sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Lobo da Costa (2)

Se um grito de fera açoute
Estruge no ar austero
Não tremas: é o quero-quero
Quem vem te dar a boa noite.



Segue aqui o tributo a Lobo da Costa. Na seqüência, temos um programa de rádio, reconstituindo as circunstâncias da morte do poeta e contando um pouco de sua história.



Programa "Patrimônio pé de ouvido" : Lobo da Costa - BAIXAR (.mp3)

Para enriquecer a pesquisa sobre o poeta, temos ainda o texto de Mario Osório Magalhães, publicado no jornal Diário Popular.

Ainda Lobo da Costa

Em São Paulo - não na capital, mas em Campinas -, Lobo da Costa irá publicar, com o auxílio do poeta e teatrólogo porto-alegrense Carlos Ferreira, o seu livro Lucubrações, de 142 páginas e reunindo o melhor da sua poesia.
Na capital paulista irá estudar para os preparatórios; irá conviver com os estudantes e os intelectuais da sua época. Haverá de escrever bastante, mas, sobretudo, de afeiçoar-se à boemia, como era regra geral entre os poetas do seu tempo. E não trará de volta o tão sonhado título acadêmico; no ano seguinte - em 1875 - já retorna ao Sul, doente, fixando-se por algumas semanas na Ilha do Desterro, atual Florianópolis, onde colabora em jornais e, restabelecido, exerce durante poucos dias as funções de oficial de gabinete do presidente da Província.
De volta a Pelotas, em 1876, nunca mais conseguirá ajustar-se, por um período razoável de tempo, às convenções da sociedade. A frustração dos seus sonhos só pode ser compensada na bebida, e a bebida o conduz ao desregramento social. Por esse motivo dá-se o rompimento com Elvira. São desse ano as admiráveis estrofes de Vingança, em que o autor, amargurado, acusa de traição a mulher que o abandonara:
"Que sinto eu? Desejos de vingança!
De um crime hediondo ela tornou-se ré!
E o ídolo que adorei reduzo a cinzas
e sobre as cinzas me coloco em pé!"
Conta a tradição oral que esse poema foi lido diante de Elvira, numa reunião familiar, havendo a moça desmaiado durante a declamação.
Lobo da Costa tem agora 24 anos. A partir daí a sua biografia será caracterizada por um aparente contraste: de um lado, o reconhecimento do valor da sua obra, a consagração literária, o prestígio de que passou a desfrutar como poeta; de outro, a censura à sua vida, o controle social, a condenação do seu comportamento boêmio. Por este último motivo, com toda a certeza, não se fixa por muito tempo em Pelotas entre 1877 e 1885: viaja a Rio Grande, Porto Alegre, Arroio Grande, Jaguarão, Dom Pedrito e Bagé.
Em Jaguarão, no ano de 1879, toma uma atitude inesperada: casa-se com uma jovem de 17 anos, natural de Rio Grande e de origem humilde. Nessa oportunidade, um embuste seu é de fácil explicação psicológica: faz com que o escrivão o registre, na certidão de casamento, como bacharel em Direito.
De Carolina Augusta Carnal, a esposa, nunca se ouvira falar antes; depois, sabe-se apenas que dessa união resultou uma filha, de nome Amanda e de rara beleza.
Em 1881 vai para Porto Alegre, como secretário de uma companhia ginástica.
Em 1883, na então vila de Dom Pedrito, hospedado numa casa comercial, escreve uma peça, um drama em versos, sob encomenda de uma sociedade amadora local. A peça tem o título de O filho das ondas e a principal personagem feminina tem o nome de Elvira. No dia da estréia Lobo da Costa não pode assistir ao espetáculo, devido aos efeitos de um vinagre de álcool, um irresistível "espírito de vinho"...
É semelhante a esse episódio o que ocorrera em Pelotas, alguns meses antes, nesse mesmo ano de 1883. Só que é mais representativo daquele contraste, a que me referi, entre a consagração e a censura nessa fase biográfica de Lobo da Costa. Durante a apresentação da menina-prodígio Julieta dos Santos, no Teatro Sete de Abril, uma jovem da sociedade pelotense declamara uns versos que ao poeta havia inspirado a prestigiada atrizinha; seu autor, porém, fora barrado às portas do teatro, por encontrar-se visivelmente bêbado...
Revelei em primeira mão há cerca de dez anos, e repito agora, o que, segundo entendo, representa uma descoberta altamente significativa para a biografia de Lobo da Costa: Elvira, a musa do poeta, havia morrido em janeiro de 1883, solteira, com a idade de 22 anos, vítima de tuberculose, alguns meses antes dos episódios do Teatro Sete de Abril e de Dom Pedrito, ocorridos respectivamente em fins de março e em fins de setembro.
Os dois fatos são sintomáticos, nos permitem constatar e, mesmo que não dêem a medida exata, nos autorizam a imaginar a enorme repercussão daquele acontecimento, o abalo que causou na sensibilidade do poeta...


