terça-feira, 30 de junho de 2009

Como funcionará o sistema de ingresso do Vestibular Uificado


Enem informa em tempo real chance de aluno entrar

O sistema unificado de seleção das universidades federais permitirá ao aluno saber em tempo real o curso em que tem mais chances de entrar. Integram o sistema apenas as federais que adotarem o novo Enem como única forma de seleção.

O candidato terá acesso ao sistema ao consultar o resultado do Enem, na internet, em janeiro. Com isso em mãos, será possível selecionar cinco cursos em até cinco universidades.

Conforme outros candidatos se inscrevem, forma-se um ranking. Com base na sua posição, o estudante saberá se tem nota suficiente para ser aprovado ou não -a nota de corte do curso será o parâmetro. Se não tiver, poderá optar por outro curso.

O mecanismo obrigará o aluno a ficar atento: como o sistema é on-line, se mais alunos escolherem o mesmo curso como primeira opção, entra quem obtiver a maior nota no Enem.

O candidato poderá trocar de universidade e/ou curso quantas vezes quiser, dentro de um prazo determinado --cerca de 20 dias. O MEC ainda não divulgou as datas.

Flip 2009, um encontro cultural múltiplo em Parati


7ª Festa Literária contempla literatura, ciência, música erudita e histórias em quadrinhos

*Francisco Quinteiro Pires, de O Estado de S. Paulo

Considerado por Mário de Andrade o São João Batista do modernismo brasileiro, o poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) é o homenageado da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty.


Realizada entre 1º e 5 de julho, com o custo de mais de R$ 5,9 milhões, captados por meio de leis de renúncia fiscal, a Flip prevê 19 mesas em que 34 autores vão debater temas variados, de ciência e poesia a história em quadrinhos e música erudita. O público estimado, segundo Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip, é entre 20 mil e 30 mil pessoas.



A conferência de abertura, às 19 h do dia 1º, é comandada por Davi Arrigucci Jr., autor de ensaios fundamentais sobre Bandeira, reunidos em Humildade, Paixão e Morte (Companhia das Letras) e O Cacto e As Ruínas (Editora 34). Sua fala se concentrará nas ideias desenvolvidas nessas obras críticas, nas quais mostra como Bandeira foi capaz de extrair o sublime do prosaico, usando palavras simples, de transformar a morte em material poético e de relacionar a poesia com outras artes como a música e a pintura.



Vinicius de Moraes, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Machado de Assis foram os homenageados nas edições anteriores.



Mais duas mesas estão voltadas para o autor dos poemas Vou-me Embora pra Pasárgada e Pneumotórax. Em Evocação de um Poeta, às 10h do dia 3, Angélica Freitas, Eucanaã Ferraz e Heitor Ferraz tratam da atualidade da obra bandeiriana. Às 16h15h do dia 5, em Antologia Pessoal, Edson Nery da Fonseca e Zuenir Ventura fazem uma exposição baseada em "memórias afetivas" sobre o escritor pernambucano. Nery da Fonseca, amigo de Bandeira, com quem trocou correspondência, lembra sua convivência com ele em Pernambuco e no Rio. Zuenir foi aluno de Bandeira no Colégio D. Pedro II, no Rio.



Em 2009 se comemoram os 200 anos de nascimento de Charles Darwin e os 150 anos do seu livro mais influente, A Origem das Espécies. O biólogo inglês Richard Dawkins foi convidado a falar de evolucionismo e ateísmo às 19h do dia 2. Ele é autor, entre outros, de O Gene Egoísta e Deus, Um Delírio, ambos da Companhia das Letras.



Uma das mesas mais procuradas deve ser a que Chico Buarque, autor de Leite Derramado (Companhia das Letras), divide (às 19h do dia 3) com Milton Hatoum, autor de A Cidade Ilhada (Companhia das Letras). Os dois, que empregam memórias pessoais no processo ficcional, vão debater, entre outras coisas, os dilemas brasileiros.



Outro dos destaques é a presença do português António Lobo Antunes, autor de Os Cus de Judas e Eu Hei-de Amar Uma Pedra, ambos da Alfaguara. Avesso a entrevistas e viagens - ele não visitava o País desde o começo dos anos 1980 -, Lobo Antunes havia anunciado que em breve pararia de escrever. Mas, antes que isso ocorra, ele falará com o público, às 19 h do dia 4, sobre sua vida e obra.



Na mesa Fama e Anonimato, o jornalista norte-americano Gay Talese conversa com o brasileiro Mario Sergio Conti sobre o futuro da profissão. Talese é um dos expoentes do novo jornalismo e autor de reportagens antológicas, como Frank Sinatra Está Resfriado. Vida de Escritor (Companhia das Letras) é sua última obra lançada no Brasil.



Outro norte-americano que marca presença é Alex Ross. Crítico musical da New Yorker, Ross é autor de O Resto É Ruído (Companhia das Letras), que se transformou em uma das obras fundamentais para entender a música erudita no século 20. Ele fala ao público às 10h do dia 4.



O historiador inglês Simon Schama conversa, às 14h30 do dia 5, com a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz sobre os EUA a partir de temas como guerra, religião, economia e imigração. Autor de O Futuro da América (Companhia das Letras), em sua abordagem Schama reflete, entre outras coisas, sobre personagens e momentos essenciais da história dos Estados Unidos.



Ao lado dos EUA, o país que ganha destaque é a China. Em Pequim em Coma (sem tradução), Ma Jian toca em assunto delicado: o massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido há quase 20 anos. E a jornalista Xinran apresenta, em Testemunhas da China (sem tradução), depoimentos dos sobreviventes da Revolução Cultural (1966-1976), que matou milhares de chineses. Ambos falam às 17 h do dia 2.



Uma das novidades desta edição é a mesa Novos Traços, dedicada às histórias em quadrinhos. Prevista para as 10 h do dia 2, ela conta com a participação de Rafael Coutinho, Fábio Moon, Gabriel Bá e Rafael Grampá, quadrinistas premiados que mantêm relações com a literatura.



O amor e a dor do rompimento são o tema de dois debates - Separações (às 11h45 do dia 2) e Entre Quatro Paredes (às 11h45 do dia 4). No primeiro, o escritor Rodrigo Lacerda e o cineasta Domingos Oliveira discutem os relacionamentos em crise.



No segundo, a artista plástica Sophie Calle fala da Prenez Soin de Vous, exposição francesa na Bienal de Veneza (2007) sobre a reação de 107 mulheres à carta em que seu companheiro, Grégoire Bouillier, rompeu o namoro. O detalhe é que Bouillier, autor do livro L’Invité Mystère, estará lá. É a primeira vez que aparecem juntos depois da separação e aproveitam o ensejo para discutir os complicados limites entre público e privado, entre experiência pessoal e ficcional.



A irlandesa Anne Enright, o mexicano Mario Bellatin, a francesa Catherine Millet e o franco-afegão Atiq Rahimi são os outros destaques. Para mais informações acesse o site do evento.

Encontro especial pelo centenário de Euclides da Cunha


Ubiratan Brasil, de O Estado de S. Paulo

O centenário da morte do escritor e jornalista Euclides da Cunha (1866-1909) terá um encontro especial na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, entre 1.º e 5 de julho. O autor de Os Sertões, que profetizava "o esmagamento inevitável das raças fracas pelas raças fortes", será tema de discussão da mesa O Mar e Os Sertões - Euclides da Cunha, 360°, que, a partir das 15h30 do sábado, dia 4, vai reunir os professores Walnice Nogueira Galvão e Francisco Foot Hardman, além de Milton Hatoum, escritor e cronista do Caderno 2. O encontro vai acontecer na Casa de Cultura de Paraty e a mediação será de Daniel Piza, editor executivo do Estado.


O autor de Os Sertões também tem sido lembrado por O Ano de Euclides, um projeto jornalístico, cultural e multimídia do Grupo Estado, iniciado em março e que se estenderá com mais encontros (leia mais abaixo). Publicado em 1902, Os Sertões nasceu da cobertura jornalística de um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira: a ação vitoriosa do exército contra revoltosos instalados na cidade baiana de Canudos. Euclides viajou para o local em 1897, a convite de Julio Mesquita, então diretor do Estado. Outros correspondentes já acompanhavam as infrutíferas tentativas do exército de derrotar os seguidores de Antônio Conselheiro, no interior da Bahia, e Euclides destacava-se como o escolhido natural para representar o jornal: colaborador havia nove anos, publicara, nos dias 14 de março e 17 de julho daquele ano, dois artigos com o título de ‘A Nossa Vendéia’.



São textos em que Euclides não apenas apresenta aspectos físicos daquela região do sertão como também se aventura a dar palpites sobre as dificuldades táticas e estratégicas do levante. No período em que cobriu o fato, Euclides submeteu-se a um verdadeiro rito de passagem: se quando deixou São Paulo estava seguro da natureza monarquista da rebelião em Canudos, o escritor (republicano convicto) foi obrigado a reformular seu julgamento, forçado pelas contingências. E, se tinha a urgência do repórter, acumulou material para a reflexão profunda sobre o fenômeno, que resultaria em Os Sertões.



"É por isso que não gosto de falar sobre a atualidade da obra", comenta Walnice. "Trata-se de um livro difícil, que não é entretenimento e cuja leitura faz o coração bater forte." Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, ela ressalta o aspecto literário da obra. "Euclides utilizou a linguagem com fins estéticos."



Professor titular do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, Francisco Foot Hardman acredita que Euclides é um daqueles casos de grande escritor que teve o conjunto de escritos ofuscado pelo brilho da obra-prima. "Acho interessante, então, neste, como em outros eventos, cursos e debates, sempre que possível destacar os outros planos de sua atividade literária, que incluíram o ensaio, o jornalismo político e a crítica literária, a correspondência, a crônica e, last but not least, a poesia", comenta. "Além de Os Sertões, ele publicou mais três livros, dois deles em vida (Contrastes e Confrontos e Peru Versus Bolívia, ambos de 1907) e um póstumo, mas organizado ainda em vida (À Margem da História, 1909). Afora isso, uma obra extensa de artigos, crônicas e poesias, tanto dispersos quanto inéditos. Seria bom para o público de hoje ter uma ideia aproximada de toda essa riqueza e variedade."



