terça-feira, 30 de dezembro de 2008

LISTÃO DA FURG!!!



Ao vencedor, as batatas!!! Hehehehe.
Se tudo deu certo, PARABÉNS AOS APROVADOS!!! Se não foi desta vez, saiba que o resultado do nosso trabalho nem sempre se reflete em aprovação, mas com certeza sabemos o quanto lutamos para chegar até aqui e o quanto isso foi importante para o nosso crescimento.

Um grande abraço a todos!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Rosa do Povo - Resumo, Análise e Guia de Leitura

Saudações a todos!

Este é um dos últimos posts do ano, e traz um material que eu já tinha colocado aqui no blog. Trata-se de um guia para "A Rosa do Povo", de Drummond. Considerada por muitos a grande obra do maior poeta brasileiro de todos os tempos, A Rosa do Povo se insere na fase da poesia social do autor, profundamente afetada pelo momento histórico: Segunda Guerra Mundial e Era Vargas são referências indiscutíveis.

Cabe destacar a multiplicidade técnica e temática da obra, que vai do soneto ("Áporo") ao verso livre, demonstrando a maturidade da chamada Geração de 30 em relação aos radicalismos do pessoal de 22. Se Oswald de Andrade e companhia privilegiaram uma revolução estética, Drummond foi revolucionário sob o ponto de vista ideológico. Assim como Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queirós,Erico Verissimo e Cyro Martins no chamado Romance de 30.

Assim, para Drummond a bandeira do socialismo e a luta contra todas as formas de opressão são o cerne da poesia; a forma segue de forma coerente o conteúdo.

Ao estudo!

Resumo e Análise:

10 A ROSA DO POVO



Guia de Leitura:

domingo, 28 de dezembro de 2008

Concerto Campestre - Resumo e Análise

Esta obra já foi comentada aqui no blog há alguns dias, dê uma olhada nos posts anteriores. Fizemos uma leitura comparativa entre o lvro e o filme e coloquei também um guia de leitura em Power Point.

Bueno, o Concerto Campestre, do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, é um romance obrigatório para os vestibulares da UFRGS e da UFPel, e outras obras do autor já foram exigidos nos vestibulares da FURG. Isso mostra a importância desse escritor no cenário das letras gauchas contemporâneas.

Ao estudo!

13 Concerto Campestre



GOSTOU DO LIVRO? JÁ LEU OUTRAS OBRAS DO ASSIS BRASIL? DEIXE AQUI SEU COMENTÁRIO!

sábado, 27 de dezembro de 2008

O Que é Isso, Companheiro? - Resumo

Mais uma leitura obrigatória da UFPel. Trata-se de uma obra de caráter memorialístico em que o autor, Fernando Gabeira, relata episódios da luta contra a ditadura militar no Brasil desde 1964 (golpe), passando por 1968 (AI-5), até meados da década de 1970. Como relato, o texto se articula de maneira informal e não se constitui como uma obra literária convencional. São dezesseis capítulos, sendo que os quatorze primeiros ocupam praticamente a metade da narrativa, sendo o restante, o ápice do livro destinado aos capítulos 15 e 16, em que temos, respectivamente, o seqüestro do embaixador norte-americano e os momentos vividos por Gabeira durante sua prisão.

Vale lembrar que 2009 marca os 30 anos da Lei da Anistia e também da publicação do livro.

Além desses fatos, a leitura é interessante por mostrar um momento tão marcante de nossa história sob um ponto de vista diferente do discurso oficial: o ponto de vista de quem participou dos fatos.

Ao estudo!

12 O que é isso



Além desse resumo, indico a vocês um artigo interessante:

"O Astro da Anistia"

Boas leituras, pessoal!

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Amar, Verbo Intransitivo - Resumo e Análise

Outra obra selecionada para o vestibular da UFPel. Romance de Mário de Andrade, está inserido na fase heróica do Modernismo brasileiro (Geração de 1922). Questiona, portanto, o romance tradicional, o que se evidencia nas constantes intromissões do narrador-autor, nas inovações no terreno da linguagem (como sugere o próprio título) e em estranhezas como a palavra "fim" antes do término da narrativa. Dentro desse espírito modernista nacional, também promove uma reflexão sobre a brasilidade, a partir da oposição entre os valores nativos e os valores eurpeus representados por "Fraülein".

Aos estudos!

9 Amar Verbo Intransitivo



E aí, o que achou do livro? Deixe aqui seu comentário!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Noite na Taverna - Resumo e Análise

Já comentamos aqui no blog a obra de Álvares de Azevedo (ver arquivo). Noite na Taverna é uma das leituras obrigatórias para o vestibular da UFPel. Segue o material para estudo.


2 noitenataverna



Clique aqui para baixar o livro completo.

O QUE VOCÊ ACHOU DE NOITE NA TAVERNA? DEIXE AQUI SEU COMENTÁRIO!!!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Feliz Natal a Todos


Nesses dias em que tenho andado pelas ruas, vejo as pessoas errando pelas calçadas e avenidas, olhares perdidos em um horizonte infinito... é o Espírito de Natal que nos invade, que nos transforma.

Então aqui vai um poeminha de José Paulo Paes que sintetiza o nosso momento natalino.

Ao shopping center

Pelos teus círculos
vagamos sem rumo
nós almas penadas
do mundo do consumo.

De elevador ao céu
pela escada ao inferno:
os extremos se tocam
no castigo eterno.

Cada loja é um novo
prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
estamos sempre nus.

nós que por teus círculos
vagamos sem perdão
à espera (até quando?)
da Grande Liquidação.

(de Prosas seguidas de odes mínimas, 1992)


Feliz...

...Natal

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

This is Where We Live

Vídeo da editora britânica 4th Estate

sábado, 20 de dezembro de 2008

Concerto Campestre

Leitura obrigatória para os vestibulares da UFRGS e da UFPel, a obra do gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil é, além de uma bela história de amor, uma reflexão sobre a própria condição do gaúcho. A leitura propõe a relação dialética entre a natureza bruta e a violência de um lado, e de outro a sensibilidade, a cultura, a possibilidade de transformação.

Abaixo, temos um breve guia de leitura da obra.



Uma boa dica para os vestibulandos é o filme Concerto Campestre, de Henrique de Freitas Lima. Com locações nas charqueadas de Pelotas, o filme se destaca pela fotografia e pelo figurino, que levam o espectador à atmosfera das estâncias do século XIX. O elenco global, com Leonardo Vieira e Samara Felippo não compromete, e o veterano Antônio Abujamra se esforça para fazer um sotaque gaudério, protagonizando, intencionalmente ou não, algumas cenas cômicas.
Apesar de tudo, o filme é relativamente fiel ao texto de Assis Brasil, cabendo apenas destacar algumas diferenças entre a adaptação cinematográfica e o texto original:

1)No filme, Clara Vitória é filha única, enquanto no livro ela tem dois irmãos: Eugênio (mais velho, administra a charqueada do pai) e Ambrósio (mais moço e confidente de Clara)

2) No filme, o Maestro é representado pelo galã global Leonardo Vieira, que está longe de encarnar a figura do mulato de face marcada pela rubéola, como foiconcebido por Assis Brasil.

3) Como sempre, a Literatura permite uma riqueza maior de detalhes e de subenredos, o que podemos observar no caso do personagem Silvestre Pimentel. No livro, Silvestre, o noivo de Clara, tem um filho 'ilegítimo', que é tratado por ele como "afilhado". É graças à influência de Clara que Silvestre passa a reconhecê-lo como filho. No filme esse episódio não é colocado e o personagem assume o caráter de vilão (tipico de telenovelas) que irá ameaçar a felicidade dos mocinhos com sua sede de vingança. Assim, no final do filme, Silvestre morre tentando perseguir o Maestro, enquanto no livro, o noivo de Clara foge, após ser acusado injustamente de ter engravidado a mocinha.