(Coluna de Mário Osório Magalhães no jornal Diário Popular - 29.06.2003)

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A Morte de Lobo da Costa

Tão relevantes me pareciam os dois fatos - os episódios do Teatro Sete de Abril e da casa comercial, em Dom Pedrito - que passei a investigar, com cuidado especial, a década de 1880 na biografia de Lobo da Costa. Como disse, acabei por descobrir - e publiquei, pela primeira vez - um atestado de óbito, no qual se registra que Elvira Arruda, a Elvira de verdade, a paixão do poeta, morrera em janeiro desse ano, solteira, com 22 anos, vítima de tuberculose. A partir daí fiquei sabendo, por uma notícia do Correio Mercantil, que "mais alguns dias e a inditosa jovem ter-se-ia unido matrimonialmente a um distinto mancebo".
Como desconfiava, os episódios de Pelotas e de Dom Pedrito não são apenas reveladores - conforme salientam os seus biógrafos - da obsessão alcoólica de Lobo da Costa, no final da vida: mais do que isso, são componentes trágicos de um muito triste ritual de luto.
Por outro lado, é significativo lembrar que Francisco Lobo da Costa durou mais cinco anos, ora internando-se na Santa Casa, ora percorrendo ruas, ora freqüentando bares; Elvira, prometida a um outro cidadão, "a um distinto mancebo", teve menor resistência. Foi vítima, também ela, do Romantismo - mesmo sem ingerir absinto nem "Parati", muito menos vinagre de álcool, e sem haver elaborado, ao que se saiba, um único poema.
Em 1885, retornando de Bagé, o poeta é internado pela primeira vez na Santa Casa de Misericórdia. Observe-se o modo grotesco como o jornal A Discussão, ao informar os seus leitores, justifica o estado de saúde do autor de Vingança, generalizando-o como fatalidade irreversível, extensiva a todos os literatos:
"De Bagé chegou ontem a esta cidade o ilustre vate pelotense senhor Francisco Lobo da Costa, cujas inúmeras produções poéticas são testemunhos do seu robusto talento. Como todos aqueles que cultivam as letras, Lobo da Costa acha-se gravemente enfermo, cumprindo assim a sina imposta aos infatigáveis obreiros das letras. Dos seus dedicados amigos Lobo da Costa tem recebido as maiores provas de apreço e simpatia."
Receberá dos amigos, igualmente, auxílio material. Reunidos em assembléia, os moços do Grêmio Literário dos Lunáticos decidem publicar um livro, em 1887, revertendo a renda em benefício do poeta. Graças ao prestígio de Lobo da Costa, em seguida se esgota a primeira edição. Só que o livro, em vez de enfeixar os inéditos do beneficiado, como seria lógico, lança os originais dos próprios beneméritos. Uma maneira, enfim, de conciliar o útil com o agradável...
Entre 1885 e 1888, Lobo da Costa transita entre o hospital e os bares. Em ambos escreve sofregamente, seja em retribuição às visitas que lhe fazem, seja em pagamento da bebida que o seu organismo reclama. Dorme muitas vezes ao relento. Fora do hospital, proveniente dos bares, "vagueia pelas ruas, indiferente a tudo e a todos".
No dia 18 de junho de 1888, na hora da sesta, abandona a Santa Casa e, de posse de 20 mil réis - último saldo do livro Charitas, que lhe é entregue pelo mordomo - dirige-se a um bar, na região leste do centro da cidade. No fim da tarde de inverno já o encontram caído, na valeta de uma rua isolada e deserta. Mas só na manhã seguinte é que uma carroça recolhe o seu corpo nu, verificando-se, pois, que ele fora saqueado durante a noite...
Diante das circunstâncias trágicas da morte de Lobo da Costa, procurou-se provar, mais tarde, que o corpo do poeta foi conduzido à Santa Casa, no dia 19, com algum resquício de vida. É uma honesta tentativa de esfregar um pouco essa possível "mancha" da história local. Tenha êxito ou não essa "reparação", na verdade o que importa é que o autor do Adeus, abandonando este mundo, o fez espiritualmente enfermo, bêbado e jogado ao relento, desencantado com a sociedade e, talvez, consigo mesmo. Assim como viveu, morreu poeta, conforme o modelo da sua época.
Um modelo, aliás, mais ideal do que real. No Brasil, geralmente, ao adquirir seu diploma, os jovens estudantes passavam à condição de ex-literatos, punham as rimas de lado. Lobo da Costa, porém, não conseguiu se formar; só conseguiu se manter, o tempo todo, no patamar da crise. Em conseqüência, foi um dos raros, foi um dos poucos românticos brasileiros que de fato sucumbiram.

