quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Resumo: Memorias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)


Memorias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

O Autor
Nasceu no dia 21 de junho de 1839 no Rio de Janeiro, mais precisamente no Morro do Livramento. Nasceu simplesmente um moleque de morro, franzino e doentio. Era filho de um pintor de paredes, Francisco José de Assis, e de uma portuguesa, Maria Leopoldina.
Quando ainda pequeno, ficou órfão de mãe. O pai casou-se novamente e a madrasta, Maria Inês, contrariando a lenda, substituiu em cuidados e carinhos a mãe verdadeira e também o pai, que morreria logo depois. Machado cresceu ao lado de Maria Inês, lavadeira e doceira, cujas balas o menino vendia na porta dos colégios que não podia freqüentar.
Naqueles tempos, escola era um privilégio dos mais afortunados. O menino, aliás, nunca freqüentaria qualquer escola. Machado é, hoje, o maior exemplo de autodidatismo no Brasil.
Tímido e introspectivo, Machado teve uma vida sóbria, comportada, sem grandes travessuras de criança, nem grandes aventuras de rapaz.

1855 - aos dezesseis anos, publica seu primeiro poema Ela na Marmota Fluminense. Esse poema só foi publicado porque Paula Brito, dono de uma tipografia e de uma livraria, simpatizou-se com o rapaz e fez dele seu protegido.

1856 e 1858 - Machado trabalha como topógrafo, primeiro na Imprensa Nacional e depois na tipografia de Paula Brito. Nessa época conhece um jornalista famoso, Manuel Antônio de Almeida, e outros intelectuais.

1858 e 1867 - Machado colabora assiduamente em muitos jornais e revistas cariocas, nos publicava contos, crônicas e crítica teatral. No ano de 1857 ingressa no funcionalismo público, em que sucessivamente teve funções cada vez mais importantes e chegou a ser um funcionário de prestígio.

1869 - casa-se com Carolina Xavier de Novais, irmã do poeta Faustino Xavier, que viera de Portugal para uma viagem cultural pelo Brasil. O casamento que iria durar 35 anos e ser dos mais felizes foi tumultuado, pois os pais de Carolina, portugueses preconceituosos, não queriam a união da filha com um mulato. Carolina viria a dar ao pacato e caseiro Machado de Assis a companhia ideal em sua fase de produção literária.

1870 - Machado nos premia com uma intensa atividade literária e com sucessivas publicações: contos, romances, poesia, teatro e crítica literária.

1881 - Machado atinge sua maturidade literária e publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, um romance. Essa obra vem a ser um marco na história da Literatura Brasileira.

1882 - aparece Papéis Avulsos, uma seleção admirável de contos.

1891- aparece Quincas Borba, o mais filosófico dos romances machadianos.

1896 - é fundada a Academia Brasileira de Letras, e Machado de Assis, um ano depois, é aclamado seu presidente perpétuo.

1899 - surgem Dom Casmurro, romance, obra-prima de drama moral, e Páginas Recolhidas, seleção de contos.

1904 - é publicado o romance Esaú e Jacó, e também morre sua esposa Carolina.

1908 - morre Machado de Assis, festejado, em todos os sentidos, como o maior escritor brasileiro.

Obra
A classificação (rotulação) de Machado dentro de escolas e movimentos é problemática e atende apenas à comodidade didática. O mesmo ocorre com a divisão de sua obra em fases: a primeira (Romântica) e a segunda (Realista). O que houve em Machado foi um contínuo aperfeiçoamento.

Sua obra abrange os seguintes gêneros literários:

Poesia - Crisálidas, Falenas e Americanas (fase romântica) e Ocidentais (fase parnasiana)

Teatro - Desencantos, A Queda que as Mulheres têm para os Tolos, Quase Ministro, Os Deuses de Casa, Tu, Só Tu, Puro Amor, entre outras. É o aspecto menor da obra machadiana. São mais contos dialogados, que peças teatrais.

Crítica - Abrangendo literatura e teatro.

Crônica - Reunida no livro A Semana.

