sábado, 31 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Saramago chama Deus de "Filho da Puta" em Caim - Leia o trecho do livro
"Feliz vai também caim, já a sonhar com um almoço no campo, entre verduras, fugidios carreirinhos de água e passarinhos a sinfonizar nas ramagens. À mão direita do caminho, além, vê-se uma fila de árvores de bom porte que promete a melhor das sombras e das sestas. Para lá tocou caim o jumento. O sítio parecia ter sido inventado de propósito para refrigério de viajantes fatigados e respectivas bestas de carga. Paralela às árvores havia uma fileira de arbustos tapando o carreiro estreito que subia em direcção ao teso da colina. Aliviado do peso dos alforges, o jumento tinha-se entregado às delícias da erva fresca e de alguma rústica flor tresmalhada, sabores estes que jamais lhe tinham passado pela goela. Caim escolheu tranquilamente a ementa e ali mesmo comeu, sentado no chão, rodeado de inocentes pássaros que debicavam as migalhas, enquanto as recordações dos bons momentos vividos nos braços de lilith voltavam a aquecer-lhe o sangue. Já as pálpebras tinham começado a pesar-lhe quando uma voz juvenil, de rapaz, o fez sobressaltar, Ó pai, chamou o moço, e logo uma outra voz, de adulto de certa idade, perguntou, Que queres tu, isaac, Levamos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o sacrifício, e o pai respondeu, O senhor há-de prover, o senhor há-de encontrar a vítima para o sacrifício. E continuaram a subir a encosta. Ora, enquanto sobem e não sobem, convém saber como isto começou para comprovar uma vez mais que o senhor não é pessoa em quem se possa confiar.
Há uns três dias, não mais tarde, tinha ele dito a abraão, pai do rapazito que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que signifi ca que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia da viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes.
Chegando assim ao lugar de que o senhor lhe tinha falado, abraão construiu um altar e acomodou a lenha por cima dele. Depois atou o filho e colocou-o no altar, deitado sobre a lenha. Acto contínuo, empunhou a faca para sacrificar o pobre rapaz e já se dispunha a cortar-lhe a garganta quando sentiu que alguém lhe segurava o braço, ao mesmo tempo que uma voz gritava, Que vai você fazer, velho malvado, matar o seu próprio filho, queimá-lo, é outra vez a mesma história, começa-se por um cordeiro e acaba-se por assassinar aquele a quem mais se deveria amar, Foi o senhor que o ordenou, foi o senhor que o ordenou, debatia-se abraão, Cale-se, ou quem o mata aqui sou eu, desate já o rapaz, ajoelhe e peça-lhe perdão, Quem é você, Sou caim, sou o anjo que salvou a vida a isaac. Não, não era certo, caim não é nenhum anjo, anjo é este que acabou de pousar com um grande ruído de asas e que começou a declamar como um actor que tivesse ouvido finalmente a sua deixa, Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças nenhum mal, pois já vejo que és obediente ao senhor, disposto, por amor dele, a não poupar nem sequer o teu filho único, Chegas tarde, disse caim, se isaac não está morto foi porque eu o impedi.
O anjo fez cara de contrição, Sinto muito ter chegado atrasado, mas a culpa não foi minha, quando vinha para cá surgiu-me um problema mecânico na asa direita, não sincronizava com a esquerda, o resultado foram contínuas mudanças de rumo que me desorientavam, na verdade vi-me em papos-de-aranha para chegar aqui, ainda por cima não me tinham explicado bem qual destes montes era o lugar do sacrifício, se cá cheguei foi por um milagre do senhor, Tarde, disse caim, Vale mais tarde que nunca, respondeu o anjo com prosápia, como se tivesse acabado de enunciar uma verdade primeira, Enganas-te, nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde, respondeu-lhe caim. O anjo resmungou, Mais um racionalista, e, como ainda não tinha terminado a missão de que havia sido encarregado, despejou o resto do recado, Eis o que mandou dizer o senhor, Já que foste capaz de fazer isto e não poupaste o teu próprio filho, juro pelo meu bom nome que te hei-de abençoar e hei-de dar-te uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu ou como as areias da praia e eles hão-de tomar posse das cidades dos seus inimigos, e mais, através dos teus descendentes se hão-de sentir abençoados todos os povos do mundo, porque tu obedeceste à minha ordem, palavra do senhor. Estas, para quem não o saiba ou finja ignorá-lo, são as contabilidades duplas do senhor, disse caim, onde uma ganhou, a outra não perdeu, fora isso não compreendo como irão ser abençoados todos os povos do mundo só porque abraão obedeceu a uma ordem estúpida, A isso chamamos nós no céu obediência devida, disse o anjo.
Coxeando da asa direita, com um mau sabor de boca pelo fracasso da sua missão, a celestial criatura foi-se embora, abraão e o filho também já lá vão a caminho do lugar onde os esperam os criados, e agora, enquanto caim ajeita os alforges no lombo do jumento, imaginemos um diálogo entre o frustrado verdugo e a vítima salva in extremis. Perguntou isaac, Pai, que mal te fiz eu para teres querido matar-me, a mim que sou o teu único filho, Mal não me fizeste, isaac, Então por que quiseste cortar-me a garganta como se eu fosse um borrego, perguntou"
sábado, 24 de outubro de 2009
O concreto já rachou?
O poeta Alexei Bueno, em entrevista a Álvaro Alves de Faria, também poeta, fez a seguinte declaração:
"No Concretismo tivemos o fim do ciclo histórico do verso, o ideograma, o plano-piloto, e outras sensaborias igualmente risíveis. Da mesma maneira que o Parnasianismo, na nossa belle-époque positivista e laica, escamoteava com os seus versos de salão a miséria trágica da maior parte desse país de papudos, impaludados e analfabetos - até que Euclides da Cunha genialmente lhes esfregasse a verdade na cara - nos anos da ditadura militar o Concretismo se consolidou como o último estado oficial da poesia brasileira, amparado nos pusilânimes universitários e nas mediocridades inumeráveis."
O depoimento, completo, pode ser lido nas páginas do livro Pastores de Virgílio, que traz depoimentos de outros poetas (como Fabrício Carpinejar, por exemplo), editado pela Escrituras, já disponível nas livrarias.
Lobo Antunes apresenta "Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?"
"Criar - ou tentar criar - é um ofício de trevas", defendeu hoje, António Lobo Antunes, no lançamento do seu novo livro, "Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?". O escritor apresentou o livro esta quinta-feira no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz em Lisboa.
Depois de afirmar que "é muito difícil falar de um livro" e de citar o seu falecido amigo José Cardoso Pires, que dizia que nenhum escritor gostava de falar sobre o que escrevera, Lobo Antunes tentou, embora admitindo: "Há ali uma parte que me escapa".
Falou de um verso de Ovídio que sempre o obcecou e continua a obcecar - "Lentos, lentos ide, ó cavalos da noite" - do seu quadro preferido, "As Meninas" de Velásquez, e de uma frase de Einstein citada pelo pianista Alfred Brendel: "É preciso fazer as coisas o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso".
Observou, depois, que "a arte é a nossa única hipótese de vitória sobre a morte".
"Daí o medo que existe da arte - é que ela contém em si uma outra forma de olhar para as coisas, que nós recusamos. Então, é muito tranquilizador as telenovelas, aquilo a que chamam 'literatura light', que não sei o que é... todas essas formas de expressão de sentimentos que nos impedem, de facto, de entrar no íntimo de nós", referiu.
Editado pela Dom Quixote, do grupo Leya, "Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?" foi apresentado pela vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo Cordeiro, amiga de Lobo Antunes, com sala cheia.
A Professora catedrática começou por falar de toda a obra do escritor, para atribuir o seu sucesso a "um paradoxo de enunciação relativamente simples: os romances de Lobo Antunes fascinam apesar de nos incomodarem e, em larga medida, fascinam porque nos incomodam".
Considerando que "estes cavalos saem da mesma matriz que alimentou os livros precedentes", Cristina Robalo Cordeiro sustentou que, "em modo sempre obsessivo, são três as grandes oposições que marcam o texto, como motivos estruturantes e configuradores".
"A primeira - enumerou - incide no próprio tecido textual que, embora desenhado pelas forças da polifonia e do caos, da dissecação de figuras disfóricas e da obstinação de memórias labirínticas, tão nossas conhecidas, controla o fluxo verbal em rigorosa ordenação compositiva".
A segunda oposição - prosseguiu - "desorienta a leitura e instaura uma 'estética do desprazer', provocando no leitor uma oscilação entre o desconforto e a fruição".
Por fim, a terceira oposição - aquela que a académica classificou como "a mais surpreendente" - "inscreve-se de imediato no título: porquê enunciar com uma frase tão lírica o universo sórdido da triste realidade humana em que a narrativa nos fará entrar?".
A terminar a sua intervenção, António Lobo Antunes anunciou a intenção de "continuar a viver com a orgulhosa humildade" com que sempre tem vivido e concluiu com uma frase de Newton: "Não sei o que o futuro pensará de mim. Sempre me imaginei uma criança a brincar na praia, que às vezes encontra um seixo mais polido, uma conchinha mais bonita, enquanto o grande oceano da verdade permanece intacto à minha frente".
Lusa
Conto de Machado de Assis vai virar especial na Record
Formato voltará ao ar com "Uns Braços", que deve ir ao ar como especial de fim de ano
*Agência Estado
A Record vai retomar o projeto 200 Anos de Literatura, que adapta para a TV contos de grandes escritores. O formato voltará ao ar com "Uns Braços", conto de Machado de Assis, que deve ir ao ar como especial de fim de ano, em dezembro.
Adaptado pela produtora Contém Conteúdo - que em 2008 fez a versão televisiva de "Os Óculos de Pedro Antão", também de Machado -, a atração será gravada em novembro. Com base em incentivo fiscal, a produção deve ser a primeira de mais quatro obras que a emissora ainda pretende adaptar. “Estamos dando o último tratamento no roteiro e devemos ter umas três semanas de gravações”, conta Adolfo Rosenthal, roteirista e diretor do projeto.
Romance que envolve a paixão de um adolescente por uma mulher mais velha e casada, "Uns Braços" não trará estrelas da TV no elenco. A atriz de teatro Ana Peta viverá dona Severina, grande amor do jovem Inácio. A trama ainda terá um narrador oculto. “Acho um erro personificar o narrador, como foi feito em "Capitu", da Globo. O cara que deveria contar a história se transforma em um foco independente da trama. Confunde o espectador.”
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
“Caim” é livro mais falado embora não tenha sido lido, ironiza Saramago
José Saramago ironizou, esta quarta-feira, que “Caim” é o livro mais falado embora não tenha sido lido. O Prémio Nobel da Literatura acusou ainda a Igreja Católica de tentar impor uma leitura única da Bíblia.