(Coluna de Mário Osório Magalhães no jornal Diário Popular - 06.07.2003)

Lobo da Costa



Francisco Lobo da Costa, grande poeta romântico gaúcho do século XIX, constitui, certamente, uma das páginas mais interessantes da literatura brasileira. Sua poesia reflete a intensidade de uma melancolia realmente vivida. Isso confere às imagens ultra-românticas desse poeta um vigor que poucos de seus contemporâneos conseguiram atingir.


Adeus
À sombra do Salgueiro

(Fragmentos)


Adeus! eu vou partir. Por que soluças?

Não brilha o pranto, a dor, à luz da festa,

Nem a rosa, por pálida e modesta,

Deve pender a fronte ainda em botão...

Que eu te diga este adeus — manda o destino!

Eu sou náufrago vil, sem norte ou guia,

Açoitado por ventos de agonia

Nas cavernas fatais do coração.





Chorarás no momento em que eu te deixe,

Ou, quando perto eu for da tua herdade,

Passarás uma noite com saudade;

Mas a aurora trará mimos a flux...

E desperta de um sonho que te aflige,

Os passos sulcarás d'almo folguedo,

Esquecida daquele que tão cedo,

Sem amparo caiu vergado à cruz.





Trará o esquecimento alívio às dores;

Muitos dias talvez virão por este,

E das bagas do pranto que verteste

Brotarão os jasmins de um novo amor...

Cantarão no teu lar os passarinhos,

Muitas flores virão com a primavera,

E de mim ficará de uma outra era

Agudo espinho de saudosa dor.





Bem sei... há de custar-te a minha ausência,

Enquanto a ela tu não te acostumas.

Mas, ah! que nunca choram as espumas,

Quando soltas das vagas vão além!

É fatal, bem eu sinto, este momento!

Lisonjeia-me a dor do que não valho...

Olha: o manso gatinho no borralho,

Parece que a me olhar chora também.





Teu cãozinho de neve que tu amas,

No latido gentil, como que implora

Que eu não faça chorar sua senhora,

Ou pedindo-me em prantos, que eu não vá...

Mas quem sabe, se um dia, quando os tempos

De novo me trouxerem a estas plagas,

Não serás, ó cãozinho que me afagas,

O primeiro que então me morderá!





De lágrimas se funde o esquecimento

Com que algema o sentido mais dileto,

Não há, por mais gentil que seja o afeto,

Quem se possa eximir àquela essência.

É gelo que entibia as flores da alma,

É fogo que consome alto destino.

E já vês, ó meu anjo peregrino,

Que não deves chorar a minha ausência.





Irei por sobre as ondas desfolhando

As flores da saudade, uma por uma;

Como elas, que fogem sobre a espuma,

Quem me diz onde irei? onde pairar?

