terça-feira, 5 de maio de 2009

Poesia Comentada: Meu Sonho (Álvares de Azevedo)


Meu Sonho

Eu

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso…
E galopas do vale através…
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?…
Tu escutas… Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? - que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?


O Fantasma

Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!…



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Localizado na terceira parte de Lira dos vint’anos, o poema constitui uma espécie de diálogo entre o Eu e o Fantasma. O eu-lírico descreve um sonho em que um cavaleiro perambula pelo reino da morte. Bem de acordo com a estética ultra-romântica, a cena se dá em um ambiente onírico, noturno, e misterioso. Em verdade, esta situação constitui uma metáfora para a angústia sexual do Eu. Isso se evidencia na colocação do símbolo fálico (Com a espada sangüenta na mão), no ritmo de galope conferido pelos versos eneasílabos (acentuando a tensão e a sugestão de movimentos repetidos numa alusão implícita à masturbação), e, por fim, na atmosfera de trevas, que metaforiza o sentimento de culpa do Eu-lírico.

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