segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Finalistas em Contos e Crônicas falam sobre chances de vencer Jabuti


*da Folha Online

A Câmara Brasileira do Livro anunciará, nesta terça-feira (29), os três vencedores de cada uma das categorias do 51º Prêmio Jabuti. Já a cerimônia de premiação está marcada para acontecer na Sala São Paulo (região central da capital paulista), em 4 de novembro.

Para saber mais sobre as obras finalistas na categoria Contos e Crônicas, a Livraria da Folha pediu para que os autores falassem sobre seus livros e revelassem se realmente esperam conquistar o prêmio. Veja abaixo a lista dos indicados e a opinião dos autores:

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Lista dos finalistas na categoria Contos e Crônicas

"Canalha!" (Fabrício Carpinejar)
"101 Crônicas - Ungáua!" (Ruy Castro)
"Ó" (Nuno Alvares Pessoa de Almeida Ramos)
"Rasif" (Marcelino Freire)
"Ostra Feliz Não Faz Pérola" (Rubem Alves)
"Os Comes e Bebes nos Velórios das Gerais e Outras Histórias" (Déa Rodrigues da Cunha Rocha)
"Ping Pong: Chinês por um Mês" (Felipe Machado)
"Crônicas e Outros Escritos de Tarsila do Amaral" (organizado por Laura Taddei Brandini)
"Antologia Pessoal" (Eric Nepomuceno)
"Cheiro de Terra - Contos Fazendeiros" (Lucília Junqueira de Almeida Prado)
"O Silêncio dos Amantes" (Lya Luft)
"Vatapaenses Vasos Comunicantes" (Sergio de Almeida Bruni)
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FABRÍCIO CARPINEJAR

Fabrício Carpinejar apresenta um retrato poético e divertido do homem contemporâneo

Como você sintetiza "Canalha!"?Fabrício - Crônicas de um homem que busca se recolocar no corpo mais do que no mercado. Que aprendeu a ser feminino sem abdicar da virilidade. Que combate preconceitos e seduz à luz do dia. "Canalha" é um jeito de amar; a franqueza é coragem. Posso dizer ao leitor que ponho as gafes fora porque são as melhores histórias. Só homem sério fica envergonhado. O homem que ri tem autocrítica suficiente para tirar proveito dos seus defeitos. O livro é um pouco disso: humor e poesia, confissão e invenção, é olhar um pouco mais demorado para nossa vida que ela logo deixa de ser insignificante.

Ficou surpreso com a indicação?
Fabrício - Sim, não sou de esnobar aniversário, muito menos presentes fora de hora.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Fabrício - Tenho bons colegas ao meu lado, não farei book maker ou jogo do bicho. Depois que deixei minha adolescência, tudo é vitória. Quando perco, escrevo. Quando ganho, escrevo. Escrever já é minha comemoração.

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RUY CASTRO

"Ungáua!", do colunista Ruy Castro, traz 101 crônicas publicadas na Folha de S.Paulo

Como você sintetiza "Ungáua!"?
Ruy - É a minha primeira experiência no texto curto -- aliás, curtíssimo! Cada texto do "Ungáua!" tem, no máximo, 1.770 caracteres de computador, o que não deixa de ser um desafio para quem está acostumado a produzir livros como "Carmen - Uma Biografia", vencedor do Prêmio Jabuti de 2005, e que tinha 2 milhões de caracteres! (risos) E, como se sabe, quanto mais curto, mais difícil de escrever. O desafio está em tentar passar todas as ideias pertinentes ao tema que se escolheu, usando um mínimo de palavras e, mesmo assim, apenas as palavras eficientes, as indispensáveis. Não há espaço para cascata. E tudo isso tentando não perder o humor e um certo charme da escrita. Realmente, é um desafio!

Ficou surpreso com a indicação?
Ruy - Juro que sim. "Ungáua!", por mais que eu me orgulhasse dele, vinha tendo, por vários motivos, uma carreira modesta. Um dos motivos é o de que, por ser composto de artigos publicados originalmente na Folha, foi ignorado pelos outros jornais. Parecia destinado a se tornar um livro "cult" na minha obra, querido apenas pelos poucos que o leram nesse formato. De repente, o livro tirou a sorte grande com a indicação ao Jabuti.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Ruy - Sem dúvida. O difícil é passar pela peneira dos dez. Chegando lá, tenho tantas chances quanto os outros nove indicados. E eu gosto muito de ganhar o Jabuti.