Já Milton Hatoum pretende ler um conto de seu livro A Cidade Ilhada (Companhia das Letras), Uma Carta de Bancroft. O texto faz referência a uma carta que revela um sonho (ou pesadelo) do escritor quando estava em Manaus, antes de partir para o Purus. "Uma das questões mais recorrentes na obra de Euclides é a relação entre civilização e barbárie", observa Hatoum. "Ele dizia que a Amazônia era uma ‘terra ignota’, ‘a última página, ainda a escrever-se, do Gênese’, onde o homem travaria uma ‘guerra de mil anos contra o desconhecido’."



Hatoum comenta que a ânsia de conhecimento científico e de exercer uma missão civilizadora é latente no escritor. "Euclides, como bom positivista, acreditava no progresso e na ciência, temas que ele aborda nos ensaios sobre a Amazônia", afirma. "Mas ele sabe que a ‘civilização’ e os ideais republicanos falharam, e são mais bárbaros que os nativos que ele, Euclides, critica. Penso que esses temas são importantes."

Mãe teve importância decisiva na literatura de Milton Hatoum



TERESA CHAVES
Colaboração para a Folha Online


Quando, depois de adultos, revisitamos um lugar que foi importante para nós na infância, é comum a sensação de estranhamento. O lugar parece que encolheu, ou fomos nós que crescemos? Detalhes que eram vívidos, como um telhado azul ou um muro que brotava de forma abrupta em um jardim, na verdade nunca existiram. Mas nossas memórias desse lugar permanecem, mesmo quando descobrimos quão diferente ele é daquilo que mostra a nossa imaginação.

Ora, se o lugar é tão diferente, será que as memórias que temos pertencem a ele de fato? Podemos nos reapropriar de lembranças de eventos que nunca aconteceram? Essas perguntas que nos angustiam pelo menos algumas vezes na vida são a matéria-prima para a criação literária do escritor amazonense Milton Hatoum, 57. Se os eventos ocorreram ou não, pouco importa: a memória, vista pela distância, é a base da imaginação.


Primeiro livro de contos do ficcionista amazonense Milton Hatoum
Nascido em Manaus em 1952, desde sempre ele conviveu com a mistura entre nacional e estrangeiro. Descendente de uma família de libaneses e habitante, até os 15 anos, de uma cidade portuária, Hatoum passou a infância e a adolescência cercado por elementos que o senso comum considera exóticos e que para ele são absolutamente familiares. Seu pai veio do distante Líbano para conhecer aqui uma brasileira, também de família libanesa, e começar com ela uma vida no Amazonas.

Foi a mãe de Hatoum a principal responsável pela identidade dele com o Brasil: numa terra onde a noção de fronteira é muito tênue, convivendo desde cedo com o árabe, o português e o espanhol falados no cotidiano, teria sido fácil perder-se na aventura de uma identidade plural e difusa. Mas a insistência materna para que ele falasse português, e não árabe, foi crucial para que a língua estivesse diretamente atrelada à noção de pátria. Pátria esta que é associada, para o escritor, não só a língua, mas também à paisagem da infância.

Se a primeira encontrou fronteiras reais, a segunda se desenrola em linhas imaginárias. Hatoum descreve a Amazônia como um mosaico de grandes nações e de tribos dispersas.

Entre essas tribos encontra-se a que deu origem à sua família, uma pequena comunidade de orientais que migrou, em primeiro lugar, para o Acre --quando este ainda não era terra brasileira. Ao pesquisar sobre a Revolução Acriana (1899-1803), o escritor descobriu a presença de libaneses no Exército brasileiro, o que mostra a participação intensa que essa comunidade teve na região. Aos poucos, além de povoarem o norte do Brasil, os descendentes de sírios, turcos, libaneses povoaram também a ficção de Hatoum, que tanta raiz encontrou nas origens do escritor.

Se Manaus está enraizada nele, também o está a movimentação imigrante de sua família. Itinerante, em 1967 ele partiu de Manaus para viver em Brasília, onde concluiu os estudos. Em 1970 mudou-se para São Paulo, para cursar arquitetura na FAU - USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo). Os anos passados como estudante não lhe renderam a profissão de arquiteto, mas sim um pequeno livro de poesias que foi sua
primeira publicação, feito com amigos paulistas e cariocas. "Amazonas: um rio entre ruínas" também foi responsável pelos primeiros dilemas de Hatoum quanto à vida de escritor.

Quando decidiu largar a arquitetura para escrever, a oposição feroz de sua família não teve ecos em sua mãe. Foi ela, novamente, a responsável por guiá-lo. O livro foi lançado em Manaus e, para surpresa do autor, começou a ser vendido cotidianamente, dois ou três exemplares por dia. Vendas a uma cliente única: era a mãe, que os comprava para distribuir para as amigas e incentivá-lo, fazendo-o achar que tinha leitores. De uma forma ou de outra esse pequeno engodo surtiu efeito, e ele partiu para a Espanha com uma bolsa de estudos. Em 1980, morou em Madri e em Barcelona; um ano depois, foi morar em Paris, onde estudou literatura na Universidade de Paris-3º.

Foi justamente essa distância, esse passo maior para fora de casa que definiu a carreira tardia de Hatoum como escritor. Ele, que só havia feito poemas e contos, imitações dos autores que apreciava, se descobriu com material suficiente para um romance, um olhar de longe para sua casa, para onde pretendia voltar. Com saudades dos cheiros e das línguas de Manaus, em 1982 começou a escrever "Relato de um Certo Oriente" (Cia. das Letras, 1990), ainda em Paris. Continuou a escrevê-lo quando voltou para Manaus, para só terminá-lo em 1987. Como começou a dar aulas logo após a volta, só conseguia escrever antes ou depois do turno letivo.

Foram muitas madrugadas, da 22h às 3h, passadas em um quartinho sórdido e abafado, alugado às pressas depois da volta de uma fresca Paris. Inspiração e um suor que pingava repetidamente no papel, pois escrevia a mão, para depois datilografar tudo no final. Isso explica, em parte, a demora na conclusão do livro. Mas só em parte, pois Hatoum é, e sempre foi, um escritor avesso à pressa, que prefere trabalhar devagar.

Talvez por isso, por ignorar essa urgência do tempo, é que não se incomoda nem um pouco por ter lançado seu primeiro livro tardiamente, com quase 40 anos. Na verdade, isso é algo que aprecia, contrário que é a publicações quando se é jovem demais. Para ele poucos jovens produzem de fato algo muito bom muito cedo, e publicações antecipadas podem terminar por prejudicar um trabalho que, mais maduro, seria mais consistente. Não se deve apressar a literatura.

Na verdade, não se deve apressar nada. Seu livro seguinte, "Dois Irmãos", foi publicado 11 anos depois. A lentidão, diz ele, é uma de suas heranças amazônicas, e uma das mais importantes. É ela que lhe permite distanciar-se dos eventos que serão narrados, que possibilita a maturação da memória. Ela é, afinal, a principal fonte da imaginação. Para Hatoum, as duas não diferem muito, a imaginação é o tempo de reapropriação da memória, preenchida pelo esquecimento e recuperada pela linguagem.

Todos os seus livros têm base na vida do escritor, sem tratar dessa vida em si. Para escrever é preciso estar distante, de corpo e coração.

A possibilidade de fazer de sua vida um início para a ficção rendeu ao escritor o reconhecimento e os prêmios que o tornaram internacionalmente reconhecido. "Relato de Um Certo Oriente", "Dois Irmãos" e o romance seguinte, "Cinzas do Norte" (Cia. das Letras, 2005), ganharam o Prêmio Jabuti de Melhor Romance. O terceiro também recebeu o Portugal Telecom em 2005. Seus livros foram publicados em diversos países da América Latina e da Europa, o que fez com que o escritor trabalhasse lado a lado com seus tradutores. As diversas expressões características da Amazônia suscitavam dúvidas constantes, o que exigiu que Hatoum trabalhasse também nos processos de tradução.

Não que ele fosse estranho a esse processo, uma vez que é, ele mesmo, tradutor. Estranho foi a experiência do reconhecimento e a necessidade de distanciar-se da vaidade provocada pelos prêmios, entrevistas, pelo assédio da mídia. Apenas o tempo e a paciência mostraram a Hatoum o que parece óbvio: um grande autor é construído a cada livro, devagar, sem sustos. Literatura, como avalia ele, exige trabalho e se faz apenas dele. Estranhou ir a Paris para divulgar a tradução de "Relatos de Um Certo Oriente", voltar à cidade onde, com pouco tempo e pouco dinheiro, era um homem incógnito que escrevia seu primeiro romance.

Hoje, ele sabe que não escreve pelos prêmios (mas não nega apreciá-los) nem pelo reconhecimento. Escreve porque tem um desejo impossível de conter, uma vontade maior do que ele, maior do que a vontade de conhecer Paris quando precisava escrever; maior do que a vontade de percorrer o frisson cultural de São Paulo, onde foi morar em 1998; vontade maior do que viajar o mundo em festivais literários. A vontade de escrever é mesmo até maior do que a vontade de publicar --ele tem um romance guardado na gaveta, escrito entre 1989 e 2000, mas para o qual ainda não chegou a hora. Em compensação, seu último livro, "A Cidade Ilhada" (Cia. das Letras, 2009), fez chegar a vez dos contos. O próximo projeto inclui crônicas e, quem sabe, mais um romance.

Hoje, mora ainda na cidade em São Paulo, em Higienópolis, e pensa nela como cenário para futuros livros. Gosta do caos de São Paulo, do barulho que acha fundamental para escrever. Exercendo uma atividade que é, por si só, solitária, e que se reflete na construção de livros também solitários, vê no movimento incessante da capital paulista um outro ritmo para sua escrita. Talvez por ser um ritmo alheio às suas raízes, um universo de certa forma estrangeiro e interiorizado. Mas, seja como for, Hatoum criou com a cidade uma identidade própria, mais uma dentre as suas várias.

