domingo, 16 de agosto de 2009

Moacyr Scliar reúne crônicas ficcionais em coletânea


da Folha de S.Paulo

Crônicas ou contos? A dúvida perseguiu por algum tempo o escritor Moacyr Scliar, 72, mas nunca o incomodou muito. Ele afinal resolveu eliminar qualquer incerteza e definiu com clareza o gênero que pratica há 16 anos no caderno Cotidiano, da Folha: trata-se de crônicas ficcionais.

"Não são contos no sentido comum, nem crônicas. São ficções desencadeadas por notícias do cotidiano", diz. Uma seleção de 54 textos desse gênero agora é reunida em "Histórias que os Jornais Não Contam" (Agir), que está chegando às livrarias. São artigos publicados entre 2004 e 2009.

Suas colunas semanais são publicadas desde 1993 e "não falharam nenhuma vez", salienta. No início, o escritor, que é membro da Academia Brasileira de Letras, selecionava os temas a partir de casos policiais.

Depois, pediu para ampliar as referências a outras áreas. Mais tarde, incorporou as notícias veiculadas também na Folha Online, um terreno fértil para os assuntos curiosos e inusitados que abastecem seus artigos.

Por exemplo: "Pesquisadores da Universidade da Califórnia tornaram possível a invisibilidade". História: depois de resistir ao papel de cobaia, um servente baixinho e humilde de um laboratório de pesquisa, apelidado de Anãozinho, se vinga dos colegas roubando a fórmula da invisibilidade e partindo para as melhores aventuras ao usufruir a invenção.

Os motes são os mais diversos. Um japonês faz campanha para que seja legalizado o casamento com personagens de desenho animado. Nos EUA, virou moda dar festas quando os casais se separam. Cientistas da Nova Zelândia e do Japão criaram uma cebola "antilágrimas". Um rapaz tentou vender sua alma em um site de leilões na China. Um britânico descobriu que sua namorada tinha um amante graças às indiscrições de seu papagaio.

Processo de criação

Scliar diz que o processo de criação das crônicas é exatamente o mesmo que utiliza para seus romances ou contos. "É frequente eu começar a escrever sem esperança. Então, no processo de elaboração, acaba surgindo uma história."


Ele lembra que as notícias de jornal são matéria-prima de vários autores. Um dos mais notórios é Dalton Trevisan, que coleciona recortes para transformar em contos. "Atrás de cada notícia existe uma história esperando para se contada", afirma Scliar.

Ele diz que se surpreende especialmente com a forma como seus textos são utilizados nas escolas. "Existe esse aspecto educacional. Acabei de ser abordado por um professor no Piauí. Disse que pedia a seus alunos que fizessem as próprias versões baseadas nas notícias que eu utilizava para minhas histórias."

Produzir com tamanha regularidade não é problema para Scliar, que não gosta de ser chamado de prolífico. Este é o 88º livro da sua carreira.

HISTÓRIAS QUE OS JORNAIS NÃO CONTAM
Autor: Moacyr Scliar
Editora: Agir
Quanto: R$ 34,90 (184 págs.)

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