo". Corrige incansavelmente tudo o que faz até sentir que descobriu o "som" do texto. E, num lance de anti-vaidade (que também pode ser uma vaidade), divide a responsabilidade com os leitores, considerando-os "co-autores".

Tudo isso fica mais ou menos evidente em "O Meu Nome é Legião", livro de 2007, agora lançado no Brasil (juntamente com "Explicação dos Pássaros", de 1981). Mais ou menos porque o papel do leitor é um tanto difícil, exige dedicação e tenacidade.

Ainda que Antunes considere seus livros fáceis, fato é que sua escrita tem a densidade e o emaranhamento de uma selva profunda, com poucas clareiras. Mas também é verdade que, ao se aventurar pelas frases incomuns de seus romances, o leitor chega ao final recompensado por uma experiência literária única, estimulante.

"O Meu Nome é Legião" é uma verdadeira polifonia de vozes, tempos e registros diferentes. Começa na forma de um relatório policial sobre os crimes cometidos por uma gangue de garotos da periferia de Lisboa: "um branco, um preto e seis mestiços (...) de idades compreendidas entre os 12 (doze) e 19 (dezanove) anos". Há muita violência e a forte sugestão de ódio racial, o que remete ao período colonial. Aos poucos, o policial em final de carreira que anota os fatos deixa-se levar por memórias e pensamentos aparentemente aleatórios.

O escritor português António Lobo Antunes durante entrevista em Paraty (RJ), onde esteve para participar da Flip (03/07/2009)

A narração então se esparrama por vias de curvas quase impossíveis e cruzamentos bruscos. A impressão é que o livro ganha vida autônoma, toma as rédeas para si. A pontuação se rebela, os parágrafos são cortados no meio por estranhos parênteses, as falas surgem inesperadamente, confundindo-se com os fluxos de consciência, nem sempre com o habitual travessão. Imagens variadas passam pelos olhos à medida em que as vozes e testemunhos se alternam e/ou se sobrepõem.

Ora sabemos o que pensa a mãe de um dos criminosos, o chamado Miúdo, ora a irmã de outro, o Hiena; ora deparamos com o depoimento íntimo de uma prostituta branca, amante do Gordo, o mais silencioso da gangue, ora mergulhamos nas impressões de um avô desencantado.

Nesse meio tempo, a polícia vai fechando o cerco e matando alguns dos delinqüentes com requintes de crueldade.

Perto do final, "ouvimos" a versão dos miúdos, de como foram mal amados, maltratados, excluídos na infância. O livro que tratava das desigualdades -- raciais, sociais, geográficas --, da violência urbana extremada e, em última instância, do Mal que nos invade como demônios, fala agora de Amor, amor pela humanidade, compaixão. É assim que o próprio escritor vê seu romance, que considera um de seus melhores.

O título, resumo simbólico do enredo, surgiu para Antunes só no final da escrita. Vem de um episódio no Evangelho de São Lucas. Jesus se encontra com um homem nu e desfigurado, possuído por espíritos malignos, e pergunta por seu nome. "O meu nome é legião", responde o infortunado, "porque somos muitos".



Em "Explicação dos Pássaros", Lobo Antunes trata do fim de um relacionamento


"Explicação dos Pássaros"
Trata-se do quarto romance de António Lobo Antunes e o primeiro propriamente de ficção, surgido depois dos autobiográficos "Memória de Elefante" (1979), "Os Cus de Judas" (1979) e "Conhecimento do Inferno" (1980), que tratam de sua experiência como psiquiatra em Lisboa e como médico na guerra de Angola.

"Explicação dos Pássaros" traz já a marca de seus escritos mais audaciosos, adotando a técnica polifônica, com andamentos para trás e para a frente no tempo.O autor declarou ser esse o primeiro livro do qual não se envergonha. E que foi o único a lhe sair rápido: escreveu-o em apenas seis meses ("um milagre").

A história trata do fim de um relacionamento, mas também, de certa maneira, de Portugal. O professor universitário Rui S. viaja da carro com sua segunda mulher, Marília, por quatro dias. Atormentado por recordações, está decidido a pedir-lhe a separação.