Ah, não poderia deixar de mencionar os "defeitos especiais". Ao final do filme, a chuva de sangue idealizada pelo autor do livro se converte em um espetáculo digno de holywood (versão cine trash), com uma chuva de Ketchup e um ciclone de desenho animado.

Contudo, o filme não deixa de ser uma boa oportunidade de tomar contato com a obra.

Mas não há nada que substitua uma boa leitura.



DEIXE AQUI SEU COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO, SOBRE O FILME OU SOBRE AMBOS!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Capitu



Não poderíamos deixar de comentar neste espaço a adaptação global de Dom Casmurro, obra fundamental da prosa machadiana. Na modesta opinião deste professor que vos posta, foi uma grata surpresa. Não quanto aos aspectos técnicos, pois a forma e o visual sempre têm sido privilegiados nas produções de nossa teledramaturgia, mas quanto ao conteúdo.
O elenco, apesar de contar com Maria Fernanda Cândido, reforçou a atmosfera teatral objetivada pela direção. O contraste entre as figuras de Capitu e Bentinho, corroboram a idéia expressa no texto machadiano: "ela era mais mulher do que ele homem".
Outro destaque positivo foi a trilha sonora, com a canção tema "Elephant Gun" do ainda não muito conhecido Beirut. O ecletismo ainda passa por Black Sabbath e Tchaikowsky.
Mas o que realmente surpreendeu foi o fato de a Globo não ter estraçalhado com seu simplismo habitual o grande romance do Machado. Pelo contrário, o risco era enorme, pois a ambigüidade é essência desafiadora do texto machadiano. A trama foi conduzida pela narração de Bentinho (interpretado brilhantemente pelo versátil Michel Melamed) e, claro "envenenando" o leitor/telespectador em relação a Capitu, sem trair o espírito de Dom Casmurro.
Totalmente excelente! Que sirva de estímulo à curiosidade para a (re)leitura desse genial capítulo da literatura brasileira.

Deixe aqui seu comentário e participe da nossa enquete (originalíssima): Capitu traiu Bentinho?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vestibular FURG


Meus Caros,

Nossa espera chegou ao fim. Chegou o momento de conquistar a nossa vaga na FURG. Confiança no nosso trabalho, na nossa caminhada, acima de tudo. Estamos juntos nessa!

PS: Acompanhe aqui no blog a resolução e os comentários da prova de Literatura
Se houver uma dúvida de última hora, estamos em contato:

ediralonso@hotmail.com

Um grande abraço,
Sucesso a todos!

domingo, 23 de novembro de 2008

Questões de Revisão: UFPel e FURG

CLIQUE AQUI PARA BAIXAR

*O gabarito estrá disponível até o final da semana.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Apostila (Volume 7)

Temos aqui:

- Romance de 30
- Geração de 45
- Concretismo
- Literatura Contemporânea
(Conteúdo e exercícios)

CLIQUE AQUI PARA BAIXAR

Meu Jabá

O espaço aqui está aberto também para sugestões musicais. Recomendo a banda gaúcha Stereoplásticos. Tem algo meio Los Hermanos, lembra um pouco Coldplay também.
Ouçam e me digam.

Lonas Bicolores

Um Cavalo No Escuro

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

VESTIBULAR SIMULADO

1- (UFRGS) Assinale a alternativa correta em relação a Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga.

(A) No livro, é estabelecido um contraste entre a paisagem, bucólica e amena, e o cenário da masmorra, opressivo e triste.
(B) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, enviadas por Marília, de Minas Gerais, a Dirceu, que se encontra em Moçambique.
(C) Na obra, o pensamento racional é anulado em favor do sentimentalismo romântico.
(D) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, incorpórea, imaginada pelo pastor Dirceu.
(E) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos pejorativos em relação às convenções da época.

2- “Sabeis-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifico lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença!” (início da narrativa II – Solfieri de Noite na taverna).

A partir do trecho citado, é possível afirmar:
I. Há uma espécie de paradoxo nas relações enunciadas: sacerdote/amante, prostituta/crente, sacrilégio/amor, beijo lascivo/fé. Esse paradoxo conduz o leitor a uma visão “amarga” de valores e
práticas sociais postos em vigor, mas não requeridos pela sociedade dos que os vivem.
II. As relações enunciadas não são paradoxais, uma vez que remetem o leitor às experiências comportamentais dos que habitam o mundo de Noite na taverna, que se pode interpretar como uma obra que representa a sociedade burguesa de 1900, em cujas estruturas morais se percebia um retorno à Roma pagã, conhecida pela “falta de moral”.
III. Configura-se apenas como brincadeira de um adolescente, Álvares de Azevedo, jovem poeta morto aos 21 anos de idade em conseqüência de seu “estilo de vida” bem representado nas narrativas de Noite na taverna: boêmio, descrente do mundo, próximo de rituais satânicos, experimentador da prostituição, do assassínio, da pedofilia e de outros comportamentos que contou em seus textos.

Marque a alternativa correta:
a) As proposições I e II estão corretas
b) Apenas a proposição II está correta
c) Apenas a proposição III está correta
d) Apenas a proposição I está correta
e) As proposições I e III estão corretas

3- Assinale a afirmativa incorreta quanto a traços do Romantismo presentes no poema Navio Negreiro, de Castro Alves.

a) Contraste entre o real e o ideal.
b) Tendência ao passional.
c) Evasão em relação à realidade social.
d) Referência à natureza.
e) Propensão à melancolia.

4- Sobre o conto "A Carteira" podemos afirmar:
a) Contrariando a estética romântica, aborda o triunfo da moral sobre os impulsos do indivíduo, o que se desdobra na aceitação dos valores da sociedade.
b) Tem como tema central o triângulo amoroso, ensejando um trágico desfecho com a morte de Gustavo.
c) Constitui uma análise crítica acerca da degradação moral da sociedade capitalista, ao identificar a honestidade com o fracasso.
d) É narrado em primeira pessoa por Honório, o que permite ao leitor reconstituir, à maneira realista, o seu drama de consciência.
e) Amélia é o estereótipo da mulher machadiana: incondicionalmente fiel, ainda que por força da hipocrisia das instituições, e submissa ao marido.

5- (UFPel 2007 Inverno) Lê o trecho a seguir de uma das obras indicadas para este vestibular.
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[...]
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

Assinala a alternativa que NÃO corresponda a uma coerente leitura da obra representada pelo fragmento acima.
(a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda tal qual uma colméia humana.
(b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.
(c) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
(d) O discurso naturalista do autor enfatiza nos personagens o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.
(e) Observa-se, no discurso do narrador, a constante utilização de metáforas, dentre outros recursos, para enriquecer a apresentação de elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.
(f) I.R.

6- Considere as afirmações que seguem.
I - Triste Fim de Policarpo Quaresma relata a vida de um modesto funcionário público em três diferentes fases, que se relacionam, de certa forma, às três partes em que se dividem tal romance.
II - A primeira etapa da obra e da vida de Policarpo retrata o cotidiano simples e suburbano desse funcionário público ufanista e sonhador, que pretende instaurar no país uma reforma cultural.
III - A segunda parte, refere-se a Quaresma, que, ao sair do hospício, torna-se proprietário rural. Defrontando-se com a rotina e a política do campo, busca reformular o país tendo como a agricultura.
IV - O estágio final do romance, apresenta-nos o protagonista como soldado voluntário na Revolta da Armada, de 1893, revelando o clima político da República Velha. Aqui, o personagem principal prepara uma reforma política para a Pátria.

Sobre a obra Triste Fim de Policarpo Quaresma são corretas?
a) II, II e III.
b) I e II.
c) II, III e IV.
d) I, II, III e IV.
e) III e IV .