O menino que começou a ler com os livros comprados pela mãe de um livreiro-viajante hoje sente orgulho por seus prêmios, mas insiste que estes trazem prestígio e não muito mais (e brinca, com frequência, lembrando que prestígio também é o chocolate como coco que ele adora). Apesar de ter rodado o mundo, não se vê longe de sua Manaus de origem e assume com orgulho a pluralidade de raízes.

As origens podem ser várias, mas a pátria está na infância, na memória e na língua. São elas que marcam história, que sussurram esquecimentos, que assopram fatos não acontecidos para preencher lacunas. Que dominam as pausas e formam as letras. Que
são donas da solidão e sobrevivência de cada um dos narradores de Hatoum.

Vestibular da Unesp terá a menor concorrência desde 2006



Aos candidatos a entrar na Unesp, duas boas notícias: 1) será o vestibular de meio de ano menos concorrido desde 2006 e com menos inscritos desde que foi adotado em toda a Unesp; 2) muitos dos matriculados saem da lista de espera.

O vestibular começa neste domingo e vai até terça. É o último em fase única --a partir do final do ano, serão duas etapas.

Cada vaga é disputada por 12,6 candidatos --são 630 vagas para 7.939 pessoas. Nos dois últimos vestibulares de meio de ano, essa relação foi de 14,6 e 13,9, respectivamente.

O número de inscritos do vestibular de meio de ano é o menor desde 2003, já que entre 2001 (quando foi criado) e 2002, valia só para Ilha Solteira. Segundo a universidade, há três motivos para essa queda nas inscrições: a expansão do ProUni (programa do governo federal que dá bolsas em faculdades particulares), uma "oscilação" ano a ano de inscritos e o menor número de treineiros.

Neste ano, há 31% menos treineiros que no vestibular de meio de ano de 2008; são 1.173, contra 1.703 um ano atrás. A explicação: é o último vestibular no modelo antigo.

"O aluno pensa: "Se é para treinar, vou treinar com base em que?'", afirma o professor da Unesp em Tupã e representante local da Vunesp (que promove o vestibular), Leonardo de Barros Pinto.

Quanto à lista de espera, todos os 15 cursos convocaram em 2008 candidatos que não estavam na primeira lista de aprovados. Um aluno entrou em agronomia (Ilha Solteira) na 211ª colocação --são 40 vagas. Engenharia de controle e automação foi o curso com menos desistências: 15.

Barros Pinto atribui as desistências à questão financeira --caso de quem não tem como se manter em outra cidade-- e aos treineiros, que não podem se matricular porque concluíram o ensino médio.

Prova

A prova da Unesp será dividida em três dias. No primeiro, são 84 testes de sete disciplinas; no segundo, 25 questões discursivas, de acordo com a área. O último dia traz dez questões dissertativas de português e uma redação.

Segundo Márcia Tremura, assessora da diretoria acadêmica da Vunesp, é um vestibular que avalia profundidade e abrangência de conhecimento.

No primeiro dia, a dica é começar pelas questões mais fáceis, diz Alberto Nascimento, coordenador do Anglo. No segundo, o aluno deve caprichar na letra e articular ideias de modo coerente. No último, reservar duas horas à redação.

Como o estilo da Unesp não deve mudar agora, fazer provas anteriores é uma boa estratégia para se dar bem, afirma Edmilson Motta, coordenador do Etapa. Assim, o aluno pode descobrir que ainda não estudou determinado assunto --e correr para recuperar a matéria.

É o que Ana Cássia Batista, 18, está fazendo. Candidata a uma vaga em geografia, ela recorre às provas de outros anos principalmente no que tem mais dificuldade --física. Mas não só: Ana entra no cursinho às 14h, sai no início da noite, volta a estudar às 21h e só para às 3h. "Minha estratégia é a persistência."

*Texto extraído da Folha Online

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Mia Couto: Antes de nascer o mundo

por Ruy Neto no blog da Livraria Cultura

O escritor moçambicano Mia Couto é um homem simples, nada afeito a rotina de um escritor profissional - e nem quer ter esse estilo. Gosta de ter outro tipo de relação com as pessoas, realizar trabalhos em equipe, trocando experiências e informações. Por isso faz questão de manter como ganha pão sua atividade como biólogo - foi até neste exercício que encontrou inspiração para desenvolver seu último trabalho Antes de nascer o mundo (ou simplesmente Jesusalém, adotado em Portugal, por exemplo - Mia deu os dois títulos como opção para suas editoras). Na conversa que teve com o público, que lotou o teatro Eva Herz - para minha surpresa já que não trata-se de um nome “pop” da literatura universal - ele deixou um recado interessante quando foi questionado sobre como divide o seu tempo para conseguir publicar obras. Ele disse: “o importante na escrita não é os termos técnicos que nós temos, mas sim o tempo para estarmos com os personagens, o tempo pra nós próprios sermos um dos personagens que criamos. É isso que me obriga a ser cada vez mais um escritor insone”. Mia diz acordar entre três e quatro da manhã, assombrado pela histórias e pelos personagens dentro de si. Esquece as horas e se põe a escrever. Taí um exemplo de que falta de tempo não é motivo para deixar de produzir literatura. Aqui segue um trecho do que é o livro e o que a obra representa para o escritor. Depois do jump peguei mais trechos das respostas que ele deu a perguntas feitas pela sua editora no Brasil. Veja também aqui a entrevista que fizemos com Mia na edição de fevereiro da Revista da Cultura.






inspiração
“A condição desta família é inventada. Mas em meu trabalho como biólogo pelo interior de moçambique conheço muitas famílias. E recentemente em uma viagem a um deserto conheci uma que vivia tão isolada do mundo que parecia a reencarnação daquilo que havia imaginado. Mas depois de estar lá, conhecer o espírito do lugar, percebi a rede que no mundo não permite que se construa uma lugar totalmente como ilha. Sim, existem povoados, existem pequenas aldeias que me inspiraram a criar essa condição, que é uma condição delirante, de não querer apenas esquecer-se do mundo como do próprio passado, por razões que no final da história ele vê que eram equivocadas”.


Guerra

“A guerra [civil moçambicana] ajudou a fragmentar uma sociedade que foi muito criada através das redes de trocas, redes de ajuda. Mas a guerra não explica tudo. Comentei com algumas pessoas da editora como fiquei marcado pelo encontro com a família do interior de Moçambique porque de repente há um velho que é o chefe desta família, um caçador. Ele é convocado sempre quando é necessário matar um animal. E ele tem uma ligação com o espirito dos animais. E esse homem me marcou porque numa certa manhã ele me guiou por atalhos que apenas ele conhecia para chegar em um lugar chamado gruta, que é onde as hienas nasciam. E mais tarde, a noite – e estou resumindo a história ao máximo – quando eu pedi para que ele me levasse num lugar ele disse: “Eu não posso pois sou cego, eu não vejo”. Fiquei surpreso porque ele havia me conduzido por atalhos e me mostrado coisas que só era possível se a pessoa enxergasse. E ele respondeu que não via com os olhos dele, mas sim através dos olhos de outro alguém. E há semelhança com a minha história que notei quando o livro já havia chegado em minhas mãos. O narrador dessa história confessa ao irmão que tem a mesma doença do pai: “eu só vejo sombras”; e o irmão pergunta como ele escreveu isto, que é a sua própria história. E ele responde: “eu só vejo quando escrevo”.

A mulher
“Nessa história todos os personagens são homens. E que se retiraram do mundo por causa de uma mulher e é exatamente uma mulher que acabará fazendo retornar ao mundo. É um circulo que se fecha por uma mão feminina. Mas mesmo enquanto a história está dominada por personagens masculino escolhi como epígrafe para os capítulos o texto de autoras. É uma tentativa de estabelecer diálogo entre o lado masculino e o feminino, mas não sei se alguém sabe o que é esse lado masculino e o lado feminino da humanidade – não que eu esteja confuso quanto a identificação dos sexos não é isso – mas eu mesmo não sei onde está a fronteira destes lados. De qualquer maneira, acho que as mulheres nas minhas histórias ocupam sempre esse lugar central, de organizadoras daquilo que seria o tempo, responsáveis por entregar as gerações próximas a promessa do que seria uma outra vida. E creio que não tenho isso apenas como uma obsessão literária, mas sim como uma obsessão profunda. Não presto uma homenagem as mulheres por conta de simpatia, mas porque acho que elas ocupam uma papel central em todos os aspectos. São elas que transportam literalmente o mundo nas costas”

Guimarães Rosa
O livro de Mia tem proximidade com o conto A terceira margem do Rio, publicado no livro Primeiras estórias, que trata de um homem que se isola também do mundo navegando rio abaixo.
Não pensei no conto. Mas tenho que dizer que esse conto me marcou muito.

Cristovão Tezza defende uso de experiência pessoal em ficção


da Folha Online

Cristovão Tezza (foto) participa da Flip nesta sexta-feira (3) para falar sobre o uso de sua própria experiência em "O Filho Eterno"
Muitos escritores utilizam suas experiências pessoais como base para a produção de obras de ficção. Mas será que se inspirar em histórias próprias contribui ou prejudica o processo inventivo?

Para falar sobre esse assunto, a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) convidou Mario Bellatin (professor de uma escola de escritores no México), que critica o uso desses elementos pessoais, e Cristovão Tezza (escritor brasileiro mais premiado de 2008), que partiu de sua convivência com o filho para produzir "O Filho Eterno" (Record, 2007). O encontro acontece nesta sexta-feira (3), na mesa 9 do evento.

Premiado com o Portugal Telecom, Bravo! e com o Jabuti 2008, o romance "O Filho Eterno" mostra as inúmeras dificuldades e as constantes e pequenas vitórias de se criar um filho com síndrome de Down. Ao falar sobre o tema, Tezza mostra curiosidades e superações que precisou enfrentar durante sua trajetória pessoal e profissional.