António Pinto Rodrigues, da agência TSF resume as declarações de José Saramago:
A propósito do seu último livro, José Saramago afirmou, no fim-de-semana, que a Bíblia é um «manual de maus costumes» e um «catálogo de crueldades», o que suscitou inúmeras críticas.
Perante as reacções, José Saramago acusou, esta quarta-feira, numa conferência de imprensa em Lisboa, a Igreja Católica de tentar impedir leituras diversas sobre a Bíblia, tentando impor uma leitura única.
Para o autor de “Caim”, o Deus da Bíblia não é de fiar, é vingativo, rancoroso e má pessoa.
O escritor sublinhou ainda que o que disse da Bíblia no fim-de-semana é aquilo que toda a gente sabe, ou seja, que há «carnificina», incesto e violência de todo o género.
O Prémio Nobel da Literatura ironizou ainda que até parece que fez uma revelação insólita ou disse uma espécie de calúnia ao afirmar que a Bíblia é um «manual de maus costumes» e um «catálogo de crueldades».
Saramago ironizou também que “Caim” é o livro mais falado embora não tenha sido lido, tendo suscitado «incompreensões» e «ódios velhos».
«Desperto muitos anti-corpos», acrescentou.
O escritor frisou ainda que nunca andou atrás de polémica, mas que não pode rejeitar convicções próprias. Saramago disse também que até parece que «é feio» fazer publicidade de livros em Portugal.
O poeta Manuel Alegre considera que Portugal não perdoa «grandeza»
O poeta Manuel Alegre, em declarações à TSF, defendeu o Nobel José Saramago, lamentando que o país não perdoe «a grandeza» e aqueles que se distinguem. Alegre declarou ainda que Saramago continua a ser «um grande escritor».
Manuel Alegre sublinhou em declarações à TSF que José Saramago é um grande escritor e tem o direito de expressar as suas opiniõesManuel Alegre considera que Portugal é um país que não perdoa a grandeza e aqueles que se distinguem
Está longe de terminar a polémica que envolve o escritor José Saramago e as suas declarações sobre a Bíblia. Esta tarde, em Lisboa, o Nobel reafirmou tudo o que disse, acrescentando que «o Deus da Bíblia não é de fiar, já que é vingativo e má pessoa».
Contacto esta noite pela TSF, o poeta Manuel Alegre tomou o partido de José Saramago, afirmando que o Nobel continua a ser um grande escritor.
«Isto é uma história portuguesa cheia de preconceitos e fantasmas. Em primeiro lugar é preciso ler o livro de José Saramago. Ele é um grande escritor, mas parece que não se perdoa a Saramago, ser um grande escritor da língua portuguesa, ser um Prémio Nobel e não ser um homem religioso», afirmou.
«Ele escreveu um livro, mas não vejo ninguém discutir o livro. Só vejo discutir as opiniões que com todo o direito ele expressou sobre a Bíblia», considerou o poeta.
Contra preconceitos, Manuel Alegre sublinhou ainda que José Saramago não deve ser criticado por dizer o que pensa e lamentou que Portugal não perdoe a grandeza e aqueles que se distinguem.
«As pessoas podem não estar de acordo com aquilo que ele diz, mas como é que se pode pôr em causa a seriedade de um homem que diz aquilo que pensa», questionou Alegre, que considerou «isto um preconceito» e «resquícios de dogmatismo».
«Não lhe podem negar o direito de escrever um livro e também não se pode crucificar o Saramago por exprimir as suas opiniões e menos ainda por ser um grande escritor, e menos ainda por ser um Prémio Nobel», declarou.
«E ao Saramago não se perdoa ser um português que se atreveu a ganhar o Prémio Nobel da Literatura e que diz que não acredita em Deus», concluiu
Autores chineses acusam Google de violar direitos autorais
REUTERS
Um grupo que representa escritores da China acusa o Google de violar direitos autorais com a sua biblioteca digital, algo que o serviço de buscas nega, afirmando respeitar os tratados internacionais.
Muitos escritores e editoras já moveram ações contra o Google por digitalizar suas obras e supostamente violar direitos autorais. O Google já digitalizou 10 milhões de livros.
Num caso que tem ampla repercussão na imprensa local, a Sociedade dos Direitos Autorais de Obras Escritas da China acredita que o Google tenha scaneado milhares de livros, de mais de 500 autores chineses, para incluí-los na sua biblioteca digital, sem que obter permissão ou oferecer compensação, segundo Chen Qirong, porta-voz da entidade.
"Seja você uma pequena companhia ou uma grande companhia, é preciso respeitar os direitos dos autores", disse Chen.
O Google alega que recebeu autorização de mais de 50 editoras chinesas para digitalizar mais de 30 mil livros, que podem ser parcialmente acessados pela Internet. "Acreditamos que a busca de livros cumpra a lei internacional de copyright", disse Courtyney Hohne, assessora de imprensa do Google.
A biblioteca digital do Google é elogiada por alguns por facilitar o acesso aos livros, mas recebe críticas por questões de formação de cartéis, direitos autorais e privacidade.
O Google tem enfrentado inúmeros problemas na China, um mercado onde ainda está atrás do gigante local de buscas Baidu. Em junho, uma autoridade chinesa acusou o Google de difundir conteúdo obsceno, e na véspera disso vários serviços do Google, inclusive o mecanismo de buscas e o Gmail, ficaram inacessíveis a muitos usuários do país.
A pirataria de produtos intelectuais é disseminada no país, onde a mídia costuma sofrer censura na divulgação de conteúdos eróticos ou políticos, entre outros.
UFPR divulga relação de candidatos por vaga do vestibular 2010
Veja quais são os dez cursos mais concorridos do vestibular 2010 da UFPR (Universidade Federal do Paraná), desconsiderando treineiros e cursos oferecidos pela Polícia Militar), divulgados nesta quarta-feira (21):
Medicina, com 34,23 candidatos/vaga;
publicidade e propaganda, com 22,33 candidatos/vaga;
biomedicina, com 21,17 candidatos/vaga;
direito (M), com 19,70 candidatos/vaga;
arquitetura e urbanismo, com 18,57 candidatos/vaga;
Design Gráfico, com 17,48 candidatos/vaga;
jornalismo, com 17,13 candidatos/vaga;
direito (N), com 16,45 candidatos/vaga;
psicologia, com 14,43 candidatos/vaga;
medicina veterinária, com 13,46 candidatos/vaga.
Veja a concorrência de todos os cursos
A primeira fase da UFPR ocorre no próximo dia 29 de novembro. A segunda será nos dias 12 e 13 de dezembro. As provas serão realizadas em Curitiba e em Palotina. O resultado final será divulgado até 22 de janeiro de 2010. Os candidatos disputam 5.334 vagas, distribuídas em 91 diferentes opções de cursos de graduação. O vestibular recebeu 43.796 inscrições.
Cotas
Do 43.796 candidatos inscritos na atual edição do vestibular da UFPR, 9.220 concorrem às cotas sociais, que reservam 20% das vagas para candidatos que sempre estudaram em escola pública. Outros 1.995 disputam as cotas raciais, que destinam o mesmo percentual a candidatos negros.
Concorrem a vagas extras - uma em cada opção de curso - 82 candidatos portadores de deficiência.
Entre os inscritos há ainda 1.829 "treineiros", que não concorrem efetivamente às vagas.
Enem
A principal mudança na edição deste ano do vestibular da UFPR diz respeito à utilização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009: a nota no exame na parte objetiva representará 10% do valor da nota final no processo seletivo.
O reitor Zaki Akel Sobrinho revelou que a universidade solicitou ao MEC (Ministério da Educação) que o resultado das provas objetivas do Enem seja divulgado até a primeira quinzena de janeiro. O pedido ainda não obteve resposta. Cerca de 34,2 mil estudantes informaram seus números do Enem no ato da inscrição do vestibular.
Perfil dos candidatos
Do total de inscritos a maioria (84,3%) tem até 23 anos de idade, é solteira (93,4%), nasceu no Paraná (73,7%) e mora em Curitiba ou região metropolitana (70,4%). Maior parte dos vestibulandos é mulher (53,7%).
Quanto aos pais dos candidatos inscritos, apenas pouco mais de um terço tem curso superior completo (34,9% no caso dos pais e 36,7% entre as mães). A renda familiar total é inferior a R$ 3 mil nas residências de 62% dos candidatos.
A maioria (52,1%) nunca fez cursinho pré-vestibular. Quanto à atividade remunerada, 30,3% afirmaram trabalhar (17,7% em tempo integral). Quanto aos estudos, 35,7% cursaram os níveis fundamental e médio em escola pública e 30% cursaram a rede parcialmente.
Veja outras informações no site da UFPR.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Conto Brasileiro: Idílio (Dalton Trevisan)
Idílio
Dobrando a esquina, na primeira sombra de árvore os dois se beijavam. Cecília tinha a ponta dos cabelos ainda molhados. Enfermeira, lidava no hospital até às seis horas. Banho de chuveiro, jantava e corria ao seu encontro. Às vezes trescalava a toalha úmida. Paulo a beijava com tanta aflição, por pouco engoliu o brinco de pérola falsa. Na rua até às dez horas, fechado o portão.
Ruazinha escura, encostados ao muro, beijavam-se. Ele a ensinou: boca pequena e
dócil, a descerrar os dentes, a titilar a língua. Um dentinho saliente e, se o beijo de muito amor, saía gota de sangue.
De uma a outra sombra (qual o nome daquela árvore tão negra?), em cada uma se
beijavam. Não se davam as mãos entre duas árvores, nunca ela lhe pegou no braço. Sem rumo, cruzavam apressados as ruas iluminadas.
Viam-se uma vez por semana, dia de folga do hospital. Em sandálias o dia inteiro, assistia os doentes e, das sete às dez da noite, acompanhava-o de salto alto. O moço esperava na esquina: ligeira, apesar de gorda, nos últimos passos corria ofegante.
Quando chovia, ela fechava a sombrinha, conchegados sob o guarda-chuva de Paulo. Rodavam entre as sombras, sem poder encostar-se às paredes. Mal seguro, o guarda-chuva os descobria a cada beijo.
Encontros noturnos e, seis meses depois, ao vê-la uma tarde na rua, achou-a mais velha e mais gorda. Espantou-se dos dedos lidos, não tomava sol, fechada no hospital. No branco rosto leve mancha de buço. De noite, à sombra da árvore, voltou a ser querida, no dentinho um vespeiro de beijos trabalhava o mel.
Bastante perigo nas ruas. Acendia-se a janela, uma bruxa de papelotes bradava se não tinham vergonha. Velho, não acendia a luz, espiando bem quieto. Os nichos ao longo dos muros disputados por outros casais. Hora do cinema, passava gente.