7- (FURG 2007) Com o conto Negrinho do Pastoreio, Simões Lopes Neto

a) leva o leitor a perceber que a literatura de massa, como manifestação cultural do povo, é superior à literatura erudita.
b) denuncia, através de uma manifestação de domínio popular, as formas bárbaras com que os negros rebeldes eram tratados, quando fugiam das fazendas.
c) elimina traços que tipificam a maldade da escravidão. Acentuando o perfil de bondade e de abnegação do Negrinho.
d) faz da perda de um animal uma metáfora da religiosidade, quando o Negrinho vê a aparição de Nossa Senhora trazendo-lhe de volta o cavalo perdido.
e) apropria-se de uma lenda e a estiliza na geografia sul-rio-grandense, como forma de adaptar uma manifestação folclórica, de domínio popular.

8- Assinale a alternativa correta para as características do Modernismo de 1922, também chamado de “fase heróica”.

a) espírito polêmico e destruidor, valorização poética do cotidiano, nacionalismo, busca da originalidade a qualquer preço.
b) Temática ampla com preocupação filosófica, predomínio do romance regionalista, valorização do cotidiano, nacionalismo.
c) Espírito polêmico, busca da originalidade, predomínio do romance psicológico, valorização da cidade e das máquinas.
d) Visão futurista, espírito polêmico e destruidor, predomínio da prosa poética, valorização da cidade e das máquinas.
e) Valorização poética do cotidiano, linguagem repleta de neologismos, nacionalismo e busca da poesia na natureza.

Gabarito:
1-A / 2-D / 3-C / 4-C / 5-C / 6-D / 7-E / 8-A

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Simulado Albert Einstein

Caros alunos,

As questões do nosso pré-simulado estarão disponíveis aqui na sexta-feira. Vamos privilegiar aquelas obras literárias que estudamos no ano passado, para que vocês possam resgatar esses conteúdos.

Se quiserem adiantar o estudo, dêem uma olhada em:

1. Marília de Dirceu (Tomás Antônio Gonzaga)
2. Noite na Taverna (Álvares de Azevedo)
3. Navio Negreiro (Castro Alves)
4. Uns Braços / A Carteira (Machado de Assis)
5. O Cortiço (Aluísio Azevedo)
6. Lendas do Sul (Simões Lopes Neto)
7. Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto)

Um Abraço!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Teatro Contemporâneo


Aqui vão os resumos de duas peças essenciais para os vestibulares da UFRGS e da UFCSPA:

- Vestido de Noiva (Nelson Rodrigues)
- O Auto da Compadecida (Ariano Suassuna)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Dois Irmãos: Guia de Leitura




CLIQUE AQUI PARA BAIXAR

Leituras para os alunos do Albert Einstein

Pessoal,

Segue aqui a lista de contos para as nossas avaliações na próxima semana:

1º Ano

- A Carteira (Machado de Assis)
- Uns Braços (Machado de Assis)
- Missa do Galo(Machado de Assis)
- No Retiro da Figueira (Moacyr Scliar)

2º Ano

- A Carteira (Machado de Assis)
- Uns Braços (Machado de Assis)

3º Ano

- A Terceira Margem do Rio (Guimarães Rosa)
- Natal na Barca (Lygia F. Telles)
- Crachá nos dentes (Lygia F. Telles)
- A Caçada (Lygia F. Telles)

*Os alunos do 3º ano devem estudar, além dos contos, os autores apresentados ao longo do bimestre.

Um Abraço!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Contos de Machado de Assis

Segue aqui a lista de contos para as provas trimestrais do Colégio João Paulo I.

- A Cartomante
- O Alienista
- Um Homem Célebre
- Missa do Galo
- O Espelho

Boas leituras a todos.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Baixe as Leituras Obrigatórias da UFPel!!!


Atualizamos os links para download dos livros exigidos no vestibular da UFPel. CONFIRA NA LATERAL DO BLOG.

domingo, 20 de julho de 2008

Acertamos: Terceira margem na prova!


Logo que foram divulgadas as novas leituras já surgiram alguns indícios... A terceira margem do rio e Natal na Barca já fizeram parte de programas de prova anteriores na UFPel, e o retorno desses contos à lista obrigatória demonstra as preferências da banca. Nesse sentido, antecipamos em nossas aulas a abordagem do conto de Guimarães Rosa, e, na sexta feira, colocamos o texto em destaque aqui no blog.

É isso aí gurizada! A prova estava para nós!!!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Vestibular de Inverno UFPel

Boa prova a todos!!!

A Terceira Margem do Rio



(Guimarães Rosa)


Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.


Texto extraído do livro "Primeiras Estórias", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1988, pág. 32, cuja compra e leitura recomendamos.

Natal na Barca

Lygia Fagundes Telles


Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com uma criança e eu.

O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, dirigira palavras amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga.

Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio.

Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.

A caixa de fósforos escapou-me das mãos e quase resvalou para o. rio. Agachei-me para apanhá-la. Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei-me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.

— Tão gelada — estranhei, enxugando a mão.

— Mas de manhã é quente.

Voltei-me para a mulher que embalava a criança e me observava com um meio sorriso. Sentei-me no banco ao seu lado. Tinha belos olhos claros, extraordinariamente brilhantes. Reparei que suas roupas (pobres roupas puídas) tinham muito caráter, revestidas de uma certa dignidade.

— De manhã esse rio é quente — insistiu ela, me encarando.

— Quente?

— Quente e verde, tão verde que a primeira vez que lavei nele uma peça de roupa pensei que a roupa fosse sair esverdeada. É a primeira vez que vem por estas bandas?

Desviei o olhar para o chão de largas tábuas gastas. E respondi com uma outra pergunta:

— Mas a senhora mora aqui perto?

— Em Lucena. Já tomei esta barca não sei quantas vezes, mas não esperava que justamente hoje...

A criança agitou-se, choramingando. A mulher apertou-a mais contra o peito. Cobriu-lhe a cabeça com o xale e pôs-se a niná-la com um brando movimento de cadeira de balanço. Suas mãos destacavam-se exaltadas sobre o xale preto, mas o rosto era sereno.

— Seu filho?

— É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que eu devia ver um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem mas piorou de repente. Uma febre, só febre... Mas Deus não vai me abandonar.

— É o caçula?

Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo mas o olhar tinha a expressão doce.

— É o único. O meu primeiro morreu o ano passado. Subiu no muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou, vou voar! E atirou-se. A queda não foi grande, o muro não era alto, mas caiu de tal jeito... Tinha pouco mais de quatro anos.

Joguei o cigarro na direção do rio e o toco bateu na grade, voltou e veio rolando aceso pelo chão. Alcancei-o com a ponta do sapato e fiquei a esfregá-lo devagar. Era preciso desviar o assunto para aquele filho que estava ali, doente, embora. Mas vivo.

— E esse? Que idade tem?

— Vai completar um ano. — E, noutro tom, inclinando a cabeça para o ombro: — Era um menino tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado... A última mágica que fez foi perfeita, vou voar! disse abrindo os braços. E voou.

Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços (os tais laços humanos) já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. E agora não tinha forças para rompê-los.

— Seu marido está à sua espera?

— Meu marido me abandonou.

Sentei-me e tive vontade de rir. Incrível. Fora uma loucura fazer a primeira pergunta porque agora não podia mais parar, ah! aquele sistema dos vasos comunicantes.

— Há muito tempo? Que seu marido...

— Faz uns seis meses. Vivíamos tão bem, mas tão bem. Foi quando ele encontrou por acaso essa antiga namorada, me falou nela fazendo uma brincadeira, a Bila enfeiou, sabe que de nós dois fui eu que acabei ficando mais bonito? Não tocou mais no assunto. Uma manhã ele se levantou como todas as manhãs, tomou café, leu o jornal, brincou com o menino e foi trabalhar. Antes de sair ainda fez assim com a mão, eu estava na cozinha lavando a louça e ele me deu um adeus através da tela de arame da porta, me lembro até que eu quis abrir a porta, não gosto de ver ninguém falar comigo com aquela tela no meio... Mas eu estava com a mão molhada. Recebi a carta de tardinha, ele mandou uma carta. Fui morar com minha mãe numa casa que alugamos perto da minha escolinha. Sou professora.

