sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

AULÃO SOBRE OS LIVROS DA UFSC 2015!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Curso Interdisciplinar: VARGAS na História e na Literatura!

Os 60 anos do mais impressionante gesto político da História do Brasil não vão passar em branco nos vestibulares que se aproximam. A prova disso é a inclusão do livro AGOSTO, de Rubem Fonseca, no rol das leituras obrigatórias da UFSC e da ACAFE. 

Partindo dessa premissa, o E-LIT Estudos Literários organizou um curso interdisciplinar sobre Vargas, em uma abordagem histórica entremeada pela leitura do romance "Agosto" de Rubem Fonseca. Os encontros serão conduzidos pelos professores Thiago Leandro de Souza (História) e Edir Alonso (Literatura), proporcionando ao estudante uma visão profunda, abrangente e crítica sobre o tema, em constante diálogo com as abordagens dos vestibulares catarinenses.


Inscrições e reservas de vagas: (48) 99818294 / ediralonso@hotmail.com 

terça-feira, 24 de junho de 2014

UFSC DIVULGA NOTA OFICIAL SOBRE POSSÍVEL ADESÃO AO SISU

Em tom de repúdio à abordagem jornalística veiculada pelo grupo RBS, na qual especulava-se uma eventual adesão integral da UFSC ao SISU ainda neste ano, a instituição negou veementemente qualquer mudança imediata no seu processo seletivo. 
LEIA ABAIXO A NOTA DA UFSC NA ÍNTEGRA:

"A respeito da reportagem que mereceu a manchete “UFSC deflagra estudo para abolir vestibular”, a Administração Central da Universidade Federal de Santa Catarina esclarece que:
1.  A questão das formas de ingresso vem sendo discutida na UFSC há bastante tempo, pois envolve não apenas o Sisu, mas a política de ações afirmativas e outros encaminhamentos correlatos;
2.  A resolução do Vestibular 2015 já foi finalizada pela Câmara de Graduação, este mês, e apenas aguarda a manifestação do Conselho Universitário sobre a política de ações afirmativas da UFSC para que seja publicada. Na referida resolução não existe qualquer menção à adesão da instituição ao Sisu;
3.  A adesão ao Sisu, como foi explicado ao Diário Catarinense, não está prevista para o próximo vestibular. Sequer se pode garantir que haverá a adesão e em quais termos, pois isso depende de discussão em todos os órgãos colegiados da UFSC, em especial na Câmara de Graduação, que não se debruçou sobre o tema em 2014;
4.  Ao contrário do que foi publicado, o professor e pró-reitor de Graduação Julian Borba não fez ou está fazendo qualquer estudo específico sobre a adesão ao Sisu, até porque não cabe ao pró-reitor fazê-lo de forma individual, sem ouvir os diversos atores envolvidos. Esse tipo de assunto costuma ser discutido por comissões próprias, devidamente nomeadas, com transparência. Não existe, no momento, comissão designada para propor a adesão ao Sisu ou qualquer outra alteração nas formas de ingresso na UFSC para 2015;
5.  Refutamos de maneira veemente a informação de que “Conselheiros e membros da comissão de vestibular da UFSC reiteram a tese do ministro, mas preferem não se comprometer com a declaração pública, e nem podem, uma vez que, por regimento, os encontros são sigilosos”. Nenhuma comissão da UFSC realiza “encontros sigilosos”. Esse tipo de informação vai de encontro a tudo o que preconiza a Administração Pública, que deve se pautar pela transparência e pela publicidade de seus atos;
6.  Haveria uma reunião especial da Câmara de Graduação, no dia 26 de junho, com a coordenadora-geral de Projetos Especiais para a Graduação do Ministério da Educação, Lílian Nascimento, para repassar aos conselheiros mais informações sobre o estado atual e as perspectivas acerca do sistema. Essa reunião foi desmarcada a pedido do Ministério da Educação e transferida para o dia 16 de julho; ainda assim, não seria uma novidade, visto que, em 23 de maio de 2013, já foi realizado um encontro semelhante, na UFSC, com o então presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), professor Luiz Cláudio Costa, que debateu por quase quatro horas formas de ingresso, inclusão e políticas de ações afirmativas;
7.  Nenhuma proposta sobre a eventual adesão da UFSC ao Sisu será encaminhada ao Conselho Universitário sem discussão prévia na Câmara de Graduação e em outros fóruns apropriados.
Lamentamos que a reportagem do referido jornal tenha ignorado todas estas informações e preferido uma manchete que causa evidente insegurança para as milhares de pessoas que se preparam para ingressar nos cursos da UFSC em 2015. A todas elas, reafirmamos o nosso compromisso de não efetuar qualquer mudança antes de um amplo debate e após a aprovação em todos os órgãos colegiados responsáveis. Em nenhum deles, neste momento, o assunto está pautado.

Florianópolis, 24 de junho de 2014."

Confira os resultados do vestibular de inverno ACAFE 2014


Parabéns, bixarada! Esforço recompensado! Pra quem bateu na trave desta vez, assimilar esse aprendizado vai fazê-los mais fortes para o final do ano!

Clique aqui e confira os RESULTADOS ACAFE INVERNO 2014

segunda-feira, 16 de junho de 2014

ENEM NA UFSC?

Segundo a jornalista Carolina Bahia, a UFSC poderá aderir ao SISU ainda em 2014. 

UFSC poderá aderir ao Enem ainda neste ano


A UFSC poderá aderir ao ENEM ainda neste ano. Ao comemorar o aumento no número de inscritos no exame no país, o ministro Henrique Paim (Educação) comentou que a adesão das universidades federais pelo Brasil colaboraram para o avanço do Exame Nacional do Ensino Médio. Em Santa Catarina, houve um aumento de 22% no total de inscritos. De acordo com o ministro, a universidade federal ainda estuda o processo de adesão, mas a expectativa do governo federal é que uma decisão positiva seja anunciada até o final deste ano. Se a UFSC aderir a tempo, a oferta de vagas poderá valer já para o exame de 2014.
Disponível em: http://wp.clicrbs.com.br/carolinabahia/2014/06/16/ufsc-podera-aderir-ao-enem-ainda-neste-ano/

terça-feira, 3 de junho de 2014

Resumo: O Fantástico na Ilha de Santa Catarina

 O FANTÁSTICO NA ILHA DE SANTA CATARINA

Autor: Franklin Cascaes (1908 – 1983)

Sobre o Autor
Natural de Itaguaçu, Franklin Joaquim Cascaes foi um autêntico depositário da Cultura Ilhoa, pois antes de dedicar sua vida à pesquisa das tradições açorianas, viveu-as em meio à comunidade, ouvindo durante toda a infância histórias de pescadores, assombrações, bruxas e boitatás. Aos 21 anos, sem instrução formal, foi descoberto o seu talento como escultor pelo professor paulista Cid da Rocha Amaral, de quem obteve o impulso para os estudos na antiga Escola Industrial, onde se tornaria professor.
Cascaes testemunhou com grande sensibilidade as transformações por que passou a Ilha de Santa Catarina a partir dos anos 40. Sua obra pode ser entendida como uma força de resistência da tradição, da memória e da paisagem natural, denunciando os males do “progresso” e da urbanização. As referências ao jogo político das elites são constantes em “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina”, desnudando as promessas ilusórias feitas pelos poderosos e o descaso com os mais humildes.
O autor foi incansável em sua pesquisa, recolhendo histórias junto a pequenos agricultores e pescadores, reunindo mitos, lendas e imaginação em suas ilustrações, esculturas e anotações. Seu trabalho passou a ser divulgado em meados dos anos 1970 e hoje constitui um rico acervo: a "Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes" (homenagem à esposa e maior colaboradora do trabalho do folclorista), sob a guarda da UFSC.

