quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Resumo e Análise: O Caso da Vara (Machado de Assis)


O CASO DA VARA - 1891

*Material elaborado por Diego Lock Farina, professor de literatura brasileira, pesquisador e graduando em Letras (UFRGS)

Personagens

Damião – Jovem medroso que fugira do seminário por não querer seguir a carreira religiosa imposta pelo pai. Apesar da piedade que tem em relação à Lucrécia, deixa-se levar pelo egoísmo do interesse próprio.

Sinhá Rita – Viúva, “quarenta anos com olhos de vinte e sete, apessoada, viva, patusca, mas quando convinha era brava e firme como o diabo”. Vivia de ensinar bordado para escravas e mantinha relações com João Carneiro não bem entendidas por Damião. Aceita ajudar o jovem para provar seu autoritarismo sobre o “amante”. Impunha castigos a suas escravas, como surras de vara.

João Carneiro – Padrinho de Damião e suposto amante de Rita. Molenga, sem vontade, por si só não fazia nada útil. Amigo do falecido marido de Rita e submisso às determinações da viúva.

Lucrécia – Escrava de apenas onze anos que bordava na casa de Rita: frágil, magricela, marcada por uma cicatriz e uma queimadura, tímida ria e tossia para dentro. Vítima da vara da patroa.

RESUMO

Damião fugiu do seminário numa manhã de agosto anterior a 1850. Espantado, medroso e desorientado por desconhecer as ruas, não sabia onde se refugiar. Voltar para casa era inviável: seu pai o devolveria aos padres e aplicar-lhe-ia um bom castigo. Lembrou-se do padrinho, mas logo descartou a idéia por saber de seu caráter mole, além de ter sido o próprio que o levara ao seminário e lhe apresentara ao reitor: “trago-lhe o grande homem que há de ser”, “venha, acudiu este, venha o grande homem, contanto que seja humilde e bom. A verdadeira grandeza é singela, moço...”. Depois de forçar a memória lembrando-se de amigos e parentes, lembrou-se de Sinhá Rita, única capaz de convencer seu padrinho a interceder em seu favor com seu pai. Damião, menino ingênuo ainda, tinha algumas idéias vagas sobre o relacionamento dos dois. Em seguida encaminhou-se esbaforido para casa de Rita. Assustada, a viúva recebeu-lhe tentando acalmá-lo. Enquanto Damião explicava a situação, todas as crias, de casa e de fora, em volta da sala, diante de suas almofadas de renda, fizeram parar os bordados em mãos. O jovem contara todo o desgosto que lhe dera o seminário e implorava que Rita ajudasse em prol de sua salvação. No primeiro momento a viúva tenta se esquivar alegando não se meter em “negócios de família que mal conhece”, ainda mais se tratando do pai do menino, famoso pela casmurrice. Desesperado, Damião ajoelha-se a ela e afirma-lhe que é a única possuidora de firmeza para salvá-lo. Lisonjeada com as súplicas do moço, Sinhá Rita questionou-lhe por que não havia falado diretamente com seu padrinho: “Meu padrinho? Este é ainda pior que meu pai, não me atende e nunca dá ouvido a ninguém!”. “Não atende? Interrompeu Rita ferida em seus brios de orgulho – Ora, eu lhe mostro se não atende!”. Chamou um moleque serviçal e mando-lhe chamar imediatamente João Carneiro. Para aliviar a tensão de ambos, começaram a contar anedotas, quando neste instante Sinhá Rita pegou uma criada – Lucrécia - rindo, interrompendo seu bordado para mirar o moço: “Lucrécia, olha a vara – ameaçou-lhe Rita, afirmando que se o trabalho não estivesse concluído até de noites sofreria o castigo”. Damião comovido com a fragilidade e acanhamento da escrava de onze anos, prometeu a si mesmo apadrinhá-la, acreditava assim, que se caso precisasse, Rita não negaria perdão, por que, além disso, Lucrécia rira de uma piada sua, não tinha culpa. João Carneiro chega à casa, empalidecendo ao ver o afilhado e repreendendo-lhe por ter vindo incomodar “pessoas estranhas”. Rita manda-lhe parar com as ameaças e ir logo interceder a favor de Damião com seu compadre. Para o padrinho não importava se o afilhado seria médico, padre ou vadio, desde que não se precisa falar com o pai. Falou para si mesmo: “Por que Rita não pediu outra coisa? Faria qualquer outra coisa. Ah, seu o rapaz caísse agora morto, seria uma solução cruel, porém definitiva”. Depois da reflexão, atordoado pelas ordens da viúva, o padrinho vai ao encontro do compadre. Damião esteve menos alegre na janta, não confiava no caráter mole do padrinho. Cinco vizinhas chegaram para tomar café com a dona da casa. Sinhá Rita pediu ao jovem para repetir a piada da manhã, da qual tinha gostado muito, a mesma que havia feito Lucrécia desvirtuar-se do serviço. Mesmo tentando se esquivar sentiu-se na obrigação de contar; teve sucesso entre as amigas, porém dessa vez a escrava não ria, ou teria rido para dentro, com medo do castigo. Com a chegada da noite, a alma de Damião fez-se tenebrosa pela demora do padrinho. Neste meio tempo Rita já havia arranjado roupas – possivelmente esquecidas por João Carneiro – para Damião se livrar da batina. Logo em seguida um escravo do padrinho veio trazer uma carta afirmando que o negócio ainda não estava composto, que o pai ficara enfurecido e encaminharia novamente o rebelde vicioso para o seminário. Rita foi breve com a resposta: “Joãozinho, ou você salva o moço, ou nunca mais nos vemos”. Acalmou o menino dizendo-lhe que o negócio agora era dela: “hão de ver o quanto presto; que não sou de brincadeiras!”. Na hora corriqueira da recolha dos trabalhos só Lucrécia não havia finalizado o bordado, Rita, furiosa, agarrou-lhe pelas orelhas: “ah, malandra, nem nossa senhora protege vadias, onde está a vara? Senhor Damião, dê-me aquela vara, por favor?” O seminarista ficara frio naquele cruel instante, havia jurado apadrinhar a pequena, a negrinha, em pleno acesso de tosses ainda implorava pela ajuda do jovem. Damião sentiu pena, contudo precisava absolutamente da ajuda de Sinhá Rita: pegou a vara e entregou à viúva.