Conto - Tão importante quanto o romance machadiano. Contos Fluminenses, Histórias da Meia-Noite, Papéis Avulsos, Histórias sem Data, Várias Histórias e Relíquias da Casa Velha.

Romance - Fase romântica: Ressureição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia. Apesar de rotulados "românticos" , há nesses romances elementos realistas: a análise psicológica e o fato de que as heroínas ajam por interesse na obtenção de "status" social e não por amor, mola central da narrativa romântica. Fase realista: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e D. Casmurro, que constituem a Trilogia Machadiana, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.

Considerações Gerais

A ruptura com a narrativa linear:
Os fatos e as ações não seguem um fio lógico ou cronológico, obedecem a um ordenamento interior, são relatados à medida que afloram à consciência ou à memória do narrador, num processo que se aproxima do impressionismo.

A organização metalingüística do discurso narrativo:
É comum, na ficção machadiana, que o narrador interrompa a narrativa para, com saborosa e bem-humorada bisbilhotice, comentar com o leitor a própria escritura do romance, fazendo-o participar de sua construção; ou ainda, para dialogar sobre uma personagem, refletir sobre um episódio do enredo ou tecer suas digressões sobre os mais variados assuntos.
Machado assume a posição de quem escreve e ao mesmo tempo se vê escrevendo. Esses comentários à margem da narração constituem o principal interesse, pois neles está a mensagem artística do escritor.

O universalismo
Machado captou na sociedade carioca do século XIX, os grandes temas de sua obra. O seu interesse jamais recaiu sobre o típico, o pitoresco, a cor local, o exótico, tão ao gosto dos românticos. Buscou, na sociedade do seu tempo, o universal, a essência humana, os grandes valores filosóficos: a essência e a aparência; o caráter relativo da moral humana; as convenções sociais e os impulsos interiores; a normalidade e a loucura, o acaso, o ciúme, a irracionalidade, a usura, a crueldade.
A pobreza de descrições, a quase ausência da paisagem são ainda desdobramentos dessa concentração na análise psicológica e na reflexão filosófica. As tramas dos romances machadianos poderiam, sem grandes prejuízos à narrativa, ser transplantadas para qualquer época e qualquer cidade.

Os grandes arquétipos
Uma das linhas mestras da ficção machadiana parte do aproveitamento dos arquétipos, que remontam à tradição clássica e aos textos bíblicos. (Arquétipo = modelo de seres criados; padrão exemplar; imagens psíquicas do inconsciente coletivo, e que são o patrimônio coletivo de toda a humanidade.)
Assim, o conflito dos irmãos Pedro e Paulo, em Esaú e Jacó, remonta ao arquétipo bíblico da rivalidade entre Caim e Abel; a psicose do ciúme de Bentinho, em D. Casmurro, aproxima-se do drama de Otelo e Desdêmona, de Shakespeare.

O pessimismo
Machado revela sempre uma visão desencantada da vida e do homem. Não acreditava nos valores do seu tempo e, a rigor, não acreditava em nenhum valor. Mais do que pessimista ou negativa, sua postura é niilista ("nil" - nada). O desmascaramento do cinismo e da hipocrisia, do egoísmo e do interesse, que se camuflavam sob as convenções sociais é o cerne de grande parte da ficção machadiana.
O capítulo final de Memórias Póstumas, o antológico das negativas, é exemplo cabal do pessimismo do autor:

Capítulo CLX
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplastro, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

A ironia, o humor negro
A forma de revolta de Machado era o rir; quase sempre um riso amargo que exteriorizava o desencanto e o desalento ante a miséria física e moral de suas personagens. Observem o texto:

Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome , com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.
Tu minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta outra margem... O que eu sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe? Talvez um comparsa de menos fizeste patear a tragédia humana.



Resumo


Memórias póstumas de Brás Cubas conta a história de Brás Cubas a partir de sua morte, já que inicialmente o próprio narrador observa que para tornar a narrativa mais interessante e "galante" havia decidido começá-la pelo fim _ ; ele era, portanto, não um autor defunto mas um defunto autor _ . Assim, o primeiro capítulo começa justamente com a morte de Brás e seu enterro _ _ .

