O CASO DA VARA - 1891
*Material elaborado por Diego Lock Farina, professor de literatura brasileira, pesquisador e graduando em Letras (UFRGS)
Personagens
Damião – Jovem medroso que fugira do seminário por não querer seguir a carreira religiosa imposta pelo pai. Apesar da piedade que tem em relação à Lucrécia, deixa-se levar pelo egoísmo do interesse próprio.
Sinhá Rita – Viúva, “quarenta anos com olhos de vinte e sete, apessoada, viva, patusca, mas quando convinha era brava e firme como o diabo”. Vivia de ensinar bordado para escravas e mantinha relações com João Carneiro não bem entendidas por Damião. Aceita ajudar o jovem para provar seu autoritarismo sobre o “amante”. Impunha castigos a suas escravas, como surras de vara.
João Carneiro – Padrinho de Damião e suposto amante de Rita. Molenga, sem vontade, por si só não fazia nada útil. Amigo do falecido marido de Rita e submisso às determinações da viúva.
Lucrécia – Escrava de apenas onze anos que bordava na casa de Rita: frágil, magricela, marcada por uma cicatriz e uma queimadura, tímida ria e tossia para dentro. Vítima da vara da patroa.
RESUMO
Damião fugiu do seminário numa manhã de agosto anterior a 1850. Espantado, medroso e desorientado por desconhecer as ruas, não sabia onde se refugiar. Voltar para casa era inviável: seu pai o devolveria aos padres e aplicar-lhe-ia um bom castigo. Lembrou-se do padrinho, mas logo descartou a idéia por saber de seu caráter mole, além de ter sido o próprio que o levara ao seminário e lhe apresentara ao reitor: “trago-lhe o grande homem que há de ser”, “venha, acudiu este, venha o grande homem, contanto que seja humilde e bom. A verdadeira grandeza é singela, moço...”. Depois de forçar a memória lembrando-se de amigos e parentes, lembrou-se de Sinhá Rita, única capaz de convencer seu padrinho a interceder em seu favor com seu pai. Damião, menino ingênuo ainda, tinha algumas idéias vagas sobre o relacionamento dos dois. Em seguida encaminhou-se esbaforido para casa de Rita. Assustada, a viúva recebeu-lhe tentando acalmá-lo. Enquanto Damião explicava a situação, todas as crias, de casa e de fora, em volta da sala, diante de suas almofadas de renda, fizeram parar os bordados em mãos. O jovem contara todo o desgosto que lhe dera o seminário e implorava que Rita ajudasse em prol de sua salvação. No primeiro momento a viúva tenta se esquivar alegando não se meter em “negócios de família que mal conhece”, ainda mais se tratando do pai do menino, famoso pela casmurrice. Desesperado, Damião ajoelha-se a ela e afirma-lhe que é a única possuidora de firmeza para salvá-lo. Lisonjeada com as súplicas do moço, Sinhá Rita questionou-lhe por que não havia falado diretamente com seu padrinho: “Meu padrinho? Este é ainda pior que meu pai, não me atende e nunca dá ouvido a ninguém!”. “Não atende? Interrompeu Rita ferida em seus brios de orgulho – Ora, eu lhe mostro se não atende!”. Chamou um moleque serviçal e mando-lhe chamar imediatamente João Carneiro. Para aliviar a tensão de ambos, começaram a contar anedotas, quando neste instante Sinhá Rita pegou uma criada – Lucrécia - rindo, interrompendo seu bordado para mirar o moço: “Lucrécia, olha a vara – ameaçou-lhe Rita, afirmando que se o trabalho não estivesse concluído até de noites sofreria o castigo”. Damião comovido com a fragilidade e acanhamento da escrava de onze anos, prometeu a si mesmo apadrinhá-la, acreditava assim, que se caso precisasse, Rita não negaria perdão, por que, além disso, Lucrécia rira de uma piada sua, não tinha culpa. João Carneiro chega à casa, empalidecendo ao ver o afilhado e repreendendo-lhe por ter vindo incomodar “pessoas estranhas”. Rita manda-lhe parar com as ameaças e ir logo interceder a favor de Damião com seu compadre. Para o padrinho não importava se o afilhado seria médico, padre ou vadio, desde que não se precisa falar com o pai. Falou para si mesmo: “Por que Rita não pediu outra coisa? Faria qualquer outra coisa. Ah, seu o rapaz caísse agora morto, seria uma solução cruel, porém definitiva”. Depois da reflexão, atordoado pelas ordens da viúva, o padrinho vai ao encontro do compadre. Damião esteve menos alegre na janta, não confiava no caráter mole do padrinho. Cinco vizinhas chegaram para tomar café com a dona da casa. Sinhá Rita pediu ao jovem para repetir a piada da manhã, da qual tinha gostado muito, a mesma que havia feito Lucrécia desvirtuar-se do serviço. Mesmo tentando se esquivar sentiu-se na obrigação de contar; teve sucesso entre as amigas, porém dessa vez a escrava não ria, ou teria rido para dentro, com medo do castigo. Com a chegada da noite, a alma de Damião fez-se tenebrosa pela demora do padrinho. Neste meio tempo Rita já havia arranjado roupas – possivelmente esquecidas por João Carneiro – para Damião se livrar da batina. Logo em seguida um escravo do padrinho veio trazer uma carta afirmando que o negócio ainda não estava composto, que o pai ficara enfurecido e encaminharia novamente o rebelde vicioso para o seminário. Rita foi breve com a resposta: “Joãozinho, ou você salva o moço, ou nunca mais nos vemos”. Acalmou o menino dizendo-lhe que o negócio agora era dela: “hão de ver o quanto presto; que não sou de brincadeiras!”. Na hora corriqueira da recolha dos trabalhos só Lucrécia não havia finalizado o bordado, Rita, furiosa, agarrou-lhe pelas orelhas: “ah, malandra, nem nossa senhora protege vadias, onde está a vara? Senhor Damião, dê-me aquela vara, por favor?” O seminarista ficara frio naquele cruel instante, havia jurado apadrinhar a pequena, a negrinha, em pleno acesso de tosses ainda implorava pela ajuda do jovem. Damião sentiu pena, contudo precisava absolutamente da ajuda de Sinhá Rita: pegou a vara e entregou à viúva.