Estrutura da Obra
- São 24 narrativas bruxólicas, isto é, que têm as bruxas como tema.
- A maior parte das narrativas segue o seguinte formato: ´
a) Introdução no discurso do autor (linguagem padrão)
b) A narrativa em si, em que os personagens, através do discurso direto revelam o dialeto “manezês”.
c) Um epílogo em que o autor retoma a palavra, exaltando as belezas e mistérios da ilha, evidenciando uma relação afetiva do narrador com o espaço.
“Querida ilha de Nossa Senhora do Desterro, a madame estória popular, que veio nos camarotes culturais junto com os ilhéus açorianos e madeirenses que te colonizaram, são potências divinatórias do saber humano Quimérico.”
(Estado fadórico das mulheres bruxas)  

Linguagem
Sempre atento ao falar popular dos “manezinhos”, procurou transcrevê-lo em sua obra, adotando uma escrita fonética quando dá voz às personagens.
“- Primo Nicolau! Vossa mecê acardita memo de vredade naquelas istória que o nosso povo lá das ihias dos Açôri (i) contavo prá nóis como vredaderas?
- Ah!... Sim, acardito de vredade, sim, minha prima! E inté agora me veio uma delas, no bestunto da minha cabeça e que eu acho ela memo munto inzata. Como tu bem sabes e vancês todos que tão aqui me osvindo, aquelas ihia dos Açôri, de ondi os nosso avó, foram sempre munto infestada por muhié bruxa que roubam embarcação prá móde fazê viagem inté a Índia em quatro horas; que dão nóis nos rabo e crinas dos cavalo; chupo sangue de criancinha; intico com as pessoa grande e pratico mil malas-arte.”
(Congresso Bruxólico)
Como revela o excerto acima, além de reproduzir a sonoridade do dialeto popular ilhéu, o texto incorpora expressões coloquiais como “no bestunto da minha cabeça” (referindo-se, no caso, às capacidades mentais limitadas do falante), que costumam ser explicadas apenas num glossário incorporado ao final do livro.

Referências Históricas

Colonização açoriana:
 “Colonizada a partir de 1748, por colonos açorianos que habitavam aquelas ilhotas que vivem bem lá em riba da careca do oceano, açoitados diariamente pelas ondas bravias encarneiradas do mar e palas bocas infernais de vulcões seculares que vomitam fogo e gemem furor incontido sobre as pobres populações. É um povo mesclado, inteligente, audacioso, de espírito arguto e, sobretudo, essencialmente religioso e arreigado em crendices mitológicas.”
(Eleição bruxólica)

Índios
Observe que num dos diálogos de “Congresso Bruxólico”, há uma referência à presença anterior dos índios no território colonizado. O personagem Nicolau das Venturas aborda criticamente a exploração e a escravização dos “bugres”:
- Os bugre trabahiavo na lavoura?
- Trabahiavo, sim sinhôri, sô João, trabahiavo! Veja o sinhôri que eles prantavam mandioca, batata, mihio, cibola, fejão e muntas otras cosas. Fazio a cohieta e os home das otras bandas do mundo levavo tudo simbora prôs povo cumê. Inté pexe escalado com sáli preso, eles fazio pros home de fora.
- Sô Nicolau, eu osvi falá que os bugre ero uns bicho brabo, matavo os vivente que cahio no ôhio deles e cumio a carne muqueada com cinza.
- No mô fraco pensá, sô João, a móde que não era tanto ansim não, proque uns fazendero de São Paulo vinho aqui, agarravo eles tudo pra móde trabahiá nas fazendas deles quinem iscravo. Os coitado dos padre é quem pricuravo livrá eles da iscravidão, mas num consiguio. Munto ente do povo das ihia dos Açôri vim pra cá morá, munta água suja já tinha corrido pela aqui onde nóis temo. 

Urbanização, Industrialização e Política
As narrativas de “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina” apresentam um tom nostálgico, denunciando as mudanças na paisagem.

[...] abandonaram-nos lá na única praia da Lagoa da Conceição, hoje sepultada com barro, asfalto e lajotas [...]
(Bruxas metamorfoseadas em bois)

Como já foi mencionado, a política a serviço das elites urbanas é referida criticamente nos textos de Cascaes. Nota-se o uso da expressão irônica “Madame Política”. Nesse sentido, destaca-se o conto “Eleição Bruxólica”, em que o personagem Serafim não se deixa enganar pelas promessas mirabolantes de uns “home rico da cidade que viéro a pricura de enleitôri”.
Veja que o personagem Vicente, ao contrário, estava ingenuamente deslumbrado:

Eu nunca vi uns home tão bão quinem aqueles. [...] Eles primitero inté fazê casa de tijolo prá um pudê de gente daqui,só proque acharo essas casa de parede de estuque munto fraca; primitero pra Ináça uma vaca que dá leite, croste, coalhada, nata, mantega pura e quejo. Dissero que sai tudo prontinho de dentro do ubre da vaca, sem a gente precisá se incomodá. [...]
(Eleição Bruxólica)

Repare como o trecho pode ser lido como uma metáfora da industrialização, colocando-se o homem alienado à espera da satisfação de suas necessidades básicas sem mais ter poder sobre o que consome.
Cético quanto às promessas eleitoreiras, Serafim as relaciona com as histórias de sua bisavó sobre as eleições das bruxas - como se também a política dos homens da cidade fosse uma força maligna a interferir na vida dos homens.

Referências à cultura açoriana
- Boi-de-Mamão (referido em “Vassoura Bruxólica”)
- Festa do Divino Espírito Santo (referida em “Bruxas Metamorfoseadas em Bois”)
- Pão-por-Deus (referido em “As Bruxas e o Noivo”)
Lá vai o meu coração
Nas asas de um tico-tico
Pra pedir o Pão-por-Deus
À Maria Quebra Pinico

(As Bruxas e o Noivo)