A causa de sua morte havia sido, oficialmente, uma pneumonia, da qual ele não cuidou de forma correta. Entretanto, sua morte de fato deve-se a uma idéia, segundo ele, grandiosa e útil, uma idéia que se transformou em fixação. Um dia de manhã, caminhando pela chácara onde vivia, pensou em inventar um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a melancólica humanidade _ . Para justificar a criação de tal emplasto frente às autoridades, Brás chamou a atenção de que a cura que traria seria algo verdadeiramente cristão, além de não negar as vantagens financeiras que tal produto traria. Contudo, já do outro lado do mundo, confessa que o real motivo era ver seu nome escrito nas caixinhas do medicamento e em todas as fontes publicitárias, pois as embalagens levariam seu nome _ _ .

Brás Cubas nasceu no dia 20 de outubro de 1805 _ . Foi uma grande festa para toda a família. Houve muitas visitas à sua casa e o pai estava orgulhoso por haver tido um filho homem. Todas as informações dadas são curtas, mas revelam os mimos recebidos pelo garoto durante toda a infância. Desde os cinco anos recebera o apelido de "menino diabo". Reconhece ele mesmo que, de fato, foi um dos mais malvados e travessos de seu tempo. Uma de suas diabruras foi ter quebrado a cabeça de uma escrava porque ela lhe negara uma colher de doce de coco, quando o menino tinha seis anos _ . Prudêncio, um moleque escravo da família, era seu cavalo de todos os dias _ . Brás conta ainda outras diabruras que fazia, entretanto, nada disso parecia ter importância para seu pai, que o admirava e, se lhe repreendia na presença dos outros, em particular lhe dava beijos _ .

Com nove anos, o garoto assistiu em sua casa a um jantar organizado pelo pai em comemoração à derrota de Napoleão. No final do jantar, Brás queria uma compota de doces, mas todos estavam distraídos escutando um dos letrados presentes, o doutor Vilaça, que fazia glosas e recebia, naquele momento, todas as atenções dos convidados. O menino começou a pedir o doce, depois gritou, berrou e foi tirado da sala por tia Emerenciana. Isso bastou para que sentisse uma enorme necessidade de vingança contra o doutor Vilaça. Ficou vigiando-o até surpreendê-lo numa moita beijando dona Eusébia, irmã de um sargento-mor. Para que todos soubessem, saiu pela chácara gritando o que havia visto _ .

Em seguida, após relatar tal episódio, Brás conta que cresceu normalmente. Foi à escola, que ele chama de enfadonha, onde teve aulas com um professor de nome Ludgero Barata. É justamente ali que conhece um de seus melhores amigos de infância, Quincas Borba, com quem se reencontrará mais tarde. Ambos os garotos revelam-se travessos e mimados, já que o Quincas era filho único, adorado pela mãe, que o vestia muito bem, mandando um pajem indulgente acompanhá-lo a todos os lugares.

Passado este período da vida do personagem, sobre o qual ele pouco fala, revela-nos seu caso com uma prostituta espanhola, a primeira mulher de sua vida. Brás a conheceu quando tinha dezessete anos. O jovem estava completamente envolvido pelos encantos da bela Marcela, a quem conseguiu conquistar, o que, contudo, lhe custou muitas jóias caras e presentes diversos. Brás confessa-se muito apaixonado neste período, motivo pelo qual o pai o enviou para estudar na Europa, receoso do envolvimento profundo do filho com uma prostituta.

Brás Cubas viaja para Portugal, onde estuda _ . Confessa haver sido um estudante medíocre, mas nem por isso deixou de conseguir o diploma _ . Nos tempos da universidade, apenas mencionados, preferia sair a fazer qualquer tipo de tarefa ou estudo. O diploma que lhe conferem estava longe de representar o conhecimento artificial que havia adquirido, artificialidade esta que marcou toda sua vida e as ações das pessoas que estavam à sua volta _ .