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Nuno Ramos classifica seu livro como "próximo da poesia", com textos entrelaçados
NUNO ALVARES PESSOA DE ALMEIDA RAMOS

Como você sintetiza "Ó"?
Nuno - Diria que o "Ó" é um livro próximo da poesia. O seu veículo são ensaios, falsos ensaios, que vão se entrelaçando, passando livremente de um assunto ao outro.

Ficou surpreso com a indicação?
Nuno - Totalmente surpreso.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Nuno - Sinceramente, não faço ideia.

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MARCELINO FREIRE


Marcelino Freire diz que os seus contos falam de saudade, de identidade e de guerras

Como você sintetiza "Rasif"?
Marcelino - Mais um livro de contos de um pernambucano que só tem fôlego para escrever contos e eta danado! Nesse volume, e desta vez, contos (cirandas) que falam de saudade, de identidade, de guerras particulares e nucleares. No "Rasif", volto enviesado ao Recife. "Rasif" é a origem do nome Recife, em árabe. "Mar que Arrebenta", subtítulo do livro, é a origem tupi-guarani do nome "Pernambuco". Em resumo: "Rasif" é o lugar que inventei, digamos, para habitar meus personagens, a saudade que sinto, as falas que ouço e ave!

Ficou surpreso com a indicação?
Marcelino - Juro a você que, quando escrevo um livro, não fico pensando em prêmios. Se eles vêm, amém e ótimo. Bom que venham "destacar" um trabalho assim, feito sem nenhuma concessão. Agradeço, mas sem maiores expectativas. Nem de surpresa nem de exagerada alegria.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Marcelino - Juro, repito, que prefiro não ficar medindo o tamanho das minhas chances. Estou com uma obra em andamento, em construção. Agradeço a indicação ao Jabuti, divido a honraria com a Editora Record, mas o que tenho de fazer é continuar escrevendo, escrevendo, escrevendo. O resto sai na purpurina, entende? E vamos que vamos.

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RUBEM ALVES


Para Rubem Alves, o que um artista deseja é ver a sua obra reconhecida e amada

Como você sintetiza "Ostra Feliz Não Faz Pérola"?
Rubem - Esse título é uma metáfora. Metáfora é uma palavra ou conjunto de palavras que significa uma outra coisa, parecida. A palavra "ostra" parece sugerir que estou falando sobre moluscos... Mas não estou... Ostra feliz não faz pérola: ela continua simplesmente a ser ostra, boa para ser comida. Mas a ostra infeliz, ostra que tem um grão de areia a lhe fazer sofrer, essa ostra trata de fazer uma pérola em torno do grão de areia, para deixar de sofrer. Da dor nasce da beleza! Isso é uma parábola para a criatividade: as pessoas que sofrem tratam de fazer coisas bonitas --música, quadros, jardins, poemas, livros, para deixar de sofrer... Beethoven, Cecília Meireles, Van Gogh eram ostras que sofriam e, por isso, produziram o belo.

Ficou surpreso com a indicação?
Rubem - Fiquei... Agradavelmente surpreso. Todos somos como Narciso que se apaixonou por sua imagem --ao ponto de morrer. O que um artesão ou artista deseja é ver a sua obra reconhecida e amada. Para mim ser incluído entre os escolhidos já é uma alegria.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Rubem - Eu acho que o livro "Ostra Feliz Não Faz Pérolas" tem algum valor. Já recebi muitas demonstrações de pessoas que leram o livro e gostaram dele. Seria uma alegria ganhar o Prêmio Jabuti. Mas não tenho critérios para dizer "tenho chances grandes" ou "minhas chances não são grandes".