Olhei as nuvens tumultuadas que corriam na mesma direção do rio. Incrível. Ia contando as sucessivas desgraças com tamanha calma, num tom de quem relata fatos sem ter realmente participado deles. Como se não bastasse a pobreza que espiava pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, via pairar uma sombra sobre o segundo filho que ninava nos braços. E ali estava sem a menor revolta, confiante. Apatia? Não, não podiam ser de uma apática aqueles olhos vivíssimos, aquelas mãos enérgicas. Inconsciência? Uma certa irritação me fez andar.

— A senhora é conformada.

— Tenho fé, dona. Deus nunca me abandonou.

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Ela mudou a posição da criança, passando-a do ombro direito para o esquerdo. E começou com voz quente de paixão:

— Foi logo depois da morte do meu menino. Acordei uma noite tão desesperada que saí pela rua afora, enfiei um casaco e saí descalça e chorando feito louca, chamando por ele! Sentei num banco do jardim onde toda tarde ele ia brincar. E fiquei pedindo, pedindo com tamanha força, que ele, que gostava tanto de mágica, fizesse essa mágica de me aparecer só mais uma vez, não precisava ficar, se mostrasse só um instante, ao menos mais uma vez, só mais uma! Quando fiquei sem lágrimas, encostei a cabeça no banco e não sei como dormi. Então sonhei e no sonho Deus me apareceu, quer dizer, senti que ele pegava na minha mão com sua mão de luz. E vi o meu menino brincando com o Menino Jesus no jardim do Paraíso. Assim que ele me viu, parou de brincar e veio rindo ao meu encontro e me beijou tanto, tanto... Era tamanha sua alegria que acordei rindo também, com o sol batendo em mim.

Fiquei sem saber o que dizer. Esbocei um gesto e em seguida, apenas para fazer alguma coisa, levantei a ponta do xale que cobria a cabeça da criança. Deixei cair o xale novamente e voltei-me para o rio. O menino estava morto. Entrelacei as mãos para dominar o tremor que me sacudiu. Estava morto. A mãe continuava a niná-lo, apertando-o contra o peito. Mas ele estava morto.

Debrucei-me na grade da barca e respirei penosamente: era como se estivesse mergulhada até o pescoço naquela água. Senti que a mulher se agitou atrás de mim

— Estamos chegando — anunciou.

Apanhei depressa minha pasta. O importante agora era sair, fugir antes que ela descobrisse, correr para longe daquele horror. Diminuindo a marcha, a barca fazia uma larga curva antes de atracar. O bilheteiro apareceu e pôs-se a sacudir o velho que dormia:

- Chegamos!... Ei! chegamos!

Aproximei-me evitando encará-la.

— Acho melhor nos despedirmos aqui — disse atropeladamente, estendendo a mão.

Ela pareceu não notar meu gesto. Levantou-se e fez um movimento como se fosse apanhar a sacola. Ajudei-a, mas ao invés de apanhar a sacola que lhe estendi, antes mesmo que eu pudesse impedi-lo, afastou o xale que cobria a cabeça do filho.

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?!

Ela sorriu:

— Veja...

Inclinei-me. A criança abrira os olhos — aqueles olhos que eu vira cerrados tão definitivamente. E bocejava, esfregando a mãozinha na face corada. Fiquei olhando sem conseguir falar.

— Então, bom Natal! — disse ela, enfiando a sacola no braço.

Sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia. Apertei-lhe a mão vigorosa e acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite.

Conduzido pelo bilheteiro, o velho passou por mim retomando seu afetuoso diálogo com o vizinho invisível. Saí por último da barca. Duas vezes voltei-me ainda para ver o rio. E pude imaginá-lo como seria de manhã cedo: verde e quente. Verde e quente.


Texto extraído do livro “Para gostar de ler – Volume 9 – Contos”, Editora Ática – São Paulo, 1984, pág. 67.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Resumo e análise de NOITE NA TAVERNA



Noite na Taverna é uma coletânea de narrativas construída em sete partes. Traz epígrafes e usa os nomes de cada um dos narradores como subtítulos, antecedendo as histórias. Constitui a mais original produção em prosa de Álvares de Azevedo e insere-se perfeitamente no clima romântico byroniano, refletindo também as influências deixadas no autor pela leitura das novelas mórbidas do século XIX. Os capítulos de Noite na Taverna são Uma Noite do Século, Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann e Último Beijo de Amor.


UMA NOITE DO SÉCULO


Uma espécie de introdução apresentando o ambiente da taverna, a roda de bebedeira e de devassidão em que se encontram os personagens e o tom notívago e vampiresco em que se desenrolarão os fatos narrados.

Bertram, Archibald, Solfieri, Johann, Arnold e os outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébria sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Solfieri os questiona a respeito da imortalidade da alma, e parece não crer nela. Por isso, Archibald o censura pelo materialismo. Solfieri acredita na libertinagem, na bebida e na mulher sobre o colo do amado. Os homens só se voltam para Deus quando estão próximos da morte. Deus é, pois, a “utopia do bem absoluto”.


- Silêncio, moço! Acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?
- Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das taças?
- És um louco, Bertram? Não é a lua que lá vai macilenta: é o relâmpago que passa e ri de escárnio às agonias do povo que morrem aos soluços que seguem as mortualhas do cólera!

As primeiras páginas deixam antever o clima da geração do mal do século, a irreverência incontida, a tendência às divagações literário-filosóficas, a vivência sôfrega e, principalmente,a morbidez e a lascívia.

-Estás ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza - o judeu, e o histerismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão de Deus. A verdadeira filosofia é o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem é o prazer. Daí vede que é o elemento sensível uem domina.E pois, ergamo-nos, nós que amarelecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.

A vivência que o escritor demonstra é mais cultural que real, daí buscar
constantemente o reforço nas idéias de filósofos e literatos, reflexo do impacto de suas diversas leituras.


SOLFIERI


Relata uma viagem a Roma, a “cidade do fanatismo e da perdição, onde na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o crucifixo lívido”. Certa noite, Solfieri vê um vulto de mulher. Segue-a até um cemitério; o vulto desaparece e ele adormece sob o frio da noite e umidade da chuva. A visão desse vulto atordoa o personagem durante um ano. Nem o amor o satisfaz mais. Uma noite, após prolongada orgia, sai vagando pelas ruas e acaba “entre as luzes de quatro círios que iluminavam um caixão entreaberto.” Lá estava a mulher que lhe provocara tantas alucinações e insônias Era agora uma defunta. Toma o cadáver em seus braços, despe-lhe o véu e faz sexo com ela. A mulher, no entanto, não estava morta, apenas sofrera um ataque de catalepsia. Solfieri leva-a então para seu leito. Depois de dois dias de delírio, ela morre realmente. Solfieri chama um escultor e manda fazer uma estátua de cera da mulher profanada, guardando-a em seu quarto. Conserva para sempre, junto ao peito, uma grinalda de flores, lembrança do caixão da defunta.


