domingo, 13 de setembro de 2009

Políticos viram "imortais" com autobiografia e livro técnico



Laryssa Borges (Portal Terra)


O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que, mesmo sem nunca ter publicado um livro, foi confirmado no último mês como o novo imortal da Academia Alagoana de Letras, irá engrossar uma vasta lista em que senadores, ministros de Estado e ex-governadores que são eleitos referências literárias e exemplos de divulgação e cultivo da Língua Portuguesa publicando suas autobiografias, livros técnicos e até homenagens a colegas e figuras políticas. A predileção por romances ou poesias, gêneros adotados pelos imortais das 27 academias regionais de Letras e pela Academia Brasileira de Letras (ABL), não é praxe entre os políticos acadêmicos.

Mais de 57% das Academias de Letras - presentes nos 26 Estados, no Distrito Federal e na ABL - contém políticos em seus quadros. Decano da ABL, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), integra também o rol de imortais da Academia Maranhense de Letras, Estado onde fez carreira política, e do Distrito Federal, onde mora há mais de 20 anos. Em seu último romance, A Duquesa Vale uma Missa, o senador conta a história do fascínio provocado pelo quadro que retrata a Duquesa de Villars, amante do rei Henrique IV, com os seios à mostra, apalpando o seio de sua irmã durante o banho. Em outras obras, Sarney narra a vida de uma mulher "que traz nos olhos verdes prazer e traição" ou ainda detalhes de sua infância e "a descoberta do amor".

Alvo recente de denúncias de favorecimento de parentes e envolvimento com os chamados atos secretos, Sarney é o integrante mais antigo da atual composição da ABL, entidade que não quis se pronunciar sobre a crise institucional por que passa o Senado. Também no Senado Federal, são imortais os senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Tião Viana (PT-AC).

Acadêmico da ABL e da Academia Pernambucana de Letras, Maciel tem em seu currículo mais de 50 publicações - a maioria essencialmente técnica como Educação e Liberalismo, Participação do Congresso na Política Externa e O Poder Legislativo e os Partidos Políticos do Brasil. Integrante da Academia Acreana de Letras desde 2006, o petista Tião Viana, por sua vez, tem no repertório o livro Heróis que Salvam, que se propõe a ser um retrato de 19 médicos que trabalham e já trabalharam no Acre. Viana é acriano e médico.

Para ser escolhido imortal da Academia Brasileira de Letras, o candidato precisa ter publicado "obras de reconhecido mérito" ou ser autor de "livro de valor literário". Nas academias regionais, no entanto, os critérios de admissão de acadêmicos não estão explícitos. Algumas dessas entidades sequer têm sede própria.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2007 foi à ABL para as comemorações dos 120 anos da entidade, tem no primeiro escalão de seu governo o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, como imortal da Academia Mineira de Letras. Em sua biografia disponível no endereço eletrônico do ministério, Patrus resume sua experiência acadêmica a "capítulos de livros e trabalhos acadêmicos, além de artigos publicados semanalmente em diversos jornais brasileiros".

Em todas as Academias de Letras, não há referências a qualquer preferência pela ficha limpa dos imortais, o que abre espaço para que a lista de acadêmicos garanta a presença de um político, segundo a Polícia Federal, envolvido na Operação Navalha, e até de um ex-governador réu em um processo de assassinato.

Com repertório técnico sobre "estratégias de desenvolvimento" para o Nordeste e a Amazônia, com destaque para teses sobre a transposição de águas do Rio São Francisco, o ex-governador João Alves Filho é imortal da Academia Sergipana de Letras e, afirma a Polícia Federal, responsável por favorecimento à construtora Gautama, empreiteira que, segundo investigação da Operação Navalha, recebia repasses de dinheiro público mas não concluía as obras contratadas. Alves Filho nega as acusações.

Também na lista de políticos imortais está o ex-governador da Paraíba e ex-deputado federal Ronaldo Cunha Lima. Autor de diversos poemas, entre eles Sonhos e Caminhos, Cunha Lima, integrante da Academia Paraibana de Letras, descreve em um verso que "quando criança, vivi sonhos bisonhos; fiquei adulto e descobri caminhos". No poema Conversando com o meu pai, o político relata um diálogo com o espírito de seu pai e resume um dos conselhos recebidos: "Conduza-se na vida com altivez, fazendo da probidade, da honradez, para você o seu forte brasão". Cunha Lima é réu confesso em um processo de tentativa de assassinato de um adversário político.

Entre os imortais cearenses, o ex-governador Lúcio Alcântara, como então presidente do Conselho Editorial do Senado, é responsável pela obra Dados Biográficos dos Senadores do Ceará, um retrato dos parlamentares do Estado de 1826 a 1998 impresso pela Editora do Senado Federal, e Eleições e Partidos Políticos, resumido pelo Senado como "um conjunto de referências bibliográficas sobre os temas". As duas publicações engrossam a lavra de obras de caráter pessoal ou de auto-propaganda política do ex-governador. Alcântara escreveu livros como Ação Parlamentar 1º Semestre e Lúcio Alcântara, um executivo no Parlamento.

O deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), também representante da Academia Cearense de Letras, aparece como autor de inúmeras obras sobre temas ligados ao Nordeste e ao Ceará, mas a maioria esmagadora delas não passa de um compilado de discursos feitos quando era deputado ou senador. No rol de livros do parlamentar estão Temas Nacionais e Problemas Cearenses, uma coletânea de sete volumes; discursos sobre Nelson Mandela e Ayrton Senna e até entrevistas que Benevides concedeu para televisões e jornais.

Ao contrário dos demais colegas, que retratam sua vida política em suas obras, o representante político da Academia de Letras do Estado de São Paulo, Gabriel Chalita, prefere temas mais palatáveis à população, como dicas de amor ou "lições de solidariedade" oferecidas pela mulher de seu chefe. Ex-secretário da Juventude, Esporte e Lazer do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita é autor de Amor, resumido como "um presente para quem está apaixonada, para quem já sofreu de amor e para quem simplesmente ainda não teve coragem de se entregar", Pegagogia do Amor, sobre como falar com as crianças sobre companheirismo, amizade e amor, e Seis lições de solidariedade com Lu Alckmin, histórias da vida e da obra social da ex-primeira-dama paulista.

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Pequeno Comentário: Sarney, Collor, e toda essa turma em Academias de Letras é um escândalo! Impeachment neles! Já tem auto-ajuda, livro técnico e discurso político como credencial pra ser "imortal". Daqui a pouco vale até livro de receitas! E nós temos que engolir...

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