E tu ficas à sombra de teus lares,

Sorrindo de ventura, anjo celeste,

E eu, quem sabe! se à sombra de um cipreste

Num profundo dormir — sem despertar





O tempo que corrói a pedra bruta,

Também destrói os frutos da memória.

Mal fora se, na vida transitória,

Não sucedesse ao golpe a cicatriz.

— Tudo arrasta da vida a vaga irosa,

O Sol que amanheceu baixa ao poente...

Só há uma saudade permanente,

— A saudade da mãe e a do infeliz.





Nunca viste a donzela lacrimosa

Curvada no ladrilho mortuário,

Beijando o esquife negro e solitário

Em que dorme o despojo maternal?

E dois anos após... nem tanto ainda!

Da festa no esplendor vir, orgulhosa,

Passando muitas vezes junto à lousa,

Sem lembrar-se do anjo do casal?





Já viste a triste mãe que um berço embala,

Velando uma criança adormecida,

Consagrando-lhe esperança, amor e vida,

Capaz de se finar se ela morrer;

E após, se a idade veste-a de esplendores,

Tornar-se seu algoz, ser seu patíbulo,

E ir vendê-la nas portas do prostíbulo,

Como rês inocente — a quem mais der?!



Nunca viste o mendigo esfarrapado

Beijar a mão bondosa que o ampara,

E depois, se a fortuna se lhe aclara,

Como Pedro negar ao próprio Cristo?

Nunca viste o impudor — calcando o pejo,

A dor desafiando — gargalhadas,

Em troca de carícias — punhaladas!

Nunca viste? Pois eu já tenho visto.



Só guarda uma saudade quem por fado

Teve a dor do proscrito, a do abandono.

Assim, se eu não morrer, se o eterno sono

Não for além dormir, pomba adorada,

Lembrarei teus encantos e meiguices,

Chorarei de saudade — embora rias,

Cobrindo com meu manto de agonias

Os espinhos da cruz que me foi dada.



E se um dia nas praias do futuro

Rolar o meu cadáver de descrente,

Sepulta-o junto à margem onde a corrente

Só muda quando em fluxo recresce...

Onde os salgueiros têm as mesmas folhas

E é sempre a mesma viração sombria,

Onde só muda o Sol quando anoitece.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Depois da Chuva... (2)

Toda essa chuva aqui no extremo sul do país e um clima propício para uma boa leitura... a estética do frio se fez presente em pleno verão e Satolep, do Vitor Ramil, transpira umidade. Com o livro na mão e umas imagens na cabeça, comecei a reler os encontros do protagonista com a chuva, com Simões Lopes e com o poeta Lobo da Costa.

Taí... Lobo da Costa...

Grande poeta pelotense, encarnou como poucos, de modo verdadeiro, real, a melancolia e o decadentismo românticos.

Um bom vinho para brindar em homenagem ao poeta!

Depois da chuva...


"Eu, que vivo no gasômetro, tenho tomado distância de tudo o que é sólido. À margem das formas, sou reservatório de coisas desfeitas. É meu o rosto líquido que vejo na poça de chuva esquecida pela terra sob minha janela, rosto de quem quis infinitamente comprimir os fluidos da vida na esperança de guardá-la. No gasômetro as coisas não são sólidas, mas custam a passar. Hoje um grito de criança, sumido na varanda em meu passado, veio vibrar sobre o telhado como o canto de uma ave vindo agonizar no ninho antes de morrer; ontem, foi um pardal que desceu na água. Ainda posso vê-lo, agora que partiu, capturado pela luz no álbum aberto dessa superfície onde meu olhar move-se em pequenas ondas, devagar. Embalados pela brisa piedosa, esses pobres olhos feitos de restos de chuva imitam os imensos reservatórios que dançam lentamente, atrás. Não há música em mim que possa animá-los. No gasômetro venta, mas as coisas são silenciosas. Só o grito da criança no telhado se propaga. Meu rosto na água não ousa espiá-la. Por que me chama? O que pode esperar de mim? Sou uma mulher às voltas com o que não tem volta. Faz muito frio, não me deixariam ir lá fora. Dorme, menina, dorme. No gasômetro as coisas custam a passar."