BERTRAM


Bertram, um dinamarquês ruivo, de olhos verdes, conta que, também uma mulher, Ângela, o levou à bebida e a duelar com seus três melhores amigos e a enterrá-los. Quando decide casar com ela e consegue lhe dar o primeiro beijo, recebe carta do pai, pedindo seu retorna à Dinamarca. Encontra o velho já moribundo. Chora, mas por saudade de Ângela. Dois anos depois, volta para a Espanha. Encontra a moça casada e mãe de um filho. A paixão persiste e os amantes passam a se encontrar às escondidas, até que o marido, enciumado, descobre tudo. Uma noite, Ângela, com a mão ensangüentada, pede ao rapaz para subir até sua casa e por entre a penumbra, ele encontra o marido degolado e sobre seu peito, o filho de bruços, sangrando. Saem pelo mundo em grandes orgias. Ela foge mais tarde, deixando Bertram entregue às paixões e vícios. Bêbado e ferido, é atropelado por uma carruagem. É socorrido por um velho fidalgo, pai de uma bela menina que, mais tarde, foge para casar-se com Bertram. Ele a vende em uma mesa de jogo a Siegfried, o pirata. Ela mata Siegfried, afogando-se em seguida. De dissipação em dissipação, o rapaz resolve matar-se no mar da Itália, mas é salvo por marinheiros, fica sabendo que a pessoa que o salvou foi, acidentalmente, morta por ele. São socorridos por um navio e Bertram é aceito a bordo em troca de que combatesse, se necessário. Mas apaixona-se pela pálida mulher do comandante e, durante uma batalha, ele o trai, tomando-lhe a mulher. O navio encalha em um banco de areia, despedaçando-se - os náufragos agarram-se a uma jangada e, em meio à tempestade, vagam pelo mar as três figuras (o comandante, a mulher e Bertram), sobrevivendo de bolachas e, mais tarde, tiram a sorte para ver quem morrerá para servir de alimento para os outros. O comandante perde, clama por piedade, mas Bertram se nega a ouvi-lo, prefere a luta. Mata o comandante, que serve por dois dias de alimento à Bertram e à mulher. Ele propõe morrerem juntos, ele aceita. O casal gasta as últimas energias no amor. A mulher, enlouquecida, começa a gargalhar. Bertram a mata. Alimenta-se dela também. Depois, é salvo por um navio inglês.







GENNARO


Gennaro conta que entrou como aprendiz do velho pintor Godofredo Walsh, casado em segundas núpcias com Nauza, uma jovem de vinte anos, que lhe servia de modelo. Com Godofredo, vive também Laura, de quinze anos, filha de seu primeiro casamento. Gennaro seduz Laura, que durante três meses freqüenta o quarto do rapaz. Grávida, ela implora para que ele a peça em casamento. Ele recusa porque apaixonara-se por Nauza, a esposa do pintor. Laura enfraquece.

Uma noite...foi horrível...vieram chamar-me: Laura morria. Na febre murmurava meu nome e palavras que ninguém podia reter, tão apressadas e confusas soavam. Entrei no quarto dela: a doente conheceu-me. Ergueu-se branca, com a face úmida de um suor copioso: chamou-me. Sentei-me junto ao leito dele. Apertou minha mão nas suas mãos frias e murmurou em meu ouvido:- Gennaro, eu te perdôo: eu te perdôo tudo...Eras um infame...Morrerei...Fui uma louca...Morrerei por tua causa...teu filhos...o meu...vou vê-lo ainda...mas no céu...meu filho que matei...antes de nascer...


Gennaro torna-se amante de Nauza. Certa noite fria e escura saíram o mestre e o aprendiz. Godofredo pôs-se a contar uma história (a real) de sua vida, expondo o conhecimento que tinha dos fatos, sabendo que Gennaro fora amante da filha e agora é amante da mulher. Musculoso e forte, Godofredo prostrou Gennaro, que caiu em um despenhadeiro. Só não morreu porque ficou preso em uma árvore. Após um dia e uma noite de delírios, acordou na casa de camponeses que o haviam socorrido e, logo que sarou, partiu. Encontrou no caminho o punhal com que o mestre tentara matá-lo. Munido da arma, procurou a casa de Godofredo, que parecia abandonada. Entrou pelos quartos escuros, tateando até a sala do pintor. Encontrando-a vazia, dirigiu-se ao quarto de Nauza e encontrou-a morta, envenenada pelo marido, que jazia morto também e de sua boca “corria uma escuma esverdeada.”







CLAUDIUS HERMANN


Viciado em jogo, Claudius Hermann chegou a apostar toda a sua fortuna. Em uma das corridas, viu uma mulher passar a cavalo. Tal foi o fascínio que a dama exerceu sobre ele, que, quase com obsessão, persegui-a. Descobriu que a mulher misteriosa era a duquesa Eleonora. Um dia, encorajado, abordou-a. Eleonora era casada. Uma noite, após um baile, aproveitou-se do cansaço e sonolência da mulher e, com a chave comprada de um criado, entrou em seu quarto e lhe deu um narcótico misturado ao vinho. Em seguida, seduziu-a.

Uma semana se passou assim: todas as noites eu bebia nos lábios da dormida um século de gozo. Um mês delirantes iam aos bailes do entrudo, em que mais cheia de febre ela adormecia quente, com as faces em fogo...

O marido, o belo e jovem Maffio, uma noite prometeu visitá-la em seu leito. O amante, corroído de ciúme, resolveu fugir com a mulher. Após ministrar-lhe o narcótico, saiu com a inconsciente pelos corredores, e partiram de carruagem. Ao acordar, Eleonora percebeu que estava em um local estranho com um desconhecido. Ficou desesperada. Claudius decidiu revelar-lhe o segredo. A mulher argumentou ser impossível amá-lo, ele contra-argumentou dizendo-lhe não ser possível a vida dela nos padrões da normalidade, uma vez que estava desonrada. Ninguém a perdoaria. Eleonora, então, concorda em viver com ele.

(...) um dia Claudius entrou em casa. Encontrou o leito ensopado de sangue e num recanto escuro da alcova um doido abraçado com um cadáver. O cadáver era o de Eleonora: o doido n em o poderíeis conhecer tanto a agonia o desfigurava. Era uma cabeça hirta e desgrenhada, uma tez esverdeada, uns olhos fundos e baços onde o lume da insânia cintilava a furto, como a emanação luminosa dos puis entre as trevas...Mas ele o conheceu...era o Duque Maffio.








JOHANN


O cenário é Paris. Johann e Artur jogavam num bilhar. Ao faltar um ponto para Artur ganhar e ao narrador muitos, houve um desvio da bola e Johann exaltou-se, provocando o adversário para um duelo de morte. Artur aceitou, mas antes de partirem para a morte, escreveu algumas linhas e pediu para Johann entregá-las juntamente com um anel, caso viesse a ser a a vítima. No duelo morreu Artur. Johann, como havia prometido, tirou o anel do defunto, recolheu dois bilhetes. O primeiro era uma carta para a mãe; o segundo continha apenas um endereço e um horário. A assinatura era apenas um G. Johann foi ao encontro. “Era escuro. Tinha no dedo o anel que trouxera do morto...Senti uma mãozinha acetinada tomar-me pela mão...subi. A porta fechou-se.

Ele seduziu a virgem. Ao sair, topou com um vulto à porta, voz levemente familiar. Desceu as escadas e sentiu uma lâmina resvalar-lhe os ombros. Uma luta terrível foi travada e houve mais um assassinato.

Ao sair tropecei num objeto sonoro. Abaixei-me para ver o que era. Era uma lanterna furta-fogo. Quis ver quem era o homem. Ergui a lâmpada...O último clarão dela banhou a cabeça do defunto...a apagou-se...Eu não podia crer: era um sonho fantástico toda aquela noite. Arrastei o cadáver pelos ombros...levei-o pela laje da calçada até o lampião da rua, levantei-lhe os cabelos ensangüentados do rosto (...) Aquele homem - sabei-o!? era do sangue do meu sangue, filho das entranhas de minha mãe como eu...era meu irmão!

Mas a desgraça maior ainda estava por ser revelada: Johann havia possuído sua própria irmã.