As Bruxas
As lendas revitalizadas por Franklin Cascaes têm como tema central a crença popular de que muitos dos males experimentados pela população ilhoa eram causados por bruxas.
Nos contos de “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina”, essas criaturas sobrenaturais praticam diversas estripulias: aterrorizam pescadores (“Baile das Bruxas dentro de uma Tarrafa de Pescaria”), roubam objetos (“Bruxa metamorfoseou o sapato do Sabiano”) e embarcações (“Bruxas roubam lancha baleeira de um pescador”), dão nós em rabos e crinas de cavalos (“Mulheres Bruxas Atacam Cavalos”), fazem viagens noturnas em vassouras ou em outros objetos, podem metamorfosear-se e até ficar invisíveis, mas o pior de seus hábitos é atacar criancinhas para chupar-lhes todo o sangue, até a morte. Em muitas histórias, pais se desesperam ao ver seus filhos enfraquecidos e com manchas na pele. Muitas vezes acreditam ser alguma doença e demoram a descobrir o “embruxamento”.
O mais triste dos relatos é o “Estado Fadórico das Bruxas”, em que Elizeu tem o filho embruxado e recorre ao curandeiro benzedor Quintino Pagajá. Diante de um pai desprevenido, que não tinha como pagar no ato da consulta além da metade do valor estipulado, Pagajá fez apenas a metade do ritual da benzedura e a criança acabou morrendo por embruxamento. À noite, na frente da casa, as bruxas apareceram e Elizeu reconheceu uma delas como uma moça a quem havia desgraçado no passado. O pai pagou com a morte do próprio filho.
Adoradoras do diabo, as bruxas têm uma hierarquia: em noites de sexta-feira, reúnem-se às ordens da bruxa-chefe, a única que têm acesso direto a Lúcifer.
Há, segundo as narrativas, dois tipos de bruxas: as terráqueas, que por opção própria decidem seguir o demônio e as bruxas espirituais, um caso muito especial que ocorre quando um casal tem sete filhas mulheres e nenhum varão: a sétima filha está destinada ao fado (destino) bruxólico, o que só pode ser evitado se a menina for batizada pela irmã mais velha recebendo o nome de Benta.
O conto “Bruxas Gêmeas” trata justamente disso, mas com o agravante de ter sido o sétimo parto da mulher de Manoel Braseiro o nascimento de irmãs gêmeas. Sem saber qual das duas era a sétima, o pai pede ajuda à benzedeira Sinhá Candinha, que, enganada por Lúcifer, diagnostica por erro, a menina chamada Santa como a sétima, quando na verdade era a outra, a Benta, aquela fadada à bruxaria. Mais tarde a verdade é descoberta, quando Benta é desmascarada por uma curandeira após “embruxar” um bebê.
Quanto ao aspecto físico, a maioria das bruxas de Franklin Cascaes é representada de forma asquerosa. Gostam de fumar, soltam fumaça pelo nariz e pelas orelhas e costumam ser peludas. No entanto, é possível que algumas exerçam atração erótica sobre os homens. Veja a descrição de Isidora no conto “A Bruxa Mamãe”

A Isidora Fumadeira até que não era uma moça muito feia nem deseducada. Gostava muito de fumar cigarros papa-terra [...]. Também tinha o hábito de mascar fumo e cheirar rapé. Não gostava de usar roupas femininas, e o prazer dela era vestir as roupas do irmão mais velho.[...]
Os moços de sua comunidade não gostavam de namorar com ela pela razão de ser muito autoritária e mandona.

Romualdo se apaixona pela moça:
Ela parece ser machona – pensou ele – mas tem os peitos muito salientes!

Os dois casam e têm filhas (gêmeas). Logo em seguida, Isidora passa a abandonar o lar para viver suas aventuras bruxólicas à noite. Certa vez, é vista pelas filhas metamorfoseando-se em morcego. Romualdo, em desespero, procura uma benzedeira que termina por desmascarar a “mulher bruxa machorra” e suas companheiras.

Observe que, assim como a urbanização da paisagem é vista como uma espécie de “embruxamento” de que sofre a Ilha, a modernização dos costumes também é associada à bruxaria. São exemplos a mulher insubmissa, masculinizada como Isidora da narrativa anterior ou a personagem Irineia, do conto “Madame Bruxólica e o Saci-Pererê” com seus hábitos da cidade:

A Irineia, cada vez que vinha na cidade, aparecia no sítio onde morava desfilando as modas jovens que copiava, até bem mal, de mulheres vaidosas, embonecadas e retorcidas. Ora aparecia com um vestido tão curto, que a bainha lhe alcançava a cintura; ora aparecia com um vestido tão comprido, que chegava a varrer os ciscos por onde ela passava.[...]
As tais modas [...] escandalizavam as mulheres antigas [...].
O Bento Leandro [...] até que apreciava muito, principalmente quando ela se apresentava bem ensacada dentro de uma calça de brim bem descorado, exibindo seu par de nádegas calipigianamente avantajadas aos olhos esbugalhados da população da comunidade dela.

Nesse conto, a bruxa, que já despertava suspeitas sobre seu comportamento, ao ver um “gato preto meio pintado de vermelho” (Saci-Pererê), decide, num impulso montar sobre ele para viajar a toda velocidade a caçar discos voadores:

“Viajei bruxolicamente, e tudo o que encontrei ocupando os espaços siderais catarinenses em matéria de discos voadores é digno do mais alto pode científico que a humanidade alcançou até os dias de hoje.“
Ao final, a mulher perde o encantamento bruxólico por ter desobedecido as ordens de Lúcifer (excedeu-se em seu tempo de viagem espacial).

Observe que, além do comportamento “urbanizado”, Irineia é transgressora porque busca o conhecimento.

Bruxas x Curandeiros
No conto “Congresso Bruxólico”, o personagem Nicolau, perguntado sobre a diferença entre bruxas e feiticeiras, diz que as primeiras têm sina maligna e as últimas procuram fazer o bem com remédios e benzeduras, assim como os curandeiros, verdadeiros “dotôri”.
Veja a importância dos curandeiros para a população que vivia em comunidades privadas de serviços básicos de saúde:
Nesses tempos longínquos, na “Vila Capitáli” nem havia doutores de dar remédios. [...] Ora, em situações de desespero, com relação a doenças que corroíam o organismo até dá-lo à morte, o jeito mesmo era recorrer a Deus e aos santos e, consequentemente aos benzedores e curandeiristas que existiam e ainda existem entre as populações [...]
(Bruxa metamorfoseou o sapato do Sabiano)


A maioria dos curandeiros apenas pratica o bem, sem se importar com a remuneração, mas em alguns casos, há benzedores “dinheiristas”, como o velho Quintino Pagajá do conto “Estado Fadórico das Mulheres Bruxas”. 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

UFSM não terá mais Vestibular


Em reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UFSM, os conselheiros aprovaram, por volta das 13h15min desta quinta-feira, o ingresso na Federal exclusivamente via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Com a decisão, o vestibular será extinto já neste ano. A partir desta decisão, todos os candidatos precisam fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujas inscrições terminam nesta sexta-feira.
Durante a reunião, também foi aprovado que 50% das vagas serão destinadas para cotistas já no concurso de 2015. A decisão foi tomada por volta das 10h30min . Antes da aprovação, a UFSM destinava 34% das vagas para cotistas.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Livros UFSC 2015: Várias Histórias - Resumo e análise do conto "A Cartomante"

A CARTOMANTE

O conto se inicia com uma citação: "Hamlet observa a Horácio que há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”. A intertextualidade com a obra shakespeariana já induz o leitor ao tema da superstição, que, como veremos, passará pela implacável ironia machadiana.
Na cena de abertura, Rita conta a Camilo que, insegura sobre os sentimentos dele, consultara uma Cartomante. O homem, envaidecido, sorri,cético a respeito de tais superstições.
Eis que o narrador onisciente introduz um flashback revelador: Rita era casada com Vilela, melhor amigo de Camilo. Estamos, pois, diante da temática realista do adultério. Cabe observar o caráter sedutor e leviano da mulher, pois foi durante o luto de Camilo pela perda da mãe que Rita se aproximou e então...

“Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos!”

Assim,o narrador acentua o caráter imoral do relacionamento entre os amantes, tolos, mas inescrupulosos.

“Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente.” [...]