No meio do quarteirão, cada um vigiando uma das esquinas. Passos ao longe,
separavam-se. Ela arrumava os cabelos. Paulo enfiava a mão no bolso. Os outros chegavam-se devagar, olhando muito. Cecilia baixava o rosto. Ele falava — a única vez que falava.
Ah, e os faróis dos carros? Então escondia-lhe o rosto na sombra. Algum espião surgia na esquina, obrigados a sair para outra rua. Impossíveis os bancos de praça, por causa dos vagabundos; além do mais, os malditos guardiões.
O assunto, quando passava alguém, era o céu. "Esta noite não tem estrela" — dizia a moça. Ele olhava o céu aceso de janelas. Assim descobriu a miopia de Cecília. Para ela no céu não mais que a lua.
Certas noites erravam mais de uma hora até o primeiro beijo. Contra o muro a agarrava com tal fúria, que ela gemia e, ao separarem-se, tinha de segurá-la pelo braço, bem tonta. Podia beijar-lhe a boca, o nariz, os olhos, menos a orelha, cócega demais.
Passaram-se meses, um ano quem sabe. Paulo começou a brigar com ela, só dizia não. Cecília chorava e, ao esquecer o lenço, ele não emprestava o seu: devia enxugar as lágrimas na manga do casaquinho. Mais de uma noite inteira sem tocá-la, os dois marchando sem descanso debaixo das árvores.
Aconteceu uma noite.
— Agora tem de casar. Você tem de.
Primeira vez a mão pesou no braço.
— Por favor. Depressa não posso.
— Está melhor?
— Puxa, foi uma dor...
Paulo reparou nas duas sombras. Uma, albatroz selvagem da noite, abrindo asas na glória de arremeter vôo. A outra, gorda e grávida, um bule de chá.
Diário de Anne Frank foi reescrito para "parecer natural", diz estudo
da Folha Ilustrada
A cena toda dura 20 segundos, dos quais apenas sete mostram a menina na janela do número 37 da rua Merwedeplein, em Amsterdã, em 1941, espiando os vizinhos que estavam prestes a se casar. São as únicas imagens em movimento de Anne Frank, um ano antes de ela passar a viver escondida dos nazistas, na Segunda Guerra.
O vídeo está disponível há alguns dias no canal www.youtube.com/annefrank, criado para celebrar os 80 anos que Anne teria hoje se não houvesse morrido em um campo de concentração, em 1945, aos 15.
A efeméride coincidiu com o lançamento do livro "Anne Frank: The Book, the Life, the Afterlife", da escritora americana Francine Prose. A obra lança um novo olhar sobre "O Diário de Anne Frank", texto que a garota escreveu e reescreveu dos 12 aos 15 anos, enquanto viveu com a família e outros judeus nos fundos do prédio em que o pai trabalhava.
O estudo de Prose busca mostrar que as anotações, publicadas pela primeira vez em 1947, após serem consideradas "entediantes" e rejeitadas por editoras, vão além do papel de registro histórico que lhes é concedido. Elas são, diz Prose, de Nova York, por telefone, à Folha, "uma obra de literatura bem trabalhada, com um controle para parecer natural".
A ideia de Prose, crítica literária e presidente da associação de escritores PEN American Center, é que os anos de confinamento fizeram Anne amadurecer como leitora e escritora e, com isso, ganhar "competência técnica, qualidade de romancista e habilidade de transformar pessoas vivas em personagens".
"Foram três anos em que ela não fez quase nada a não ser ler e escrever. Ela devorava romances para garotas, mas também lia Goethe, Shakespeare, [Friedrich] Schiller. Ganhou com isso uma técnica que não podia ter aos 12 anos, quando começou suas anotações."
Sabe-se que Anne reescreveu parte considerável de suas memórias a partir de 1944, após ter ouvido no rádio um membro do governo holandês dizer que diários feitos no período teriam interesse histórico.
De maio até agosto daquele ano, quando oficiais da SS descobriram o esconderijo da família Frank, ela refez uma média de quatro páginas por dia. O livro nunca chegou a sair como Anne imaginou --foi editado, depois que ela morreu, pelo pai, que usou tanto trechos originais quanto os reescritos.
Em 1989, foi publicada a chamada "The Critical Edition", de mais de 700 páginas, com todos os trechos do diário original (destacados no volume como "versão a"), todos os trechos reescritos em páginas soltas (a "versão b") e a edição feita pelo pai, Otto Frank, em 1947 (a chamada "versão c", que é "O Diário de Anne Frank" como ele ficou conhecido).
Sexualidade
A edição de 1989 inclui trechos que Anne havia decidido omitir, como os que tratavam de sua sexualidade. E outros que Otto preferiu deixar de fora, com passagens pouco elogiosas sobre sua mulher e outros moradores do esconderijo.
Em 1995, a chamada "Edição Definitiva" (publicada pela Record em 2003), pegou algo das duas versões e trouxe os diários com 30% mais páginas do que eles tinham em 1947.
Foi a edição de 1989 que Prose usou como base de seu estudo. "Ao comparar os textos originais e os refeitos, vê-se com clareza como ela adicionou informações, rearranjou frases, esclareceu situações."
Prose cita como exemplo o dia em que, em julho de 1942, uma notificação dos nazistas chegou à casa de Otto Frank, pouco antes de eles irem para o esconderijo. "Se você lê a versão original, é pouco clara, porque a própria Anne estava confusa. Ela não entendia direito o que estava acontecendo, era uma menina pequena."
Na segunda versão sobre aquele momento, que é a conhecida, Anne descreve:
"-Papai recebeu uma notificação da SS -sussurrou ela [Margot].- Mamãe foi ver o sr. Van Daan.
Fiquei pasma. Uma notificação: todos sabem o que isso significa. Visões de campos de concentração e celas solitárias passaram por minha mente. Como poderíamos deixar papai ir para um destino assim?
-Claro que ele não vai- declarou Margot."
Ali, diz Prose, Anne "já tinha a técnica, a habilidade de intercalar momentos de reflexão com cenas dramatizadas. É algo incomum para um diário de uma menina de 15 anos".
A autora destaca também, entre as qualidades de Anne Frank, "um poder de observação, um olho para o detalhe, um ouvido para o diálogo, a capacidade de falar sobre um momento específico e sobre pessoas específicas e parecer universal".
Prose diz que, com poucas exceções, "o diário de Anne nunca foi levado a sério como literatura". Lembra a explicação dada por Harold Bloom: "O diário de uma criança, mesmo que ela tenha sido uma escritora tão natural, dificilmente poderia sustentar uma crítica literária. Não se pode escrever sobre "O Diário de Anne Frank" como se Shakespeare, ou Philip Roth, fosse o objeto".
É curioso que o próprio Roth esteja entre os admiradores declarados de Anne Frank. "Ela era algo para alguém de 13. É como assistir a um filme acelerado de um feto ganhando um rosto", ele escreve em "O Diário de uma Ilusão" (1979).
Há 40 anos morria Jack Kerouac, ícone da geração beat e da contracultura
Existem artistas que parecem ser a representação viva das angústias, ideias e sonhos de sua era. E em poucos casos isso é tão verdadeiro quanto com Jack Kerouac, o escritor que definiu a geração beat --o fenômeno cultural que foi o embrião do movimento hippie--, e trouxe as primeiras amostras do que seria a contracultura. O autor faleceu aos 47 anos, em 21 de outubro de 1969, na Flórida, devido a uma hemorragia interna causada por cirrose, resultado do abuso de bebidas alcoólicas durante boa parte de sua vida.
As obras de Kerouac foram fortemente influenciadas pelo jazz e mais adiante pelo budismo. Elas inovaram pela franqueza com a qual lidavam com personagens marginais, desmistificando o sonho norte-americano. O escritor escancarou para um meio literário, ainda careta, um universo de mendigos, artistas, vagabundos, prostitutas, drogados, hippies, alcoólatras e andarilhos. Em sua imensa maioria, seus livros são fortemente autobiográficos e abriram caminho para outros autores polêmicos, como Hunter S. Thompson e Charles Bukowski, além de músicos como Bob Dylan e Jim Morrison.
Kerouac também se tornou conhecido por seu método de redigir, que permitia um fluxo contínuo de ideias em suas jornadas escrevendo às vezes mais de oito horas ininterruptas por dia. O autor chegava ao extremo de usar uma grande série papel colado com fita para não ter de trocar de folha da máquina de escrever, mantendo o fluxo de pensamento.
Surpreendentemente, o autor era tímido, contemplativo e conservador, fortemente influenciado pelo catolicismo dos pais no final da vida. Mais uma prova do caráter contraditório de Kerouac, que fugia de qualquer definição simplista e se dividia entre o conservadorismo e a psicodelia da década de 1960.
A Livraria da Folha selecionou alguns dos principais livros deste que foi um dos escritores que mais profundamente investigou suas angústias pessoais. Um dos grandes marcos da revolução cultural do século 20.
-
"On the Road: O Manuscrito Original"
Grande clássico de Kerouac que o lançou à fama, "On the Road: O Manuscrito Original" é o relato autobiográfico das peregrinações do escritor pelo interior dos Estados Unidos na década de 1950. Kerouac matinha diversas anotações em suas viagens, mas escreveu o livro em apenas três semanas de trabalho frenético em 1951, datilografando a obra inteira em um único parágrafo, com entrelinha simples, em folhas de papel vegetal mais tarde coladas umas às outras, formando um rolo de quase 37 metros de comprimento. Após seis anos e diversas revisões, o livro foi lançado e se tornou um dos mais celebrados e provocativos documentos da história literária contemporânea.
Nesta edição, é apresentada aos leitores brasileiros a versão original, sem revisões, mais crua e sexualmente explícita e com os nomes reais de Kerouac e seus colegas de viagem. "On the Road: O Manuscrito Original" também traz ensaios críticos de estudiosos da obra do autor abordando o universo do livro, a biografia do escritor e a trajetória até a publicação.
-
"Geração Beat"
Diálogos entre amigos que revelam o tom de desilusão de uma era
Esta peça escrita por Kerouac em 1957, ano do lançamento de "On the Road", traz um grupo de amigos e amigas --entre operários e desocupados--, que partilham uma garrafa de vinho e tecem diálogos que deixam transparecer o cotidiano das pessoas que vivem e morrem em uma busca vã pelo sonho norte-americano, à margem da cultura e da sociedade do seu tempo.
As falas de "Geração Beat" possuem um ritmo característico que mostra a influência do jazz. Entre uma discussão existencialista e uma corrida de cavalos, uma iluminação mística e uma bebedeira, surge na peça um microcosmo da contracultura.
-
"Vagabundos Iluminados"
Após o sucesso explosivo e inesperado de "On the Road", Kerouac se aproximou do budismo e o resultado disso foi "Vagabundos Iluminados" ("Dharma Bums"). O livro conta a história do aspirante a escritor Ray Smith, alter ego de Kerouac, em um jornada em busca de verdade e iluminação ao lado de um jovem zen-budista adepto do montanhismo que vive com um mínimo de dinheiro, alheio à sociedade de consumo norte-americana.