ÚLTIMO BEIJO DE AMOR


A noite ia alta e a orgia findara, os convivas dormiam embriagados. Entrou na taverna uma mulher vestida de negro, procurando um rosto conhecido. Quando a luz bateu em Arnold, a mulher ajoelhou-se, em seguida ergueu-se, dirigindo-se a Johann.

(...) A fronte da mulher pendeu e sua mão pousou na garganta dele. Um soluço rouco e sufocado ofegou daí. A desconhecida levantou-se. Tremia; ao segurar na lanterna ressoou-lhe na mão um ferro...era um punhal...Atirou-o no chão. Viu que tinha as mãos vermelhas, enxugou-as nos longos cabelos de Johann.

Voltando-se para Arnold, fez-se reconhecer. Era Geórgia que voltava, depois de cinco anos. Arnold pediu que o chamasse como antes - Artur - e pede-lhe beijos, enquanto ambos lamentam a sorte. A mulher somente vinha para dizer-lhe adeus e depois fecharia a porta de sua própria sepultura. Confessa a morte de Johann para vingar-se daquele que a levou a prostituir-se. Geórgia prostituta vingou nele Geórgia - a virgem. Esse homem foi quem a desonrou, desonrou-a a ela que era sua irmã.


ESTRUTURA NARRATIVA


No final da peça Macário, Álvares de Azevedo apresenta a personagem título aproximando-se de uma janela e observando, dentro de uma taverna, vários jovens conversando. Assim, na verdade, inicia-se o livro A Noite na Taverna. Seu começo é encadeado à peça, mas não se trata de um texto dramatúrgico. É um livro de narrativas curta em prosa, e não teatro. A obra é estruturada em abismo. Cada capítulo é uma história contada dentro de outra história. São, portanto, contos ligados através da estrutura conhecida como moldura narrativa - uma narrativa geral une todas as outras. Tal recurso, conhecido também como contos enquadrados, remete às mais antigas coletâneas de contos da literatura universal, como As Mil e Uma Noites, o Decameron, de Bocaccio e os Contos de Canterbury, de Chaucer.

Em Noite na Taverna, cada conto tem um narrador diferente. Cada um dos homens conta a sua história medonha, afirmando que “não é um conto, é uma lembrança do passado”. Afirmações como essa são típicas do Romantismo. Procuram, assim, estabelecer a veracidade de textos bastante inverossímeis, histórias fantásticas, impossíveis de acontecer na realidade. Os homens reunidos na taverna procuram impressionar seus ouvintes, acrescentando detalhes cada vez mais imaginativos, macabros e chocantes a seus relatos amorosos, ditos pessoais e verídicos. Antônio Cândido explica que, em Álvares de Azevedo, “elementos macabros estariam compondo com estes, de maneira peculiar, o par romântico Amor e Morte.”

A obra está dividida em dois planos: uma narrativa externa, que apresenta os rapazes já bêbados na taverna e prestes a contar cada um sua história, e as várias narrativas internas ou aventuras apresentadas - os contos são nomeados segundo o nome daquele que os narra e também protagoniza - Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann, diferenciando-se desse esquema a introdução e a finalização, chamadas respectivamente Uma Noite do Século e Último Beijo de Amor.


TEMÁTICA


Os contos giram em torno dos temas do amor e da morte, que são relacionados pela presença de momentos de necrofilia, incesto, assassinatos, canibalismo, loucuras várias. Assim, o amor está sempre na fronteira com a morte e a sexualidade se reveste de culpas e punições. O tema não envereda, de fato, pela senda do sobrenatural, mas sim pelo extravagante e hiperbólico. Necrofilia, catalepsia, amor obsessivo, infanticídio, assassinato do esposo, ingratidão, aborto, adultério, sonambulismo, suicídio, emprego de narcótico como recurso amoroso, incesto e fratricídio são as matérias primas para as histórias contadas pelos personagens. E tudo isso, precedido por um vivo debate filosófico.

Capítulo 1 A temática desenvolvida aqui é a oposição entre a imortalidade/mortalidade da alma, a afirmação do prazer versus a negação do prazer, a existência de Deus versus a inexistência de Deus. Daí o autor colecionar uma série muito grande de citações filosóficas, que remtem para um ou outro dos temas, deixando o leitor suspenso entre dois termos.

Capítulo 2 - O tema é a necrofilia, a morte, a catalepsia e o amor obsessivo.

Capítulo 3 - O amor obsessivo, o adultério, o ciúme, o assassinato do marido, a miséria de uma vida desregrada e o amor exclusivamente carnal que logo finda constituem-se na temática deste capítulo.

Capítulo 4 - A temática é o desencontro, a ingratidão, o aborto, o adultério, o sonambulismo, o a amor obsessivo, o suicídio e o arrependimento.

Capítulo 5 - Traz uma simetria interessante entre a conduta do personagem Claudius Hermann e a do Duque Maffio. temática deste capítulo é o amor obsessivo e a perversão sexual.

Capítulo 6 - Os temas são o incesto e o fratricídio.

Capítulo 7 - A temática do último capítulo é a vingança do destino, a fatalidade da ignorância e o suicídio.

Ao longo de Noite na Taverna são introduzidos, na literatura brasileira, temas relacionados ao fantástico e ao macabro. No todo, predomina a intenção de fugir da realidade na bebida e na fantasia. Os personagens estão saturados de extrema melancolia e pessimismo, características dominantes do Ultra-Romantismo, no qual os autores se preocupavam em descrever paisagens sombrias e acontecimentos misteriosos.


RECURSOS DE EXPRESSÃO


Ao longo de Noite na Taverna, Álvares de Azevedo emprega diversos recursos expressivos. Entre eles, destacam-se os diálogos intertextuais. O autor dialoga com autores e textos vários, os quais demonstra conhecer profundamente.

Na primeira parte da obra, o autor faz referências às canções de Tieck, à filosofia de Fichte, Shelling, Epicuro, Hume, Spinoza e de Schiller. Refere-se à poesia épica de Homero: “(...)aí, há folhas inspiradas pela natureza ardente daquela terra como nem Homero as sonhou (...)”. E à literatura de Hoffmann: “(...) uma história sanguinolenta, um daqueles contos fantásticos - como Hoffmann (...)”.

A parte 3 também é recheada de diálogos entre o autor e outros autores e/ou obras, tais como o Otelo, de Shakespeare, a novela Dom Juan, Dante, Byron, o Fausto, de Goethe, o Hamlet, de Shakespeare e o poeta português Bocage. O próprio nome do livro, a ação dos personagens dialogando em uma taverna, pode ser uma referência direta à vida e obra do poeta português. Álvares de Azevedo interage com a Bíblia:

(...) como Satã quarenta séculos depois fez a Cristo e disse-lhe: Vê, tudo isso é belo - vales, montanhas, águas do mar que espumam, folhas das florestas que tremem e sussurram como as asas dos meus anjos - tudo isso é teu...”

A parte 6 parece toda inspirada na tragédia Édipo Rei. Sem ter conhecimento, Édipo mata o pai e se casa com a mãe; por ignorância, Johann torna-se amante da irmã e mata o irmão. Quando toma conhecimento do infortúnio, Édipo vaza os próprios olhos, o que de certa maneira, faz Johann ao transformar-se em um ébrio para esquecer seu destino. Por fim, ambos sofrem por não darem atenção à lição do oráculo de Delfos: conhece-te a ti mesmo.


PROTAGONISTAS


O protagonistas ou personagens principais de Noite na Taverna são, basicamente, os jovens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann e Artur que se encontram reunidos na taverna. Além deles, Geórgia, que reaparecendo já no final do livro, acrescenta uma nota de plausibilidade às histórias narradas. Todos os protagonistas são do tipo anti-herói, pois que, mesmo em posição de herói pelas coisas que contam, mostram-se iguais ou inferiores aos outros componentes do grupo. Ou são vítimas da adversidade ou são presa de seus próprios defeitos de caráter.


