terça-feira, 30 de junho de 2009

Flip 2009, um encontro cultural múltiplo em Parati


7ª Festa Literária contempla literatura, ciência, música erudita e histórias em quadrinhos

*Francisco Quinteiro Pires, de O Estado de S. Paulo

Considerado por Mário de Andrade o São João Batista do modernismo brasileiro, o poeta pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968) é o homenageado da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty.


Realizada entre 1º e 5 de julho, com o custo de mais de R$ 5,9 milhões, captados por meio de leis de renúncia fiscal, a Flip prevê 19 mesas em que 34 autores vão debater temas variados, de ciência e poesia a história em quadrinhos e música erudita. O público estimado, segundo Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip, é entre 20 mil e 30 mil pessoas.



A conferência de abertura, às 19 h do dia 1º, é comandada por Davi Arrigucci Jr., autor de ensaios fundamentais sobre Bandeira, reunidos em Humildade, Paixão e Morte (Companhia das Letras) e O Cacto e As Ruínas (Editora 34). Sua fala se concentrará nas ideias desenvolvidas nessas obras críticas, nas quais mostra como Bandeira foi capaz de extrair o sublime do prosaico, usando palavras simples, de transformar a morte em material poético e de relacionar a poesia com outras artes como a música e a pintura.



Vinicius de Moraes, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Machado de Assis foram os homenageados nas edições anteriores.



Mais duas mesas estão voltadas para o autor dos poemas Vou-me Embora pra Pasárgada e Pneumotórax. Em Evocação de um Poeta, às 10h do dia 3, Angélica Freitas, Eucanaã Ferraz e Heitor Ferraz tratam da atualidade da obra bandeiriana. Às 16h15h do dia 5, em Antologia Pessoal, Edson Nery da Fonseca e Zuenir Ventura fazem uma exposição baseada em "memórias afetivas" sobre o escritor pernambucano. Nery da Fonseca, amigo de Bandeira, com quem trocou correspondência, lembra sua convivência com ele em Pernambuco e no Rio. Zuenir foi aluno de Bandeira no Colégio D. Pedro II, no Rio.



Em 2009 se comemoram os 200 anos de nascimento de Charles Darwin e os 150 anos do seu livro mais influente, A Origem das Espécies. O biólogo inglês Richard Dawkins foi convidado a falar de evolucionismo e ateísmo às 19h do dia 2. Ele é autor, entre outros, de O Gene Egoísta e Deus, Um Delírio, ambos da Companhia das Letras.



Uma das mesas mais procuradas deve ser a que Chico Buarque, autor de Leite Derramado (Companhia das Letras), divide (às 19h do dia 3) com Milton Hatoum, autor de A Cidade Ilhada (Companhia das Letras). Os dois, que empregam memórias pessoais no processo ficcional, vão debater, entre outras coisas, os dilemas brasileiros.



Outro dos destaques é a presença do português António Lobo Antunes, autor de Os Cus de Judas e Eu Hei-de Amar Uma Pedra, ambos da Alfaguara. Avesso a entrevistas e viagens - ele não visitava o País desde o começo dos anos 1980 -, Lobo Antunes havia anunciado que em breve pararia de escrever. Mas, antes que isso ocorra, ele falará com o público, às 19 h do dia 4, sobre sua vida e obra.



Na mesa Fama e Anonimato, o jornalista norte-americano Gay Talese conversa com o brasileiro Mario Sergio Conti sobre o futuro da profissão. Talese é um dos expoentes do novo jornalismo e autor de reportagens antológicas, como Frank Sinatra Está Resfriado. Vida de Escritor (Companhia das Letras) é sua última obra lançada no Brasil.



Outro norte-americano que marca presença é Alex Ross. Crítico musical da New Yorker, Ross é autor de O Resto É Ruído (Companhia das Letras), que se transformou em uma das obras fundamentais para entender a música erudita no século 20. Ele fala ao público às 10h do dia 4.



O historiador inglês Simon Schama conversa, às 14h30 do dia 5, com a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz sobre os EUA a partir de temas como guerra, religião, economia e imigração. Autor de O Futuro da América (Companhia das Letras), em sua abordagem Schama reflete, entre outras coisas, sobre personagens e momentos essenciais da história dos Estados Unidos.



Ao lado dos EUA, o país que ganha destaque é a China. Em Pequim em Coma (sem tradução), Ma Jian toca em assunto delicado: o massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido há quase 20 anos. E a jornalista Xinran apresenta, em Testemunhas da China (sem tradução), depoimentos dos sobreviventes da Revolução Cultural (1966-1976), que matou milhares de chineses. Ambos falam às 17 h do dia 2.



Uma das novidades desta edição é a mesa Novos Traços, dedicada às histórias em quadrinhos. Prevista para as 10 h do dia 2, ela conta com a participação de Rafael Coutinho, Fábio Moon, Gabriel Bá e Rafael Grampá, quadrinistas premiados que mantêm relações com a literatura.



O amor e a dor do rompimento são o tema de dois debates - Separações (às 11h45 do dia 2) e Entre Quatro Paredes (às 11h45 do dia 4). No primeiro, o escritor Rodrigo Lacerda e o cineasta Domingos Oliveira discutem os relacionamentos em crise.



No segundo, a artista plástica Sophie Calle fala da Prenez Soin de Vous, exposição francesa na Bienal de Veneza (2007) sobre a reação de 107 mulheres à carta em que seu companheiro, Grégoire Bouillier, rompeu o namoro. O detalhe é que Bouillier, autor do livro L’Invité Mystère, estará lá. É a primeira vez que aparecem juntos depois da separação e aproveitam o ensejo para discutir os complicados limites entre público e privado, entre experiência pessoal e ficcional.



A irlandesa Anne Enright, o mexicano Mario Bellatin, a francesa Catherine Millet e o franco-afegão Atiq Rahimi são os outros destaques. Para mais informações acesse o site do evento.

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