Em meio a festas, bebedeiras, garotas, jam sessions, saraus poéticos, orgias zen-budistas e viagens, "Vagabundos Iluminados" traz o estilo turbinado, superadjetivado e livre de Kerouac e exala doses nunca vistas de humor, sabedoria e contagiante gosto pela vida. O livro mostra a ambiguidade dos ideais de Kerouac, examinando como atividades como escalar, andar de bicicleta e por trilhas teve espaço na sua vida urbana repleta de clubes de jazz, saraus de poesia e festas movidas a drogas e álcool. O autor apresenta aqui uma geração beat mais otimista, tranquila, iluminada.
-
"Big Sur"
Muito longe do otimismo de "Vagabundos Iluminados", "Big Sur" mostra a deterioração física e psicológica do autor, incapaz de lidar com seu sucesso e completamente entregue à bebida. Lançada em 1962, a obra foi criada pelo escritor quando ele se retirou três vezes para uma cabana isolada na região de Big Sur, na costa da Califórnia, para se dedicar à escrita. E esta última visita culmina na loucura e paranoia tanto do autor quanto da personagem.
Como outros trabalhos de Kerouac, o livro também é profundamente autobiográfico, mas diferente de diversas obras anteriores, que retratavam viagens e buscas por experiências e conhecimento. "Big Sur" apresenta a estagnação e decadência de Jack Duluoz, alter ego de Kerouac, que se mostra incapaz de se integrar em relacionamentos, com o sucesso literário, com o mito beat criado em torno de si e com a vida suburbana. A publicação revela o que talvez seja a principal característica do escritor: a sua brutal honestidade em escancarar seus medos e suas deficiências e de mostrar como o homem nunca vive à altura do mito.
PRF encontra provas do Enade em caminhonete no Sul do Rio
Segundo a polícia, provas eram transportadas em caixas sem lacre.
MEC nega violação de segurança; Enade será aplicado em 8 de novembro.
Do G1
Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontraram nesta terça-feira (20) em Três Rios, no Sul Fluminense, 52 caixas com provas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). O exame, que vai avaliar 15 áreas de graduação e sete cursos tecnológicos, será aplicado no dia 8 de novembro.
As caixas estavam dentro de uma caminhonete modelo F250, e estavam sendo transportadas de São Paulo para Muriaé, em Minas Gerais, por dois homens.
De acordo com o posto da PRF de Três Rios, o material estava sendo transportado sem lacre de segurança. A nota fiscal não confere com o conteúdo das caixas - a nota diz que seriam folhas de respostas, mas, segundo a polícia, são cadernos de provas de diversas áreas como direito, comunicação e turismo.
A PRF ainda informou que, após contato com o Ministério Público de Petrópolis, a orientação foi fazer o registro em termo, fotografar e catalogar todo o material encontrado para ser averiguado pelo MP junto ao Ministério da Educação.
Ainda de acordo com a PRF, as provas encontradas não foram apreendidas, e serão transportadas para Muriaé assim que forem liberadas pelo MP.
MEC
O Ministério da Educação (MEC) divulgou uma nota, por volta das 19h, na qual contesta parte das informações da Polícia Rodoviária Federal. Segundo a nota, os dois homens que faziam o transporte das provas são funcionários contratados pelo consórcio Consulplan, responsável pela aplicação do Enade. A nota também afirma que havia 32 caixas na caminhonete e não cinco, como havia sido dito anteriormente pela assessoria de imprensa do MEC.
Segundo o MEC, a Consulplan informou que os lacres das caixas foram rompidos pelos policiais, que queriam averiguar o que havia no seu interior. Em seguida, foram até o local outros funcionários do consórcio, que relacraram as caixas.
A assessoria negou que houvesse diferença entre o que consta na nota fiscal e o material transportado. "Nas notas ficais só devem aparecer material gráfico, sem especificar se é cartão de resposta ou prova", afirmou ao G1 Nunzio Briguglio Filho, assessor de imprensa do MEC. Por volta das 20h30, o MEC reforçou que todas as informações sobre esse episódio haviam sido fornecidas pelo consórcio.
"Não houve nenhuma violação de segurança. Os procedimentos todos foram respeitados e a data da prova está mantida", disse.
Leia a íntegra da nota do MEC (versão divulgada por volta das 20h30):
"Com relação à apreensão de material do ENADE realizado pela Polícia Rodoviária Federal na tarde de hoje, no Estado do Rio, o Ministério da Educação foi informado pelo consórcio Consulpan que tratava-se de transporte de provas especiais para pessoas com deficiência, que estavam sendo deslocadas para receberem o empacotamento final. As 32 caixas - quatro com a prova ampliada, todas lacradas e outras 28 caixas de folhas de respostas, também lacradas - foram abertas pelos policiais para confirmação do conteúdo. Tão logo esclarecida a ocorrência, as caixas foram novamente lacradas e dirigidas ao seu destino. O consórcio Consulplan, contratado pelo INEP, para a produção e aplicação da prova, informou ainda que os funcionários que estavam na caminhonete eram funcionários do consórcio, credenciados para este fim.
Assessoria de Comunicação Social
Ministério da Educação"
Leia a íntegra da nota do consórcio Consulplan:
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
O fato ocorrido nessa tarde de 20 de outubro no posto da Polícia Rodoviária Federal de Três Rios (RJ) trata-se de um procedimento de rotina. Um veículo de propriedade da Consulplan (empresa organizadora do ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), onde se encontravam dois funcionários dessa empresa, transportava de São Paulo para a sede da empresa, em Minas, folhas de respostas e duas caixas de provas ampliadas para os alunos com necessidades especiais, do processo seletivo do ENADE 2009. Os cadernos de provas ampliados estavam devidamente acondicionados em caixas, e seguiam junto com diversas outras caixas contendo folhas de respostas que não eram de cunho sigiloso. A Polícia Rodoviária Federal parou o veículo na rodovia BR-116 realizando as rotinas de praxes de fiscalização no interior do veículo. Questionou os funcionários da empresa que declararam o conteúdo e após a verificação de praxe, liberou o veículo para a seqüência da viagem até a sede da organizadora. Nesse procedimento não houve violação do sigilo."
MEC nega que prova do Enem terá duas versões
Da Agência Brasil
O MEC (Ministério da Educação) negou hoje (20) que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) terá duas versões de prova. Em nota, o ministério afirma que não "há qualquer conjectura para tal procedimento" e que as provas já estão sendo impressas desde o último domingo (18).
O Enem será aplicado nos dias 5 e 6 de dezembro. Os estudantes responderão a 180 questões de múltipla escolha distribuídas entre ciências da natureza e ciências humanas, linguagens e códigos, e matemática, além de uma redação.
Leia a nota do MEC na íntegra:
O Ministério da Educação esclarece que a informação veiculada no portal G1, às 15h58 de hoje, de que o MEC estuda aplicar duas versões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos dias 5 e 6 de dezembro próximos, é totalmente improcedente. Não houve a reunião anunciada. Nem há qualquer conjectura para tal procedimento. As provas já estão sendo impressas na gráfica, acompanhadas por funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), desde domingo passado.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Kindle chega ao Brasil custando 34 best-sellers
Kindle chega ao Brasil custando 34 best-sellers
*Folha Online
O dinheiro para comprar um Kindle, o leitor de livros digitais da Amazon que começa a ser enviado ao Brasil nesta segunda-feira (19), poderia ser usado para adquirir 34 dos livros de papel mais vendidos no país.
O preço final do Kindle para o consumidor brasileiro é de R$ 963,32 --sem contabilizar a remessa do e-reader.
Para comprar todos os 20 livros da lista da Folha de dez mais vendidos de ficção, junto com os dez mais vendidos de não ficção, o leitor desembolsaria quase metade: R$ 569,00.
Assim, considerando uma média de R$ 28,45 por best-seller, com o dinheiro do Kindle daria para comprar todos os 20 mais vendidos e ainda mais quase 14 deles de novo.
A versão internacional do Kindle custa US$ 279. Mas atenção: há também a taxa de importação, de US$ 285,34. Maior que o próprio preço do aparelho, ela só é informada ao comprador no site da Amazon na última hora, antes do clique final para confirmar o pedido.
A taxa é um motivo importante para o leitor eletrônico ficar caro no Brasil, ainda mais em comparação com os livros. Afinal, o artigo 150 da Constituição Federal do país proíbe os impostos para livros.
Assim, o preço total do Kindle fica em US$ 564,34, o que equivale a R$ 963,32 --considerando o valor do dólar de sexta-feira (16), a R$ 1,707.
Repare que o custo em reais é até relativamente baixo, porque o valor atual do dólar, que cai cada vez mais, é o menor dos últimos 12 meses. No pico de valorização da moeda americana, em 8 de dezembro do ano passado, o brinquedinho sairia por R$ 1.410,80 (para dólar a R$ 2,50).
Não foram considerados na comparação os custos de remessa dos produtos. O custo para envio do Kindle pela Amazon fica em US$ 21 (R$ 35,85) para São Paulo, na modalidade Priority Courier, que promete a chegada do produto entre 2 e 6 dias após o envio. Para o Kindle, não há opções para as modalidades de envio mais baratas da Amazon, que chegam a demorar até 32 dias.
No Brasil, mesmo para os livros maiores, como "A Rainha do Castelo de Ar" (688 p.), do escritor Stieg Larsson, ou "Amanhecer" (576 p.), o envio pelo site Submarino costuma ficar em cerca de R$ 2,50 para a mesma cidade.
Livros digitais
Não basta comprar apenas o Kindle. É preciso encomendar os livros digitais para serem lidos no equipamento. O problema, no entanto, é que a maioria dos livros disponíveis na Amazon estão em inglês, pois são direcionados para o mercado internacional em geral, não especificamente para o Brasil.
Ao se pesquisar na loja da Amazon de títulos para o Kindle, não se encontra sequer traduções de "Crepúsculo", por exemplo, o primeiro da saga de Stephenie Meyer.
Há apenas a versão digital do livro em inglês, "Twilight", que fica em US$ 10,84 (R$ 18,50). O valor é pouco mais da metade do preço do impresso em português em lojas brasileiras: R$ 31,90. Mas se o objetivo era ler mesmo no original, aí pode valer a pena, pois no Brasil o preço do impresso importado chega a R$ 54,90.
Uma procura por "portuguese edition" encerra menos de 20 ocorrências.
Mercado Livre
No site brasileiro de leilões e comércio on-line Mercado Livre, há revendedores oferecendo o Kindle, por valores entre R$ 2.000 e R$ 2.590, mais que o dobro do preço da compra direta pela Amazon.
