quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Resumo: Eles eram muitos cavalos”, de Luiz Ruffato



LEIA O LIVRO NA ÍNTEGRA

Eles eram muitos cavalos” é o primeiro romance do escritor mineiro de Cataguases, Luiz Ruffato. Neste livro ele trata da vida de São Paulo, retratada em 70 capítulos que hora tem a aparência de contos, ora de poesia, ora de prosa poética, mas todos com aparência de recortes de um dia da vida cotidiana desta metrópole. Ao ler este romance, o leitor às vezes sente como se estivesse a observar uma fotografia da vida das personagens.

O Livro todo se passa numa terça-feira, 9 de maio de 2000, cita em vários recortes o dia das mães, que está próximo. Mescla recortes de jornal, com santinhos distribuídos em honra de uma graça alcançada, cartas, simpatias,recados de telefone, a vida política podre, a vida dos ricos, a vida dos pobres, a vida dos criminosos, desempregados, prostitutas, crianças de rua e da favela, a vida dos adolescentes da nossa atual geração, e a vida da classe média, que segundo um dos personagens “está acuada”, e alguns sonhos, no meio da rua. Retrata o sexo dos nossos dias, o crime, a política, o comportamento, as opiniões e as manifestações religiosas.


Características:



Por ser um livro contemporâneo, ele apresenta características das três fases do modernismo.

Não apresenta linearidade. Por exemplo:

filho que gostaria de ter tido
sim, claro, o filho um babaca o cocainômano passeia sua arrogância pelas salas da corretora,

sim, claro, o filho um babaca o cocainômano desfila seus esteróides por mesas de boates e barzinhos - que já quebrou -, por rostos de leões-de-chácara e de garotas de programa - que já quebrou -, por máquinas de escrever de delegacias - que também já

sim mas é meu filho

e suborna a polícia,

o delegado,

o dono da boate,

as garotas de programa,

os leões-de-chácara,

sim mas é meu filho

sim, claro, a filha mora no Embu, macrobiótica, artista plástica esotérica, os quadros sempre os mesmos

quem não tem olhos pra ver

riscos vermelhos, histéricos, espasmódicos, grossos, finos, fundo branco

não tem olhos pra ver

uma vez comeu ela horrível no estúdio entre pincéis e latas de tinta sobre uma mesa onde jazia esticada uma imensa tela em branco

isso é arte

ela cheiro de incenso

maconha é natural

nua sob a bata indiana, restos de sêmen na superfície branca

isso é arte

mais neguim pra se foder (pág. 12 e 13).


Há a presença de muitos neologismos e linguagem cotidiana, por vezes até chula, apresentada sem falsos moralismos, que retratam o modo de falar de diferentes pessoas, de diferentes idades, de diferentes classes sociais. Por exemplo:

mais neguim pra se foder(...)(pág 13)

E

o motor zunindo em-dentro do ouvido (zuuuummmm)(...)(pag 16)

O menino tem dez-onze anos(...) (pag 14)


“Oi, aqui é a Luciana. Deixe seu recado após o sinal.”


O que você ganha com isso?, cadela!, o quê ? (Pausa) O quê que você ganha com o sofrimento dos outros, heim?(Pausa) Ver um filho chorando... a mãe... (voz esgarçada) O pai... tem... outra... (Descontrolada) Desgraçada! Desgraçada! O que que você ganha com isso? Filha da puta! Filha da puta! (pág 52)

Apresenta crítica social, e descrição, características do neo-realismo. Exemplo:

é que nossa mãe juntou várias vezes e tinha paciência nenhuma

com macho algum filho-da-puta que queria bater nela

trabalhadeira ganhava o próprio sustento

nunca precisou de homem não nossa mãe

todos eles dançaram por aí na mão dos meganhas

dos vagabundos ou de bobeira overdose

já o crânio meu irmão não fuma nem cheira(pág 99)


A chupeta suja, de bico rasgado, que o bebê mordiscava, escapuliu rolando por sob a irmãzinha de três anos, que, a seu lado, suga o polegar com a insaciedade de quando mamava nos seios da mãe. O peitinho chiou o sono inteiro e ela tossiu e chorou, porque o cobertor fino, muxibento, que ganharam dos crentes, o irmãozinho de seis anos enrolou-se nele. (pág 21)

(...)o cano do revolver na sua testa o rapaz voz engrolada Enfia o dinheiro aqui, anda! um saco plástico do Carrefour meio pão de cachorro-quente meia salsicha atravacando a língua o molho de tomate escorrendo vermelho pelo canto da boca vermelha(...)(pág 81)

a dor, as dores, as dádivas, a dor, as dores, as dores, edifícios, a chaminé, a fumaça, o cigarro, o fumo, a farinha, o feijão, o fogo, os fogos, o incêndio, as galinhas, as gentes, as traves do gol, os campos de futebol, jogadores, uniformes, cores quarando no varal, o chapéu, a bola, abelha, a bilha, os gatos, as galinhas, as janelas, os jipes, as jibóias, as janelas, as janelas, andarilhos, o medo, o mijo, os mortos, os montes, as montanhas, os mortos, os montes, as montanhas, os (pág 17)


E talvez a principal característica, que já ficou evidente pelos trechos apresentados, é a estética diferenciada, o que o torna um livro moderno, pela forma, e contemporâneo, pelo conteúdo. Um exemplo claríssimo desta estética são as páginas 147 e 148, que são quase totalmente preenchidas por um único retângulo negro.

Este livro é o que há de mais atual na literatura brasileira, e de melhor também. Retrata bem a nossa sociedade em todos os aspectos: sexual, social, comportamental, política e etc.

E, além de tudo, é muito interessante, com suas várias histórias e não é maçante, o que garante uma leitura ágil e extremamente interessante.

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