Foi por esse tempo e por causa das ausências de Camilo que Rita foi à Cartomante. Outras cartas anônimas “tão apaixonadas” como a primeira vieram aumentando o medo em Camilo, de que Vilela viesse a descobrir tudo, enquanto a moça, vaidosa, pensou que as cartas só podiam ser “despeito de algum pretendente”. Rita decidiu então levar as cartas para casa, no intuito de compará-las à caligrafia das correspondências que chegassem para Vilela (observe que Rita levou as “provas do crime” para casa).

Vilela passou a mostrar-se sombrio e o casal decidiu evitar temporariamente os encontros.Em seguida, Camilo recebe um bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora.". Atônito, Camilo não sabe ao certo o significado daquelas palavras... se um chamado colérico do marido traído ou um simples apelo do amigo. Curioso e angustiado, o rapaz decide ir logo à casa de Vilela, mas, no meio do caminho... uma carroça caída interrompia o trânsito bem ao lado da casa da cartomante. Seria o destino? Repare que Camilo tinha a opção de tomar outro caminho, mas prefere esperar e, logo em seguida, decide ir consultar a profetisa.

"A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele."

Observe que a cartomante percebe a inquietação de Camilo e o induz a dizer indiretamente o motivo da consulta, ou seja, não há nada de mágico no conto, como a citação de Hamlet nos poderia fazer julgar.

A cartomante, enfim, diz ao cliente o que ele gostaria de ouvir, ou seja, que o outro não sabia de nada. Aliviado, Camilo paga generosamente a consulta e vai imediatamente à casa de Vilela.

— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?

"Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão."

O desfecho trágico e ao mesmo tempo seco é a punição exemplar dos adúlteros, algo raro no Realismo, cujas narrativas normalmente encerram com o triunfo dos imorais. Isso se explica pelo fato de que no conto A Cartomante, a verdadeira questão a ser discutida vai além do adultério: a fraqueza do caráter humano e a tendência a interpretar-se a realidade sempre conforme nossa própria conveniência.



segunda-feira, 31 de março de 2014

LEITURAS OBRIGATÓRIAS UFRGS 2015

Para o Concurso Vestibular de 2015, será exigida a leitura prévia e completa das seguintes obras:

CAETANO VELOSO, GILBERTO GIL, MUTANTES E OUTROS

Tropicalia ou panis et circensis (álbum/disco);

LÍDIA JORGE

A noite das mulheres cantoras;

TABAJARA RUAS

O amor de Pedro por João;

SERGIO FARACO

Dançar tango em Porto Alegre. Lista de contos do livro:
  1. Dois guaxos;
  2. Travessia;
  3. Noite de matar um homem;
  4. Guapear com frangos;
  5. O vôo da garça-pequena;
  6. Sesmarias do urutau mugidor;
  7. A língua do cão chinês;
  8. Idolatria;
  9. Outro brinde para Alice;
  10. Guerras Greco-Pérsicas;
  11. Majestic Hotel;
  12. Não chore, papai;
  13. Café Paris;
  14. A dama do bar Nevada;
  15. Um aceno na garoa;
  16. No tempo do trio Los Panchos;
  17. Conto do inverno;
  18. Dançar tango em Porto Alegre.

JORGE AMADO

Terras do Sem Fim;

NELSON RODRIGUES

Boca de Ouro;

MURILO RUBIÃO

Contos:
  1. O pirotécnico Zacarias;
  2. O ex-mágico da Taberna Minhota;
  3. Bárbara;
  4. A cidade;
  5. Ofélia, meu cachimbo e o mar;
  6. A flor de vidro;
  7. Os dragões;
  8. Teleco, o coelhinho;
  9. O edifício;
  10. O lodo;
  11. O homem do boné cinzento;
  12. O convidado;


LYA LUFT

As Parceiras;

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA

Seleta:
  1. A Nosso Senhor Jesus Christo com actos de arrependimento e suspiros de amor (Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade);
  2. A Jesus Cristo Nosso Senhor (Pequei, Senhor, mas não por que hei pecado);
  3. Inconstância dos bens do mundo (Nasce o sol, e não dura mais que um dia);
  4. À cidade da Bahia (2) (soneto) / (Triste Bahia! ó quão dessemelhante);
  5. A Maria dos povos, sua futura esposa (Discreta e formosíssima Maria);
  6. Epílogos (Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da república...) / (Que falta nesta cidade?...................Verdade);
  7. A uma dama (Vês esse Sol de luzes coroado?);
  8. A instabilidade das cousas no mundo (Nasce o Sol, e não dura mais que um dia);
  9. A certa personagem desvanecida (Um soneto começo em vosso gabo);
  10. Aos principais da Bahia chamados caramurus (Um canção de pindoba, a meia zorra);
  11. À procissão de cinza em Pernambuco (Um negro magro em sufulié justo);
  12. Milagres do Brasil São (Um branco muito encolhido);
  13. Retrato/Dona Ângela (Anjo no nome, Angélica na cara!);
  14. Contemplando nas cousas do mundo (Neste mundo é mais rico o que mais rapa);
  15. E pois coronista sou / Se souberas falar também falaras;
  16. Ao padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da freguesia do Passé (Um branco muito encolhido);
  17. Define a sua cidade (De dous ff se compõe);
  18. Descreve a vida escolástica (Mancebo sem dinheiro, bom barrete);
  19. À cidade da Bahia (2) / (A cada canto um grande conselheiro);
  20. Aos vícios (Eu sou aquele que os passados anos);
  21. Descreve a confusão do festejo do Entrudo (Filhós, fatias, sonhos, mal-assadas);
  22. Solitário em seu mesmo quarto à vista da luz...( Ó tu do meu amor fiel traslado);
  23. Aos afetos e lágrimas derramadas (Ardor em firme coração nascido);
  24. Admirável expressão que faz o poeta de seu atencioso silêncio (Largo em sentir, em respirar sucinto);
  25. Definição do amor – romance (Mandai-me, Senhores, hoje);


ALBERTO CAEIRO (heterônimo de Fernando Pessoa)

O Guardador de Rebanhos;

MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA

Memórias de um Sargento de Milícias;

MACHADO DE ASSIS

Esaú e Jacó;
Nota de esclarecimento
A obra de Gregório de Matos Guerra tem muitas variantes editoriais. Assim, para evitar equívocos, disponibilizamos abaixo um arquivo que contém a Seleta do autor. Cabe esclarecer que os títulos "Inconstância dos bens do mundo" (número 3) e "A instabilidade das cousas no mundo" (número 8) referem-se a um mesmo poema, como se pode ver pelo primeiro verso, "nasce o sol e não dura mais que um dia". O mesmo ocorre com "Milagres do Brasil são" (número 12) e "Ao padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da freguesia do Passé"(número 16), cujo primeiro verso é "Um branco muito encolhido".

quarta-feira, 26 de março de 2014

Livros UFSC 2015: Cronistas do Descobrimento - Texto Integral



Muitos vestibulandos têm reclamado da dificuldade em encontrar o livro "Cronistas do Descobrimento".

Encontrei a obra (texto integral) digitalizada nos seguintes links:

Cronistas do Descobrimento - Parte 1

Cronistas do Descobrimento - Parte 2

Cronistas do Descobrimento - Parte 3   

terça-feira, 25 de março de 2014

Livros UFSC 2015: Cronistas do Descobrimento - Testes com Gabarito


Teste seus conhecimentos sobre os Livros UFSC 2015! Desta vez temos questões objetivas e discursivas sobre "Cronistas do Descobrimento". Bom estudo!