Mas não há indicações de que sejam a versão internacional do produto. Muitos deles, por exemplo, são identificados como Dx, um modelo com tela maior, mas que só tem cobertura para venda de livros digitais via wireless para os EUA, segundo o site da Amazon.
García Márquez foi vigiado durante 20 anos pelos serviços secretos do México
O escritor colombiano Gabriel García Márquez foi espiado pelos serviços secretos do México e qualificado de "agente de propaganda" de Cuba em 1982, revelou hoje o jornal El Universal.
De acordo com o diário mexicano, o Prémio Nobel da Literatura em 1982 foi vigiado pela Direcção Federal de Segurança do México de 1967 até meados dos anos 1980.
Na documentação da polícia política dada a conhecer pelo actual governo mexicano refere-se o papel de García Márquez como mediador entre movimentos da esquerda latino-americana e o então presidente de França, François Miterrand, que visitaria o país em 1982.
Há ainda referência a uma conversa telefónica entre "Gabo" e o director da agência de notícias de Cuba, Jorge Timossi, na qual o escritor afirma ceder os direitos do livro "Crónica de uma Morte Anunciada" ao governo de Cuba.
Entre as décadas de 1960 e 1980, a polícia política mexicana, equivalente à CIA e ao KGB, levou a cabo várias operações de espionagem em busca de elementos subversivos e defensores das ideologias de esquerda entre as figuras das artes e da cultura.
Apesar destas revelações, o governo mexicano mantém em segredo as informações referentes ao escritor desde 1985 até à actualidade.
Gabriel García Márquez, actualmente com 82 anos, vive no México desde os anos 1960.
Em 1981, um ano antes de ser galardoado pela Academia Sueca, o escritor pediu oficialmente asilo ao México depois de ter sido acusado pelo governo colombiano de colaborar com a guerrilha do seu país.
Agência lusa
sábado, 17 de outubro de 2009
Leia tracho de "Caim", novo romance de Saramago
Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de rugidos e mugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer de possível certificação canónica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e húmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado na casca de uma árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa no género amo-te, eva.
Resenha de 'Caim', por Juan Arias
Juan Arias *
Não é tarefa fácil permitir-se ironizar, de forma irreverente e até mordaz, o único livro considerado Patrimônio da Humanidade, como é a Bíblia, cuja etimologia significa “O livro”, por antonomásia, a grande novela do mundo, a mais traduzida de todas as publicações da História. José Saramago se atreveu a fazê-lo em seu novo romance, “Caim” (Companhia das Letras), que “não deixará indiferentes os leitores”, como afirmou sua mulher, Pilar del Rio. E ele o fez com a força literária que caracteriza suas obras.
Se tudo é permitido à ficção, mais ainda ao Nobel português, que nos tem presenteado sempre com uma literatura enraizada na vida, comprometida com os ataques à injustiça, capaz de fazer sangrar as palavras como em “Ensaio sobre a cegueira” ou este “Caim”, onde o escritor pretende acertar contas com deus — assim mesmo, grafado em minúsculas durante todo o livro. Curiosamente, o faz com um deus que ele mesmo afirma existir apenas na fantasia dos homens, uma invenção literária de todos os tempos. Poderíamos perguntar-lhe então por que voltou, depois de 20 anos, desde seu polêmico “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, a confrontar-nos de novo com a não existência de deus, a quem ele mesmo disse que não invocaria nem no momento da própria morte, porque nada teria a pedir.
É que Saramago é assim: o rei da polêmica e da ironia. Ele gosta de provocar. Existe e quer que o notem. Escreve em relevo, sobre pedra dura. Como nesta novela em que acusa deus de ter desprezado os sacrifícios que Caim lhe oferecia para preferir os de seu irmão Abel. Seria o deus caprichoso e injusto da Bíblia, aquele que se diverte expulsando Adão e Eva do Paraíso por terem querido conhecer o bem e o mal.
Chamam a nova obra do Nobel português de uma “reivindicação de Caim”. É e não é. Em todo o texto, no qual Caim é protagonista e narrador das atrocidades do deus bíblico, o irmão de Abel não nega seu crime e aceita sua vida errante como uma espécie de castigo. Não aceita, contudo, ser mais criminoso e cruel que deus. Se ele matou seu irmão — segundo Saramago, na realidade ele queria matar deus — esse deus cometeu muitos mais crimes que ele: assassinou milhares de inocentes ao despejar fogo sobre Sodoma e Gomorra e chega à crueldade máxima de pedir a Abraão que mate seu próprio filho. A dialética de Caim com deus é impecável. Se eu pequei, tu pecaste mais. Se eu matei meu irmão, tu mataste, ou mandaste matar, a muitos mais.
Mais do que a história romanceada de Caim, o escritor aborda em seu livro o absurdo de um deus que na Bíblia aparece mais cruel e caprichoso que o pior dos homens. Claro que ele escolhe para a obra as passagens mais inexplicáveis e obscuras do Antigo Testamento, nas quais aparece a figura do deus terrível do Sinai, do deus que pede sangue para ser vingado e obedecido cegamente.
A Bíblia é uma história de um povo em busca de seu destino, no qual se misturam mitos, metáforas e fatos históricos. É o espelho da Humanidade com suas baixezas e seus esplendores. O melhor e o pior de deus e da história $ão concentrados nesse livro, que poderia ser a imagem plástica da complexidade do ser humano. Existe na Bíblia o Pentateuco, com um deus ciumento que expulsa Adão e Eva do Paraíso; o que confunde caprichosa e gratuitamente as línguas daqueles que constroem a Torre de Babel; ou manda matar os habitantes de cidades inteiras. Existe o livro do Eclesiastes, contra a vaidade humana, que poderia ter sido escrito pelo pessimista Saramago; ou o Cântico dos Cânticos, com sua força erótica, um canto à beleza do corpo humano e à sua sexualidade. Um livro libertador.
O autor de “Caim” escolheu os textos mais duros e polêmicos. É que Saramago não concebe uma literatura desencarnada, incapaz de provocar não apenas polêmica como também desgosto. Muitos, não apenas judeus, poderão se sentir negativamente surpreendidos com a forma com que o escritor trata a Bíblia e a seu deus.
Saramago não escreveu apenas novelas. Sempre esteve e, aos 87 anos, continua a estar presente na História a cada vez que se trata de defender a dignidade do homem, sua liberdade sacrossanta, seu direito de crer ou não crer. E ele tem razão em mostrar que na Bíblia existe também esse deus cruel e exterminador que tão bem descreve Caim. Esse foi o deus escolhido por ele para ser desmascarado em seu novo livro. Tem todo o direito. A literatura não admite censuras. Os cristãos poderão dizer que na Bíblia, escrita há mil anos, existe também o deus do profeta Isaías, mais preocupado com o homem do que uma mãe. Porém é ao deus cruel que Saramago pede explicações, um deus que, segundo ele, não pode existir porque não seria deus.
Em meu livro “José Saramago: O amor possível” (Manati), uma longa conversa com o escritor meses antes de seu Prêmio Nobel, ele já havia antecipado seu ceticismo sobre a existência de deus que, em “Caim”, se faz ainda mais patente. Disse: “Do meu ponto de vista há apenas um lugar onde existe deus, ou o diabo, ou o bem e o mal, que é na minha cabeça. Fora da minha cabeça, fora da cabeça do homem não há nada”. O homem e apenas o homem é, definitivamente, o deus de Saramago — o homem vítima dos poderes tirânicos, o homem humilhado pela religião, o homem escravo de seus mitos, começando pelo mito de Caim e Abel que Saramago converte num jogo literário.
O escritor resume muito bem em “Caim”, na página 87, o que para ele é este conflito entre deus e o homem: “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele”.
Para Saramago, deus não é mais que um pretexto para que as religiões possam melhor escravizar a consciência humana. Com “Caim”, ele trata de deitar, literariamente, sobre o tapete do mundo, esta crua realidade. Ao mesmo tempo, e apesar de seu ateísmo, devemos a ele uma das definições mais poéticas da divindade: “Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio”, afirmou ele em certa ocasião. Afinal, deus não é para ele tão indiferente como possa parecer. “Caim”, definitivamente, é também um grito contra todos os deuses falsos e ditadores criados para amordaçar o homem, impedindo-o de viver, em total liberdade, sua vida e seu destino.
JUAN ARIAS é jornalista e escritor, autor de “José Saramago — O amor possível” (Manati), “A Bíblia e seus segredos” e “Jesus, esse grande desconhecido” (Objetiva)
*Extraído de Prosa & Verso (Globo.com)
Livro lista curiosidades por trás da obra de Chico Buarque
'Histórias de canções' traz letras do compositor comentadas.
Segundo o autor Wagner Homem, publicação não é estudo aprofundado.
Do G1
Curador do site oficial de Chico Buarque, o administrador de empresas Wagner Homem tem, entre outras atribuições, ler mensagens enviadas ao cantor e compositor. Muitas delas são escritas pelos fãs, ávidos por saber como ele cria suas canções. A partir daí, Homem decidiu reunir curiosidades sobre o repertório do artista no livro "Histórias de canções - Chico Buarque" (Leya, 356 páginas, R$ 44,90).
O lançamento, que dá início às atividades da editora portuguesa Leya no Brasil, não pretende ser um estudo sócio-político ou aprofundado sobre Chico, como explica o próprio autor.
"Não me meto a analisar ou interpretar as letras de Chico Buarque. Simplesmente conto histórias e 'causos'. É um livro popular, para quem gosta de histórias e de MPB", diz Homem.
O livro traz 26 capítulos recheados com saborosos textos sobre as principais músicas do compositor, entre 1964 e 2008. Parcerias, letras, músicos, censura... Nada parece ter ficado de fora. Nem mesmo o que poderia ter desagradado ao próprio Chico, como quando insinuou, de forma irônica, que teria mais respeito por ratos do que por mulheres.
"Achei mesmo que Chico fosse vetar. Porque existe essa mística toda entre ele, as mulheres, a alma feminina etc. Mas ele não disse nada", revelou Wagner.
A seguir, leia trechos da entrevista que o autor concedeu, por telefone, ao G1.
G1 — Quando aconteceu seu primeiro encontro com Chico Buarque?
Wagner Homem — Profissionalmente, em 1989. Estava trabalhando na pesquisa de um livro chamado “Chico Buarque – Letra e música” (Cia. das Letras). Anos depois, em 1998, propus ao Chico fazer um site oficial, do qual sou o curador. Mas, muito antes isso, por volta de 1982, já havia tido um contato rápido com ele. Chico estava lançando um livro chamado “A bordo do Rui Barbosa”, que trazia um poema seu, escrito nos anos 60, ilustrado por Vallandro Keating. Na ocasião da publicação, fizeram um lançamento no Café Piu Piu, no Bixiga, bairro paulistano. Formou-se uma fila enorme. Lembro-me que, quando cheguei próximo à mesa, só vi a mão do Chico. Mais nada (risos).