Análise
Narrado em terceira pessoa, com menor preocupação em analisar psicologicamente os personagens, fato que não retira a profundidade abordada no relato. Temos aqui a crítica explícita ao interesse e egoísmo reinante nas posições sociais. Damião tem consciência que se interceder a favor da jovem escrava a salvará do desumano castigo imposto por Rita, contudo, não pode ir contra as convicções da senhora que estava lhe ajudando a sair do seminário. Por mais que haja comoção, dó e piedade em relação à Lucrécia, seu objetivo está acima de qualquer situação, o interesse subjetivo é somente o que importa. A mesquinhez do jovem é o reflexo de sua posição, tanto financeira quanto interior. Machado foi sensível às crueldades da escravidão, porém, declarou que o conto em questão não tratou da escravidão propriamente e sim da falta de princípios da classe social vigente perante perspectivas que visem apenas instâncias individuais. “Não há outro episódio na literatura pré-abolicionista brasileira que dê tão bem e de modo tão flagrante a vida da criança urbana escrava”. A submissão do padrinho em relação aos caprichos da amante, juntamente com a ousadia e autoritarismo feminino para a época, são fatores também merecedores de relevante olhar.

disponível em: http://monologodemimmesmo.blogspot.com/2009/10/aula-sobre-os-contos-machadianos-ufrgs.html

15 comentários:

  1. Fala sério
    Lê Machado de Assis aos 14 anos é sacanagem!
    O cara fala cada palavra...

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    1. Concordo Mano so to Lendo pq tenho prova kkkkk

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    2. e olha que eram escritos para as pessoas de classes baixas lerem, consideradas sem escolaridade.

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    3. coisa melhor não existe!!! assim tu aprende a escrever melhores redações, ler melhor, dialogar melhor e principalmente.... te ajuda a passar no vestibular kkkk

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  2. é verdade, eu aqui com 14 tbm, li os contos dele e esse foi um dos que pouco entendi!

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  3. Realmente. é uma droga, e mesmo nos resumos mal da pra entender.

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  4. Mr. Anônimo, ler Machado de Assis com 14 anos é normal, inclusive, é de consciência de professores que possuímos certa capacidade para tal vocabulário, pois livros de Machado é adotado em várias escolas a partir da 6ª serie.
    O "cara", que há citado em sua frase, tem nome. Para uma compreensão dessas "cada palavra", ajuda, se há certo hábito de leitura, tente ler diariamente para começar a entender um pouco do complexo vocabulário português.
    Observação: Sou estudante, tenho assim como você, 14 anos, e acho Machado de Assis um ídolo da literatura nacional, com frases diferenciadas, que deixam um tom a mais no texto, tais frases como; "Não tardou que os sapatos se acomodassem nos pés, e sai andando sobre ervas e pedregulhos.."

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  5. Tenho quatorze anos e não vejo problema em ler Machado de Assis vocês que reclamam deviam se sentir honrados em ter ele como um grande escritor brasileiro. Se vocês não conseguem e não o querem entender é porque na verdade são ignorantes que não querem aprender nada que preste.

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  6. gostei de ler os contos de Machado de Assis.

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  7. Machado de Assis é pica!!!

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  8. Na verdade só acho que quem crítica textos. Ótimos como os de machado de Assis não tem vergonha na cara...
    o que realmente interessa não é a idade não importa. Quantos anos vc tenha e sim a sua vontade de fazer a diferença..
    e claro que eu não estou aqui. Pra criticar ninguém cada um. Faz o que quer da sua Vida fazer o passinho do Romano e o quadradinho todo mundo sabe termina a faculdade que eu quero ver meus amores ��

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  9. Eu gosto de machado de assis e tenho 16 anos (só pra me introzar), mas realmente acho errado forçar pessoas a lerem o que nao querem, até pq se não querem, não vão querer saber a profundidade da obra. Vão ler só pra passar e descartar depois, deixa o moço ler assassins creed ou sla fisica quantica,

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  10. Obrigada ajudou muito ;)

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  11. Ksakskskak minha nota agradece

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