De volta ao Rio, Brás chega a tempo de ver sua mãe viva, mas já muito mal, à beira da morte, por causa de um câncer no estômago. Pela primeira vez, deparava-se com uma perda real e confessa que até então era um presunçoso que apenas havia se preocupado por coisas fúteis _ . Estava inconformado com a morte da mãe, pois lhe parecia uma enorme injustiça que uma pessoa tão santa, em seu julgamento, pudesse morrer de tão implacável doença. Por isso mesmo, após a missa de sétimo dia, resolveu passar algum tempo numa velha propriedade da família localizada na Tijuca. Levou consigo alguns livros, uma espingarda, roupas, charutos e Prudêncio. Ali ficou durante uma semana, quando então já se mostrava cansado da solidão e havia decidido voltar à cidade.

Justamente neste momento, o escravo conta ao patrão que na noite anterior havia se mudado para a casa ao lado uma antiga amiga da família, dona Eusébia, com uma filha. Brás reluta, não quer revê-la, já que se lembra da travessura de infância, quando denunciara a mulher e o doutor Vilaça que se beijavam às escondidas atrás de uma moita _ . Prudêncio, entretanto, recorda-lhe que fora dona Eusébia quem vestira sua mãe já morta. Ele decide, assim, visitá-la para retornar em seguida para a cidade.

Nesse mesmo dia, o pai de Brás sobe à chácara, pois quer sua volta à vida social. Traz consigo dois projetos para o filho: uma candidatura a deputado e um excelente casamento com uma moça de nome Virgília, filha do conselheiro Dutra, importante político. Brás reluta, mas o pai não se deixa vencer. Aconselha o filho, dizendo-lhe que ele não devia ficar ali, era preciso temer a obscuridade, as coisas pequenas. Conclui dizendo que o fundamental era valer pelo que a sociedade pensava _ . Brás concorda, finalmente, com os projetos e diz que descerá no dia seguinte, já que antes precisava visitar dona Eusébia _ _ .

De fato, a visita à velha amiga da família retardou a descida de Brás, que permaneceu ainda alguns dias na chácara. Foi ali que conheceu Eugênia, a quem ele mentalmente chamava "a flor da moita", pois a jovem era fruto das relações ilícitas entre dona Eusébia e o doutor Vilaça. O narrador simpatiza com a jovem e, mais que isso, pensa que pode tirar proveito da situação. Cinicamente, lembra-se de como era a mãe, motivo pelo qual espera conseguir algo da filha. Consegue, é verdade, beijá-la, entretanto, a moça revela-se dona de enorme dignidade, o que confunde Brás Cubas. Além disso, ele descobre que Eugênia tem um defeito de nascença: é coxa. Todos esses aspectos fazem com que ele confirme que não se deve envolver seriamente com ela, já que, além de tudo, ela estava em condição social inferior à sua _ .

Resolvido a terminar qualquer tipo de relacionamento, Brás volta à cidade, disposto a acatar os dois projetos do pai. Conhece Virgília, começam a namorar e ele está em vias de candidatar-se. Neste ínterim, passa por um ourives certo dia para consertar o vidro do relógio que lhe havia caído e depara com Marcela, que agora está com o rosto repleto de bexigas. A beleza de sua juventude desaparecera, dando lugar à deformação, que o narrador faz questão de descrever detalhadamente. Aquela visão o incomoda por algum tempo, entretanto não dura muito, como praticamente todos seus problemas _ .

Algum tempo depois de seu noivado com Virgília, surge, de repente, Lobo Neves, homem inteligente e astuto, que lhe arrebata Virgília e a candidatura. O pai não resistiu ao fracasso do filho, o que teria acelerado sua morte, quatro meses depois, tempo durante o qual ele repetia decepcionado a expressão "Um Cubas", inconformado com a sorte do herdeiro da família.

Passada a morte do pai, os irmãos Brás e Sabina, com a participação de Cotrim - marido de Sabina -, fazem a partilha dos bens. Arma-se uma grande e mesquinha discussão, os dois brigam por causa da herança deixada pelo pai, desde propriedades até a prataria, motivo de grande desavença, pois nenhum dos irmãos queria abrir mão da antiga relíquia da casa, usada em ocasiões importantes como o jantar em comemoração à derrota de Napoleão. No fim da disputa, os dois irmãos saíram brigados e já não conversavam entre si.

