segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Ruy Castro lança 'O Leitor Apaixonado'


*O Tempo

Antes dos 5 anos de idade, Ruy Castro já sabia ler e escrever graças à paixão dos pais por jornais e revistas. A precoce convivência com as letras tornou-o um apaixonado pela literatura, arte que inspirou diversos textos que escreveu quando já atuava como jornalista. Trabalhos que trazem sua marca: linguagem leve e um conteúdo profundo. É o que se observa em "O Leitor Apaixonado" (Companhia das Letras, 368 páginas, R$ 49,50), livro que será lançado por ele amanhã, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.

Trata-se de uma coletânea de 45 artigos escritos originalmente para a imprensa e selecionados por Heloisa Seixas, uma convidativa viagem pela arte de autores tão distintos como Nelson Rodrigues, Dorothy Parker, Nathanael West, Gertrude Stein, Millôr Fernandes e Paulo Francis. Sobre o lançamento, Ruy deu a seguinte entrevista.

Até que ponto seus autores favoritos inspiraram sua escrita? Todo mundo que começa a escrever muito cedo é influenciado pelos autores que admira e, pelo menos por algum tempo, torna-se um miniclone deles. Nesse sentido, tive fases em que produzia cópias quase legítimas de Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Millôr Fernandes, Cony e outros, para não falar em norte-americanos como Robert Benchley e ingleses como P. G. Woodhouse. Falo sobre isso num dos textos de "O Leitor Apaixonado" - de como Paulo Francis, na revista "Diners", em 1968, resolveu um impasse em que me encontrava: eu assinava os artigos "sérios" com meu nome e os de humor com pseudônimo. Francis achava que os artigos de humor é que mereciam a assinatura. Com o tempo, o humor e a pretensa seriedade se fundiram, e quero crer que, desde 1970 ou 1971, eu já tenha cristalizado uma certa forma pessoal de escrever.

Os escritores são hoje personagens importantes na mitologia desenhada pela cultura de massas? Importantes, sim, embora não necessariamente populares. Quando se trata de uma efeméride - por exemplo, 50 anos disso ou 200 anos daquilo -, podem fazer festivais de cinema, música, teatro ou o que for sobre o assunto. Mas o que ficará dele e balizará todo o pensamento a respeito será um livro. Como diz o Millôr, ‘Uma imagem vale por mil palavras, não? Pois tente dizer isto sem as palavras’.

Até hoje, ainda nos fascinamos com escritores de imagem borrada, obscura, como Kafka. Por que? Normalmente, tendemos a ver no escritor um reflexo ambulante de sua obra. Mas isso nem sempre corresponde à verdade. Lúcio Cardoso, cujos livros eram um ensimesmamento só, era um homem gregário, festeiro e imprevisível. F. Scott Fitzgerald, que fazia as coisas mais irresponsáveis na vida real, era seriíssimo quando escrevia. E quem garante que a imagem, como você disse, borrada e obscura do Kafka o refletisse na realidade? Pelo que sei, Kafka era um brincalhão frequentava colônias nudistas e não tinha nada de tímido. Mas, de fato, os escritores parecem bichos estranhos para quem está de fora.

É um aliado da literatura, o mal? Espero que sim. Para contrabalançar, nem que seja um pouco, tudo que a literatura faz pelo bem.

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