G1 — Como surgiu a ideia de escrever o livro?
Homem — Depois de alguns anos administrando o site, pude perceber o quanto as pessoas procuram por estas essas pequenas histórias e curiosidades. Recebia muitas perguntas por e-mail, mais de cem por dia. Uma loucura. E nem todas podem ser respondidas. Aliás, a maior parte dos artistas não gosta de explicar a própria obra. Acontece que algumas dessas composições têm uma história, surgiram a partir de determinada circunstância. O livro é exatamente sobre isso. Mas não me meto a analisar ou interpretar as letras de Chico Buarque. Simplesmente conto histórias e "causos", para usar aquela conhecida expressão caipira. É um livro popular mesmo, não é dirigido a estudiosos. É para quem gosta de histórias e de MPB. Produzimos, inclusive, um hot site, em que adiantamos algumas destas histórias (www.historiasdecancoes.com.br).
G1 — Chico acompanhou o processo de criação de "Histórias de canções"?
Homem — Quando propus o livro, ele estava escrevendo “Leite derramado”. Me avisou que não poderia me ajudar naquele momento, porque precisava de tempo para se dedicar ao romance. Mesmo assim, comecei e escrever. Quando "Leite derramado" entrou na fase de finalização, ele pôde ler o meu livro. Chico leu tudo. Fez algumas poucas observações, das quais já nem me lembro, até corrigiu erros de digitação, mas nenhuma objeção. A não ser pela primeira capa do livro, que ele não gostou (risos).
G1 — Teve receio de que alguma história não pudesse ser publicada?
Homem — Para falar a verdade, sim (risos). É sobre a música "Ode aos ratos" [composta em parceria com Edu Lobo e gravada em "Cambaio", de 2001, e "Carioca", de 2006]. Na época em que estava compondo, Chico ligou o Paulo Vanzolini que, além de compositor, é zoólogo. Queria saber como os ratos vivem. Afinal, estava escrevendo uma homenagem a eles. Então, Paulo disse: “Ah, Chico, você mente tanto à respeito de mulher, por que você não faz o mesmo com relação aos ratos”? Chico respondeu: “É que tenho o maior respeito pelos ratos" (risos). Quem me contou isso foi a cantora Mônica Salmaso, em um show em São Paulo. Achei mesmo que Chico fosse vetar. Porque existe essa mística toda entre ele, as mulheres, a alma feminina etc. Mas não disse nada (risos).
G1 — Boa parte do livro se concentra no período em que o Brasil foi governado pelos militares. Você acha que a censura aguçou a criatividade do Chico?
Homem — Acho que não. Censura não faz bem a ninguém, é sempre um horror. Claro que você acaba desenvolvendo uma técnica, como diz Caetano Veloso, que te faz utilizar as frestas. Você aprende a dizer as coisas nas entrelinhas. Mas isso não é bom, não piora nem melhora a obra de um artista. Teria sido muito melhor sem a censura, porque a coisa teria corrido mais solta. E isso é seguramente melhor. A criação não teria nenhum tipo de interferência.
G1 — Existe alguma história que você tenha achado mais curiosa?
Homem — Algumas, mas me chama muita atenção a relação entre Chico e Tom Jobim. Tom palpitava muito nas letras, era muito teimoso, o que eu acho até que acabou sendo bom pro Chico. Ele ainda era muito jovem, enquanto Tom já era um senhor, tinha mais experiência com música. Logo na primeira parceria, já apareceu um pepino. Chico escreveu a letra para “Retrato em branco e preto”. Chico fez uma pequena alteração nos versos "Pra lhe dizer que isso é pecado / Eu trago o peito tão marcado". Trocou "peito tão marcado" por “peito carregado”. Tom topou, mas, por telefone, desistiu. “Pode significar que o cara está encatarrado” (risos).
G1 — Existe algum traço em comum que você tenha percebido no processo de criação de Chico em todos esses anos?
Homem — Não saberia dizer. O que eu sei é que, de uns tempos para cá, compor tem sido uma atividade muito solitária para ele. Talvez essa seja uma característica presente em todas as fases da carreira de Chico Buarque. Acho que essa é uma característica.
G1 — Por que você acha que Chico compõe cada vez com menos frequência?
Homem — Acho que o tempo fez com que Chico se tornasse um artista mais exigente consigo mesmo. Ele se recusa a se repetir e, talvez por isso, o processo vá ficando mais demorado mesmo. Mas ele continua criando. Vem alternando a música com a literatura. Em algumas entrevistas ele afirma que convive com o medo de que, um dia, a fonte de criatividade seque. Discordo. Acho que fica mais refinada.
Fuvest divulga fórmula que substitui uso do Enem no programa de bonificação do vestibular 2010
A USP (Universidade de São Paulo) definiu como será feito o cálculo dos bônus para substituir o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009 na bonificação do Inclusp (Programa de Inclusão Social da USP). Em vez de considerar o exame, a universidade irá utilizar a primeira fase do vestibular: os candidatos terão que fazer mais de 22 pontos na prova para receber 1,8% de bonificação.
A pontuação pode chegar a até 6% pontos a mais nas 1ª e 2ª fases do processo seletivo. A informação foi divulgada pelo site da USP nesta sexta-feira (16).
O novo cálculo foi idealizado depois que os organizadores da Fuvest decidiram não utilizar a pontuação do Enem 2009 no vestibular 2010. Para candidatos não-optantes pelo bônus, valerá só a nota do vestibular; antes, o Enem valia 20% do total de pontos na 1ª fase.
Fórmula
A fórmula utilizada para o cálculo será a seguinte:
Bônus Fuvest (%) = 1,8 + [4,2 x (NF-22)]/50
Na qual NF é a nota da prova da primeira fase, que contém 90 questões. Se o candidato acertar só até 21 perguntas, não ganhará nenhum ponto de bonificação. Acima de 22, os candidatos recebem 1,8% de bônus, podendo chegar até 6% para aqueles que acertarem 72 ou mais questões.
Além do bônus baseado na nota da 1ª fase, o Inclusp dá 3% a mais para estudantes oriundos de escolas públicas e até 3% de bonificação para quem faz a prova do Pasusp.
Calendário
O calendário e as demais regras do edital do vestibular 2010 continuam válidos. Ao todo, 128.144 candidatos são esperados no processo seletivo. que seleciona ingressantes para a USP, para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa e para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Estão em disputa 10.797 vagas.
Fuvest 2010: Manual do Candidato (arquivo em .pdf)
Fuvest 2010: Manual do Candidato da Academia do Barro Branco (arquivo em .pdf)
Veja as datas das provas e divulgação de listas.
16/11/2009 - divulgação dos locais de prova da primeira fase.
22/11/2009 - 1ª fase da Fuvest, com 90 testes de múltipla escolha. O vestibulando terá cinco horas para resolver as questões.
14/12/2009 - lista de aprovados na primeira fase.
3/1/2010 - 2ª fase da Fuvest, prova dissertativa de português (dez questões) e redação. Atenção: os candidatos convocados para a segunda fase deverão entregar, no primeiro dia de exame, uma foto 3x4, recente. O tempo de prova é de quatro horas.
4/1/2010 - 2ª fase da Fuvest, com prova dissertativa (20 questões) das disciplinas história, geografia, matemática, física, química, biologia e inglês. Cada questão poderá abranger conhecimentos de mais de uma disciplina. O candidato tem quatro horas para acabar a prova.
5/1/2010 - 2ª fase da Fuvest, com 12 questões de duas ou três disciplinas específicas (seis ou quatro de cada), de acordo com a carreira escolhida. A duração do exame é de quatro horas.
Na segunda fase, todo o candidato responderá a um total de 42 questões e elaborará uma Redação, independentemente da carreira escolhida (exceção para os candidatos inscritos nas duas carreiras da Polícia Militar).
Mudanças na Fuvest 2010
No novo formato, a Fuvest 2010 manterá a primeira fase com 90 questões - mas as provas da segunda fase foram alteradas.
A primeira fase também passou a ser eliminatória - ou seja, a nota não conta mais no final do processo seletivo para classificar os estudantes. Apenas elimina quem não tiver desempenho suficiente para chegar à etapa final.
A segunda fase do vestibular vai avaliar todas as matérias do ensino médio. Até a Fuvest 2009, só disciplinas relacionadas ao curso pretendido eram alvo de exames.
Outras informações podem ser obtidas no site da USP.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Cespe vai mobilizar 2,8 mil professores para corrigir redações do Enem
A correção de todas as redações dos candidatos que participarão nos dias 5 e 6 dezembro do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) será feita pelo Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília). Cerca de 2,8 mil professores de língua portuguesa devem participar da correção, que funcionará da seguinte forma: cada texto vai ser lido por dois profissionais diferentes e se houver discrepância entre as notas atribuídas, um terceiro será chamado para a análise.
De acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Comunicação da UnB, as redações serão levadas a uma área sigilosa do Cespe, onde são escaneadas e salvas em um programa de correção. Os professores, que já trabalharam para o órgão em outros concursos, têm acesso ao sistema via internet.
Do total de 4,1 milhão de inscritos, o Cespe será responsável por aplicar as provas para 1,9 milhão. O órgão vai cobrir 1.105 municípios onde há locais de prova no Distrito Federal e em 17 estados: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. Segundo informação da UnB, serão contratados 300 mil colaboradores, entre coordenadores, aplicadores de provas, seguranças e outros profissionais, para trabalhar nos dois dias do Enem.
O Cespe foi chamado para assumir a realização do exame junto com a Cesgranrio após o rompimento do contrato do Ministério da Educação com o Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), que tinha vencido a licitação. O novo contrato deve ser assinado nos próximos dias. O Cespe e a Cesgranrio foram responsáveis pelo Enem nas últimas edições da prova.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Gráfica deve receber nova prova do Enem nesta sexta, diz ministro
Gráfica deve receber nova prova do Enem nesta sexta, diz ministro
O ministro Fernando Haddad (Educação) afirmou nesta quinta-feira (15) que a nova gráfica contratada para imprimir o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deverá receber o material nesta sexta. O contrato com a RR Donnelley Moore foi fechado esta semana, ao custo de R$ 31,9 milhões.
A avaliação, que deveria ter sido aplicada a cerca de 4,1 milhões de estudantes nos dias 3 e 4 de outubro, foi cancelada por conta do vazamento de seu conteúdo. A nova data para aplicação do exame será o final de semana dos dias 5 e 6 de dezembro.
O contrato fechado com a gráfica e publicado nesta quarta no Diário Oficial da União prevê não apenas a impressão da prova, mas também o manuseio, embalagem, rotulagem e entrega aos Correios, que farão a distribuição.
Depois do vazamento da primeira prova, o Ministério da Educação (MEC) interrompeu o contrato com o Connasel, consórcio que estava responsável pela execução do Enem. Em regime de urgência, o Cespe e a Fundação Cesgranrio foram contratados para executar o novo exame.