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DÉA RODRIGUES DA CUNHA ROCHA


Em seu livro, Déa Rodrigues fala sobre a comida mineira e de histórias típicas do interior

Como você sintetiza "Os Comes e Bebes nos Velórios das Gerais e Outras Histórias"?
Déa - Eu acho que ele é um livro despretensioso. Foi uma captação da história de Minas Gerais, da comida mineira e de histórias bem típicas do interior do Estado. Aí esta o valor do livro, porque é uma coisa muito singela, onde todos os contos são autênticos, fruto de uma pesquisa em busca das receitas mineiras. Eu acabei colecionando histórias engraçadas de velórios, onde algumas dessas receitas eram servidas. Histórias malucas, engraçadas e algumas picantes. Muitas pessoas disseram que meu livro era muito desrespeitoso, imoral, mas não tem nada disso.

Ficou surpresa com a indicação?
Déa - Eu estava vindo de Minas para São Paulo quando me ligaram pra avisar. Eu fiquei um pouco assustada, porque é muita responsabilidade, mas fiquei muito honrada. Foi gratificante e totalmente inesperado, porque meu livro não é uma superliteratura, é um livro singelo, na linguagem do povo.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Déa - De jeito nenhum, já foi uma honra de grande tamanho ter sido indicada. Eu não tenho nenhuma pretensão, porque pra mim isso já foi uma homenagem e um alento, no sentido de que eu posso continuar nessa linha, que não é tão maluca quanto algumas pessoas me fizeram acreditar.

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FELIPE MACHADO


Felipe Machado conta as aventuras de um jornalista brasileiro pela China Olímpica

Como você sintetiza "Ping Pong - Chinês por um Mês"?
Felipe - Ele nasceu de um blog e é uma mistura de diário e guia sobre a China; a parte "diário" trata de agosto de 2008, mês da Olimpíada de Pequim, e traz reflexões sobre o que eu chamo no livro de "Revolução Olimpíca". A parte "guia" traz muitas dicas e serviços de Pequim e Xangai, em uma abordagem divertida que serve para quem quer viajar ou simplesmente conhecer melhor a China. E ainda há uma bela coleção de imagens, feitas pelo fotógrafo Nilton Fukuda.

Ficou surpreso com a indicação?
Felipe - Fiquei bastante surpreso, sim, até porque nem sabia que a editora Artepaubrasil inscreveria o livro na categoria Contos e Crônicas. Achei que seria apenas na categoria Projeto Gráfico, e aí acho que não teria sido tão surpreendente porque acho que o projeto do Daniel Kondo, que traz uma série de referências ao famoso livro vermelho do Mao Tse-Tung, ficou muito legal. Mas saber que "Ping Pong", um livro despretensioso que nasceu de um blog, foi considerado um dos dez melhores lançamentos do ano em uma categoria nobre como Contos e Crônicas foi, sim, uma surpresa maravilhosa.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Felipe - Ah, difícil dizer, não é? Gostaria de ganhar o prêmio, claro, mas já estou bastante feliz por ter sido indicado. Mesmo assim, vou torcer muito e acompanhar as próximas fases da premiação. E aproveito para agradecer à CBL e aos jurados que o escolheram. Xie Xie! (obrigado).

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LAURA TADDEI BRANDINI

Vinicius Brandini/Divulgação

Laura Brandini foi indicada por obra que reúne todas as crônicas publicadas por Tarsila
Como você sintetiza "Crônicas e Outros Escritos de Tarsila do Amaral"?
Laura - Este livro reúne pela primeira vez todas as crônicas publicadas por Tarsila em jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, bem como artigos publicados em outros periódicos, poemas, o único conto da pintora e um manuscrito, misto de narrativa e de estudo para uma tela. O livro apresenta uma grande quantidade de material inédito sobre Tarsila, figura emblemática da cultura brasileira, jogando luzes sobre facetas muito pouco conhecidas da pintora. Com a leitura do conjunto de textos compilado, anotado e estudado no volume, três Tarsilas vêm à tona: a Tarsila saudosa dos áureos anos 20, quando privou da companhia de alguns dos mais importantes artistas e intelectuais radicados em Paris, como Picasso, Fernand Léger, Blaise Cendrars, Jean Cocteau e outros; a Tarsila curiosa e pesquisadora, sempre buscando aprimorar seu conhecimento enciclopédico por meio de leituras; e a Tarsila ativa participante de seu tempo, durante os anos 30, 40 e 50, divulgando eventos culturais, estimulando os novos talentos da literatura e das artes e tomando posição em polêmicas da época.