Clique no link abaixo para obter a lista!

quarta-feira, 19 de março de 2014

Provas do Vestibular de Inverno 2014 da Udesc serão realizadas em 1º de junho

*do site da UDESC


Candidatos já podem pedir isenção da inscrição e conferir obras literárias


Participantes deverão se inscrever entre 4 de abril e 5 de maio - Foto: Jônas Porto/Ascom Udesc

A Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) anunciou nesta quarta-feira, 19, que o Vestibular de Inverno 2014 ocorrerá em 1º de junho, com inscrições entre 4 de abril e 5 de maio.

O vestibular estava anteriormente marcado para 8 de junho, mas a data foi alterada para não coincidir com as provas da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe).

Por sua vez, a realização do Vestibular de Verão 2015 está mantida para 16 de novembro. Mais informações podem ser obtidas com a Coordenadoria do Vestibular da Udesc pelos telefones (48) 3321-8098 e 8147, das 13h às 19h, ou por mensagem para vestiba@udesc.br.

Obras literárias, cursos e edital

Os candidatos já podem consultar a relação das obras literárias do Vestibular de Inverno 2014, também divulgada nesta semana. A lista é a mesma da última edição de verão, tendo cinco livros:

  • Clarice Lispector, "A Hora da Estrela", Rocco;
  • Cruz e Sousa, "Últimos Sonetos", Editora UFSC / Domínio público;
  • Érico Veríssimo, "Clarissa", Companhia das Letras;
  • Jair Francisco Hamms, "O detetive de Florianópolis", Editora UFSC;
  • Machado de Assis, "Helena", Domínio público.
Já a relação dos cursos e o edital do Vestibular de Inverno 2014 serão anunciados no dia inicial do prazo geral para se inscrever.

Isenções

A Udesc iniciou nesta segunda-feira, 17, o período para solicitar isenção no pagamento da taxa de inscrição do Vestibular de Inverno. O benefício para candidatos de baixo poder aquisitivo (critério socioeconômico) e doadores de sangue.

Em ambas as categorias, é preciso ter finalizado o ensino médio ou estar em fase de conclusão até a data da matrícula. Quem obtiver a isenção deverá efetivar a participação no vestibular durante o período geral de inscrições.

Critério socioeconômico

Conforme portaria, ficarão isentos pelo critério socioeconômico os interessados que comprovarem que não têm condições de pagar a taxa. A medida, porém, não atinge aqueles que desejarem realizar as provas por experiência.

O pedido precisa ser feito em um formulário específico, que deve ser apresentado com os outros documentos pessoalmente ou por representante legal até 31 de março nas cidades listadas na portaria. Entregas pelo correio não serão aceitas.

A Comissão Avaliadora do Vestibular analisará as solicitações e poderá fazer visita domiciliar e/ou contato telefônico aos requerentes. A lista dos pedidos aprovados será divulgada na página oficial a partir de 14 de abril.

Doadores de sangue

De acordo com portaria, a isenção pode ser requerida pelos candidatos que tenham doado sangue em órgão oficial ou em entidade credenciada pela União, pelo Estado ou por município, conforme determina a Lei Estadual nº 10.567/1997.

Os interessados devem preencher um formulário específico e entregá-lo pessoalmente, por representante legal ou via correio à Coordenadoria do Vestibular, das 13h às 18h, até 31 de março. O setor fica no prédio da Reitoria da Udesc, em Florianópolis.

Além disso, é necessário apresentar declarações para comprovar que houve, no mínimo, três doações no período de um ano, que precisam ser firmadas pelo hemocentro. A universidade anunciará as solicitações deferidas a partir de 4 de abril na página do vestibular.

Assessoria de Comunicação da Udesc
Jornalista Rodrigo Brüning Schmitt
E-mail: rodrigo.schmitt@udesc.br
Telefones: (48) 3321-8142/8143

Livros Vestibular de Inverno UDESC 2014: Helena (Resumo e Análise)

Resumo e Análise:
Helena (Machado de Assis)

O autor:
*  Machado de Assis (1839-1908)
Filho de um pintor mulato e de uma lavadeira portuguesa, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Morro do Livramento, interior do Rio de Janeiro. Ainda menino ficou órfão e foi criado pela madrasta. Aprendeu a ler em uma escola pública e teve aulas de francês e latim com um padre amigo. Tendo que trabalhar para se sustentar, tornou-se autodidata. Foi tipógrafo e revisor e começou a ter artigos publicados. Aos 19 anos teve seu primeiro conto publicado, e passou a colaborar assiduamente com jornais importantes como o Correio Mercantil e o Diário do Rio de Janeiro. Foi defensor da política liberal e participou de campanhas de alguns colegas de imprensa.
Em 1864 publicou Crisálidas, seu primeiro livro de poemas, de inspiração romântica, como os seguintes, Falenas (1869) e Americanas (1875).
Dedicou-se também às narrativas curtas em Contos Fluminenses, publicado em 1869, mesmo ano de seu casamento com Carolina, sua companheira para toda a vida. A partir daí estabilizou-se como funcionário público em 1875 e em sua carreira literária.
Em 1896 fundou, com outros escritores e jornalistas, a Academia Brasileira de Letras, que presidiu até a sua morte, em 1908.
Sua obra costuma ser dividida em dois momentos:

1ª fase: de tendências românticas, caracterizou-se pelo conformismo com os valores da época, reproduzindo os padrões do folhetim em tramas por vezes melodramáticas, ainda que com um esboço de análise interior das personagens (psicologia) e alguma atitude crítica.
Romances:Ressurreição (1872);
A mão e a luva(1874);
Helena (1876);
Iaiá Garcia (1878)
Contos: Contos fluminenses (1870)
Histórias da meia-noite (1873)

2ª fase: A etapa madura de sua produção, de tendências realistas.
Em sua análise crítica da sociedade, Machado revela uma visão pessimista das relações humanas, com a prevalência de personagens sórdidos e inescrupulosos. A análise psicológica coloca em primeiro plano os conflitos das personagens, revelando com sofisticada ironia a diferença entre essência e aparência. Isso fica ainda mais evidente nas personagens femininas, ambíguas e dissimuladas. Mas a obra machadiana não se limitou a seguir os ditames do realismo europeu. Introduziu inovações de estilo como a fragmentação da narrativa, através de insistentes intervenções do narrador, em uma espécie de conversa com o leitor. No mesmo sentido, explorou o foco narrativo em primeira pessoa em muitas de suas obras.
Romances:  Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881),
Quincas Borba (1891),
Dom Casmurro (1899),
Esaú e Jacó (1904),
Memorial de Aires (1908).
Contos:  Papéis avulsos (1882),
Histórias sem data (1884),
Várias histórias (1896).

ANÁLISE DE HELENA
            Publicado em 1876, Helena segue os moldes do folhetim romântico, sendo a protagonista uma pobre órfã que, por força do testamento do Conselheiro Vale, torna-se uma intrusa no lar da família de seu benfeitor. Destacam-se dois temas essenciais a balizar o romance: de um lado, o suposto amor incestuoso entre Estácio e Helena, dando feição melodramática à história; de outro o tema da crítica ao casamento por interesse, projetando-se uma certa ironia realista na condução do personagem Camargo, pai de Eugênia.  

