sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Relançamento valoriza a loucura lúcida de Mario Quintana


A poesia de Mario Quintana (1906-1994) sempre representou um mistério para os especialistas - apesar de complexa, sua obra exibe uma simplicidade estética que a torna muito popular. Com a disposição de elucidar (ou, ao menos, apontar caminhos) esse enigma, a coleção dos "Cadernos de Literatura Brasileira" ganha uma nova edição, a 25ª de sua história, dedicada ao poeta que gostava de espalhar relatos de sua vida ao longo dos textos, que tanto retratavam seu mundo interior como investigavam sua própria trajetória.

"A simples existência dessa lírica - que concilia (e por isso desconcerta) a retomada da tradição do soneto e a invenção de gêneros próprios com igual excelência - já seria razão suficiente para incluir o escritor gaúcho no repertório dos Cadernos", anuncia o texto de apresentação do volume (156 páginas, R$ 60). Como de hábito, a edição vem recheada de depoimentos de pessoas que conviveram com Quintana, além de manuscritos e inéditos e o ensaio fotográfico de Edu Simões, que busca retratar os contrastes entre Alegrete, a cidade do poeta, e Porto Alegre, a capital que o abrigou até a morte.

Autor de uma obra heterogênea, mas marcada por uma precisa unidade, Quintana tornou-se quase um desconhecido para as novas gerações de leitores, uma vez que seus livros acabaram esgotados. A falha só começou a ser reparada em 2006, quando a editora Globo iniciou a reedição de seus livros por conta do centenário de nascimento. Uma boa oportunidade para se observar a poesia de Quintana, marcada por um romantismo tardio e um simbolismo que faz a ponte para a modernidade.

É sobre esse tema que se debruça o jornalista e escritor Antonio Hohlfeldt em seu ensaio: "Entre a memorialística cidadezinha interiorana e antiga, duplamente distante no tempo e no espaço, e a contraditória e agressiva cidade atual de novas formas arquitetônicas, Mario Quintana reconstrói e valoriza os espaços livres que a real Porto Alegre lhe permitiu e assim idealiza uma cidade utópica."

As frases cunhadas por Quintana, no entanto, que o tornaram famoso e querido, ocupam um espaço especial no volume, que relembra belas tiradas como "a diferença entre um poeta e um louco é que o poeta sabe que é louco... Porque a poesia é uma loucura lúcida".


Fonte:
Agência Estado

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