PERSONAGENS SECUNDÁRIOS


Os personagens secundários vão sendo introduzidos no enredo através das narrativas dos convivas, com exceção da taverneira, do velho que interrompe Bertram e de Geórgia, que participam da ação na taverna. Assim, temos a moça do cemitério, o guarda, o ébrio, o ébrio, os companheiros, o escultor. Ângela, o pai de Bertram, o esposo de Ângela, o filho de Ângela, o velho nobre, a filha do nobre, o pirata Siegfried, o homem que tenta salvá-lo e é morto, a amante do velho que interrompe a narrativa, o dono do cérebro que preencheu a caveira exibida pelo velho, o capitão da corveta, a esposa do capitão, os marinheiros, os piratas do barco que ataca a corveta. Godofredo Walsh, Laura, Nauza, a velha da cabana, os camponeses. Eleonora, o criado venal, o Duque Maffio, a dona da estalagem, os amigos no bilhar, a mãe de Artur, G. (irmã), o desconhecido (irmão).

A falta de indicação de nome e caracterização dos personagens secundários confere aos personagens principais um individualismo acentuado. É como se eles não tivesses suas próprias vidas, existindo apenas em função dos narradores.Pode-se perceber que, quase sempre, os personagens secundários são planos, pois que caracterizados, no máximo, com um pequeno número de atributos.Comumente, são personagens plano tipo, isto é, personagens reconhecidos apenas por determinado acento invariável, como por exemplo, o guarda, o escultor, etc.


CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS


SOLFIERI - Um jovem boêmio, alcoólatra, persistente, pois que faz de tudo para alcançar o amor da mulher.
A MULHER AMADA POR SOLFIERI - Era como um anjo para ele, uma pessoa que sofria de catalepsia e depressão.
BERTRAM - Ruivo, de pele branca e olhos verdes. Alcoólatra e boêmio. Influenciado pela amada, muda seu jeito de ser, transformando-se em um ser obscuro e viciado, provocando a própria decadência.
ÂNGELA - Morena andaluza, calma e pura na visão de Bertram. No decorrer da história, mostra seu lado agressivo e malévolo.
A MULHER DO COMANDANTE - Branca, melancólica, triste e carente. Era pura, mas no desenvolvimento da trama, mostra seu lado infiel.
O COMANDANTE - Um homem bonito, com rosto rosado, de cabelos crespos e loiros, valente e brutal, mas um bom marido.
GENNARO - Um pintor bonito quando jovem, puro, pensativo e melancólico. Cínico e despreocupado acerca dos sentimentos alheios. Devotado à Nauza.
LAURA - Filha de Godofredo do primeiro casamento. Pálida, de cabelos castanhos e olhos azuis. Amava Gennaro, de uma forma pura e sem malícia.
GODOFREDO WALSH - Professor de pintura de Gennaro. Era robusto, alto e forte. Agia por impulso, vingativo.
NAUZA - Jovem e bonita, era a mulher de Godofredo. Carente, encontrava carinho nos braços de Gennaro.
CLAUDIUS HERMANN - Muito rico, não se importava com a desonra nem com o adultério. Só pensava na amada Eleonora.
A DUQUESA ELEONORA - Bela, pura e vaidosa. Pele alva e cabelos negros. Amava o marido, mas resolve fugir com Claudius porque não queria ser acusada de adultério pela sociedade que tanto prezava.
O DUQUE MAFFIO - Marido de Eleonora. Amava-a tanto que foi levado ao assassinato e ao suicídio.
JOHANN - Jovem boêmio, obsessivo, curioso e nervoso. Desonra a própria irmã e mata o irmão sem o saber.
ARTUR OU ARNOLD - Loiro, de feições delicadas, possuía o rosto oval e faces avermelhadas. Amava muito Geórgia.
GEÓRGIA - Irmã de Johann. Pura, inocente e apaixonada. No decorrer da história, entrega-se para o irmão, pensando que ele era o amado. Volta, no final, para vingar-se.
O IRMÃO DE JOHANN - Protetor, tenta matar o homem que desonrou a irmã.


TEMPO

O texto apresenta basicamente, três tempos:
1) A conversa entre os convivas, na taverna, ocorre no presente, tempo que predomina nos capítulos 1 e 7;
2) As histórias contadas pelos rapazes situam-se no passado, que predomina nos capítulos 2, 3, 4, 5 e 6, se bem que no início, durante e no fim de cada narrativa, os personagens retornam rapidamente para a taverna. A interação dos tempos (presente, passado e presente do passado) produz no leitor a impressão de estar se movendo em um mundo estranho, mágico, no qual acaba sendo introduzido, ao sabor da narrativa;
3) Os diálogos existentes em todas as narrativas conferem atualidade às histórias narradas pelos personagens principais.

A única referência histórica que dá uma vaga noção de localização cronológica do encontro na taverna está presente no relato do velho que interrompe a narrativa de Bertram: (...) e banhei minha fronte juvenil nos últimos raios de sol da águia de Waterloo - Apertei ao fogo da batalha a mão do homem do século. Assim, o velho seria jovem em 18 de junho de 1815, quando Napoleão enfrentava o Duque de Wellington, em Waterloo. Em razão desta referência, pode-se situar o encontro fictício na taverna mais ou menor na época em que o texto foi escrito.

No livro de Álvares de Azevedo, nada há de seguro ou definitivo em relação ao tempo. Datas, épocas ou duração dos fatos são apenas superficialmente sugeridos. Foi escrito tanto em tempo cronológico quanto em tempo psicológico. O tempo que decorre dentro da taverna é real: (...)Cala-te,Johann! Enquanto as mulheres dormem(...) Ocorre o que chamamos de flash back. A partir do momento em que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e o tempo passa a ser psicológico: Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão(...) No decorrer do enredo, há uma alternância entre passado, presente e futuro, tempo real e tempo psicológico. Quando um personagem faz sua narrativa, retorna, uma vez ou outra, ao ambiente da taverna, não permanecendo sempre no tempo psicológico.


ESPAÇO


Espaço é o local onde se passa a ação. É ele que dá conta do lugar físico onde ocorrem os fatos. Se a ação for concentrada, com poucos fatos narrados ou quando o enredo é psicológico, haverá menos variedade de espaços. Em Noite na Taverna, muito ao contrário, tem-se uma narrativa cheia de peripécias, com grande afluência de espaços diferentes.

De início, o espaço é a própria taverna, onde o diálogo é travado. A medida que se desenvolve a trama e as histórias de cada um vão sendo contadas, temos como espaço da narrativa: o palácio, o cemitério, a igreja, a ponte e as ruas da cidade; a casa, o quarto da casa (Solfieri); a casa do pai, o jardim da casa de Ângela, a casa dela, diversos locais pelos quais viajam juntos (não especificados), o palácio do nobre, o local onde joga com o pirata Siegfried (não especificado), o rochedo de onde salta para a morte, os diversos locais citados pelo velho que interrompe o narrador (Waterloo, Bélgica, taverna em Portugal, túmulo de Dante na Itália, Grécia e outros não especificados), a corveta, o mar, a cabine do comandante (sugerida), o navio pirata, a jangada e o brigue inglês Swalow (Bertram); a casa do mestre, o quarto de Gennaro, o quarto de Laura, o quarto do casal, a cabana na montanha, a cabana dos camponeses (Gennaro); o teatro, o palácio de Eleonora, o quarto dela, as ruas da cidade, os corredores e o pátio do castelo, o carro, a estalagem, o quarto alugado, a casa do casal Claudius e Eleonora, o quarto do casal (Claudius Hermann); o bilhar, o hotel, o quarto de Artur, fora da cidade, o sobrado da amante de Artur, a escada da casa, a porta de saída, a calçada na rua, o quarto da irmã (Johann).