NARRADOR
A narrativa é feita em 3ª pessoa, por um narrador que, embora onisciente, conduz a trama ocultando ao leitor alguns fatos, provocando curiosidade.
Embora o livro pertença a fase imatura do autor, já é possível observar-se discretamente o procedimento da “conversa com o leitor”, que será constante a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (Realismo). Observe o emprego da 1ª pessoa no comentário do narrador:
“Eugênia desfiou uma historiazinha de toucador, que omito em suas particularidades por não interessar ao nosso caso, bastando saber que a razão capital da divergência entre as duas amigas fora uma opinião de Cecília acerca da escolha de um chapéu.”
Ou ainda a referência explícita ao leitor:
“Agora mesmo, se o LEITOR lhe descobrir o perfil em camarote de teatro, ou se a vir entrar em alguma sala de baile, compreenderá.”

TEMPO
A narrativa se inicia em 25 de abril de 1850, com a morte do Conselheiro e se estende por aproximadamente um ano em uma narrativa linear até a morte da protagonista. Fazem-se algumas referências ao passado do Conselheiro e há um flashback no qual Salvador conta sua história e esclarece as origens de Helena. Predomina, portanto, o tempo cronológico.
           
ESPAÇO
Apesar da universalidade de seus temas, Machado de Assis sempre foi um observador agudo da vida no Rio de Janeiro. Neste romance não é diferente. A família Vale morava no Andaraí, em uma chácara; Dr. Camargo residia no Rio Comprido; Ângela, a mãe de Helena e amante do Conselheiro, vivia em São Cristóvão. Há cenas do passeio público no centro e do colégio de Helena que fica em Botafogo.