Leia um trecho de "O Filho Eterno", que mostra a aflição e o medo do pai ao perceber que seu filho, com síndrome de Down, havia desaparecido de casa:

*
"Só descobriu a dependência que sentia pelo filho no dia em que Felipe desapareceu pela primeira vez. É, talvez, ele refletirá logo depois, ainda em pânico, dando corda à sua rara vocação dramática, que agora lhe toma por inteiro, a pior sensação imaginável na vida - quase a mesma sensação terrível do momento em que o filho se revelou ao mundo, da qual ele jamais se recuperará completamente, repete-se agora ao espelho, com intensidade semelhante, mas não se trata mais do acaso. Desta vez, ele não tem álibi: o filho está em suas mãos. E há que preencher aquele vazio que aumenta segundo a segundo, com alguma coisa, qualquer coisa - mas estamos despreparados para o vazio. O sentimento de desespero nunca é súbito, não é um desabamento - é o fim de uma escalada mental que vai queimando todos os cartuchos da razão até, aparentemente, não sobrar nenhum, e então a idéia de solidão deixa de ter o charme confortável de uma idéia e ocupa inteira a nossa alma, em que não caberá mais nada, exceto, quem sabe, a coisa-em-si que ele parece procurar tanto: o sentimento de abismo. (Não se mova, que dói.)

Esse é o retrospecto desenhado com calma, quase vinte anos depois. No momento, tudo é de uma banalidade absurda, em que a partir de um primeiro olhar mecânico de procura - cadê o menino? -, que logo se perde em outros afazeres, até voltar ao ponto - ele estava aqui, vendo televisão -, e o apartamento não é tão grande assim para uma criança se esconder, o que ele nunca fez, aliás. Na televisão ligada, que conferiu como um Sherlock buscando pistas (e as pistas estavam ali, mas ele não soube perceber), os estranhos heróis japoneses desenhados naquele traço primário e agressivo que o pai (criado por Walt Disney) detesta mas o filho ama numa paixão absurda; de tal modo que, trissômico, é capaz de compreender toda aquela complexa hierarquia mitológica de seres (que se desdobram em álbuns, revistas, figurinhas, bonecos, fitas de vídeo, sorteios, camisetas, discos, livros de desenho), repetir os seus nomes (que o pai não entende - os nomes dos personagens já são esquisitos e além disso a linguagem continua dolorosamente atrasada no desenvolvimento do filho), gritar os seus gritos de guerra e representar interminavelmente sobre o sofá da sala o teatro daquela teogonia universal, com bonequinhos coloridos que falam, movem-se, lutam, vivem e morrem horas e horas e horas a fio nos dedos do filho, debaixo de uma sonoplastia incompreensível - a voz do filho reproduz bombas, explosões, discussões (mudando de tom a cada mudança de personagem), ordens de comando, respostas imediatas, lutas medonhas e mortes terríveis.

Tudo incompreensível. Só a irmã, parece, entende o que ele diz, cuidando das coisas dela, mas com o ouvido atento - e freqüentemente promove ela mesma outro teatro, como atriz e diretora de cena, reproduzindo sem saber a vida que leva, teatro e vida são a mesma coisa, e de certo modo trazendo à realidade o irmão que, dócil, sempre aceita de bom grado os papéis que tem de assumir, que são sempre o dele mesmo, incrivelmente paciente com a impaciência eventual da irmã. "Você fique aqui! Irmão, não saia daí! Eu sou tua mãe! Isso, bem assim! Muito bem!" Como o pai nunca fala a ninguém do problema do filho, ela também, ao entrar na escola, não comentará jamais com ninguém a esquisitice do irmão - anos depois, a professora relembrará esse silêncio estratégico, que fielmente reproduzia o silêncio paterno.

Como se a educação fosse um processo inconsciente - o mais importante corre na sombra, antes na didática dos gestos, da omissão e da aura que nos discursos edificantes, lógicos e diretos. A porta aberta, ele percebe - saiu de casa e deixou uma fresta de pista. Com certeza pegou o elevador para descer os dezenove andares, o que ele sabe fazer. Não, o porteiro não viu, o que não quer dizer muito - bastaria uma breve descida de dois minutos até o estacionamento, uma ida e volta, e o menino passaria por ali sem ser notado. O prédio, sinal dos tempos, ainda não tinha as grades altas com pontas agudas e as câmeras de segurança e os fios elétricos desencapados que pouco depois fechariam aquele pátio generoso e inteiro aberto, quinze metros da portaria à calçada, onde o pai se postou, pateta, olhando para um lado e para o outro, o mundo inteiro diante dele.

Escolheu o caminho mais conhecido, em direção ao centro. Ele deve ter ido por aqui. Pequenas esperanças vão se formando lado a lado com grandes terrores. Virando a esquina, quem sabe ele esteja ali? É preciso perguntar às pessoas, mas ele sente uma inibição absurda, uma espécie de vergonha, por ele e pelo filho, que lhe trava os gestos - ou a simples vergonha masculina de perguntar, como nas piadas homens versus mulheres. O homem nunca pergunta, e ele parece corresponder ao próprio lugar-comum. Cretino topográfico, o pai é capaz de rodar dez vezes perdido num bairro antes de perguntar a alguém onde fica a rua que procura.

Mas agora não é uma rua, é um filho. Teria de achar a palavra certa para explicar, as pessoas não sabem - talvez dizer "você viu meu filho? Ele é um menino com problema", ou "ele é meio bobo"; ou, ele é "deficiente mental", e tudo aquilo não corresponde nem ao filho nem ao que ele quer dizer para definir seu filho; ele é uma criança carinhosa mas meio tontinho, talvez assim ficasse melhor; não pode dizer "mongolóide", que dói, nem "síndrome de Down" - naquela década de 1980, ninguém sabe o que é isso."


*
"O Filho Eterno"
Autor: Cristovão Tezza
Editora: Record
Páginas: 224
Quanto: R$ 34 (Na livraria da Folha)

UFSCar divulga calendário do vestibular 2010


A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) divulgou nesta segunda-feira (29) o calendário do vestibular 2010 para os cursos de graduação presenciais. No total, serão oferecidas 2.577 vagas, distribuídas em 57 cursos, nos campi de São Carlos, de Araras e de Sorocaba.


A inscrição para o vestibular poderá ser feita entre os dias 1º e 30 de setembro, exclusivamente pela internet (clique aqui).

O valor da taxa de inscrição será de R$ 75. Os candidatos deverão acessar a internet, com dez dias úteis de antecedência das provas, para imprimir sua convocação, verificando o prédio, número da sala, datas e horários para comparecimento.

As provas serão realizadas nos dias 13 e 14 de dezembro, nas cidades de Araras, Bauru, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo e Sorocaba.

No primeiro dia, serão aplicadas as provas de língua portuguesa, língua inglesa, matemática e redação. No dia 14 de dezembro, as provas são de química, física, biologia, história e geografia. A prova específica de aptidão para o curso de música será realizada no dia 18 de dezembro, em São Carlos.

O resultado do vestibular será divulgado no dia 3 de fevereiro de 2010 e a matrícula dos convocados em primeira chamada será feita no dia 9 de fevereiro de 2010.


Enem no vestibular da UFSCar

A coordenação do vestibular lembra que a partir do vestibular 2010, a universidade passará a utilizar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em seu processo seletivo para cursos de graduação.

A nota final do candidato será composta 50% pelo Enem e 50% pelas provas realizadas pela própria UFSCar. Assim, todos os estudantes interessados em concorrer às vagas nos cursos de graduação da UFSCar devem obrigatoriamente fazer sua inscrição no Enem 2009. O prazo para inscrição termina no dia 17 de julho.


Isenção de taxa

De 6 a 23 de julho, estará aberto o prazo para envio de solicitações de isenção da taxa de inscrição do vestibular 2010 da UFSCar. Podem solicitá-la os candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública, ou em escolas privadas com bolsa integral, e cuja renda familiar bruta não ultrapasse um salário mínimo e meio (R$ 697,50) por morador, dentre outras exigências estabelecidas no manual do candidato, disponível em no site da instituição.

Outras informações também podem ser obtidas pelo Disque Vunesp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, pelo telefone 0/xx/11/3874-6300.

Homem que é homem (Luis Fernando Verissimo)

Charge by "Capitão Cocada"



Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.

*

Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!


Situação 1


Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao maître. Você tem certeza que o maître está se esforçando para não rir da sua pronúncia. O maître levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 0 prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique". Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode agüentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o maître e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!


Situação 2


Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga — se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado — a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento.

Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, juntar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreendendo se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai seguir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.


Situação 3


Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobra para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu copo de vinho enquanto usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleireiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:

— Se quiser usar o meu...

— O seu...?

— Joelho.

— Ah...

— Ele está desocupado.

— Mas eu não o conheço.

— Eu apresento. Este é o meu joelho.

— Não. Eu digo, você...

— Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.

Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.

Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH não responde a testes. Um HQEH acha que teste é coisa de veado.

*

Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste pais se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis!"? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? 0 Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotó com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem é homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.

HQEH nunca vai a vernissage.

HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.

HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.

Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.

Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".

Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".

Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.

HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro.

Os quatro só não têm se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.


Texto extraído do livro "As mentiras que os homens contam, Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 89.

Festa Literária de Paraty abre espaço para ciência e temas contemporâneos


Em dívida com a poesia, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa quarta-feira (1º) e vai homenagear, em sua sétima edição, o poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968). O único poeta a quem a Flip rendeu homenagem foi Vinícius de Moraes (1913-1980) na primeira edição, em 2003.

A programação oficial, que inclui 34 romancistas, ficcionistas, historiadores, jornalistas e quadrinistas, promete, além do resgate e da valorização da obra de Bandeira, reflexões sobre ciência, religião, política e direitos humanos nas ruas da histórica Paraty. "Fazia tempo que a poesia não tinha destaque na Flip. Entre os poetas, Bandeira é um dos primeiros que aparece", explicou o curador da festa, Flavio Moura em entrevista à Agência Brasil.


A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fará a cobertura da Flip com notícias diárias pela TV Brasil, Agência Brasil e Rádio Nacional.


O ineditismo é a marca mais forte da sétima edição da festa. Abrindo a programação oficial, na quinta-feira (2), quatro representantes da nova geração discutem a produção de quadrinhos na mesa Novos Traços. "A Flip sempre procura dar destaque a escritores jovens, que ainda não têm carreira consolidada e em quem aposta. Este ano, o incentivo vai não apenas para escritores, mas para quadrinistas novos", disse Moura.