AMBIENTE


É o conjunto de espaço acrescido de suas características socioeconômicas, morais, psicológicas, em que vivem os personagens. Em resumo, ambiente é um conceito que aproxima tempo e espaço, recheados de um clima.

Em Noite na Taverna, o ambiente é macabro, projeção dos conflitos vivenciados, ele reflete o pensamento mórbido e alucinado dos personagens. Todo o clima, como o tema, é noturno: histórias que e desenrolam na calada da noite, penumbra, melancolia, fumo, álcool, depressão e, por analogia, as características morais, religiosas e psicológicas traduzem o mesmo tom: são depravados, ébrios, assassino e boêmios.


NARRADOR


O livro é, inicialmente, narrado em terceira pessoa, apresentando os personagens na taverna. Após essa introdução, passa a ser narrado em primeira pessoa, na qual cada personagem tece sua trama.


CONCLUSÃO


Álvares de Azevedo revolveu delicadas feridas da sociedade brasileira da época e a afrontou tabus, e com isso - assim como em diversos outros pontos - ele seguiu as pegadas de Lord Byron - em cujas obras aparecem também traços não-conformistas e anti-sociais. Em Noite na Taverna não há justiça, probidade, remorso nem compaixão. Os rapazes na taverna, enquanto contam suas aventuras, são como anjos da morte e da destruição semeando a ruína e o desastre por onde passam. Sua postura é narcisista. Apenas buscam o prazer e a satisfação dos próprios desejos.

O texto não está construído de forma a incutir susto ou medo no leitor (como seria o caso na literatura de horror ou sobrenatural), mas antes, provocar o estranhamento e a repulsa. No entanto, uma das suas qualidades é, justamente, prender a atenção, página a página, através do emaranhado das situações descritas . Sem dúvida, as noites de vícios e devassidão narradas por Álvares de Azevedo, chamaram a atenção e chocaram o público leitor da década de 1850.

Noite na Taverna apresenta um mundo que não era o de Álvares de Azevedo, nem o de sua infância em família, nem o de sua mocidade e amadurecimento. Sua biografia deixa claro o tipo de valores nos quais ele foi criado: os da sólida e tradicional família brasileira, abastada, convencional e letrada. Orgias, a crueldade, a fealdade e os vícios de seus personagens em nada correspondem à realidade ou à vida do poeta. Somente o desejo de fuga da realidade explica tal escrito em que o amor é encarado pelo autor de maneira pervertida. Na vida real, nada mais era do que filho e irmão dedicado. Os sentimentos expostos em Noite na Taverna são puramente intelectuais.

Álvares de Azevedo inscreve sua obra na tradição do romance gótico. Pode-se avaliar como provenientes do romance gótico inglês, não apenas vários dos temas de Azevedo, como incesto e assassinato entre familiares, como ainda o gosto pelos incidentes sensacionais - raptos, fugas, aventuras em rápida sucessão, etc. Provavelmente, esses são elementos que foram injetados na poética de Álvares de Azevedo não apenas através de Hoffmann (Contos Fantásticos), mas também de Byron, de quem era assíduo leitor. O poeta inglês derramou pelo mundo uma mensagem de decadência e melancolia, erotismo e depravação, rebeldia e morbidez, que afinal alcançou e estudante paulista e toda uma geração brasileira. Os valores góticos fizeram de Noite na Taverna uma coletânea de brutalidades e perversões, cujas sementes são a descrença, o cinismo e o deboche. Em Azevedo, o recurso a elementos do romance gótico significa uma revolta contra a moral burguesa e sua rigidez de costumes. É, sem dúvida, uma produção noir. Antônio Cândido assinala:

(...) marcada pelo incesto, a necrofilia, o fratricídio, o canibalismo, a traição, o assassínio - cuja função para os românticos era mostrar os abismos virtuais e as desarmonias da nossa natureza, assim como a fragilidade das convenções. Associados a isto a modo de correlativo, a noite, a tempestade, o raio, o naufrágio, o tufão - constituindo o arsenal daquele belo sublime que podia costear o horrível, como indicam algumas páginas críticas de Álvares de Azevedo.

As histórias de Noite na Taverna são carregadas de fantasia. São homens devassos que se apaixonam por mulheres perdidas ou virgens misteriosas que terminam por perder-se. A sexualidade é sempre punida com a loucura e com a morte e o amor jamais se realiza plenamente. A atmosfera das cidades é corrompida e nebulosa, povoada de figuras fantasmagóricas. A imaginação romântica de Álvares de Azevedo marca de forma exuberante os contos do livro, narrados num estilo repleto de adjetivos e reticências. Em síntese, Azevedo escreveu:
- em tumulto,
- sem muito senso crítico;
- com traços de perversidade;
- demonstrando um cansaço precoce da vida;
- corporificando as várias tendências psíquicas de uma geração;
- com uma viva fantasia;
- apresentando características como egocentrismo, dualidade, auto-ironia, pessimismo e humor negro, ou seja, como um legítimo representante do ultra-romantismo.

Como escritor brilhante que foi e poeta original e talentoso, a qualidade de sua obra surpreende pela precocidade com que foi concebida. Seus textos refletem o ambiente de sua época, onde a literatura estava impregnada de pessimismo, ceticismo, morbidez e pressentimento da morte.

disponível em: www.coladaweb.com

domingo, 15 de junho de 2008

Nalgum Lugar

(E.E.cummings)

nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas


( tradução: Augusto de Campos )

sexta-feira, 11 de abril de 2008

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A lírica do amor não realizado em Gonçalves Dias

A lírica amorosa de Gonçalves Dias, maior poeta da primeira geração de nosso Romantismo, é marcada pela impossibilidade da realização amorosa. A chamada “lírica do amor interrompido” ecoa os sofrimentos vividos pelo poeta em seu malogrado relacionamento afetivo com Ana Amélia (cuja família recusou seu pedido de casamento). Assim, há quem afirme que Gonçalves Dias teria escrito a maior parte de seus poemas amorosos pensando nessa mulher inatingível – como é o caso do célebre Ainda uma vez, Adeus!
Mesmo nas poesias de caráter indianista pode-se observar a frustração quanto à concretização do amor. É o que percebemos no poema Leito de folhas verdes.

Leito de folhas verdes

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!


No poema em tela, o poeta filia-se à tradição medieval das canções de amigo imprimindo-lhe a cor local.
Na primeira estrofe, o eu-lírico feminino anseia pela volta de seu amado, Jatir, (1º e 2º versos) e questiona o porquê de sua demora. Note-se que aqui, os elementos da natureza corroboram a sensação de angústia da mulher (3º e 4º versos).
Na segunda e terceira estrofes temos o leito de amor, feito sob a copa da mangueira e feito de folhas brandas. Aqui, a natureza traduz toda a doçura do esperado encontro amoroso: mimoso tapiz de folhas brandas; o frouxo luar brinca entre flores; solta o bogari mais doce aroma.
A espera se prolonga e a angústia cresce, como evidencia a metáfora contida nos versos 4º e 5º da 5ª estrofe: Eu sou aquela flor que espero ainda / Doce raio do sol que me dê vida. Ela é a flor que depende dos raios de sol (a presença do amado) para viver.
A 6ª estrofe evidencia a idealização do amor, que vence todos os obstáculos (versos 1 e 2). Da mesma forma é idealizada a figura feminina que devota total fidelidade ao seu homem, conforme observamos na 7ª estrofe.
Na última estrofe temos a desilusão do eu-lírico. Com a chegada da manhã, a esperança e a expectativa dão lugar à decepção e à tristeza, pois Jatir não responde ao seu chamado. Pede então que a brisa da manhã leve consigo as folhas do leito inútil.

Em Leito de folhas verdes temos, portanto uma síntese dos elementos mais caros à tradição romântica: o sentimentalismo, a idealização amorosa, a idealização da figura feminina, a natureza expressiva, o medievalismo e o nacionalismo (de matiz indianista).