ENREDO
            O Conselheiro Vale, homem respeitável, de bom trânsito político morre de apoplexia. Viúvo, deixa um filho, Estácio, de 27 anos, formado em Matemática e uma irmã solteira, na casa dos 50 anos, chamada Úrsula.
            Dr. Camargo, médico e amigo da família se oferece para procurar um eventual testamento e, ao encontrá-lo, fica estarrecido com o conteúdo. Fica o mistério, que será resolvido no dia seguinte, na abertura do testamento. Ao chegar em casa, Camargo encontra sua esposa Tomásia e a filha Eugênia, em quem o pai, tomado de emoção, dá um beijo à testa. 
            No dia seguinte, faz-se a abertura do testamento, que surpreenderá a todos, pois nele o Conselheiro declarava reconhecer uma filha, de nome Helena, havida fora do casamento com uma mulher chamada D. Ângela da Soledade. Dispunha ainda que a menina devia ser recebida na casa da família, sendo acolhida como legítima irmã de Estácio.
            Ao contrário de Úrsula, que ficara indignada com o que alegava ser uma usurpação social e de Camargo, que parece desconfiado, o rapaz mostra-se disposto a cumprir a determinação do pai e decide, mandar trazer Helena a casa.
            A chegada de Helena ao lar da família Vale se dá ainda com certa frieza, principalmente por parte de Úrsula. A conversa durante o almoço é superficial. Estácio se oferece para mostrar a chácara. Ao conhecer o gabinete do pai, Helena fica emocionada com a lembrança do Conselheiro e revela sua gratidão. Ao final do passeio, Estácio está impressionado com a irmã, mas Úrsula continua hostil. É visível o esforço de Helena em conquistar todos na casa. Um dos primeiros a se afeiçoar à moça é o escravo Vicente, que irá defendê-la ante aos demais.
            Estácio visita Eugênia, a filha de Camargo,  moça muito bonita, simpática, porém dada a futilidades, o que deixa o rapaz em dúvida sobre seus sentimentos. O propósito de pedi-la em noivado vai se desfazendo em meio às incertezas. De volta a casa, Estácio recebe uma carta de seu amigo, Luís Mendonça, que anunciava seu regresso de viagem que fizera à Europa.
            Helena revela que sonhava aprender a andar a cavalo e Estácio se oferece para ensiná-la. Durante a cavalgada se evidencia a surpresa: a moça já sabia montar e mentira para o irmão no intuito de passear ao lado dele. Ao longo do passeio conversam filosoficamente sobre temas como tempo e dinheiro.
Observe um trecho do diálogo:
— Tem razão, disse Helena: aquele homem gastará muito mais tempo do que nós em caminhar. Mas não é isto uma simples questão de ponto de vista? A rigor, o tempo corre do mesmo modo, quer o esperdicemos, quer o economizemos. O essencial não é fazer muita coisa no menor prazo; é fazer muita coisa aprazível ou útil. Para aquele preto o mais aprazível é, talvez, mesmo caminhar a pé, que lhe alongará a jornada, e lhe fará esquecer o cativeiro, se é cativo. É uma hora de pura liberdade.
Estácio soltou uma risada.
— Você devia ter nascido...
— Homem?
— Homem e advogado. Sabe defender com habilidade as causas mais melindrosas. Nem estou longe de crer que o próprio cativeiro lhe parecerá uma bem-aventurança, se eu disser que é o pior estado do homem. 
Repare nos valores do patriarcalismo machista colocados no discurso de Estácio. A faculdade de pensar com autonomia e de defender ideias com propriedade parece exclusividade dos homens. Interessante destacar que essa cena evidencia a oposição de caracteres entre Helena (inteligente, madura, independente) e Eugênia (frívola, imatura, e por isso cada vez menos interessante aos olhos do rapaz).
De repente uma tristeza abate Helena. Estácio deseja saber o motivo, mas a moça desconversa. Estácio procura Úrsula e conversa sobre Helena. Camargo chega de surpresa e tenta convencer o rapaz a entrar para a política. O jovem resiste.
No dia seguinte, Estácio, espiando pela janela, flagra a irmã lendo emocionada uma longa carta. Curioso, chega a interpelá-la a respeito, e a moça chega a perguntar se ele desejava lê-la, mas o rapaz se contém.
Depois, o jovem matemático recebe uma carta de Eugênia e decide mostrá-la à irmã. Helena, duvidando do amor do rapaz, aconselha-o a procurar pela filha de Camargo. Na tarde em que Estácio decide vê-la, cai um grande temporal, frustrando o plano da visita.
D. Úrsula adoece e Helena não apenas cuida amorosamente da tia, como mantém a casa em perfeita ordem, conquistando definitivamente o coração da irmã do Conselheiro.
Estácio continua a viver um dilema sobre o relacionamento com Eugênia e demonstra irritação ao saber dos passeios que Helena fazia a cavalo na companhia do escravo Vicente. Ao conversar com a irmã, o jovem pergunta se ela está amando e ela responde: “Muito! Muito! Muito!”. O diálogo é interrompido pela chegada de Mendonça.
Os amigos se abraçam e conversam sobre a vida: as impressões sobre Helena, os planos de casamento de Estácio, as viagens de Mendonça, que, arruinado financeiramente, precisava começar a dar um sentido prático para a vida.
No aniversário de Estácio, Helena dá-lhe de presente um desenho que retratava fielmente seus passeios a cavalo, lado a lado tendo como cenário ao fundo uma casinha pobre enfeitada com uma flâmula azul. O aniversariante também recebe um presente da tia e, após, decide fazer um novo passeio ao lado da irmã.
Durante a festa, todos os olhares convergem para Helena, que, discreta, proporciona a Eugênia que brilhe tocando ao piano. Camargo pede para conversar a sós com a jovem herdeira dos Vale. Inicia-se um longo diálogo no qual o pai de Eugênia revela que gostaria de fazer uma viagem, mas que temia embarcar sem deixar a filha casada com Estácio. O plano do médico é que Helena use de sua influência para convencer o irmão a pedir a mão de Eugênia. Observe a fala de Camargo e o modo como se evidencia sua hipocrisia ao negar interesse na fortuna da família Vale.
— Não havia inconveniente; estabeleceu-se, porém que um pai não deve ser o primeiro a falar em tais coisas. É preciso respeitar a dignidade paterna. Acresce que Estácio é rico, e tal circunstância podia fazer supor de minha parte um sentimento de cobiça, que está longe de meu coração. Podia falar a D.Úrsula; creio, porém, que ela não tem a sua habilidade, e... por que o não direi? a sua influência no espírito de Estácio.
Helena não aceita interferir:
Anuncie a viagem, e Estácio se apressará a pedir-lhe sua filha. Se o não fizer, é porque a não ama, conforme ela merece, e em tal caso mais vale perder um casamento do que o fazer mau.
Enfim, a reação de Camargo, chantageando a moça. Nesse instante cai definitivamente a máscara da hipocrisia.
Nada dizia; todo ele era uma interrogação imperiosa. Helena olhou ainda uma vez para o médico.
— Dá-me o seu braço até à sala? perguntou.
Camargo sorriu.
— Só isso? Eu dizia comigo outra coisa.
— Que dizia então? perguntou Helena.
— Dizia que muito se devia esperar da dedicação de uma moça, que acha meio de visitar às seis horas da manhã uma casa velha e pobre, não tão pobre que a não adorne garridamente uma flâmula azul...
Helena fez-se lívida; apertou nervosamente o pulso de Camargo. Nos olhos pareciam falar-lhe ao mesmo tempo o terror, a cólera e a vergonha.
Através dos dentes cerrados Helena gemeu esta palavra única:
— Cale-se!
— Falo entre nós e Deus, disse Camargo.
Após chorar em seu quarto, Helena começa a agir, cobrando do irmão uma atitude em relação à Eugênia. Estácio, cheio de dúvidas sobre seus sentimentos acaba sendo convencido por Helena e envia uma carta ao Dr. Camargo pedindo a moça em casamento.
Ao receber a carta, o médico, em êxtase, beija a filha, evidenciando sua alegria com o sucesso do seu plano maquiavélico.
Ocorre, todavia, um fato inesperado: a madrinha de Eugênia adoece e fica agonizando entre a vida e a morte. Camargo decide viajar com a família para vê-la (especulando que Eugênia receba algo como herança). Eugênia só aceitou viajar exigindo a companhia de Estácio. O rapaz se vê obrigado a deixar o lar, despedindo-se, muito pesaroso, da irmã, exigindo que esta não saia a passeio. Helena iria desobedecê-lo indo até a casinha velha.
Mendonça frequenta a casa dos Vale e começa a gostar de Helena, que, por sua vez, finge não perceber o interesse do rapaz. Estácio envia uma carta demonstrando sentimentos extremados:
“Escreve-me longamente; conta-me tudo o que houver interessante; fala-me de ti, que é o meio de consolar minhas saudades, que são imensas, imensas como este amor que tenho à minha família toda. Vou fazer por voltar breve. Adeus, minha boa Helena; adeus, minha vida, adeus, ó mais bela e doce de todas as irmãs!”
O padre Melchior, ao tomar conhecimento da carta, demonstra preocupação em casar Helena e passa a sondá-la sobre a possibilidade de uni-la a Mendonça. Como era nítido o interesse do rapaz, o padre pega a mão dos dois e declara que poderiam se amar.
Em êxtase, Mendonça escreve a Estácio contando ao amigo a novidade e pedindo-lhe oficialmente a mão da irmã. O jovem matemático, porém, reage com indignação e decide voltar de pronto ao Andaraí.
Observe o breve diálogo travado com Camargo e a ironia com que o narrador comenta o comportamento interesseiro do pai de Eugênia, que chegou a pensar que a parida do rapaz fosse devido a algo referente à herança:
— Recebo uma notícia que me obriga a partir amanhã, disse ele.
 — Negócio grave?
 — Grave.
 — Ainda assim, nesta ocasião...
 — Que tem? D. Clara pode ainda resistir à morte alguns dias; e, posto que a minha ausência não prejudique nada do fato a que aludo, contudo é mister que me informe e providencie.
 — Algum negócio relativo ao inventário? aventurou Camargo, que nada conhecia mais grave que o dinheiro.
 — Justamente, respondeu maquinalmente Estácio.
Ao chegar em casa, Estácio trata Mendonça com frieza, alegando que precisa consultar Helena sobre o pedido de noivado.
Ao interpelar Helena sobre o relacionamento com Mendonça, Estácio alega saber que a moça amava outra pessoa, conforme ela mesma já havia confessado (“Muito! Muito! Muito”). Helena retruca dizendo que aquilo era apenas ilusão.
Inconformado, Estácio alega ao padre que não consentia a união da irmã com o amigo, pois sabia que ela amava a outro. Visivelmente contrariado, o matemático chega a sugerir que Mendonça poderia estar apenas interessado na fortuna da família.
Ao deparar-se com Mendonça, Estácio revela sua opinião, ofendendo o amigo que, imediatamente se retira. Após discutir com o irmão, Helena escreve um bilhete ao pretendente e faz com que o matemático chame Mendonça de volta.
A pretexto de sair para uma caçada, Estácio flagra a irmã saindo da casinha pobre que costumava visitar. Tendo ferido a mão em uma cerca de espinhos, o rapaz vai até o local e é, apesar da pobreza do reduto, bem recebido por um homem muito humilde. O mistério cresce e as desconfianças do jovem não cessam.
Em casa, Helena sente falta de Estácio e vai ao quarto do irmão. Ao perguntar-lhe o que havia, o rapaz, em resposta, aponta para a ilustração que ela havia feito do casebre da flâmula azul. A moça estremeceu e Estácio, irado, arremessa o quadro. Helena sai correndo, horrorizada.
O rapaz se reúne com o padre e com D. Úrsula, contando o que vira. O padre pede para ficar a sós com o jovem.
— Mas que é, padre-mestre?
 Melchior inclinou-se e encarou o moço. Os olhos, fitos nele, eram como um espelho polido e frio, destinado a reproduzir a imagem do que lhe ia dizer.
— Estácio, disse Melchior pausadamente, tu amas tua irmã.
 O gesto mesclado de horror, assombro e remorso com que Estácio ouvira aquela palavra, mostrou ao padre, não só que ele estava de posse da verdade, mas também que acabava de a revelar ao mancebo. O que a consciência deste ignorava, sabia-o o coração, e só lho disse naquela hora solene.
Perturbado diante da revelação, Estácio jura mediante um crucifixo que evitará Helena de todas as formas.
A seguir, Vicente, o pajem de Helena, comunica ao padre que sabia de algo que poderia salvar a reputação de sua senhora: o homem a quem a moça visitava no casebre da flâmula azul seria, na verdade irmão da jovem.
Todavia, o escravo estava enganado. Helena entrega ao padre Melchior uma carta que revelava toda a verdade: nela, o remetente, chamado Salvador, refere-se à Helena como filha.
Confuso, o padre entrega a carta a Estácio. Perplexos, ambos resolvem ir à casa de Salvador. Diante da carta, o homem resolve contar toda a história.
Ângela era filha de um proprietário de terras no Rio Grande do Sul. A diferença de classes impedia o amor entre ela e Salvador. Ambos fugiram, passando a viver juntos, mesmo na miséria. Mesmo trabalhando muito, Salvador não conseguia sustentar a casa. Foi quando nasceu Helena, que passou a ser o motivo de sua vida.
Salvador se obriga a uma viagem ao saber que seu pai estava doente. Passado algum tempo, logo após a morte do velho, Salvador volta para casa e, ao chegar, descobre que Ângela estava vivendo em São Cristóvão, com um amante (o Conselheiro Vale).
Furioso, Salvador pensa em usar da violência e resgatar Helena. Passa então a espreitar a casa, até que um dia, presencia uma cena:
Helena falava a alguém. Por uma abertura da cerca, pude espreitá-la. Estava ao colo de um homem. Esse homem era o conselheiro. Olhei para um e outro; ora para o meu rival, ora para a minha Helena. Helena acariciava as barbas dele; este sorria para ela com um ar de ternura, que o absolvia quase da ofensa a mim feita. O coração, porém, apertou-se-me, ao ver dar a outros afagos a que só eu tinha direito. Era um roubo feito à natureza; mas, se meu próprio sangue me repudiava, que podia eu exigir de alheios corações? Daí a algum tempo, — não sei se foi curto ou longo, porque eu ficara a olhar para ambos, pasmado de amor e de cólera, ouvi que falavam de mim. "Mas, olhe, dizia Helena, papai quando vem?" O conselheiro deu um beijo na menina, e falou de uma borboleta que nesse momento pairava sobre a cabeça dela. As crianças, porém, são implacáveis; aquela repetiu a pergunta. "Papai não volta", respondeu o conselheiro. Helena ficou séria. "Não volta? por que?" "Tua mamãe disse ontem que papai está no céu". Helena levou as mãos aos olhos, donde lhe rebentaram lágrimas copiosas. Uma nuvem passou-me pelos olhos... tentei dar alguns passos, entrar no jardim, dizer quem era e exigir minha filha. Os músculos não corresponderam à intenção; senti fraqueza nas pernas; achei-me de bruços. Quando dei acordo de mim, volvi de novo os olhos para o lugar onde os vira. Ainda ali estavam, mas a atitude era diferente. O conselheiro erguera-se, tendo nos braços Helena, que já não chorava. Ele beijava-lhe as mãozinhas e dizia-lhe: "Se papai foi para o céu, fiquei eu no lugar dele, para dar-te muito beijo, muito doce e muita boneca. Queres ser minha filha?" A resposta de Helena foi a do náufrago; estendeu-lhe os braços em volta do pescoço, como se dissesse: "Se não tenho ninguém mais no mundo!" O gesto foi tão eloqüente que eu vi borbulhar uma lágrima nos olhos do conselheiro. Essa lágrima decidiu do meu destino
Ao perceber a bondade do Conselheiro com Helena, Salvador decide abrir mão da filha, desaparecer, poupando a menina de viver na miséria. Comovido ao narrar a história, Salvador revela que aos 12 anos Helena o reconheceu na rua e o abraçou. Temendo desgraçar a vida da garota, o pai a fez prometer que, para todos os efeitos, não o vira. Salvador passa a ter encontros clandestinos com a filha. Com a morte de Ângela e, posteriormente do Conselheiro, Helena, para aliviar o drama do pai biológico promete aceitar se passar por filha de Vale.
Salvador afirma que, após revelada toda a verdade, se a família Vale rejeitar Helena, ele, o pai biológico irá acolhê-la.
Ao descobrir toda a verdade sobre Helena, Estácio não a quer como irmã, mas o padre  vai adverti-lo:
— Estácio! disse o padre, depois de olhar para ele um instante. Compreendo, quisera despojar Helena do título que seu pai lhe deixou, para lhe dar outro, e ligá-la à sua família por diferente vínculo...
 Estácio fez um gesto como protestando.
 — Esquece duas coisas graves: o escândalo e o casamento de um e outro; já se não pertence, nem ela se pertence a si. Vamos lá; seja homem. Sepultemos quanto se passou no mais profundo silêncio, e a situação de ontem será a mesma de amanhã.
 Chegando a casa, Estácio demonstra seu desejo de manter Helena na casa. Ela, porém, diz não merecer, mas o rapaz não deixa que ela vá embora com Salvador, que estava de partida.
Estácio, mesmo amando Helena, escreve uma carta a Mendonça, com o intuito de apressar o casamento da moça com o amigo.
Helena, cada vez mais abatida, deixa a todos preocupados. Durante uma forte chuva, a moça sai e, já muito fraca e febril, é contida por Estácio. O estado de saúde da jovem se agrava até que, em seu leito de morte ela manda chamar pelo seu grande amor. Helena morre nos braços de Estácio.
Após o enterro de Helena o romance se encerra com o irônico contraste: a tristeza de Estácio e o triunfo de Camargo, que via, finalmente, o caminho livre para o casamento da filha com o rico mancebo.
Sozinho com Estácio, o capelão contemplou-o longo tempo; depois, alçou os olhos ao retrato do conselheiro, sorriu melancolicamente, voltou-se para o moço, ergueu-o e abraçou com ternura.
 — Ânimo, meu filho! disse ele.
 — Perdi tudo, padre-mestre! gemeu Estácio.
 Ao mesmo tempo, na casa do Rio Comprido, a noiva de Estácio, consternada com a morte de Helena, e aturdida com a lúgubre cerimônia, recolhia-se tristemente ao quarto de dormir, e recebia à porta o terceiro beijo do pai.
  
