quinta-feira, 23 de junho de 2016

RESUMO DOS LIVROS UFSC 2017 - AUTO DA COMPADECIDA

PERSONAGENS do AUTO DA COMPADECIDA, DE ARIANO SUASSUNA



PALHAÇO
Segundo o próprio Ariano Suassuna, é uma representação do autor na peça.
“Ao escrever esta peça, onde combate o mundanismo, praga de sua igreja, o autor quis ser representado por um palhaço, para indicar que sabe, mais do que ninguém, que sua alma é um velho catre, cheio de insensatez e de solércia. Ele não tinha o direito de tocar nesse tema, mas ousou fazê-lo, baseado no espírito popular de sua gente, porque acredita que esse povo sofre, é um povo salvo e tem direito a certas intimidades.”
Como já dissemos, o Palhaço desempenha o papel de Corifeu, conforme a tradição grega: enuncia partes isoladas do texto (narrador/comentador); dialoga com os atores e com o público; estabelece a mediação entre o palco e a plateia.

JOÃO GRILO
É o protagonista. Malandro (esperto), inventa histórias e trapaças, conseguindo enganar a opinião alheia no intuito de obter benefícios. Homem do povo, era explorado pelo padeiro e vivia miseravelmente, chegando a passar fome (desnutrido, era chamado “amarelinho”). Nesse sentido a astúcia e a criatividade são suas armas na luta pela sobrevivência e seu modo particular de fazer justiça.
João Grilo é uma representação do próprio povo brasileiro, e, como tal, costuma a ser comparado a outros ícones como Leonardinho, de Memórias de um Sargento de Milícias (obra de Manuel Antônio de Almeida) e Macunaíma, o herói sem nenhum caráter (do Modernista Mário de Andrade). Mas apesar da semelhança no que diz respeito ao humor e à criatividade, há uma diferença essencial no conceito de malandragem: João Grilo é o malandro no sentido da esperteza, não da preguiça, como Leonardinho e Macunaíma. Veja o que afirma Ariano Suassuna:
“Logo quando o Auto da Compadecida apareceu, quando o Auto da Compadecida foi encenado no sul principalmente, o herói, o personagem central do Auto da Compadecida que É João Grilo, foi comparado a Macunaíma. E eu protestei e continuo a protestar, tá certo? Eu não aceito a comparação não. Eu não aceito a comparação porque o povo brasileiro em Macunaíma é olhado de um ponto de vista negativo. E o próprio personagem é dado por Mário de Andrade, que é o pai dele, como um herói sem caráter. Então, João Grilo foi chamado de anti-herói e de herói sem caráter e eu protestei, e protesto, e continuo a protestar. Na minha opinião João Grilo é um herói mesmo, tá certo? Porque vocês vejam: João Grilo vence a aristocracia rural na pessoa do Major Antonio Morais. Ele vence a burguesia urbana nas pessoas do padeiro e da Mulher do Padeiro. Ele vence até o Diabo! Ele vence a polícia, vence os cangaceiros, não é? E vence o Clero, o Clero corrupto e vence até o Diabo. Então se um homem desse não È herói, eu não sei mais quem é herói não, não é? Eu acho que a definição, a frase que define João Grilo é essa, que é um ditado popular aqui no Nordeste: a astúcia é a coragem do pobre!”
  (Depoimento de Ariano Suassuna no documentário “O Sertãomundo de Ariano Suassuna”)

CHICÓ
É o mentiroso ingênuo, contador de histórias hiperbólicas e mirabolantes como a do Cavalo Bento ou a do Pirarucu Pescador. Benevolente, não tem a malícia ou a esperteza de João Grilo. O próprio Ariano Suassuna compara Chicó, refugiado da dura realidade em seus delírios, com D. Quixote:
“[...] Refletindo sobre a dupla cervantina, vi que D. Quixote é um sonhador, como Chicó e que Sancho Pança é um pícaro, como João Grilo”

PADRE, BISPO E SACRISTÃO
Representam a simonia e a hipocrisia no clero.
       Padre João: Subserviente aos poderosos, é arrogante e intransigente com o povo.
       Bispo: Avarento, corrupto, e arrogante, é ironicamente referido como “administrador” e “político”.
       Sacristão: Igualmente corrupto, “É um sujeito magro, pedante, pernóstico, de óculos azuis que ele ajeita com as duas mãos de vez em quando com todo cuidado”.

FRADE
É o contraponto aos demais representantes do Clero. Puro, cordial, benevolente, fica ao lado dos oprimidos, e não participa dos jogos de corrupção e opressão. Ironicamente, costuma ser tratado como tolo. Entre os seus pares é o único que se salva, literalmente: O cangaceiro Severino se nega a matá-lo. No terceiro ato, afirma-se que o Frade era um Santo.

PADEIRO E SUA MULHER
Os patrões de João Grilo e Chicó. Representam a exploração da burguesia em relação aos pobres. Como casal, o que os mantêm unidos é o medo da solidão.
       Padeiro: Além de mesquinho, tem a personalidade fraca. É manipulado pela esposa e repete, de forma caricatural, as falas da mulher ao longo da peça.
       Mulher do Padeiro: Encarna, além da cobiça, a luxúria, sendo notoriamente adúltera. Insensível aos empregados, gosta mais de bichos de estimação do que de pessoas.

MAJOR ANTÔNIO MORAIS
Alegoria da oligarquia latifundiária. Orgulha-se de suas origens europeias e de sua “ociosidade senhorial”. Prepotente e autoritário, demonstra que o poder econômico se traduz em poder político quase absoluto, passando por cima, inclusive, da igreja.

SEVERINO DO ARACAJU E CANGACEIRO (CABRA)
Assim como lampião, Severino é encarado pela sociedade burguesa como a encarnação do mal, mas pode ser visto pelo povo como herói, pois apresenta rígidos valores morais e se posiciona contra os poderosos, repreendendo e punindo a corrupção dos clérigos, a vulgaridade da mulher adúltera e a avareza do padeiro.
Severino e seu ajudante desencadeiam a carnificina que leva todos ao juízo final. Suas ações, contudo, são justificadas, pois enlouqueceram ao presenciar, ainda na infância, o assassinato de sua família.

ENCOURADO E DEMÔNIO
Atuam como promotores, acusando os vícios e crimes cometidos pelos demais personagens. O Encourado, figura demoníaca da cultura popular nordestina, toma a frente e subjuga o próprio demônio, que lhe serve de auxiliar. É arrogante, intolerante, vingativo e mal-humorado.

MANUEL (JESUS CRISTO)
É o próprio Jesus Cristo. O demônio, no intuito de reduzir seu poder, chama-o “Manuel”. Aparece surpreendentemente como um homem negro, provocando um comentário preconceituoso de João Grilo. A intenção do autor é justamente questionar os preconceitos do próprio público.
Outro aspecto não convencional do Cristo de Suassuna é o humor (em oposição à sisudez do inferno). Manuel e a Compadecida são simples e não só aceitam as brincadeiras do Grilo, como também pregam suas peças. 

A COMPADECIDA
É a Virgem protetora. Benevolente, é, segundo João Grilo, mais humana que o próprio Jesus e por isso é invocada para defender os homens, intercedendo como “advogada” no juízo final.
A Compadecida, sua leveza e sua tolerância representam a própria ideia de brasilidade. Nas palavras de Suassuna:

“Para mim, o emblema brasileiro e feminino, o núcleo fundamental de toda a minha visão de mundo, era aquela Senhora a quem eu celebrara com o nome popular de “A Compadecida” e que, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, é a Padroeira incontestável de nosso país e do nosso povo”. 


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