terça-feira, 2 de junho de 2009

Poesia Comentada: Merda e Ouro (Paulo Leminski)

Merda e ouro


Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.

(Paulo Leminski)

*do livro Distraídos Venceremos
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De fato, não há nada mais democrático do que uma bela cagada. Mas o que se entende aqui por "cagada"? Eis a pedra de toque na construção do poema: a Plurissignificação, o caráter polissêmico da palavra.
Assim, a palavra cagada e outras correspondentes (merda, bosta...) podem remeter ao sentido denotativo ou à conotação. No primeiro caso, como excremento, produto do processo digestivo, o próprio 'cocô'; no sentido conotativo, 'cagada' pode remeter a 'erro' ou 'imperfeição'.

De qualquer forma, a 'cagada' coloca todos na mesma posição, seja no sentido literal, seja no sentido de que somos imperfeitos, independentemente de nossa condição social, econômica, política, religiosa... ('Cagam ricos, cagam pobres,
cagam reis e cagam fadas'). Dessa forma, tome a questão no sentido que quiser: Quem nunca fez uma cagada?

Mas, conforme os dois últimos versos: Não há merda que se compare à bosta da pessoa amada... Isso soa um pouco ambíguo, não é? Estaria o eu-poético referindo-se à própria pessoa amada ou àquilo que ela fez? Ou ambas as coisas...

Na primeira hipótese, pode-se concluir que, ao refereir-se desta forma à pessoa amada, o eu-lírico revela uma dualidade no amor, algo que condensa, de certa forma, o ódio e o próprio amor. No segundo caso, dir-se-ia não haver nenhum erro ou imperfeição comparável àquele da pessoa que se ama. Se essas idéias não forem mutuamente excludentes, poderemos dizer que, com toda a irritação que isso nos possa causar, mesmo assim, persistimos amando alguém, mesmo com todos os seus defeitos.

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Um comentário:

  1. Realmente não a nada mais bonito que uma bela cagada(pricipalmente aquela cagada "the flash", a qual nem precisa limpar a bunda depois).No entanto, o mais interessante do poema é o fato da igualdade humana pelo menos na hora da cagada do dia a dia.

    Se bem que alguns limpam a bunda com papel higiênico com perfume,outros limpam com papel higieno que mais parecem lixas, mas como o poema não retrata a assunto pós cagada é isso ae.
    =D

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