O QUE OBSERVAR:
 Os três beijos de Camargo
1º: No primeiro capítulo, quando morre o conselheiro Vale.
2º: Quando chega a carta de Estácio pedindo Eugênia em casamento.
3º: Após a morte de Helena.
Esses beijos representam as conquistam do objetivo central de Camargo, casar a filha com um rico herdeiro.

Romantismo ou Realismo?
            O livro é romântico com traços pré-realistas.
            Caracteres Românticos:
            - Amor proibido
            - Melodrama
            - Idealização feminina*
*Mesmo tendo mentido, Helena o faz em razão de um motivo nobre, preservando o pai biológico e cumprindo o desejo do pai adotivo. Não se pode dizer que é mesquinha ou interesseira, pois chegou mesmo a se dispor ao casamento com o pobretão Mendonça para desimpedir o caminho de Estácio.
Caracteres Realistas:
- Análise psicológica (ainda que superficial): a culpa de Helena e a necessidade de se fazer aceita; o desejo não consciente de Estácio pela suposta irmã.
- Personagens esféricas (multifacetadas): personagens que vão se revelando aos poucos, como o Dr. Camargo, que só será completamente desmascarado a partir da chantagem que faz com a protagonista; a própria Helena, que permanece misteriosa até ser revelada a mentira de que fez parte.
- Denúncia da hipocrisia e uso da ironia: É o que se verifica em relação ao Dr. Camargo.

- Triunfo da razão sobre a paixão: Estácio (não por acaso um matemático), mesmo sabendo que não era irmão de Helena, aceita o conselho moralista do padre Melchior, desistindo de ficar com ela, pois seria um escândalo.