Ficou surpresa com a indicação?
Laura - Fiquei surpresa por eu ser uma estreante, pelo fato de o livro ser o resultado de meu primeiro trabalho de pesquisa, iniciado durante minha graduação. Fiquei sobretudo bastante contente com a indicação, e não posso deixar de pensar em Tarsila, pois afinal são os textos dela que estão sendo tão bem avaliados, que têm despertado tanto interesse. Gostaria que ela tivesse podido saborear esse reconhecimento todo, presente também em um campo que não o da pintura.

Acha que suas chances de vencer são grandes?

Laura - Para ser sincera, eu nunca acompanhei a dinâmica de prêmios literários e não sei bem qual é o perfil de um ganhador do Prêmio Jabuti. Sei que são todos grandes livros, mas não sei se normalmente se premiam obras de caráter mais literário, ou se o júri pode preferir obras de vocação documental, por exemplo. Todos os demais finalistas da categoria Contos e Crônicas são fortíssimos candidatos, e não sei se "Crônicas e Outros Escritos" pode sagrar-se vencedor. Vou esperar o resultado com serenidade.

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ERIC NEPOMUCENO



Eric Nepomuceno foi indicado pelo livro que mostra sua trajetória de 35 anos de escrita
Como você sintetiza "Antologia Pessoal"?
Eric - É a reunião de contos escritos entre 1973 e 2008. Está lá o primeiro conto que escrevi, e estão dois até agora inéditos. É o que selecionei da minha trajetória de 35 anos de escrita, de contos que estavam espalhados em seis livros publicados no Brasil, na Argentina e no México... Em resumo: para alguém que nunca leu nenhum livro meu, essa antologia traz o que eu gostaria de dizer.

Ficou surpreso com a indicação?
Eric - De certa forma, sim. Nunca espero ser indicado, nunca penso no assunto. Aliás, o Jabuti é um prêmio em que o autor não se inscreve, isso é feito pelo editor. Não estava nem pensando nisso.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Eric - Na verdade, não estou preocupado com isso, não crio expectativas. Se ganhar, ótimo. Se não ganhar, nada muda. Estou é preocupado com terminar meu livro novo, que devo entregar à Record no começo de 2010.

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LYA LUFT


Coletânea de contos feitos por Lya Luft (foto) marca o retorno da autora ao gênero da ficção
Como você sintetiza "O Silêncio dos Amantes"?
Lya - É como toda a minha ficção, meu verdadeiro território, embora eu também escreva ensaio, cronica, poesia e infantil. Meus "Amantes" falam do drama existencial na sua crueza, dor e também magia. Só lendo mesmo...

Ficou surpresa com a indicação?
Lya - Não sou uma autora muito premiada, de modo que nunca pensei ser indicada. Acho que, sim, foi uma surpresa. Eu nao fazia idéia de nada, até ver na imprensa que eu estava entre os indicados... entao fiquei surpresa,sim.

Acha que suas chances de vencer são grandes?
Lya - Não faço idéia, sinceramente. Muita gente boa concorrendo...

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SERGIO DE ALMEIDA BRUNI

Sergio Bruni diz que seu livro busca transparecer toda a magia da Bahia
Como você sintetiza "Vatapaenses Vasos Comunicantes"?
Sergio - Uma síntese da minha obra poderia ser a tentativa de, através de abaianantes crônicas, engravidar nossos sonhos apresentando dez escritos que buscam passar um pouco da magia das gentes, da natureza, do espírito e do ecumenismo religioso que conformam aquele espaço que atende pelo aromático nome de Bahia de Todos os Santos. Começa com a Crucifixação do Pau-Brasil e vai aspergindo gotas de cores, em suas malagueteantes páginas, chegando enluaradamente a Pierre Verger, o bruxo franco-baiano-mundano...

Ficou surpreso com a indicação?
Sergio - Fiquei surpreso, mas com a humildade que Deus me deu, o aspecto mais apetitoso do livro foi sua integral doação para a Pastoral do Menor, da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro.

Acha que suas chances de vencer são grandes?

Sergio - Quanto às chances de vencer, creio que todos os selecionados têm. Espero que o melhor ganhe. Para mim, só de estar entre os 10 escolhidos, minhas escrevinhações estão em festa!

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