sexta-feira, 18 de setembro de 2015

RESUMOS UFSC 2016: Análise de "Os Cavalos Brancos de Napoleão", conto de Caio Fernando Abreu

OS CAVALOS BRANCOS DE NAPOLEÃO 
Napoleão é um advogado bem sucedido, típico cidadão burguês que ostenta um padrão de vida de de classe média alta à custa de uma rotina estressante. O sucesso econômico e profissional contrasta com a frustração na vida íntima. Repare na forma irônica como o narrador transforma metaforicamente a casa de Napoleão em um tribunal onde o protagonista é sempre o réu:

“Em sua própria casa, à hora das refeições, todos dias sempre se desenrolavam movimentadíssimos julgamentos. Dos quais ele era o réu. Acusado de não dar um anel de brilhantes para a esposa nem um fusca para o filho nem uma saia maryquantiana para a filha. Eventuais visitas faziam corpo de jurados, onde às vezes colaboravam criados mais. Íntimos, sempre concordando com a esposa, promotora tenaz e capciosa.”
O conflito se instaura quando Napoleão, durante as férias na praia (momento de liberdade em que deixa de cumprir o papel de advogado bem sucedido), passa a ter visões de cavalos brancos galopando pelos ares (o que também remete simbolicamente à liberdade desejada).
Chama a atenção que a esposa é incapaz de compreendê-lo e sequer de comunicar-se com ele:
“Tão natural achou que cutucou a esposa deitada ao lado, apontando, olha só, Marta, cavalos brancos nas nuvens. Não havia espanto nem temor nas suas palavras. Apenas a reação espontânea de quem vê o belo: mostrar. Marta disse não enche, Napoleão, coisa chata cutucar com este calor.“
Napoleão passa a constituir um mundo particular em torno de seus cavalos imaginários. No retorno das férias, de volta à rotina, o protagonista teme não ver mais os cavalos, mas após dois dias sem as visões...
“Mas eles voltaram. Entraram pela janela aberta do tribunal num dia em que ele estava especialmente inflamado na defesa de um matricida. A princípio ainda tentou prosseguir, fingiu não os ver, traição, opção terrível, entre o amor e a justiça, como na telenovela a que sua mulher assistia. Eles não estavam doces. Depois de entrarem pela janela, instalaram-se ríspidos entre os jurados. De onde observavam, secos, inquisidores. Sem sentir, Napoleão começou a falar cada vez mais baixo, mais lento, até a voz esfarelar-se num murmúrio de desculpas, em choque como murmúrio de revolta crescendo dos parentes do réu. Napoleão olhou ansioso para os cavalos, que não fizeram nenhum gesto de aprovação ou ternura. Rígidos, álgidos: esperavam.”
Após o vexame no tribunal, a mulher e um amigo, também advogado tentam consolar Napoleão.
“AMIGO -Isso acontece, Napoleão.

MARTA- Não se desespere, querido.

AMIGO -Você não teve culpa.

MARTA -Você estava nervoso.

NAPOLEÃO (obsessivo) -Mas vocês repararam na atitude deles? Repararam mesmo?

AMIGO (conciliador) -Natural que ficassem revoltados, Napoleão. Afinal, são parentes, clientes, pagaram os tubos. Queriam um serviço bem feito.

MARTA- Claaaaaro. E, enfim, o cara pegou só sete anos. Não é tanto assim, você pode apelar, pedir o tal de habeas-corpus.

NAPOLEÃO (erguendo-se brusco da poltrona) - Parentes? Clientes? Réu? Habeas-corpus? Mas eu estou falando é dos cavalos, entendem? Dos cavalos, caralho! Os parentes, os réus, os jurados, que se fodam, entendem? Que se fodam. Sem vaselina! O que me interessa são os cavalos!”
Perceba que Napoleão defendia um matricida no tribunal e Marta e o amigo não têm qualquer preocupação ética, a não ser com o dinheiro (“pagaram os tubos, queriam um serviço bem feito”). O protagonista explode (repare nos palavrões) e só se importa com os cavalos, ou seja com seu delírio de liberdade.
A partir daí, Napoleão, incompreendido, é submetido a tratamentos médicos, psicológicos e psiquiátricos. É interrogado, julgado e rotulado.
“Numa noite, deu-se o desfecho. Que, aliás, se armara inevitável desde o princípio. Mais arde, os enfermeiros comentaram terem ouvido risos, segundo alguns, ou lágrimas, segundo outros. Mas ao certo mesmo, ninguém ficou sabendo como Napoleão morreu. Quando o médico entrou no quarto pela manhã, deparou com o corpo dele rígido sobre a cama. Parada-cardíaca-provocada-por-inanição, atestou logo entre alívio e piedade. Mandou chamar a esposa, filhos, colegas, criados, que vieram em tardias lágrimas inÚteis. Sobre a mesinha de cabeceira, em tinta azul, ficava sua última (ou talvez primeira) exigência. Queria ser conduzido para o cemitério num coche puxado por sete cavalos. Brancos, naturalmente. Foi. Culpada, a esposa gastou no enterro quase todo o seguro prévia e prudentemente feito. Sete palmos, Napoleão foi enterrado. Tivessem aberto o caixão, talvez notassem qualquer coisa como um vago sorriso transcendendo a dureza dos maxilares para sempre cerrados. Ninguém abriu. Tempos depois o zelador espalhou pelas redondezas que vira um homem estranho, nu em pêlo, cabelos ao vento, galopando em direção ao Crepúsculo montado em amáveis cavalos. Brancos, naturalmente.”
O desfecho aponta para o fato de que o protagonista, impedido de expressar sua singularidade assume uma condição marginal, seja pela loucura, seja pela própria morte.

O tema da loucura já é sugerido no próprio nome do personagem: loucos com mania de grandeza julgam ser Napolão Bonaparte. O conto, no prórpio título faz uma referência à conhecida anedota sobre o cavalo branco de Napoleão, que sugere a possibilidade de ver-se uma cor diversa daquela que é afirmada como óbvia.



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Um comentário:

  1. Já estou com um resumo das obras literárias do vestibular, porém gostei do seu resumo. Quanto custa o livro?

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