domingo, 20 de setembro de 2009

Nova obra de J. M. Coetzee tem personagens brasileiros


Uma família brasileira constitui um dos núcleos narrativos de "Summertime", o novo romance de J. M. Coetzee, Prêmio Nobel de 2003 e um dos mais importantes escritores em atividade. O livro foi lançado neste mês no Reino Unido - e ganhará em 2010 edição brasileira, pela Companhia das Letras.

Nos Estados Unidos, onde só será publicado em dezembro, "Summertime" foi destaque na edição deste mês da revista "Harpers", que reproduziu um trecho da obra - justamente o que traz a história das personagens Adriana Teixeira Nascimento e suas duas filhas, Joana e Maria Regina.

A obra é o terceiro tomo de uma trilogia com as memórias de um duplo do escritor, chamado John Coetzee. Os volumes anteriores foram "Infância" (1997) e "Juventude" (2002). Quando começa o novo livro, porém, o personagem Coetzee está morto, e o que se lê são extratos de uma obra que ele deixou sem terminar, narrando o seu retorno à casa do pai, nos anos 70, na África do Sul.

A elaboração narrativa do livro se torna ainda mais complexa por incluir, em meio aos excertos da obra inacabada, uma série de entrevistas que um biógrafo do escritor, Mr. Vincent, faz décadas depois com mulheres que conviveram com o personagem Coetzee e foram amadas por ele.

Uma dessas mulheres é a bailarina Adriana, que deixou o Brasil na década de 70 com o marido e as filhas, por causa do golpe militar, mudou-se para Luanda (Angola) e, mais tarde, refugiou-se na Cidade do Cabo (África do Sul), onde conheceu Coetzee, então jovem professor de inglês.

Na entrevista a Mr. Vincent, Adriana conta de seu exílio e descreve a sua suspeita de que o professor estaria tentando seduzir a filha mais jovem, Maria Regina. Por fim, revela que Coetzee, de fato, desejava não a filha, mas ela mesma, Adriana, que decidiu rejeitá-lo, porque ele parecia um homem "desencarnado" e não especialmente destinado à vida conjugal.

Bastante vigoroso, o "capítulo brasileiro" do livro é ao mesmo tempo a história política de um exílio e a narrativa melancólica de um amor frustrado. Cita São Paulo, o golpe de 1964 e fala da prisão do marido de Adriana por "militares", uma das palavras usadas em português na obra, além de "caminhonete", "mamãe" e "brevidades" - os tradicionais biscoitos que Coetzee talvez tenha saboreado no país quando esteve na Flip (Festa Literária de Paraty), em 2007.

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