(RAMIL, Vitor. Satolep. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p.33)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Gabarito definitivo da UFPel: Questão 2 anulada!

Diante do que já havíamos explicado, a questão 2 de Literatura (2º dia de prova) não tinha resposta possível. Meu requerimento junto ao CES foi atendido e a questão foi ANULADA. Isso significa que todos os vestibulandos devem considerar essa questão como acerto, automaticamente.

CONFIRA AQUI OS GABARITOS:

1º Dia (17/1)
2º Dia (18/1)

É isso aí.
Ficamos no aguardo do listão...

Um abraço.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Comentários sobre a Prova da UFPel

RETROCESSO. Não há palavra mais definidora daquilo que ocorre com o processo seletivo da UFPel, ao menos no que diz respeito à disciplina Literatura.
Há algum tempo, o espaço conferido à matéria nas provas é bastante diminuto, contrariando o que se observa em provas tidas como referencial de excelência, como as da UFRGS, da UFSM e da FURG. Neste ano, o processo de inverno trouxe 3 questões (o que não chega a ser digno de ser comemorado), sinalizando um pequeno avanço, mas a prova de verão superou quase todos os prognósticos negativos: apenas duas questões versando sobre leituras obrigatórias (são dezenas de obras exigidas) e uma delas PASSÍVEL DE ANULAÇÃO. Senão, vejamos:

2- Em nossa lista de leituras obrigatórias para esta prova, aparecem várias personagens femininas fortes. Assinala a alternativa que corretamente justifica a força da personagem a que faz alusão.

(a) Em O Cortiço, Rita Baiana, personagem plana, conota a sensualidade da mulher comum. Suas estratégias de sedução encantam o até então
pouco ambicioso João Romão, impulsionando-o
ao progresso e à riqueza material.
(b) Em Navio Negreiro, a força da escrava que
protege do opressor o filho recém-nascido nos
porões do navio simboliza a resistência do eu-lírico
negro à violência do sistema.
(c) No conto Natal na barca, a fé da mãe que carrega
o filho doente no colo provoca uma mudança de
perspectiva na narradora, que é onisciente.
(d) Na obra árcade, Marília de Dirceu é um
pseudônimo da princesa por quem o eu-lírico se
apaixonou. Sua força está na ousadia em
enfrentar os ditames da vida social na colônia.
(e) No poema de João Cabral de Melo Neto,
Severino logra êxito em sua empreitada tão somente
por contar com o alento da mulher, em
cuja anuência encontra forças para vencer no “sul
maravilha” e derrotar a seca, sua antagonista.
(f) I.R.


A questão exigiu, em cada alternativa, conhecimentos sobre uma obra diferente. A resposta que consta no gabarito é a letra "c", enfocando o conto Natal na Barca. De fato, o texto dessa afirmativa aponta para o elemento essencial do conto: a "mudança de perspectiva" sofrida pela narradora. Confirmando isso, coloco as minhas palavras usadas aqui no blog, na véspera da prova: O conto é narrado em 1ª pessoa e a narradora sofre uma profunda transformação durante o diálogo com uma mulher que trazia consigo uma criança: a passagem da descrença à fé.
O Problema é que a resposta tida como correta se refere a uma narradora "onisciente", o que não condiz com o que se observa no conto de Lygia Fagundes Telles. A narradora dialoga com sua interlocutora sem muito bem compreender a força daquela mulher diante de problemas como a pobreza, a perda de um filho e a separação do marido. Fica perplexa diante da suposta ressurreição do bebê, sem nunca demonstrar capacidade de "ler" os pensamentos ou sentimentos recônditos de outras personagens. Não pode, portanto, a narradora-protagonista ser considerada "onisciente".

Além disso, não há outra resposta possível para a questão entre as alternativas elencadas na prova.

A letra "a" versa sobre O Cortiço e sugere um envolvimento inexistente entre Rita Baiana e João Romão, além de concebê-lo como "pouco ambicioso" em um dado momento, o que também é um disparate.