No mesmo dia, haverá outra atração inédita. No ano em que se completam os 200 anos de nascimento de Charles Darwin e os 150 anos de A Origem das Espécies, a Flip receberá, pela primeira vez, um cientista. O biólogo norte-americano Richard Dawkins deve levantar a bandeira do ceticismo na mesa Deus, um Delírio, título de uma de suas obras.


Também no campo da não-ficção, dois autores chineses vão debater a história recente da China e as restrições às liberdades naquele país. A mesa China no Divã será dividida entre Ma Jian, que relembra o massacre da Praça da Paz Celestial, há exatos 20 anos, no livro Pequim em Coma, e o jornalista Xinran, autor de Testemunhas da China, com relatos da revolução cultural dos anos 60. "A presença de Ma Jian e Xinran é um dos destaques, já que a Flip nunca havia recebido autores chineses", comemora o curador.


Na sexta-feira (3), o jornalismo é o destaque da programação oficial e paralela. A profissão de repórter será abordada por Jon Lee Anderson, autor da principal biografia de Che Guevara, que estará na Casa da Cultura. O local que abriga eventos paralelos também receberá o escritor Milton Hatoum, o crítico literário Francisco Foot Hardman e a professora Walnice Nogueira Galvão para uma discussão sobre a obra de Euclides da Cunha (1866-1909), autor de Os sertões. Ainda sobre jornalismo contemporâneo, o norte-americano Gay Talese participa, no palco oficial da festa, da mesa Fama e Anonimato.


No mesmo dia, Chico Buarque e Milton Hatoum dão suas visões sobre o Brasil na mesa Seqüências Brasileiras, uma das mais disputadas da Flip. Entusiasta da festa, Chico lançou recentemente Leite Derramado, em que repassa a história do Brasil a partir das memórias do narrador, que, do leito de morte, desfia passagens de apogeu e declínio de sua família por meio de quatro gerações.


No sábado (4), as atenções estarão voltadas para o português António Lobo Antunes, autor de Memória de Elefante, que retrata sua experiência no exército português na guerra colonial em Angola. Lobo Antunes é um dos poucos convidados da Flip com direito à exclusividade no palco. Em vez de dividir a mesa literária, será apenas entrevistado. Este é um dos argumentos do curador Flavio Moura para uma programação mais concisa, com 34 autores contra 41 em 2008.



Moura rebate com um forte argumento as polêmicas e suspeitas lançadas sobre uma programação menor. Antes porém, taxativo, apressa-se em dizer que a crise econômica não teve nenhuma influência na programação. Ele diz que pode ter havido problemas para captação dos recursos, mas não houve na formação das mesas.


"A crise afeta todo mundo, é uma questão séria. Mas a programação não foi afetada em nada. Ela está um pouco menor, porque você tem que priorizar o tempo para os autores falarem. Sempre que possível, tentei enxugar as mesas ao máximo. A gente quer evitar que o autor viaje para a Flip e tenha pouco tempo para falar com o público", disse.


A crise, por outro lado, deve levar à 7ª Flip reflexões sobre valores e princípios que moldaram o pensamento ocidental, mas que agora passam por profunda revisão. Ainda sob o impacto da chegada do primeiro negro ao poder nos Estados Unidos, o historiador inglês Simon Schama revisitará a história norte-americana à luz da ascensão do presidente Barack Obama. Schama estará no domingo (5) na mesa O Futuro da América, título de sua mais recente obra.


Flavio Moura reconhece que a presença de historiadores e jornalistas na programação da Flip favorece o debate sobre questões sociais e políticas. "Mas não foi intencional", assegurou. "A Flip nunca se furta a discutir temas que estão na agenda do debate. Ela procura não se pautar unicamente por isso, porque é um evento literário, mas sempre que é possível trazer esse tipo de discussão para a programação, a gente o faz."


da Agência Brasil

domingo, 28 de junho de 2009

Literatube: Edgar Allan Poe (Especial do programa Entrelinhas)

Buenos Aires 2011 – Capital Mundial do Livro


por Kelly de Souza em 26 de Junho, no blog da Livraria Cultura

A UNESCO anunciou que Buenos Aires será a “Capital Mundial do Livro” em 2011. Melhor impossível. A proximidade Brasil-Argentina proporcionará a muitos aproveitar a fantástica quantidade de eventos, feiras e congressos que essa nomeação permitirá. Buenos Aires, na escolha da UNESCO, ganhou de Caracas, Lagos (Nigeria), Havana, Porto Novo (Benin), Sharjah (Emirados Árabes) e Teerã.

Segundo dados da Secretaria de Comunicação da Presidência, a Argentina possui mais 8 mil editoras de livros, jornais e revistas, 160 selos musicais, 500 cinemas, 3.200 livrarias e mais de 740 museus. Conforme estimativas oficiais, esse mercado cultural responde por quase 6% do PIB do País. Quanto ao número de livrarias, existe alguma controvérsia, já que várias entidades no Brasil afirmam superioridade em quantidade (nós teríamos cerca de 2.680), mas isso é irrelevante, los hermanos leem como poucos na América Latina. Segundo a Associação Internacional de Leitura Conselho Brasil Sul, enquanto o brasileiro lê em média um livro por ano, os argentinos leem quatro (nada comparado aos países desenvolvidos que leem cerca de 20).

A nomeação de uma cidade como Capital Mundial do Livro é feita todos os anos pela UNESCO em conjunto com as três principais associações mundiais da indústria editorial. A capital argentina é a 11ª cidade nomeada com esse título, sendo que todas as que já o receberam (Madrid/2001, Alexandria/2002, Nova Delhi/ 2003, Antuérpia/2004, Montreal/2005, Turim/2006, Bogotá/2007, Amsterdam/2008, Beirute/ 2009 e Liubliana/2010) ficam a distâncias consideráveis para o nosso “bico”. Assim, sendo aqui ao lado, poderemos aproveitar muito mais. Até porque a festa começará bem mais cedo: em 2010 a Argentina chegará ao seu Bicentenário e irá promover uma enorme quantidade de eventos culturais voltados à comemoração. E tem o que comemorar: a produção de livros na Argentina em 2006, por exemplo, alcançou 85 milhões de exemplares, com mais de 18 mil novos títulos.

Ainda segundo a UNESCO, Buenos Aires foi selecionada em função da qualidade e variedade do programa apresentado em sua candidatura. A nomeação não implica em qualquer prêmio financeiro, mas é o reconhecimento simbólico de uma cidade que serve e servirá como exemplo por sua atenção aos livros e à leitura.

Não vou me lembrar de todos, mas tem uma turma da pesada que com certeza agradece a homenagem da UNESCO, vejam só: Jorge Luiz Borges, Ernesto Sábato, Julio Cortázar, Manuel Puig, Juan José Saer e Haroldo Conti, Juan Gelman, Olga Orozco, Alejandra Pizarnik, Héctor Germán Oesterheld, Quino, Osvaldo Soriano, Osvaldo Lamborghini, Néstor Perlongher, Daniel Moyano, Osvaldo Bayer, Antonio Di Benedetto, Haroldo Conti, Germán Oesterheld, Rodolfo Walsh, César Aira, Ricardo Piglia, Andrés Rivera, Angélica Gorodischer, Sergio Bizzio, Daniel Guebel, Washington Cucurto, Juan Terranova, Fabián Casas, Oliverio Coelho, Mariana Enríquez e muitos outros.

Gripe suína vira tema de questões do 2º vestibular 2009 da Fatec-SP

A gripe suína, como é conhecida a influenza A (H1N1), virou tema de questões do vestibular de inverno 2009 das Fatecs (Faculdades de Tecnologia) de São Paulo. A prova foi aplicada neste domingo (28) e contou com seis testes multidisciplinares sobre a doença.


Confira aqui a resolução comentada do vestibular da Fatec-SP (UOL Vestibular)

Meus Contos Africanos - Livro de contos selecionados por Nelson Mandela


Escritora comenta contos selecionados por Nelson Mandela

por TATIANA BELINKY
especial para a Folha de S.Paulo


As 32 histórias escolhidas por nada menos que o grande personagem, verdadeiro herói da África do século 20 --Prêmio Nobel da Paz de 1993--, só pelo título do livro já abrem o apetite do leitor brasileiro para esse tesouro caleidoscópico de contos de muitas épocas e lugares da imensa África, para nós ainda bastante desconhecida. Ainda bem que o livro traz um bom mapa da África, mostrando os diversos lugares e origens das histórias.

Em boa hora a editora Martins oferece às nossas crianças este livro precioso, com o não menos precioso prefácio do próprio Nelson Mandela.

Falar de todos os contos não é viável neste pouco espaço. Mas dá para uma breve ideia de toda essa riqueza. E que riqueza! Desde a exuberante e variada natureza do vasto e ainda misterioso continente negro até... até onde a imaginação pode acompanhar tantas e tantas narrativas.

Boa parte das histórias são autênticas fábulas, crendices e crenças e superstições, desde tempos imemoriais, histórias que foram sendo contadas e recontadas... e sendo modificadas, aos poucos, com o passar do tempo. "Quem conta um conto acrescenta um ponto." Nessas fábulas, os animais com características humanas, como é de se esperar, são bons e maus, moralistas e amorais, poéticos e humorados e por aí vai, e até mães "maternais" e outras... nem tanto.

Mas nem todos são os mesmos bichos (e até insetos) iguais aos nossos velhos conhecidos do ocidente europeu --só para dar um exemplo: a "nossa" ardilosa, esperta e nada confiável raposa, que nem aparece nessas histórias africanas, nelas é substituída pela... lebre. E felinos, claro, e serpentes, e aves, e monstros de terra, mar e ar, conhecidos, desconhecidos e surpreendentes.

E mais adiante, em tempos mais "recentes" --só alguns breves 7-8 séculos atrás, já aparecem histórias muçulmanas, demônios bem antigos (como Asmodeus trancafiado numa bela garrafa), princesas e rainhas, jovens bonitos, sultões e criaturas angelicais etc. etc. etc.