"O que está em curso agora é um novo contrato, um novo arranjo institucional que está seguindo rigorosamente as recomendações da Polícia Federal no que diz respeito à segurança", disse o ministro.
Uma auditoria administrativa está sendo realizada para apurar as responsabilidades do antigo consórcio pelo vazamento. Caso fique comprovado que houve falha no cumprimento do contrato, caberá ressarcimento ao MEC.
O consórcio foi o único a participar da licitação para o Enem 2009, fechada em R$ 116 milhões, dos quais cerca de R$ 36 milhões foram pagos. O valor refere-se exatamente à impressão da primeira prova, que já estava em processo de distribuição.
Segundo Haddad, o contrato com as novas instituições deve ser finalizado até o início da próxima semana. "Tem toda uma equipe do MEC dedicada à conclusão dessa tarefa difícil, de substituição de um consórcio por outro. Mas devemos concluir todos os contratos possivelmente até terça ou quarta-feira que vem".
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Saramago chama Igreja de 'reacionária' e Bento XVI de 'cínico'
'As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas', conclamou o ganhador do Nobel de 98
EFE
O escritor português e Nobel de Literatura (1998) José Saramago chamou o papa Bento XVI de "cínico" e disse que a "insolência reacionária" da Igreja precisa ser combatida com a "insolência da inteligência viva".
"Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar seu neomedievalismo universal, um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual" desta pessoa, disse Saramago em um colóquio com o filósofo italiano Paolo Flores D'Arcais, que hoje lança Il Fatto Quotidiano.
Saramago, por sua vez, encontra-se na capital italiana para divulgar o livro O Caderno e se reunir com amigos italianos, como a vencedora do Nobel de Medicina Rita Levi Montalcini (1986).
No colóquio com Flores D'Arcais, Saramago afirmou que sempre foi um ateu "tranquilo", mas que agora está mudando de ideia.
"As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só têm interesse no poder", afirmou.
Segundo Saramago, a Igreja não se importa com o destino das almas e sempre buscou o controle de seus corpos.
Perguntado se o pouco compromisso dos escritores e intelectuais poderia ser uma das causas da crise da democracia, o escritor disse que sim. Porém, disse que este não seria o único motivo, já que toda a sociedade encontra-se nesta condição, o que provoca uma crise de autoridade, da família, dos costumes, uma crise moral em geral.
Saramago destacou que o fascismo está crescendo na Europa e mostrou-se convencido de que, nos próximos anos, ele "atacará com força". Por isso, ressaltou, "temos que nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão alimentando".
A visita de Saramago a Roma acontece a um dia do lançamento do seu mais novo livro Caim, no qual volta a tratar da religião.
Brasil ganha edição comemorativa de "Cem Anos de Solidão"
EFE
Romance teve seu texto revisado pelo próprio García Marquez
A versão em português da edição comemorativa dos 40 anos de "Cem Anos de Solidão", do escritor colombiano Gabriel García Márquez, começa a ser vendida nesta semana nas livrarias brasileiras, mais de dois anos depois de seu lançamento em espanhol.
O romance teve seu texto revisado pelo próprio García Marquez, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1982, e foi editada no Brasil pela editora Record.
A obra foi traduzida para o português pelo escritor brasileiro Eric Nepomuceno, tradutor das obras dos principais autores ibero-americanos e amigo de García Márquez.
"Como a obra foi revisada pelo autor, fizemos uma tradução completamente nova", disse Nepomuceno à agência de notícias Efe.
Segundo um comunicado divulgado hoje pela Record, a versão brasileira da edição comemorativa de 40 anos de "Cem anos de solidão" tem prensagem inicial de 15 mil exemplares e inclui um prólogo escrito por Nepomuceno, o discurso que García Márquez fez quando recebeu o Nobel de Literatura e a árvore genealógica da família Buendía.
Na nota, a Record diz que Nepomuceno faz em seu prólogo "um passeio pela carreira literária de García Márquez desde seu começo" e relata a história da amizade entre os dois.
Foram retirados da edição em português os comentários escritos para o livro comemorativo em espanhol pelos escritores Álvaro Mutis (Colômbia), Mario Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México) e Víctor García de la Concha (Espanha), além do escritor franco-espanhol Claudio Guillén.
A nova edição em português de "Cem Anos de Solidão" terá 448 páginas e será vendida por R$ 49,90.
A edição em espanhol foi considerada um sucesso de vendas e vendeu 25 mil exemplares na Espanha em apenas um dia.
Escritora Kathrin Schmidt ganha Prêmio Alemão do Livro de 2009
Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Schmidt e a obra premiadaEntre os escritores que concorriam ao prêmio estava a Nobel de Literatura de 2009, Herta Müller. Escolha do livro "Du stirbst nicht", de Kathrin Schmidt, é considerada uma surpresa.
Por seu romance Du stirbst nicht (Você não morre), a escritora Kathrin Schmidt recebeu o Prêmio Alemão do Livro de 2009. O romance da escritora berlinense de 51 anos foi considerado o melhor lançamento literário do ano. O prêmio foi entregue nesta segunda-feira (12/10) em Frankfurt.
A escolha de Schmidt foi uma surpresa, já que, entre os cinco outros romances que concorriam ao prêmio concedido pela Associação Alemã do Comércio Livreiro estava Atemschaukel, da Nobel de Literatura de 2009, Herta Müller, antes considerado o favorito.
Retorno à vida
Em seu romance de cunho autobiográfico, Schmidt conta a história de uma mulher que acorda de um coma num hospital após ter sofrido um derrame cerebral. Além de perder a fala, ela não consegue movimentar o corpo, que não mais lhe obedece. O lento e duro retorno à vida é o tema da obra.
Sobre o livro, a jornalista literária Iris Radisch, uma das juradas do prêmio, afirmou que nele "vivencia-se um nascimento. Lê-se como um ser humano se forma, como uma identidade se forma."
Nesse processo, o reaprendizado da língua é fundamental para a heroína, que é escritora de profissão. De forma emocionante e lacônica, Schmidt conta, com humor negro, como é reconquistar o mundo palavra por palavra, frase por frase.
Uma escritora da história
"Seu ponto forte", disse a autora sobre a protagonista, "é que ela não é depressiva. E isso se parece muito com minha própria história". Na cerimônia de premiação, Schmidt afirmou que seu ocasional humor negro e mordaz também a salvou durante a doença. Ela somente escreveu uma história ficcional, todavia, após ter processado o acontecido, acresceu.
Assim, o romance é tudo menos literatura de autoconhecimento. Isso também não combinaria com a autora, cuja obra compreende justamente o relato da história através da biografia de seus personagens. No caso de Du stirbst nicht, trata-se dos anos entre a reunificação alemã e o início do século 21.
As vivências da autora como psicóloga social foram certamente de grande ajuda. Já em seu fulminante romance de estreia Die Gunnar-Lennefsen-Expedition, de 1998, Schmidt desenvolveu toda uma crônica do século – logicamente a partir da perspectiva das mulheres de uma família.
Também em seus dois romances posteriores Koenigs Kinder (2002) e Seebachs Schwarze Katzen, o tema principal gira em torno de estudos psicológicos de pessoas e meios sociais.
A crítica literária Frauke Meyer-Gosau acertou em denominá-la "historiógrafa psicosocial". E isso se aplica principalmente à elaboração do passado na antiga República Federal da Alemanha (RDA), o que sempre reaparece em seus textos.
Escritora de "tempo integral"
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Schmidt nasceu na antiga Alemanha OrientalKathrin Schmidt nasceu em Gotha, na antiga Alemanha Oriental, em 1958. Após haver estudado Psicologia Social, trabalhou como psicóloga infantil. Entre 1983 e 1990, foi colaboradora assistente no Instituto de Pesquisa Social Comparada em Berlim Oriental.
Nos tempos de mudança política e da reunificação, ela deixou o emprego para engajar-se politicamente, entre outros, na chamada "Mesa Redonda" em Berlim Oriental, conferência que tinha por objetivo colaborar com a democratização.
Desde 1994, Schmidt é escritora de "tempo integral". Além de romances, ela escreveu contos e principalmente poesias. Lançado no início do ano, Du Stirbst nicht é seu quarto romance.
Com o fôlego de uma corredora
Um livro que se parece com ela, como afirmou a escritora na cerimônia de entrega do Prêmio Alemão do Livro. Schmidt disse ser ruim em corrida de curta de distância, mas muita boa em provas de fôlego, o que aconteceu de certa forma com este livro.
"No lançamento, no início do ano, o livro não decolou, mas então ele começou a ser lido por cada vez mais pessoas. E, assim, eu quero agradecer ao livro, pois ele aprendeu um pouco comigo."
Trata-se de uma avaliação pertinente também à sua obra. Com muito fôlego, um estilo especial de escrever e um enfoque dos efeitos da história sobre a vida das pessoas, Schmidt conseguiu chegar ao primeiro escalão dos autores alemães contemporâneos.
Fonte: dw-world.de
Autora: Gabriela Schaaf / Carlos Albuquerque
Revisão: Alexandre Schossler
Para crítico português, Nobel da Literatura para Herta Müller é "uma decepção"
O estudioso em literaturas de língua alemã Sousa Ribeiro manifestou-se hoje decepcionado com a escolha de Herta Müller para prémio Nobel, por não ser um nome cimeiro, e por se marginalizarem, mais uma vez, escritores de outras línguas.
«É com alguma decepção que recebo esta notícia. Herta Müller merecia o Prémio Nobel como mereciam centenas ou milhares de escritores de outros países», declarou à agência Lusa, frisando que, «mais uma vez, foi escolhido um escritor de uma língua central».
Para António Sousa Ribeiro, director do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras de Coimbra, a laureada «não é uma autora de primeira linha» e «boas escritoras como ela há em todas as línguas».
«É uma escolha que não entusiasma. É uma situação que tenho muitas dificuldades em explicar», observou este especialista em literatura de expressão alemã e literaturas comparadas, ao procurar entender as razões da escolha pelo Comité Nobel.
Na sua perspectiva, a escolha desta escritora revela que «para uns o funil é mais apertado do que para outros».
Revela uma preferência por escritores de «línguas centrais», como é a alemã, e de «deixar de lado literaturas menos conhecidas, de marginalizarem-se literaturas menos centrais».
A laureada com o Prémio Nobel - acrescenta – dá nas suas obras um testemunho do seu percurso biográfico, de marginalização política, de perseguida na Roménia pelo regime de Ceausescu, e de exilada na República Federal da Alemanha.
Recorda que Herta Müller esteve em Coimbra, na Faculdade de Letras, em meados dos anos 90, a convite da Associação Portuguesa de Estudos Germanísticos, onde falou sobre a sua obra e divulgou o romance O Homem é um grande faisão sobre a terra, publicado em 1993 com a chancela da editora portuguesa Cotovia.