Por esta mesma época, Brás recebe de Luís Dutra, um primo de Virgília, a notícia de que ela estava voltando de São Paulo com o marido, então deputado. Encontram-se um dia e ela estava lindíssima _ . Algum tempo depois, como haviam se encontrado em dois outros bailes, o marido de Virgília convidou Brás Cubas para uma reunião íntima em sua casa. Brás, por essa época, escrevia textos literários e políticos em um jornal. Foi justamente nesta noite que os dois antigos noivos tiveram um maior contato. A partir daí, reataram sua antiga união, sobre a qual o narrador relata vários encontros e a paixão que sentiam naquele momento _ .

Certo dia, foi à casa de Virgília e encontrou-a triste, pois lhe parecia que seu marido desconfiava de alguma coisa. Para Brás, a melhor maneira de resolver o problema era que fugissem, mas Virgília não concordou. O marido chegou justamente nesse momento, e ela comportou-se como se nada houvesse acontecido, tratando friamente a Brás, o que lhe dá um terrível ódio de Virgília. No dia seguinte, ela o procurou com a idéia de que eles deveriam arrumar uma casinha onde se encontrariam, um lugar que seria só deles, já que sempre se encontravam na presença de outras pessoas, principalmente do marido .

A casinha da Gamboa foi, de fato, a saída encontrada pelos amantes para que pudessem continuar seu romance, pois grande parte da sociedade desconfiava de que havia algo entre os dois, por isso os comentários estavam cada vez maiores. Assim, a casinha foi importantíssima. Ali colocaram, D. Plácida, uma velha senhora amiga da família de Virgília e podiam encontrar-se com maior tranqüilidade _ .

Algum tempo depois, entretanto, Lobo Neves foi convidado a ocupar uma presidência da província no Norte. Os amantes ficaram desesperados, mas a saída foi dada pelo próprio marido, que convidou Brás a acompanhá-lo como seu secretário. Estava ainda relutante, pois toda a gente comentava seus amores com Virgília. Entretanto, o próprio Lobo Neves resolveu o problema ao recusar a nomeação. Tudo porque o decreto que o nomeava trazia o número 13, que ele considerava fatídico por vários acontecimentos tristes de sua vida _ . Dessa forma, o casal continuou vivendo seu relacionamento da mesma maneira que antes, na casinha da Gamboa.

Durante tais acontecimentos, Brás Cubas se reencontra com Quincas Borba, que está em uma situação deplorável, tornara-se um mendigo. Quincas acaba roubando o relógio de Brás Cubas neste encontro. Ainda nesse período, ocorre a reconciliação com a família, motivo de alegria para o narrador, que volta a visitar regularmente a irmã Sabina. Ela, como sempre, continua insistindo na idéia de que Brás precisava se casar, um homem em sua posição não podia continuar sem um herdeiro para o nome da família.

No entanto, o amor de Brás Cubas e Virgília, neste momento, vive seu ponto máximo, já que ambos haviam passado pela possibilidade de separação em virtude da nomeação de Lobo Neves, o que fortaleceu o sentimento que os unia. Além disso, Virgília disse estar grávida. Brás não perde a oportunidade de comentar que aquele era um embrião de "obscura paternidade", imaginava-o como sendo seu filho, dono de um belo futuro, vendo-o ir à escola, tornando-se bacharel e discursando na câmara dos deputados _ .

Contudo, Virgília perdeu o filho que estava esperando. Além do mais, o marido recebeu uma carta anônima acusando os dois amantes. A mulher negou veementemente que aquilo pudesse ter qualquer fundo de verdade, mas como Lobo Neves ficara desconfiado, Brás afastou-se da residência do casal, mesmo porque o espaço da Gamboa continuava resguardado. Algum tempo depois, Lobo Neves acabou reatando suas relações com o Ministério, desgastadas devido à sua recusa em aceitar o cargo anterior, conseguindo desta vez uma posição de presidente de província. O narrador brinca com o número do decreto, 31 agora, ressaltando que a simples inversão dos algarismos bastou para que a vida tomasse novo rumo.