Lobo Antunes recebeu em 2007 o Prêmio Camões e em 2008 o Juan Rulfo.

"Persépolis" ganha nova versão na internet: Quadrinhos denunciam repressão no irã.


da Folha de S.Paulo

Depois de divulgar para o mundo os relatos de milhares de jovens sobre o sangrento processo de eleição no Irã, a internet continua sendo uma aliada para os críticos do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Agora, uma história em quadrinhos ganha destaque na rede.

"Persépolis 2.0", disponível no site www.spreadpersepolis.com, é uma colagem de trechos do livro "Persépolis", autobiografia em quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi, com novos diálogos. Nesta versão, os desenhos em preto e branco, com os traços da autora, recriam os dias de fúria no Irã após as eleições de 12 de junho.

Composta em três partes, a HQ foi criada por dois jovens, filhos de iranianos, que fotografaram trechos do livro, escreveram e colaram novos diálogos usando os programas Photoshop e Illustrator.

A dupla quis aproveitar o apelo pop da autora a fim de chamar a atenção para a situação do Irã. "Essa eleição deixou clara a militarização da política iraniana. Se foi 'roubada' ou não, não podemos dizer, mas a repressão violenta só serviu como combustível para a oposição", diz Sina, coautor da história (com Payman), em entrevista à Folha, por e-mail.

Os dois são gerentes de marketing de 20 e poucos anos, vivem na Ásia, mas não querem divulgar onde moram nem o sobrenome ou a idade exata, com medo de represálias.

Simpatizante do líder oposicionista derrotado Mir Hossein Mousavi, Sina conta que essa foi sua primeira incursão na política e que nunca havia se interessado por militância. Mas, com a repercussão de "Persépolis 2.0", a dupla já começa a planejar novas ações.

"Somos cínicos em relação a protestos em frente à embaixada, então resolvemos aproveitar a nossa experiência multicultural para ajudar nossos amigos a entender o que se passa no Irã", afirma Sina.

A história de "Persépolis 2.0" vai de 12 a 21 de junho e mostra a euforia popular em torno da possibilidade de vitória de Mousavi, a revolta da população com o resultado oficial --que proclamou Ahmadinejad vencedor--, os levantes sociais e o uso da internet para denunciar a repressão violenta.

O quadrinho termina com a jovem Neda Agha-Soltan --que foi morta nos embates com a polícia e virou símbolo dos levantes-- nos braços de Deus, com a mensagem: "Sua morte não foi em vão".

Ao lado, um aviso: "Espalhem a mensagem. Twitter, Facebook, e-mail". O apelo deu resultados. A HQ tem comunidade no Facebook, é comentada no Twitter e no Flickr e ganhou projeção em blogs e jornais internacionais. Sina diz que o site já foi visto por internautas de 170 países.

Revolução Islâmica

Sucesso internacional, o livro de Satrapi que inspirou a nova HQ foi adaptado para os cinemas em 2007 e indicado ao Oscar de animação. Narra a infância e a adolescência da autora no Irã pós-Revolução Islâmica, 30 anos atrás. "É impressionante que as imagens de 1979 retratem tão bem os eventos de 2009", compara Sina.

Os levantes no mês passado em Teerã são considerados os mais violentos desde a revolução que transformou o país em república islâmica, em 1979.

Avessa à mídia, Satrapi não respondeu o e-mail enviado pela Folha no começo da semana. Sina diz que "Persépolis 2.0" tem o consentimento da autora, mas não dá detalhes sobre o possível envolvimento da moça no projeto. "É um assunto delicado, mas pode dizer que nós temos permissão legal."

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DOWNLIAD DA HQ

UFPel teve abstenção de 8,06% no vestibular de inverno


Listão com os aprovados deve ser divulgado entre os dias 14 e 15 de agosto

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) registrou um abstenção de 8,06% no vestibular de inverno 2009, realizado no final de semana passado. O concurso oferecia 924 vagas a 3.684 candidatos.