Análise
Narrado em terceira pessoa, com menor preocupação em analisar psicologicamente os personagens, fato que não retira a profundidade abordada no relato. Temos aqui a crítica explícita ao interesse e egoísmo reinante nas posições sociais. Damião tem consciência que se interceder a favor da jovem escrava a salvará do desumano castigo imposto por Rita, contudo, não pode ir contra as convicções da senhora que estava lhe ajudando a sair do seminário. Por mais que haja comoção, dó e piedade em relação à Lucrécia, seu objetivo está acima de qualquer situação, o interesse subjetivo é somente o que importa. A mesquinhez do jovem é o reflexo de sua posição, tanto financeira quanto interior. Machado foi sensível às crueldades da escravidão, porém, declarou que o conto em questão não tratou da escravidão propriamente e sim da falta de princípios da classe social vigente perante perspectivas que visem apenas instâncias individuais. “Não há outro episódio na literatura pré-abolicionista brasileira que dê tão bem e de modo tão flagrante a vida da criança urbana escrava”. A submissão do padrinho em relação aos caprichos da amante, juntamente com a ousadia e autoritarismo feminino para a época, são fatores também merecedores de relevante olhar.
disponível em: http://monologodemimmesmo.blogspot.com/2009/10/aula-sobre-os-contos-machadianos-ufrgs.html
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Resumo e Análise: O Caso da Vara (Machado de Assis)
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Fala sério
ResponderExcluirLê Machado de Assis aos 14 anos é sacanagem!
O cara fala cada palavra...
Concordo Mano so to Lendo pq tenho prova kkkkk
Excluire olha que eram escritos para as pessoas de classes baixas lerem, consideradas sem escolaridade.
Excluircoisa melhor não existe!!! assim tu aprende a escrever melhores redações, ler melhor, dialogar melhor e principalmente.... te ajuda a passar no vestibular kkkk
Excluiré verdade, eu aqui com 14 tbm, li os contos dele e esse foi um dos que pouco entendi!
ResponderExcluirRealmente. é uma droga, e mesmo nos resumos mal da pra entender.
ResponderExcluirMr. Anônimo, ler Machado de Assis com 14 anos é normal, inclusive, é de consciência de professores que possuímos certa capacidade para tal vocabulário, pois livros de Machado é adotado em várias escolas a partir da 6ª serie.
ResponderExcluirO "cara", que há citado em sua frase, tem nome. Para uma compreensão dessas "cada palavra", ajuda, se há certo hábito de leitura, tente ler diariamente para começar a entender um pouco do complexo vocabulário português.
Observação: Sou estudante, tenho assim como você, 14 anos, e acho Machado de Assis um ídolo da literatura nacional, com frases diferenciadas, que deixam um tom a mais no texto, tais frases como; "Não tardou que os sapatos se acomodassem nos pés, e sai andando sobre ervas e pedregulhos.."
Tenho quatorze anos e não vejo problema em ler Machado de Assis vocês que reclamam deviam se sentir honrados em ter ele como um grande escritor brasileiro. Se vocês não conseguem e não o querem entender é porque na verdade são ignorantes que não querem aprender nada que preste.
ResponderExcluirgostei de ler os contos de Machado de Assis.
ResponderExcluirMachado de Assis é pica!!!
ResponderExcluirNa verdade só acho que quem crítica textos. Ótimos como os de machado de Assis não tem vergonha na cara...
ResponderExcluiro que realmente interessa não é a idade não importa. Quantos anos vc tenha e sim a sua vontade de fazer a diferença..
e claro que eu não estou aqui. Pra criticar ninguém cada um. Faz o que quer da sua Vida fazer o passinho do Romano e o quadradinho todo mundo sabe termina a faculdade que eu quero ver meus amores ��
Eu gosto de machado de assis e tenho 16 anos (só pra me introzar), mas realmente acho errado forçar pessoas a lerem o que nao querem, até pq se não querem, não vão querer saber a profundidade da obra. Vão ler só pra passar e descartar depois, deixa o moço ler assassins creed ou sla fisica quantica,
ResponderExcluirObrigada ajudou muito ;)
ResponderExcluiroi
ResponderExcluirKsakskskak minha nota agradece
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