Brás e Virgília mantém um curto diálogo antes da partida, despedem-se e ele conta que depois que ela viajou sentiu um misto de alívio e saudade em doses iguais. Não houve desespero, nem mesmo dor, o fato trouxe-lhe apenas alguns poucos dias de reclusão em sua casa e uma pequena amostra do que era a viuvez. Morreram seu tio cônego, Ildefonso, e dois primos, pelos quais ele não sofreu. Também nasceu sua segunda sobrinha. Segundo ele, esta era a filosofia das folhas velhas, que caem e morrem, enquanto outras nascem. Ele mesmo agitava-se de quando em quando e recorria às suas cartas de juventude _ .

Tal reclusão, entretanto, como qualquer de seus pensamentos mais profundos, passou rapidamente, em especial pelo reaparecimento de Quincas Borba e seu envolvimento com Dona Eulália, chamada familiarmente de Nhã-Loló. A jovem tinha dezenove anos, era filha de Damasceno, faltava-lhe certa elegância, segundo Brás, mas tinha belos olhos e uma expressão angelical. O narrador conheceu-a ainda quando Virgília estava no Rio de Janeiro e estava grávida. Sabina insistia na idéia de que Nhã-Loló seria uma excelente esposa para o irmão, que se esquivava por aquela época. Entretanto, quando se deu conta, estava praticamente nos braços da jovem e acabaram ficando noivos três meses após a viagem de Virgília. Acontece, porém, que a jovem morreu repentinamente, antes do casamento, fato que nos vem anunciado não pela voz do narrador, mas sim pela apresentação do epitáfio _ _ _ .

Em relação ao Quincas Borba, ele reaparece após ter recebido uma herança e voltado a ocupar boa posição social. O narrador observa que o amigo está com um comportamento um pouco estranho. Quincas defende uma filosofia criada por ele mesmo, o Humanitismo. Diz o filósofo que o mundo é uma projeção de Humanitas, que seria a substância de todas as coisas existentes, da qual elas emanam e para a qual convergem. Dito de outra maneira, para ele, todos os homens são iguais entre si, já que trazem consigo uma parte da tal substância original e todas suas atitudes têm uma explicação que busca o equilíbrio do mundo, mesmo que por meio da guerra e da violência, já que tudo deve voltar para onde começou.

Nesse sentido, ainda na visão do filósofo Quincas Borba, mesmo aquilo que nos parece negativo tem uma função essencial. Segundo o seu sistema, a dor e o sexo são excluídos do mundo, enquanto a guerra, a fome e outras formas de violência existem para que o meio possa selecionar aqueles que são mais fortes _ . Os mais fracos não sobrevivem e assim deve ser. Além de tudo, devem sentir-se felizes também, já que estão tomando parte do sistema do Humanitas. Em outros termos, estes mais fracos, mesmo derrotados, estariam servindo, de alguma maneira, ao princípio do qual descendem, que prevê tais injustiças como forma de equilibrar o mundo ou até mesmo de quebrar a monotonia universal _ _ .

Brás Cubas, desde que conhece os princípios do Humanitismo até o final de sua vida, esteve tentando entender melhor tal sistema, sempre relacionando-o a algum acontecimento cotidiano de sua vida, questionando sua validade ou não. Articula, então, uma série de teorias e preocupações filosóficas, presentes inclusive em seu delírio _ . Ali também o onça mata o novilho, pela sua sobrevivência, o mais forte vence o mais fraco. Segundo o Humanitismo, não há outra saída par a existência, de maneira que mesmo as coisas negativas devem ser vistas como necessárias e justificadas, por fazerem parte do sistema universal, por saírem daquela tal substância básica da qual saímos todos e para a qual voltaremos, segundo Quincas Borba.