A alternativa "b", por seu turno, versa sobre O Navio Negreiro, referindo-se a uma suposta cena em que uma mãe negra protegeria o filho recém nascido no porão da embarcação. A parte IV do poema, que ilustra os acontecimentos no porão do navio não contém nada nesse sentido. Ademais, há uma refeência a um eu-lírico negro, o que não se configura nesse texto em que a voz do poeta indignado com a brutalidade da escravidão é que constitui o sujeito lírico.

Já a alternativa "d" faz alusão à Marília da Dirceu, referindo-se à musa de Gonzaga como uma "princesa" que teria "enfrentado os ditames da vida social na Colônia". Há uma tese, bastante corrente, que considera Maria Dorotéa Joaquina de Seixas Brandão como musa inspiradora das liras de "Dirceu". A "Marília", portanto seria a moça de quinze anos, de família tradicional, por quem o poeta se apaixonara, e a qual pedira em casamento algum tempo depois. Nesse sentido, não temos nenhuma "princesa" ousada, lutando contra os interesses da Coroa.

Por fim, a alternativa "e" traz à baila, mais uma vez, Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Repete-se aqui a sugestão, já explorada em prova anterior, de que Severino teria migrado para o "Sul Maravilha", o que é inverídico, pois no "Auto de Natal Pernambucano"", o protagonista não sai do estado de Pernambuco. Tampouco pode-se dizer que Severino supera sua condição miserável ao longo do poema. Para encerrar, a mulher de Severino referida no texto da alternativa em análise não existe no texto de João Cabral.

Fica, portanto, demonstrada a impossibilidade de se constituir resposta correta para a questão em estudo, uma vez que todas as alternativas ensejam incoerências em relação às obras a que se referem.


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Já vi isso em algum lugar... UFPel parafraseia questão da UNIFESP

Resta-nos apenas a questão de nº1, sobre o conto Uns Braços, de Machado de Assis. Era previsível que os 100 anos da morte do Bruxo do Cosme Velho fossem lembrados e, como imaginávamos, com um de seus contos mais emblemáticos e mais complexos. Esse conto já havia sido explorado no Vestibular de Inverno de 2007, mas a sensação de reprise não para por aí. Vejam a questão abaixo:

(UNIFESP) Uma das características do Realismo é a introspecção psicológica. No conto, ela se manifesta, sobretudo,

A) no comportamento grosseiro de Borges, que impõe medo a D. Severina e desperta ódio em Inácio.
B) nas vivências interiores de Inácio e de D. Severina, que revelam seus sentimentos e conflitos.
C) na forma solitária como Inácio se submete no trabalho com Borges, sem que pudesse estar com sua mãe e irmãs.
D) nas reflexões de D. Severina, que vê Inácio como uma criança que merece carinho e não o silêncio e a reclusão.
E) na forma como o contato é estabelecido entre as personagens, já que a falta de diálogo é uma constante em suas vidas.
Questão essa que tive oportunidade de resolver com meus alunos no pré-vestibular, pois constava em nosso material didático.


Agora a questão "da UFPel":

Uma das características do Realismo é a introspecção psicológica. No conto Os Braços, de Machado de Assis, ela se manifesta, sobretudo,

(a) no comportamento grosseiro de Borges, que impõe medo a sua antagonista, D. Severina, e desperta ódio em Inácio.
(b) nas vivências interiores de Inácio e de D. Severina, que revelam seus sentimentos e conflitos.
(c) nas reflexões de D. Severina, que vê Inácio como uma criança que merece carinho e não o silêncio e a reclusão. Essa redenção de um personagem é uma das marcas desse movimento literário.
(d) na forma como o contato é estabelecido entre as personagens, ambas planas, já que a falta de diálogo é uma constante em suas vidas.
(e) na onisciência do narrador, que, a partir do dilema moral vivido por Inácio, simboliza as contradições do homem da época.


Qualquer semelhança não pode ser mera coincidência. Outro detalhe: o título do conto é UNS Braços, e não OS Braços, como consta no enunciado. Machado deve estar se revirando com essa "homenagem".

Depois disso... Sem comentários.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Bentinho e Capitu antes do Vestibular da UFPel

Pra descontrair um pouco.



