segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Persépolis" ganha nova versão na internet: Quadrinhos denunciam repressão no irã.


da Folha de S.Paulo

Depois de divulgar para o mundo os relatos de milhares de jovens sobre o sangrento processo de eleição no Irã, a internet continua sendo uma aliada para os críticos do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Agora, uma história em quadrinhos ganha destaque na rede.

"Persépolis 2.0", disponível no site www.spreadpersepolis.com, é uma colagem de trechos do livro "Persépolis", autobiografia em quadrinhos da iraniana Marjane Satrapi, com novos diálogos. Nesta versão, os desenhos em preto e branco, com os traços da autora, recriam os dias de fúria no Irã após as eleições de 12 de junho.

Composta em três partes, a HQ foi criada por dois jovens, filhos de iranianos, que fotografaram trechos do livro, escreveram e colaram novos diálogos usando os programas Photoshop e Illustrator.

A dupla quis aproveitar o apelo pop da autora a fim de chamar a atenção para a situação do Irã. "Essa eleição deixou clara a militarização da política iraniana. Se foi 'roubada' ou não, não podemos dizer, mas a repressão violenta só serviu como combustível para a oposição", diz Sina, coautor da história (com Payman), em entrevista à Folha, por e-mail.

Os dois são gerentes de marketing de 20 e poucos anos, vivem na Ásia, mas não querem divulgar onde moram nem o sobrenome ou a idade exata, com medo de represálias.

Simpatizante do líder oposicionista derrotado Mir Hossein Mousavi, Sina conta que essa foi sua primeira incursão na política e que nunca havia se interessado por militância. Mas, com a repercussão de "Persépolis 2.0", a dupla já começa a planejar novas ações.

"Somos cínicos em relação a protestos em frente à embaixada, então resolvemos aproveitar a nossa experiência multicultural para ajudar nossos amigos a entender o que se passa no Irã", afirma Sina.

A história de "Persépolis 2.0" vai de 12 a 21 de junho e mostra a euforia popular em torno da possibilidade de vitória de Mousavi, a revolta da população com o resultado oficial --que proclamou Ahmadinejad vencedor--, os levantes sociais e o uso da internet para denunciar a repressão violenta.

O quadrinho termina com a jovem Neda Agha-Soltan --que foi morta nos embates com a polícia e virou símbolo dos levantes-- nos braços de Deus, com a mensagem: "Sua morte não foi em vão".

Ao lado, um aviso: "Espalhem a mensagem. Twitter, Facebook, e-mail". O apelo deu resultados. A HQ tem comunidade no Facebook, é comentada no Twitter e no Flickr e ganhou projeção em blogs e jornais internacionais. Sina diz que o site já foi visto por internautas de 170 países.

Revolução Islâmica

Sucesso internacional, o livro de Satrapi que inspirou a nova HQ foi adaptado para os cinemas em 2007 e indicado ao Oscar de animação. Narra a infância e a adolescência da autora no Irã pós-Revolução Islâmica, 30 anos atrás. "É impressionante que as imagens de 1979 retratem tão bem os eventos de 2009", compara Sina.

Os levantes no mês passado em Teerã são considerados os mais violentos desde a revolução que transformou o país em república islâmica, em 1979.

Avessa à mídia, Satrapi não respondeu o e-mail enviado pela Folha no começo da semana. Sina diz que "Persépolis 2.0" tem o consentimento da autora, mas não dá detalhes sobre o possível envolvimento da moça no projeto. "É um assunto delicado, mas pode dizer que nós temos permissão legal."

SITE OFICIAL
DOWNLIAD DA HQ

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