Ah, vale lembrar que os bichos, quaisquer que sejam, falam e são citados em frases e expressões (em itálico) nos seus idiomas próprios. E têm nomes, para mim quase impronunciáveis. (Rudyard Kipling dava nomes aos bichos, como Riki-Tiki-Tavi, mas não tão complicados).

E alguns dos contos incluem canções com letras "incompreensíveis" acompanhados, no fim, pelas respectivas pautas musicais! Eu gostaria de falar mais, os assuntos são muitos.

Mas só quero lembrar que, em uma das últimas (e mais longas) histórias, as aventuras africanas acontecem até com uma bicicleta! Sinal dos tempos.

Herói africano

Até parece que terminei. Mas não consigo deixar de acrescentar alguma, melhor dizendo, algumas coisas muito significativas na já longa (mas não suficiente!) vida, significativas para a África e, claro, para o nosso mundo inteiro.

Quem foi que disse que um país feliz não precisa de heróis? Se bem me lembro, foi Brecht. Mas qual é, onde fica, o tal País Feliz? Todos nós precisamos de heróis! O mundo teve muitos mártires, figuras emblemáticas, inspiradoras e "heroicas" --por causas as mais diversas e muitas vezes polêmicas e até discutíveis.

Mas heróis, heróis mesmo, autênticos (e não fantásticos ou mitológicos) --esses são bem mais raros--, em especial os que, através dos séculos, conseguiram resistir aos "revisionismos", também eles discutíveis e polêmicos.

Mas não o herói de quem falamos aqui e agora. Esse fabuloso Nelson Mandela! Bastam apenas uns poucos dados para quem não o conhece avaliar a dimensão dessa figura que é o orgulho da humanidade do século 20 --e do 21, até hoje.

Eis algumas linhas de apresentação da Wikipédia: "É um advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Principal representante do movimento antiapartheid como ativista, sabotador e guerrilheiro. Considerado pela maioria das pessoas [eu inclusive] um guerreiro em luta pela liberdade, era considerado pelo governo sul-africano um terrorista"...

Por causa da sua luta incessante contra a segregação e o preconceito raciais, foi preso e julgado em 1962. Foi a primeira das suas prisões e condenações, inclusive uma de enforcamento, prisão perpétua etc.

Tudo somado, Mandela passou decênios na prisão --sem jamais ter desistido das suas posições, com inigualável coragem e idealismo. Nesse meio tempo, ganhou simplesmente quase todos os prêmios importantes, dos países e movimentos, da esquerda, da direita, do centro, da Índia, do Canadá, da Anistia Internacional etc. --sem esquecer o Prêmio Nobel da Paz, e outros mais, por todas as "boas causas", como a luta contra a AIDS, os direitos humanos e por aí vai.

Vários livros em um

E mais não adianto. Mas isto eu preciso lembrar: o bonito livro é grande e pesado --suas cerca de 150 páginas, de capa mole, em lustroso papel couché, pesa cerca de um quilo e é desajeitado, quase impossível de segurar e abrir nas mãos, ou mesmo na mesa: as páginas durinhas, abertas, voltam a se fechar. O livro pede um atril para ser lido. Não vejo crianças --às quais as histórias são dedicadas-- com este volume nas mãos. Suas 32 histórias valem, e merecem, ser "distribuídas" em vários livros.

Em tempo: as traduções (assim, no plural, mesmo) de Luciana Garcia, boas, levam o "jeito" de cada narrador. E são muitos, não dá pra citar todos.

Assim como os excelentes ilustradores, uma página inteira para cada conto.

TATIANA BELINKY, 90, é escritora e autora de livros infanto-juvenis.

MEUS CONTOS AFRICANOS
Organizador: Nelson Mandela
Tradução: Luciana Garcia
Editora: Martins (tel. 0/xx/11/ 3116-0000)
Quanto: R$ 54,80 (156 págs.)

Contos de Tchekhov são adaptados para a linguagem dos quadrinhos


Título faz parte da coleção “Literatura Mundial em Quadrinhos” que neste ano adaptou “Dom Quixote”.

Livro apresenta cinco contos de um dos mais famosos novelistas e dramaturgos russos, Anton Tchekhov: Aniuta, O Investigador, A Revelação, O Infrator e A Aposta.

Cinco histórias compõem o livro “Contos de Tchekhov”. Na primeira delas, Aniuta, o autor narra à vida de uma mulher Aniuta, que durante sete anos morou em pensões para estudantes e serviu de objeto de estudo para eles. A personagem conheceu vários rapazes antes do jovem Klotchkov, terceiranista de medicina, cujo interesse era centrado no estudo de anatomia. O conto Aniuta retrata o dilema de uma mulher que era sempre esquecida.

Em O Investigador, Tchekhov conta a história de um médico legista e um investigador criminal que vão fazer uma autópsia no corpo de uma dama que previu com exatidão o dia da própria morte. A possível causa da morte seria envenenamento. E a investigação leva à conclusão de que a própria mulher se matou para punir o marido por uma traição.

O conto A Revelação, fala do engenheiro Bakhromkin, assessor público, que, sentado em sua escrivaninha se põe a meditar sobre o reencontro com uma bela mulher por quem fora apaixonado no passado. Enquanto pensa rabisca em um pedaço de papel os traços dessa mulher. Ao terminar o desenho o considera uma obra de arte, e passa a se imaginar um artista. O devaneio chega a tal ponto que ele começa a comparar a vida que leva com o glamour da vida de um artista.

O Infrator trata do inquérito de Denis Grigóriev, um pobre pescador que rouba uma porca que prendia um dos trilhos de uma ferrovia. Ao ser questionado sobre o roubo da porca, ele diz: “Ué. A porca? A gente usa de peso para pescar!”. O clímax da história acontece com a condenação do pescador que é preso por uma tragédia que não aconteceu.

Uma aposta entre um banqueiro e um jovem advogado é o tema de “A Aposta”. Em uma reunião em que se discute sobre a pena de morte, e em que a maioria a achava um método de punição antiquado, foi proposto uma mudança pela prisão perpétua.

Com o prosseguimento da discussão, o banqueiro que ainda era jovem e impulsivo perdeu a paciência com o advogado muito mais jovem e apostou dois milhões de como ele não agüentaria nem cinco anos na cadeia. Os dois fecharam a aposta em quinze anos de prisão. O desfecho é que nesse tempo o jovem advogado acabou lendo milhares de livros e o banqueiro, quase na falência, não queria pagar o que foi combinado...

O autor: Anton Pavlovitch Tchekhov nasceu em 1860, em Taganrog, Rússia. Aos 16 anos, ingressou na Faculdade de Medicina. Logo cedo começou a escrever contos para jornais e folhetins moscovitas, e ajudava a família com o dinheiro que recebia. Quando passou a clinicar, não só deu continuidade à atividade literária como a incrementou com temas sociais. Dedicou-se intensamente ao teatro, escrevendo peças importantes como: A gaivota; Tio Vânia; As três irmãs e o Jardim das Cerejeiras. Além de peças teatrais e contos, deixou importantes novelas como: O monge negro e Enfermeira nº6.

Adaptação e Roteiro: Desde os vinte anos, o paulistano Ronaldo Antonelli trabalha como revisor e preparador de texto na área de literatura. Estudou Filosofia na USP, mas a atividade editorial o levou a cursar jornalismo nos fins dos anos 70. A partir de 1980 passou a fazer traduções, tais como as primeiras obras de Che Guevara no Brasil. Trabalhou no DCI, Isto É e Folha de São Paulo e editoras como Abril e Círculo do Livro. Ronaldo se aproximou dos quadrinhos nos anos 70, como roteirista de criações. Também criou histórias para as revistas Spektro e Careta. Foi coordenador da InterQuadrinhos, como editor de textos, e mais recentemente adaptou obras de literatura brasileira para a Editora Escala Educacional, tais como: O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, e O triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto.

O Ilustrador: Francisco Sebastião Vilachã é carioca, e praticamente se alfabetizou lendo gibis e clássicos da literatura ilustrados nas revistas Epopéia e Edições Maravilhosas. Na década de 70, conheceu Fortuna, criador da revista O Bicho, onde Vilachã publicou sua primeira história. Depois, colaborou com a revista Spektro e as séries da editora Grafipar. Seguiu por duas décadas como ilustrador de livros didáticos e só retornou aos quadrinhos quando a Editora Escala Educacional se interessou por seu projeto voltado para obras de Machado de Assis e Lima Barreto.

Editora: Escala Educacional | Autor: Anton Pavlovitch Tchekhov | Roteiro e Adaptação: Ronaldo Antonelli | Ilustrações: Francisco Vilachã, com 64 páginas.

sábado, 27 de junho de 2009

UFPel ganha batalha judicial pelo Novo Enem

Já havíamos noticiado ontem aqui no blog a decisão que derrubou a liminar do MP. Mas segue aqui neste post a reportagem de Rubens Filho, do blog Amigos de Pelotas, com maiores detalhes:


Derrubada liminar que proibia realização do Enem em outubro próximo na UFPel
A Procuradoria Regional da 4ª Região derrubou, por "agravo de instrumento", decisão judicial que proibia a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como mecanismo de ingresso na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em substituição ao vestibular, a partir de 2010.

O exame está previsto para outubro próximo. A realização do Enem havia sido proibida pelo juiz Éverson Silva, em resposta à manifestação da Procuradoria da República em Pelotas contrária ao exame neste ano.

No agravo de instrumento, a desembargadora federal Maria Lúcia Luz Leiria, relatora, escreveu:

"Consoante se vê na disposição expressa no art. 51 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/96, que as normas de seleção pública e admissão de estudantes nos cursos de ensino superior da rede pública se inserem na autonomia universitária prevista na Constituição. E considerando que, conforme Nota Técnica do Ministério da Educação, a prova do Enem, que será aplicada, cobrará os mesmos conteúdos curriculares da escolas de ensino médio que são exigidos pelos vestibulares, mudando apenas seu formato, não verifico qualquer mácula ao referido dispositivo legal, ou prejuízo aos estudantes, pois todos serão submetidos ao mesmo exame. Ante o exposto, dou provimento ao agravo de instrumento, nos termos da fundamentação".