Quincas será uma personagem com quem Brás se encontra muitas vezes a partir desse momento até a sua morte. Quanto à vida diária, depois de algum tempo Brás tornou-se deputado e Lobo Neves voltou ao Rio. Ambos estavam na mesma câmara e Brás ouvia um discurso proferido pelo marido de Virgília. Não sentiu nenhum tipo de remorso e reencontrou a antiga amante num baile em 1855. Observou que continuava muito bonita, ainda que fosse, claro, uma beleza diferente. Os dois conversaram muito, mas sem falar do passado. Brás teve alguns momentos de reflexão e uma certa tristeza. Tinha cinqüenta anos! Mas o Quincas garantiu-lhe que ele não poderia estar preocupado, já que era a idade da ciência e do amadurecimento. Brás decidiu então que participaria de maneira mais ativa das discussões, já que tinha sido sempre um político afastado dos problemas, assim como o era na vida pessoal. Almejava o cargo de ministro, coisa que também não conseguiu e nem mesmo a explicação através de Humanitas que lhe deu Quincas foi capaz de animá-lo.

Passado algum tempo, Brás recebe uma carta de Virgília pedindo-lhe que vá ver Dona Plácida, que está morrendo na miséria. Ele pensa recusar, mas acaba indo, ajuda a mulher que lhe serviu de alcoviteira durante tanto tempo. Morre Dona Plácida e Brás decide fundar um jornal, que era uma aplicação política do Humanitismo. Era um jornal oposicionista, o que preocupou Cotrim, que rompeu relações com o cunhado. Algum tempo depois, morreu Lobo Neves, Brás Cubas reconciliou-se novamente com o cunhado e filiou-se a uma Ordem Terceira, responsável por ajudar as pessoas necessitadas. Cansou-se depois de alguns meses. Na Ordem Terceira encontrou Marcela, que morreu no mesmo dia em que ele visitava um cortiço no qual encontrou Eugênia, segundo ele, tão coxa como a deixara e ainda mais triste _ _ .

Finalmente, Brás conta que Quincas Borba partiu para Minas Gerais algum tempo antes e, ao voltar, estava louco. E, o mais triste e paradoxal, tinha consciência de sua loucura. O narrador explica que entre a morte do Quincas Borba e a sua aconteceram os episódios narrados no começo do livro, em especial a idéia fixa da criação do emplasto Brás Cubas. Conclui sua longa e entrecortada narrativa através de um capítulo que busca resumir a vida pela negação: não alcançou a celebridade, não foi califa, não se casou, não foi ministro. Entretanto, observa que a negação também pode ser positiva: não padeceu a morte de Dona Plácida ou a demência do Quincas Borba. Assim, alguns leitores até poderiam imaginar que ele saiu quite com a vida. Mas não. A negativa última revela o ceticismo do narrador em relação ao mundo diz que ao não ter tido filhos seu saldo foi positivo, pois assim não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.



Personagens


Brás Cubas - narrador - morto aos 64 anos - “ainda próspero e rijo”, fidalgo

Marcela - Segundo grande amor de Brás Cubas, uma prostituta de elite, cujo amor por Brás duraria quinze meses e onze contos de réis.

Virgilia - filha do comendador Dutra, segundo o pai de Brás, Bento Cubas A “Ursa Maior” amante de Brás Cubas casa-se com Lobo Neves por interesse.

Quincas Borba - menino terrível que dava tombos no paciente professor Barata, colega de escola de Brás que o encontrará mais tarde mendigo que rouba-lhe um relógio mas retorna-o ao colega após receber uma herança. Desenvolve a filosofia do humanismo: “Ao vencedor as batatas ao vencido ódio ou compaixão”.

Eugênia - Filha de Eusébia e Vilaça, menina bela embora coxa.

Nhá Loló - moça simplória, tinha dotes de soprano - morre de febre amarela..

Cotrim - casado com Sabina, irmã de Brás; ambos interesseiros

Nhonhô - filho de Virgília

D. Plácida empregada de Virgília confidente e protetora de sua realção - extra conjungal

Lobo Neves - casado com Virgília, homem frio e calculista.

*Texto extraído de: www.setanet.com.br

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