Vídeo exibido no aulão do Michigan (14/01/2009)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Vestibular da UFPel: Chegou a hora!!!

2008, o ano que não terminou, está, finalmente, chegando ao seu termo. O vestibular da UFPel encerra o calendário de provas das Federais neste final de semana. O que esperar da prova?

Bueno... sabemos que o espaço da Literatura na prova é reduzido: dentro da prova de Língua Portuguesa teremos três ou quatro questões. Nesse sentido, é difícil prever o que pode aparecer, já que o programa elenca 17 leituras e, na história recente das provas não se exigiu mais do que duas leituras (fazendo-se duas questões sobre uma só obra literária).

Então, nosso execício de futurologia deve se basear em fatores como leituras que costumam aparecer, leituras que nunca aparecem, efemérides (como o centenário da morte de Machado ou de nascimento de Guimarães Rosa), e, é claro, na intuição deste que vos posta.

Vamos aos fatos:

- 100 anos da morte de Machado: Acredito que os contos possam aparecer (Uns Braços, A Carteira, Um Esqueleto). Lembrar que esses contos todos são da fase dita Realista, marcados pelo pessimismo e pela ironia tipicamente machadianos.

- Geração de 1922: Um assunto sempre privilegiado nas provas elaboradas pelo CES (UFPel e PAVE são indicativos). Então dar uma conferida em Manuel Bandeira e Oswald de Andrade. Atenção para a liberdade na forma (versos brancos e livres, linguagem coloquial, ausência de pontuação) e no conteúdo (cotidiano, tipos populares, revisão crítica do passado histórico e literário)

- Drummond: também é cobrado com freqüência. Atenção para o contexto histórico de A Rosa do Povo (2ª Guerra e Era Vargas).

- Triste Fim de Policarpo Quaresma: Pré-Modernista, Lima Barreto antecipa características da Geração de 22. É uma obra bastante tradicional em listas de leituras obrigatórias. Atenção para as 3 fases do livro - Cultural; Agrícola; Político-militar.

- Natal na Barca: Conto de Lygia Fagundes Telles. Entrou no novo programa, junto com A Terceira Margem do Rio, de Guimarães. Este último já apareceu no inverno de 2008. É possível que o conto de Lygia venha agora. O conto é narrado em 1ª pessoa e a narradora sofre uma profunda transformação durante o diálogo com uma mulher que trazia consigo uma criança: a passagem da descrença à fé. É possível interpretar que tenha acontecido a morte e a ressurreição do bebê, ou que a narradora tenha se iludido, o que leva o leitor à dúvida e à perplexidade.

Era isso...

Então tá, então. Boa prova a todos, porque está tudo friamente calculado!

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Preparação na Reta Final

Por Maria Fernanda Alonso Vieira


Vestibular é prova de maturidade. Vale ingresso para a Universidade e para o desempenho de um papel adulto e produtivo na sociedade. É o sentido da vida que a gente está construindo.

A principal dica é que você não se perca deste sentido, do que significa para você o vestibular.

No período anterior às provas:

- Procura lembrar da caminhada que fizeste, de tudo o que aprendeste (e não daquilo que não sabes ou não fizeste).

- Revisar e rever resumos é mais interessante do que tentar aprender conteúdos novos.

- A ansiedade se faz presente em momentos importantes, decisivos para nós. Portanto, em vez de negá-la ou tentar eliminá-la, procure reconhecê-la e administrá-la.


Maria Fernanda Alonso Vieira é psicóloga clínica e há 17 anos acompanha vestibulandos em orientação vocacional e preparação emocional para o vestibular.

Contato: mfalonsovieira@hotmail.com

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Lendas do Sul - Resumo e Análise

O pelotense João Simões Lopes Neto é um dos grandes nomes do Pré-Modernismo brasileiro. Em contos gauchescos, através do narrador-personagem Blau-Nunes, conseguiu habilmente dar uma voz espontânea e verdadeira para o regionalismo na Literatura, que até então sofria com a artificialidade gerada pelo paradoxo entre o universo pitoresco rural ou interiorano e a voz formal e culta do discurso dos narradores de obras românticas, realistas ou naturalistas.
É importante destacar que o regionalismo em Simões Lopes ganha contornos de universalidade (Regionalismo Universal), focalizando a alma humana, os conflitos oriundos de questões como amor, paixão, honra. Tudo isso ambientado na paisagem pampeana e vivido pelo homem do Rio Grande, que também é o contador de suas próprias histórias.