Literatube: Michael Jackson e Stephen King no cinema

A morte do ícone da cultura pop, Michael Jackson, não poderia passar em branco aqui no blog. Artista multifacetado (em todos os sentidos...), foi um dos inventores do videoclipe e deixou suas marcas também no cinema, com o clipe/filme Ghosts, cujo roteiro foi co-escrito por ninguém menos que Stephen King. Abaixo, algumas (wiki) informações sobre a obra.

.......................................................................................................


Ghosts é um médio-metragem de Michael Jackson, cujo roteiro foi co-escrito pelo grande mestre de terror, Stephen King. Dirigido por Stan Winston, com dicas de Steven Spielberg, Ghosts possui 45 minutos. O projeto iniciou-se em 1993 e só foi concluído em 1996.

A primeira exibição de Ghosts remonta a 24 de outubro de 1996. Nesse dia, a MJJ Productions, empresa de Jackson, organizou uma exibição VIP exclusiva para a Academia de Cinema de Beverly Hills. Depois disso, o filme começou a ser exibido antes do filme Thinner, de Stephen King - co-roteirista de Ghosts -, em uma dezena de salas de cinema nos Estados Unidos.

Ghosts é certificado pelo Guiness Book como "O Clipe Mais Longo";
O médio-metragem foi exibido no Festival de Cinema de Cannes no ano de 1997, ganhando do juri um Prêmio Especial.




Parte 2

Parte 3

Parte 4

sexta-feira, 26 de junho de 2009

UFPel poderá realizar novo Enem como única forma de ingresso


A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) poderá realizar o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos dias 3 e 4 de outubro como forma única de ingresso na instituição. A decisão foi tomada nesta sexta-feira pela desembargadora federal Maria Lúcia Luz Leiria, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
A Procuradoria Seccional Federal (PSF) de Pelotas encaminhou o recurso que visa cassar a liminar expedida pela Justiça Federal no último dia 4, que suspendeu antecipadamente a adoção do sistema. A desembargadora considera que, conforme nota técnica do Ministério da Educação (MEC), a prova cobrará os mesmos conteúdos curriculares das escolas de Ensino Médio e que são exigidos pelos atuais vestibulares, mudando apenas seu formato.

UFSC divulga locais de prova do vestibular de inverno


A UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) divulgou nesta sexta-feira (26) os locais de prova do vestibular de inverno de 2009. Estão em disputa 645 vagas em oito cursos em Florianópolis, Joinville, Curitibanos e Araranguá.

Veja aqui os locais de prova

O curso mais concorrido é o de engenharia eletrônica (diurno), com 23,17 candidatos por vaga. Em segundo lugar, aparece fonoaudiologia (noturno), com 20 vestibulandos disputando cada vaga. Veja a concorrência completa aqui.

Nos dois primeiros dias de prova (12 e 13 de julho), serão realizados exames objetivos, e no terceiro (14) estão previstas a redação e seis questões discursivas.

Veja os cursos e vagas oferecidos:

Florianópolis

Educação no campo - 50 vagas
Engenharia física - 30 vagas
Fonoaudiologia - 30 vagas
Biblioteconomia - 35 vagas
Licenciatura em química - 20 vagas
Joinville

Engenharia de mobilidade - 200 vagas
Curitibanos

Ciências rurais - 180 vagas
Araranguá

Tecnologia da informação e comunicação - 100 vagas

Outras informações podem ser obtidas no edital do vestibular da UFSC.

Saramago publica textos de seu blog


Lisboa, 25 jun (EFE).- O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998, apresentou hoje "O Caderno", um livro que reúne vários artigos publicados em seu blog pessoal.


O escritor afirmou que o formato blog "não é nada de outro mundo" e reconheceu que começou a trabalhar na Internet a pedido de sua esposa e tradutora, a jornalista espanhola Pilar del Río.


O lançamento da obra foi transmitido ao vivo de Lisboa pela internet e Saramago respondeu a perguntas de seus leitores, uma delas sobre a divulgação de seus livros na Internet.


"Claro que isso afetaria os escritores. Do que vocês querem que vivamos?", respondeu Saramago, que ressaltou sua oposição aos "downloads anárquicos", que afetam especialmente os músicos.


"Espero que os livros em papel ainda tenham uma longa vida", disse o escritor português, que deixou aberto o debate sobre as condições das edições on line.


O blog de Saramago (http://caderno.josesaramago.org), já conta com mais de dois milhões de entradas, segundo o autor, considerado por ele "um fenômeno de massas", em resposta à necessidade do ser humano de se comunicar e reafirmar-se em sua própria individualidade.


Saramago comentou vários de seus textos, como que critica o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, chamando-o de "delinquente", e os que falam sobre o ex-líder dos Estados Unidos, George W. Bush, que também foi alvo de suas reprovações.

Editora aposta na 'twitteratura'


(BR Press) - A idéia partiu de dois estudantes americanos: levar literatura para as massas por meio do Twitter. Como assim, literatura em 140 caracteres? Exato. Quem já comprou a idéia foi a Penguin Books dos EUA, que vai lançar uma coletânea com frases de gênios da literatura, de Dante a JK Rolling.


Alex Aciman e Emmet Rensin acreditam que começaram uma revolução cultural, segundo afirmaram ao jornal britânico The Guardian, ao unir clássicos da literatura ao contemporâneo e instantâneo Twitter. O livro Twitterature deve sair em novembro.

O duro será 'twittar' as 512 páginas de A Divina Comédia em 20 frases curtas ou mesmo resumir o novo Harry Potter e O Enigma do Príncipe, que JK Rolling escreveu em 784 páginas, em 2.800 caracteres - cerca de uma página.

(*) Com informações do The Guardian.

Textos inéditos de Fernando Pessoa são publicados em nova coleção


Lisboa, 24 jun (EFE).- Vários textos inéditos do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) foram reunidos em uma coleção, que foi apresentada hoje em Lisboa por seu organizador, o colombiano Jerónimo Pizarro.


Com o título "Fernando Pessoa: o guardador de papéis", Pizarro, junto com um grupo de estudiosos do autor, reuniu escritos nunca antes divulgados ou muito pouco conhecidos, entre os quais destaca-se um sobre o encontro entre o literato luso e o ocultista inglês Aleister Crowley (1875-1947).


"Chegamos a cada documento de maneiras diferentes. Unimos o que fisicamente estava disperso", disse o investigador colombiano, considerado um dos maiores especialista na obra de Pessoa, à Agência Efe.


Entre os documentos mais valiosos, o organizador do livro destacou também uma dissertação do poeta sobre o fenômeno religioso do santuário luso de Fátima, onde milhares de católicos se reúnem desde o início do século XX, para celebrar as aparições de Nossa Senhora.


Pessoa, uma das figuras mais destacadas da literatura portuguesa, tem uma extensa obra que foi motivo de várias polêmicas, entre elas o leilão de seus documentos, realizado em novembro em Lisboa e na qual herdeiros e o Estado pediram os direitos sob suas obras.


Para o colombiano, "Pessoa representa um universo plural. Tem tamanha variedade de estilos que é difícil se cansar de suas obras", afirmou e se lamentou que, apesar de haver escrito em português, francês e inglês, seus trabalhos ficaram famosos tarde, fora de Portugal.


O fato de escrever em três línguas, segundo Pizarro, faz de Pessoa, o único escritor a "desafiar" a literatura nacional.


O poeta, que dominava o inglês por ter passado boa parte de sua juventude na África do Sul, onde seu padrasto foi diplomata, escreveu grande parte de suas obras assinando com pseudônimos diferentes.


Entres suas obras, publicou o livro de poemas "Mensagem" (1934) e o romance "O Livro do Desassossego", o mais popular e reconhecido, que ficou famoso anos depois de seu falecimento, no dia 30 de novembro de 1935.

Entrevista: Ismail Kadaré, vencedor do prêmio literário Príncipe das Astúrias


"Podemos escavar com facilidade o seu solo, mas penetrar sua alma, isso jamais." A frase colocada por Ismail Kadaré na boca de um padre italiano de seu romance "O General do Exército Morto" define a personalidade do povo albanês. Define também a personalidade do próprio autor, nome-chave da literatura albanesa e um dos mais importantes da literatura mundial contemporânea.

Exilado político na França nos anos 90, o escritor agora divide seu tempo entre Paris e Tirana, capital da Albânia. Escrito nos anos 70, seu "Crônica na Pedra" -retrato do país na Segunda Guerra pelos olhos de um pré-adolescente- é lançado no Brasil, com tradução direta do albanês. Em seu apartamento, Kadaré, 72, falou à Folha sobre seu país, o stalinismo e, acima de tudo, literatura.

Jeff J Mitchell/Reuters

Folha - O sr. costuma dizer que sua formação literária caminha entre Macbeth e Dom Quixote. Como define essa mistura?
Ismail Kadaré - Trata-se sempre de caminhar entre o trágico e o grotesco. É um bom coquetel. A literatura precisa dos dois. Na vida é a mesma coisa, ainda que nem tudo que está na vida precise estar na literatura. A literatura é mais importante do que a vida.

Folha - Vários paralelos foram feitos comparando a sua literatura ao realismo mágico latino-americano. O sr. concorda com a aproximação?
Ismail Kadaré - Não sei, me parece um pouco ingênuo. Dante Alighieri fazia uma espécie de realismo mágico, Kafka e a mitologia grega também. Não sei por que essa denominação ganhou tanta força. O lado irrealista faz parte da literatura. Ela não pode nem mesmo existir sem essa dimensão transcendental, mágica, onírica, oculta.

Folha - Cabe aos grandes escritores juntar realidade e irrealidade?
Ismail Kadaré - Os escritores são uma raça à parte. A literatura não é democrática. Ela é baseada na desigualdade. Se você escutar que a França tem mil escritores, isso não é boa notícia. Esse número precisa diminuir. A literatura é baseada numa seleção sem piedade, que guarda o grande valor. Até aceito a literatura medíocre ou média pois ela cumpre uma função, atrai e garante leitores que um dia poderão ir em direção à grande literatura. O perigo começa quando a literatura mediana quer impor suas leis. É preciso que esses universos fiquem bem separados, sem intervir um no outro, como castas.

