MARCOS STRECKER
da Folha de S.Paulo
Já faz algum tempo que a nova literatura britânica aprendeu a beber na fonte multiculturalista. O choque pós-colonial e a crise entre imigrantes têm fertilizado a prosa inglesa e produzido nomes como Zadie Smith e Hanif Kureishi, para citar só dois entre os mais famosos do universo pop.
Nos EUA, o fenômeno é mais recente, mas já tem pelo menos um nome de peso: Junot Díaz. Esse dominicano-americano já era apontado como uma grande promessa desde 1996, quando chegou às livrarias a coletânea de contos "Afogado" (lançado pela Record, com tradução de Renato Aguiar).
Em 2007, com seu primeiro romance, "A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao", que chega agora ao Brasil, veio a consagração. A obra consumiu mais de dez anos do perfeccionista Díaz, mas o esforço compensou. Valeu o Pulitzer de ficção de 2008 e um elogio rasgado do sóbrio "New York Times".
Díaz ganhou a fama de quem quebrou barreiras no mundo anglófono. Foi considerado o grande representante do "spanglish", a mistura de inglês e espanhol que migrou das ruas para a literatura. Mas o autor rejeita rótulos. Também não se identifica com sua geração.
"Nunca li nada de Jonathan Safran Foer. Me sinto mais em comunhão com Patrick Chamoiseau [francês de origem martinicana] do que com Dave Eggers", disse à Folha.
O autor se projetou nos EUA pré-Obama, em que a ascensão da comunidade latina assustava o establishment "wasp" (branco, anglo-saxônico e protestante). Na América em lua de mel com Obama, chegou o momento dos latinos?
"Eu sou a pessoa errada para falar se a literatura latina é mais aceita. Sou um vencedor. Os que não conseguem publicar é que devem responder. Olhando à minha volta, vejo uma quantidade enorme de latinos que não são publicados."
Para o autor, é difícil dizer se a eleição de um afrodescendente vai mudar a aceitação dos imigrantes. "Há mudanças maravilhosas em curso, mas o racismo ainda é enorme, assim como o preconceito."
Junot [o nome vem do francês] é uma espécie de Spike Lee da literatura, mas alia a atitude política ao humor. "Oscar Wao" pode ser lido como uma epopeia picaresca da diáspora dominicana sob a ditadura Rafael Trujillo, narrada por um anti-herói, em tom de farsa.
Além de divertido, o texto de Díaz é fluente. É uma mistura de gêneros, que começa com epígrafe do "Quarteto Fantástico", do Stan Lee, lembra uma paródia moderna de Rabelais e acaba em tragédia.
Professor associado de escrita criativa no MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), Díaz afirma que a forma híbrida "existia desde o início". Para ele, a ideia de um romance "enciclopédico" tem a ver com o Caribe, "que abriga todo o mundo". O autor diz que procurou fazer "um espelho" do lugar de onde veio. "Foi uma decisão estética e formal."
O livro pode ganhar as telas. Uma das possibilidades é a direção de Walter Salles com roteiro de Jose Rivera, o que reeditaria a dupla de "Diários de Motocicleta". Mas é apenas uma possibilidade, dizem o cineasta e o escritor.
sábado, 18 de julho de 2009
Escritor Junot Díaz une pop e letras em "spanglish"
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