Em Lendas do Sul, porém, temos de tomar um cuidado: Blau Nunes não figura como narrador das Lendas. Aparece apenas em A Salamanca do Jarau como personagem, protagonizando a trama. Aqui reside a essência de Lendas do Sul: São as histórias de nossa tradição popular, transmitidas de geração em geração pela oralidade e modificadas por cada um que as passa adiante. Simões Lopes deu às lendas o seu jeito, o seu traço exagerado e bem-humorado, e emprestou à Salamanca o seu personagem mais marcante: Blau, o vaqueano.

Vamos aos fatos:

Lendas Do Sul



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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Triste fim de Policarpo Quaresma - Resumo e Análise

Triste Fim é o romance exemplar do Pré-Modernismo. Nele, Lima Barreto antecipa o enfoque popular - que seria proposta dos Modernistas de 22 - representando em sua galeria de personagens tipos como o funcionário público, o tocador de modinha, as famílias de classe média em geral. Assim, a linguagem empregada pelo autor é bastante informal, sendo a obra de fácil acesso a qualquer leitor. Outro aspecto antecipador da literatura modernista, e bem característico do período (estávamos nos primeiros tempos da República) é a proposta de reflexão crítica sobre o Brasil, e essa é a pedra de toque do livro. Em suas três partes, Triste Fim constitui-se como painel irônico (bem-humorado e, por vezes, tragicômico) da sociedade da época abrangendo cultura, economia e política.

Vamos ao nosso Policarpo Quaresma!

6 Triste Fim de Policarpo Quaresma



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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Cortiço - Resumo e Análise

Saudações!

Vamos a um novo resumo. Desta vez vamos analisar O Cortiço", de Aluísio Azevedo. Trata-se de uma obra exemplar do Naturalismo, marcada pelo cientificismo típico do final do século XIX. Nessa perspectiva, os personagens são determinados fisicamente, pelo meio e biologicamente, pelos instintos. A anulação do livre-arbítrio leva o indivíduo a uma condição desprezível, fazendo com que a narrativa privilegie uma coletividade, de preferência em circunstâncias patológicas (doentias). Daí, no romance de Azevedo, termos o Cortiço como protagonista, sobrepujando-se a seres como João Romão, Jerônimo e Rita Baiana.

Vamos ao estudo do livro.

5 O CORTIÇO



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domingo, 4 de janeiro de 2009

Prova de Literatura da UFRGS

De modo geral, uma prova acessível ao candidato que teve seu estudo guiado pelo programa deste vestibular. Logo de início, questões sobre os portugueses Gil Vicente e Camões (como de costume). A questão sobre Os Lusíadas foi relativamente fácil, ao se limitar ao episódio do Velho do Restelo. A respeito das leituras obrigatórias, a prova foi muito detalhista, mantendo a tradição de verificar se a leitura realmente foi feita (evitando-se privilegiar o leitor de resumos), como verificamos na questão sobre O Primo Basílio, em que era suscitado um trecho do livro. Outras leituras estreantes no programa, como o conto Pai contra mãe, e o romance Porteira Fechada foram pouco exigidas em questões de nível fácil. Quanto à poesia, surpreendeu o volume de questões evocando poemas pelo título, exigindo relação com o conteúdo do texto em testes sobre Manuel Bandeira e Castro Alves (também obrigatórios).

No mais, tudo certinho, positivo e operante!

ABAIXO O LINK PARA BAIXAR A PROVA:

UFRGS 2009 - LITERATURA

CONFIRA AQUI O GABARITO:

26.C 27.D 28.B 29.D 30.B 31.A 32.C 33.E 34.A 35.D
36.A 37.A 38.D 39.B 40.E 41.A 42.E 43.B 44.C 45.D
46.C 47.E 48.E 49.B 50.C