Candidatos do Enem 2009 podem pedir troca de cidade até esta quarta
Candidatos com problema de distância do local de prova no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2009 poderão fazer a solicitação de mudança de endereço ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) até a meia-noite desta quarta-feira, 14 de outubro. Participantes guardadores do sábado ou com necessidades especiais que não declararam essa condição no ato da inscrição também poderão pedir mudança.
Pelo http://sistemasenem2.inep.gov.br/Enem2009/, o inscrito deve selecionar o banner para acompanhamento de inscrições, informando o seu CPF e senha para acessar os seus dados. Será possível conferir os dados cadastrais, alterar endereço de residência fornecido, informar eventuais condições especiais necessárias para a realização da prova e redefinir o município escolhido para realizar a prova do Enem.
Provas
As provas serão aplicadas em 1.829 municípios, nos dias 5 e 6 de dezembro, sábado e domingo. No sábado será aplicada a Prova I, com ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias. No domingo será aplicada a Prova II, com linguagens, códigos e suas tecnologias, mais a redação, e matemática e suas tecnologias.
Os horários para fazer a prova não foram mudados: no dia 5/12, sábado, o Enem será aplicado das 13h às 17h30, com 4h30 de duração. No dia 6/12, domingo, o horário é das 13h às 18h30. O horário considerado é o horário oficial de Brasília.
Todos os participantes receberão, no endereço apresentado na inscrição, um novo comprovante de inscrição com o local de prova. O Inep enviará, também, para aqueles participantes que informaram seus números de celular, torpedos com informação do novo local de prova.
Outras informações podem ser obtidas no site do Inep.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
UFSC define nova data do vestibular 2010
Inscrições do concurso foram transferidas para o dia 20
O vestibular 2010 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) teve sua data adiada na manhã desta terça-feira. O processo seletivo, inicialmente marcado para acontecer nos dias 6, 7 e 8 de dezembro, foi transferido para 19, 20 e 21 de dezembro.
A alteração foi necessária em função da coincidência com o período de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), determinado pelo Ministério da Educação para os dias 5 e 6 de dezembro.
A mudança na data do vestibular foi aprovada durante votação do Conselho Universitário da UFSC, por volta das 10h15min.
A UFSC também manterá o percentual de 20% da nota do Enem no cômputo do vestibular desde que o resultado do exame seja divulgado até o dia 8 de fevereiro. De acordo com o presidente da Coperve, professor Julio Szeremeta, após esta data, valerá a nota geral da UFSC.
— Esta é uma forma da universidade se preservar e não prejudicar o seu calendário acadêmico de 2010 — diz Julio.
A estimativa é que o Enem divulgue seu resultado entre 5 a 8 de fevereiro, mas a data ainda não foi confirmada.
Apesar do adiamento em duas semanas da aplicação da prova da UFSC, serão mantidos os horários, locais e a estrutura do concurso.
Prazo
Outra decisão do encontro desta terça foi o adiamento da inscrição do processo seletivo. O prazo, que vencia nesta quarta-feira, foi estendido para o próximo dia 20. Segundo a Coperve, cerca de 30 mil candidatos estavam inscritos na seleção até esta terça-feira.
Estudantes que já fizeram sua inscrição e não tenham disponibilidade de realizar o concurso no novo período poderão solicitar devolução da taxa de inscrição.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Conto: Os varredores de rua (Herta Mueller, Prêmio Nobel de Literatura 2009)
Os varredores de rua
A cidade está impregnada de vazio. Um carro atropela meus olhos com suas luzes.
O condutor foge, pois não podem me ver na escuridão.
Os varredores de rua têm trabalho.
Eles varrem as lâmpadas, varrem as ruas para fora da cidade, varrem o morar das casas, varrem-me os pensamentos da cabeça, varrem-me de uma perna para outra, varrem-me os passos do andar.
Os varredores de rua enviam-me suas vassouras, suas magras e saltitantes vassouras. Os sapatos batem fora do meu corpo.
Caminho atrás de mim, caio fora de mim sobre a margem de minhas imaginações.
O parque late ao meu lado. As corujas comem os beijos que ficaram sobre os bancos. As corujas não dão por minha presença. Os cansados e estafados sonhos acocoram-se nos arbustos.
As vassouras varrem-me as costas porque me apoio muito na noite.
Os varredores de rua varrem as estrelas formando uma pilha, varrem-nas sobre suas pás e as esvaziam no canal.
Um varredor de rua chama um outro varredor, este um outro e este novamente um outro.
Agora todos os varredores falam e misturam todas as ruas. Caminho através de seus gritos, através da espuma de seus chamados e quebro e caio na profundidade das significações.
Dou passos grandes. Arranco minhas pernas com o andar.
O caminho foi varrido para longe.
As vassouras caem sobre mim.
Tudo dá voltas sobre si.
A cidade erra sobre o campo, para algum lugar.
domingo, 11 de outubro de 2009
O grande esforço para acabar com o livro
O e-book nem pegou e já inventaram o vook, que agrega videoclipes e dramatizações à narrativa. Que chatice...
Sérgio Augusto - No jornal Estado de S. Paulo
Dos 2 milhões vendidos, 100 mil eram digitais No dia em que o novo best seller de Dan Brown chegou às livrarias do Hemisfério Norte, a versão eletrônica vendeu bem mais que a edição impressa. Os corifeus do e-book e a própria Amazon, empório exclusivo do Kindle, o iPod dos livros digitais, só não festejaram a auspiciosa largada por mais tempo e com mais estardalhaço porque, no meio da corrida, a versão impressa de O Símbolo Perdido fez uma ultrapassagem espetacular e fechou a semana com vários corpos de vantagem. Dos primeiros 2 milhões de exemplares vendidos, apenas 100 mil eram e-books. A indústria editorial ainda depende mais de tinta, celulose e cola do que supõe a vã tecnofilia.
Mas ela vai mal das pernas - como, aliás, quase todos os negócios que dependem de papel, gráfica e letras que não sejam de câmbio -, e só os exageradamente otimistas acreditam que a salvação esteja nos e-books. Como eles não responderam por mais de 1,6% dos livros vendidos no primeiro semestre deste ano, melhor esperar sentado. E rezar para que as futuras gerações, seduzidas pelo novo gimmick eletrônico, tenham menos preguiça de ler, maior capacidade de concentração e mais vontade de crescer espiritualmente. Mesmo eletrônico, um livro destina-se, basicamente, à leitura.
Em 19 de novembro faz dois anos que a Amazon lançou o Kindle. A última versão (mais delgada, tela de 15 cm, teclas angulares) custa US$ 259 (R$ 460), um pouco mais em conta do que a versão original (que em junho não saía por menos de US$ 359), ainda assim um hardware caro, um capricho conspícuo. Um iPod não é baratinho, mas armazena e reproduz música, acumula os proveitos de um aparelho de som, de um toca-CDs e de um walkman, ao passo que um e-reader, bem, o homem nunca precisou de um aparelho para ler livros, certo?
Ainda que a leitura digital viabilize algo de fundamental importância - a possibilidade de se navegar qualquer texto, à procura de trechos, palavras, até letras e vírgulas, a remissão total e absoluta - e concretize o sonho de se ter, literalmente, à mão e em qualquer lugar uma biblioteca inteira, seu custo desanima. Um estudo da Forrester Research estimou que o e-reader só será um sucesso avassalador quando custar menos de US$ 100.
O Kindle não é o único artefato de leitura digital de livros e demais impressos disponível na praça. Com ele concorrem, entre outros, o Sony Reader (mais barato: US$ 199) e o holandês iRex (mais caro: US$ 399), mas 45% do mercado já lhe pertencem. Esta semana a Amazon ampliou seus domínios, oferecendo os serviços do seu e-reader para mais de cem países, entre os quais o Brasil.
Mais cedo do que se esperava, portanto, os brasileiros poderão usufruir o que antes era privilégio dos americanos: baixar livros da Amazon em 60 segundos (ao preço médio de US$ 9,99, cerca de R$ 18) e publicações estrangeiras, direto na versão internacional do Kindle, só diferente da americana no que diz respeito à tecnologia de transmissão de dados, aos cuidados da AT&T e seus parceiros internacionais. As primeiras encomendas começarão a ser expedidas de Seattle daqui a oito dias.
Seu catálogo de livros ultrapassa os 300 mil títulos, mais 85 jornais e revistas por assinatura. Todos, por enquanto, em inglês, à exceção do jornal carioca O Globo, o primeiro da América Latina a aderir ao Kindle. As editoras Bloomsbury, Hachette, HarperCollins, Lonely Planet e Simon & Schuster integram o pool montado pela Amazon, que ainda espera a adesão da Random House. Das editoras brasileiras, a primeira a aderir será a Ediouro, que até o fim do ano terá 500 dos seus 10 mil títulos em Kindle, completando o serviço no prazo de um ano.
A eventual consolidação do modo digital de consumir livros como quem acessa um smart phone pode até resultar na redenção do hábito da leitura, especialmente entre os jovens, mas não livrará a indústria editorial da praga da pirataria, da napsterização do livro. Corsário à espreita é o que não falta. Há um site suíço, RapidShare, especializado em baixar literatura de graça na internet; já pegaram nele 102 cópias da versão e-book de O Símbolo Perdido. Os bucaneiros atacam onde dão sopa. Já devem estar de olho no vook.
Vook é a última palavra em e-book, o livro digital com imagens, o book eletrônico televisivo. Um empresário do Vale do Sicílio, Bradley Inman, teve a ideia, a Simon & Schuster perfilhou-a e o híbrido multimídia foi posto recentemente à venda, a US$ 6,99 o "exemplar". Tem texto, videoclips, narrativas ilustradas por dramatizações semelhantes às de uma telessérie e pode ser baixado por qualquer navegador em desktops, laptops, netbooks, smart phones, mas não em e-readers. Ou seja, no Kindle um vook não entra. Faz sentido, pois Inman o criou com o intuito de cobrir as deficiências do e-book, todos enfadonhamente desprovidos de imagens, capas bonita, fontes atraentes e demais encantos gráficos do livro impresso.
A oferta ainda é pobre; a bem dizer, paupérrima. Até agora, só quatro vooks foram lançados: um de dieta e ginástica para mulheres; um guia alimentar para mulheres; um romance água com açúcar de Jude Deveraux; e um thriller curto de Richard Doetsch, intitulado Embassy. A julgar pelos trailers, só os dois primeiros têm alguma utilidade e não ofendem a velha arte de se contar uma história com engenho, imaginação, palavras bem escolhidas e imagens expressivas. Como os bons livros de todo o sempre. Que, além do mais, guardam um cheiro, misto de tinta, cola e míldio, que nenhum e-book é capaz de emular.