O curso com maior número de candidatos foi o de medicina veterinária, que teve 509 inscritos. O maior número de candidatos por vaga, porém, foi do curso de Administração, com 10 alunos disputando cada uma das 35 ofertas.

No sábado, os candidatos fizeram os testes de matemática, física, biologia e química, respondendo um total de 32 questões.

Língua portuguesa, literatura brasileira, história, geografia, língua estrangeira e redação foram as provas aplicadas no segundo dia de vestibular, o domingo, pela manhã.

Candidatos escreveram carta ao STF

A prova de redação solicitou aos candidatos uma carta argumentativa ao presidente do Superior Tribunal Federal (STF) com o tema: o diploma é necessário para o exercício profissional?

A intenção era discutir a decisão do Tribunal adotada neste ano sobre a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. O candidato deveria ampliar o tema para outras profissões e argumentar sobre seu posicionamento.

O listão com os aprovados no vestibular de inverno 2009 da UFPel deve ser divulgado entre os dias 14 e 15 de agosto.

CLIQUE AQUI E CONFIRA A ANÁLISE DAS QUESTÕES DE LITERATURA

domingo, 26 de julho de 2009

Comentários sobre a prova de Literatura da UFPel (Inverno 2009)


As críticas que tenho a fazer são as mesmas já colocadas em relação a processos seletivos anteriores: o espaço dedicado à Literatura é muito reduzido e e não há coerência na elaboração do exame.

Um programa com 19 leituras obrigatórias nunca será contemplado por uma prova com duas questões. A Universidade deveria estimular a leitura do texto literário valorizando os livros solicitados em maiores proporções, enfocando aspectos de Língua Portuguesa e de Literatura concomitantemente em diversas questões. A prova é assim designada: "Língua Portuguesa e Literatura Brasileira", sugerindo que ambas estão entrelaçadas, no entanto, a prova de Português é conduzida por um tema que a perpassa integralmente (no caso, a atividade jornalística e o exercício da liberdade de expressão), enquanto a Literatura aparece totalmente desconectada, sem qualquer relação com o tema da prova (que é aproveitado inclusive para a Redação), e sem nenhuma unidade temática entre as abordagens das duas questões que enfocam textos literários. Falta obedecer os critérios de coesão e coerência na elaboração desse exame.

Ademais, não posso deixar de reiterar minha preocupação quanto ao baixíssimo nível de leitura e a escassa bagagem cultural que se exige do candidato em uma prova em que a Literatura tem quase o mesmo peso que a leitura de charges ou tirinhas. Que tipo de acadêmico se está selecionando? Que tipo de Universidade se quer construir? Ou essas perguntas não estão norteando a concepção do processo seletivo ou estão sendo conscientemente desprezadas, o que seria mais grave.

Quanto às questões de Literatura em si, não há problemas graves, nenhum aspecto que possa prejudicar sua validade, ocorreu com um dos testes do último vestibular de verão. Vamos à análise.

1- Analisa as afirmações abaixo, tomando como base a obra Lendas do Sul, de João Simões Lopes Neto.

I. A obra Lendas do Sul apresenta, entre outras, três importantes lendas da nossa cultura: “O Negrinho do Pastoreio”, “A Mboitatá” e “A Salamanca do Jarau”. Nas duas primeiras, temos Blau Nunes como narrador, já na terceira, o temos como protagonista da história.

II. É procedimento habitual em João Simões Lopes Neto a universalização de um tema regional, dando-lhe caráter filosófico. As lendas “A Mboitatá” e “A Salamanca do Jarau” são bons exemplos disso. A primeira discute a essência do ser e sua impossibilidade de transferência e apropriação, já a segunda alegoriza a busca do
sentido da existência humana, triunfando, no final, o materialismo.

III. “A Mboitatá” é uma lenda que tem origem nas fantasias criadas pelas aparições de fogos no campo produzidos pela fosforescência de restos de ossadas.

Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
(a) I apenas.
(b) I, II e III.
(c) I e III apenas.
(d) I e II apenas.
(e) II apenas.
(f) I.R.