Folha - A Europa ocidental ainda vê os Bálcãs como um incômodo, como um problema a resolver?
Ismail Kadaré - Acho que sim, embora o interesse da Europa pelos Bálcãs venha crescendo. Os Bálcãs são uma realidade. É uma parte incômoda, mas é uma parte. Dizemos que é o quintal da Europa, mas o quintal é parte da casa. Sem tranqüilidade nos Bálcãs não há tranqüilidade para a Europa.

Folha - O sr. é favorável à entrada da Albânia na União Européia?
Ismail Kadaré - Sim. É a única esperança para que os Bálcãs entrem numa via de desenvolvimento normal. Ironicamente, o povo mais pró-europeu e ao mesmo tempo mais pró-americano são os albaneses. É curioso, porque era o povo mais stalinista. Há uma lógica interna para isso. Passamos de um extremo a outro, como uma reação.

Folha - E como foi a questão da dissidência ao regime no seu caso?
Ismail Kadaré - Na Albânia não se podia ser publicamente contra o regime, era totalitarismo absoluto. Mas pela literatura era possível contestar o regime. Tudo que escrevi e publiquei foi feito nesse contexto. Nunca fiz ataques diretos ao Estado, somente ironias escondidas, um pouco mais evidentes às vezes. Quando me perguntam se sou um dissidente digo não. Sou um escritor normal, num país anormal. E isso já é muito.

Folha- Mas o sr. teve um período de apoio ao regime, não?
Ismail Kadaré - Desde o começo tive reservas ao regime, ainda que elas não fossem tão conscientes. Se você ama a literatura, não pode amar o regime comunista. Não pode amar ao mesmo tempo Macbeth e a direção do comitê central de Stalin.

Folha - Muitos dos seus livros abordam o Império Otomano. Podemos comparar o imperialismo americano atual aos impérios clássicos?
Ismail Kadaré - O Império Otomano era atroz, sem aspectos positivos. Eu recuso essa comparação. Essa moda de chamar os EUA de império é um vestígio da Guerra Fria. A base da propaganda stalinista era buzinar "imperialismo americano" nas nossas orelhas. Na França, ouço a mesma propaganda tantos anos depois. É uma paixão exagerada. Os EUA são uma grande potência e, como toda grande potência, eles têm o bem e o mal em grandes proporções. Mas a moda me soa retrógrada.

Folha - O que achou da escolha de Le Clézio para o Nobel de Literatura?
Ismail Kadaré - Conheço este escritor, sei que é sério. Mas li seu primeiro livro há muitos anos e quase nada depois. Confesso que não me apaixonei. Sei que ele é respeitado na França, mas sem ardência. Enfim, o Nobel faz suas escolhas.

Folha - O sr. poderia falar um pouco sobre "Crônica na Pedra"?
Ismail Kadaré - É um livro sobre a Albânia, mas também sobre a guerra, a saída do narrador da infância, sobre tradições. Prefiro que os leitores descubram por si próprios.

*Extraído da Folha Online

Ismail Kadaré vence Príncipe de Astúrias de Literatura


Oviedo (Espanha), 24 jun (EFE).

O albanês Ismail Kadaré, um dos escritores europeus de maior destaque no século XX, venceu hoje o Prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura 2009, divulgado na cidade espanhola de Oviedo, pela "beleza e pelo compromisso" de sua criação literária.


Concorriam com Kadaré na fase final do prêmio o holandês Cees Nooteboom, o italiano Antonio Tabucchi, o britânico Ian McEwan e o tcheco Milan Kundera.


O júri destacou que o autor albanês "narra com linguagem cotidiana, mas repleta de lirismo, a tragédia de sua terra, campo de contínuas batalhas".


"É um prêmio de grande valor, que alegraria qualquer escritor que o recebesse", declarou Kadaré por telefone a partir de sua casa em Tirana.


"Dedico o prêmio à literatura e língua albanesas, desconhecidas no mundo", acrescentou o autor, de 73 anos.


Kadaré escreveu "Abril Despedaçado", que serviu de inspiração para o filme de mesmo nome dirigido pelo diretor Walter Salles em 2001 e estrelado pelo ator Rodrigo Santoro. Na versão cinematográfica, a história se passa no Nordeste brasileiro.


Mais de 30 candidaturas procedentes de 25 países concorreram ao Prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura 2009. No ano passado, a vencedora foi a canadense Margaret Atwood.


Autores como Mario Vargas Llosa, Günter Grass, Doris Lessing, Susan Sontag e Amós Oz já foram agraciados com a premiação, que concede 50 mil euros e uma estatueta desenhada pelo artista espanhol Joan Miró ao vencedor.


Os nomes dos ganhadores de seis Prêmios Príncipe de Astúrias 2009 já foram anunciados. Os prêmios serão entregues no final de outubro pelo príncipe Felipe de Borbón, herdeiro da coroa espanhola, em uma cerimônia em Oviedo.

.......................................................................................................

Sobre o Autor:

Ismail Kadaré

*Biografia extraída da Wikipédia

Ismail KadaréIsmail Kadaré nasceu em 28 de Janeiro de 1936 em Gjirokastër, na Albânia. É o mais conhecido escritor albanês. Filho de um funcionário público, presenciou a devastação da Albânia pelas tropas que se digladiaram durante a Segunda Guerra Mundial, experiência que deixou as suas marcas tanto na sua vida como na sua obra. Estudou História e Filologia na Universidade de Tirana e no Instituto Gorky de Literatura em Moscovo (Moscou). Depois de sofrer ameaças do regime comunista albanês, exilou-se em França em Outubro de 1990, antes do regime colapsar. Regressou ao seu país em 1999. Recebeu muitos prémios literários, e foi nomeado diversas vezes para o Prémio Nobel da Literatura, onde quase sempre aparece na lista de favoritos.

Recebeu o Prémio Internacional Man Booker em 2005.

Em 2009 foi galardoado com o Prêmio Príncipe de Astúrias das letras.


Dissidência ou conformismo?As opiniões divergem sobre se Kadaré foi um dissidente ou um conformista durante o período comunista da Albânia. Em diversas ocasiões, Kadaré refutou a ideia de ter sido dissidente. Argumentos podem ser esgrimidos em ambos os sentidos. De facto, foi praticamente o único escritor albanês autorizado pelo regime, e foi mesmo deputado do regime-fantoche de Enver Hoxha, mas algumas das suas obras (como O Palácio dos Sonhos) são profundamente anti-totalitárias e ressaltam o valor da liberdade.


Lista (incompleta) de obras
As datas referem-se à primeira edição portuguesa e não correspondem à data ou ordem de escrita

O Dossier H (Dosja H) 1991
Concerto no fim do inverno (Koncert në fund të dimrit) 1991
O Palácio dos Sonhos (Pallati i ëndërrave) 1992
A Pirâmide (Piramida) 1994
Três Cantos Fúnebres pelo Kosovo 1999
Abril despedaçado (Prilli i Thyer) 2002 - serviu de argumento para o filme Abril despedaçado
O General do Exército Morto (Le général de l'armée morte) 2004

Conto Brasileiro: Comércio de Flores (Raul Pompéia)


COMÉRCIO DE FLORES


Flores! Quem quer as flores?

Todas as noites ali, principalmente às invernosas, quando são mais belas às flores, todas as noites à porta do teatro.

A alegria passava. Cavalheiros brilhantes de alvos peitilhos, pontuados de pedras rútilas, senhoras sérias, coradas de sangue feliz e rico, as beldades desordeiras, de uma em uma picando o passo com os finíssimos borzeguins feéricos, deixando na areia do átrio vestígios mínimos como os pés das corças, outras em atropelo, tossindo risos de bacante, permutando palavras confusas de estranhos idiomas, confusas e quentes como um hálito de alcova, como o rápido fulgor das cabeleiras louras que se agitavam na passagem, felizes e louras como a madureza dos trigos e a opulência das messes.

Quando a chuva caía, eram ainda alegres.

- Flores! Quem quer as flores?

Como são belas as flores quando chove!...

E elas passavam, as mulheres louras, confortadas nas mantilhas espessas, veludosas, que lembravam as friorentas ovelhas despidas.

- Quem quer as flores?

Todas rápidas a fugir do inverno que lhe não compravam um ramalhete. Entretanto, a pequenina mostrava, no tabuleiro de folha de dous fundos, que lindas cousas! As violetas, perpetuamente murchas como o sorriso dos pobres, mas que vão tão bem à mão das luvas claras, com o segredo artístico dos contrastes... Quando não: tinha, para os menos contemplativos, as rubras rosas como gargalhadas presas, vivas, rorejadas da chuva, luzindo ao gás como de um orvalho de topázios, bebendo a frescura d'água, no tabuleiro verde de flandres, vivas, à noite, como se guardassem nas pétalas todo o esplendor de um dia.

Ninguém comprava. Apenas o tentador, o mau! aquele elegante dissimulado, que olhava, falando, para outra banda, e torcia o bigode... Comprava tudo, mas que lhe fosse vender à casa... De que maneira ter às mãos tantas flores, se as comprasse ali?

Quem sabe, tem a miséria um encanto próprio? Talvez fosse a menina sedutora, de algum sabor amargo, novo, que os saciados prezam, variedade descendente que convida.

Ah! O tentador, o mau! Voltava sempre, como um pêndulo que tonteja!

Era bela a mercadora. Quinze anos. Miúda como de doze, feita porém como as mulheres em ponto.

Ao nariz, às faces, três sinais sangüíneos. Bela desse capricho, às vezes, de formosura que parece uma ironia da necessidade, redonda como as camélias dobradas, que às vezes tinha; diríamos nutrida, se não fosse a fome.

Tinha os dedos roídos de agulha. À tarde, uma senhora dava-lhe flores para vender.

- Quem quer as flores?

Até que uma noite ele veio; ela foi.

Ninguém comprava; tinha mãe doente, um incêndio de febre à testa, delírios, desmaios. Ninguém comprava!

Quando voltou à casa, tinha morrido a enferma.

E ela não teve uma flor para enfeitar a morta, que o tentador comprara todas.