"Odi et amo. Quare id faciam fortasse requiris
Nescio, sed fieri sentio et excrucior."
O poema 85 de Catulo é, provavelmente, o dístico elegíaco mais famoso da literatura latina. O contraste de sensações provocado pelo amor (“odeio e amo”) é um tema universal, aqui explorado de forma concisa e, por isso mesmo, produzindo um profundo impacto. O sujeito lírico desconhece as forças que o arrastam ao conflito (“Por que faço isso, talvez perguntes. Não sei.”) e ao ver-se alheio à própria vontade, sente-se vulnerável, torturado (“mas sinto que acontece e me torturo”).
É interessante destacar que a poesia de Catulo está vinculada às propostas poéticas modernizadoras dos poetae novi. No poema em tela, esse paradigma fica evidenciado na forma epigramática, ou seja, no corpo breve que assume, caracterizando-se como uma espécie de inscrição. Nesse sentido, como poeta novus, Catulo abandona a épica homérica e virgiliana em detrimento de uma poesia relativamente simples (embora com rigor técnico), voltada ao cotidiano e a temas tidos como “menores” (dentre eles, fundamentalmente, o amor). Em Odi et amo, o poeta surpreende ao construir seus versos praticamente só com verbos, sem adjetivos ou substantivos, o que contraria a estrutura poética convencional. Essa sintaxe simula um aparente improviso, capaz de aproximar o leitor de uma espécie de leitura da alma humana, como num mergulho na introspecção do eu-lírico.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Poesia Latina: Odi et amo (Catulo)
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