Um aspecto elogiável da prova é a colocação da literatura regional, diferenciando nosso vestibular das tendências de um processo seletivo nacional como o ENEM.

A afirmativa I está correta. As três lendas citadas são patrimônio cultural gaúcho, reelaboradas pelo estilo simoneano. O único aspecto problemático ñesse item é o que se refere a Blau Nunes. Em nenhum momento está explícito na obra que o narrador de a M'Boitatá e o Negrinho do Pastoreio seria Blau. Pode-se inferir essa informação pelo conhecimento da totalidade da obra do autor, considerando-se a linguagem empregada pelo narrador de Contos Gauchescos. Quanto à sua colocação em A Salamanca do Jarau, de fato, ela se dá na forma de protagonista, sendo o foco narrativo em 3ª pessoa.

A afirmativa II está errada. Embora faça justa alusão ao Regionalismo Universal e ao caráter filosófico da obra, não se afigura verdadeira quando diz sobre A Salamanca do Jarau: alegoriza a busca do sentido da existência humana, triunfando, no final, o materialismo"(grifo meu). Ao final da narrativa, Blau devolve a moeda mágica ao Sacristão, pois prefere a amizade de sua gente ao dinheiro infindável que lhe trouxera solidão.

A Afirmativa III está certa, pois alude ao fato de A M'Boitatá ser um relato mítico que explica, de forma imaginativa, o fenômeno natural dos fogos-fátuos.

Portanto, RESPOSTA CORRETA: C


2- Lê este poema, de Manuel Bandeira

Consoada*

Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou coroável)
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.

(*ceia da noite de Natal)

O eu-lírico

(a) mantém uma postura altiva e de enfrentamento com a “Indesejada das gentes”, traduzida pelo escárnio com que a recebe.
(b) alude à morte como um ente não estimado, que não se pode subjugar nem ludibriar com subterfúgios.
(c) apresenta-se preparado para a morte, com todos os deveres cumpridos. O “campo lavrado” alude à infância de trabalhos pesados de Bandeira.
(d) satiriza o natal, assim como em outras obras o fez com as datas cristãs, imaginando-o como a época de morte simbólica para todos.
(e) traduz, com o tema “morte”, o sentimento do mundo, que enfrentava à época a possibilidade real de uma nova guerra, ainda mais mortífera que a Segunda.
(f) I.R.


Alternativa a:incorreta
Não há postura de enfrentamento, pois o eu-lírico reconhece que "talvez tenha medo" e refere-se à morte como "iniludível" (que não se pode enganar), colocando-se de maneira relativamente conformista em relação ao fim da vida.

Alternativa b: correta
Alude à morte como um ente não estimado - "Indesejada das Gentes" é um eufemismo para referir-se à morte.
(...)que não se pode subjugar nem ludibriar com subterfúgios - Isso está expresso em "Iniludível" e implícito na postura conformista do eu-lírico em "pode a noite chegar", sendo a "noite" uma referência metafórica à morte.

Alternativa c: incorreta
O problema está na referida "infância de trabalhos pesados" de Bandeira. Sabe-se que o poeta, desde cedo teve sua vida limitada pela tuberculose, não podendo submeter-se a grandes esforços físicos.

Alternativa d: incorreta
Não há sátira ao Natal, nem no poema, nem no restante da obra do autor, mas sim o que se pode interpretar como uma auto-ironia, pois sua a morte viria numa noite de Natal, momento em que a vida é celebrada.

Alternativa e: incorreta
O tema da morte é tratado numa perspectiva individual, e não social como em Drummond (autor de Sentimento do Mundo). Além disso, o poema em análise figura na obra Libertinagem, de 1930, anterior, portanto, à Segunda Guerra Mundial.

RESPOSTA: B

É isso. Esta foi mais uma prova da UFPel, com mais problemas do que acertos. Minha intenção aqui é sempre a de contribuir para que tenhamos um processo seletivo de maior qualidade, digno dos esforços que fazemos nós, professores e estudantes.

Agora é aguardar com otimismo o resultado. Sucesso a todos!

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