sábado, 4 de julho de 2009

Flip 2009: James Salter, um substituto de luxo


Se alguém veio à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) mais interessado em descobrir novos autores, menos em reverenciar as estrelas, talvez o principal nome a ser observado seja o do americano James Salter. Bem, é melhor corrigir: ele não chega a ser exatamente um escritor a quem se pode chamar de “novo”. Com 84 anos, 50 deles vivendo de literatura, Salter é um consagrado autor nos EUA, que, porém, é quase um desconhecido no Brasil — seu mais recente livro lançado aqui é a coletânea de contos “Última noite”, publicado em 2008 pela Companhia das Letras. Além disso, o autor, escalado para a mesa “Segredos de família” ao lado da escritora irlandesa Anne Enright, hoje, às 15h, acabou sendo convidado para a Flip há apenas um mês, depois que o também americano Tobias Wolff anunciou que não poderia viajar por problemas de saúde.

Nos EUA, Salter é eventualmente chamado de “escritor para escritores”, um apelido que permite duas interpretações. A primeira, que lhe agrada, é de que sua prosa refinada, de frases simples e diretas, caiu no gosto da categoria que melhor entende sobre o ofício da literatura. Já a segunda...

— O problema é que o termo também quer dizer que apenas os escritores o leem, que você não tem leitores comuns. Mas eu não acho que isso seja verdade — explica ele, em Paraty, em sua primeira vinda ao Brasil. — Você escreve para ser lido, não para ser admirado por um grupo pequeno. Você escreve da melhor forma que você pode sobre o que você pode contar e quer ser reconhecido por isso.

Antes de decidir se tornar escritor e lançar seu primeiro romance, “The hunters”, em 1957, Salter foi piloto de caças da Força Aérea Americana por 12 anos, chegando a lutar na Guerra da Coreia. A experiência militar está presente no livro de estreia, adaptado para o cinema em 1958 por Dick Powell e batizado no Brasil de “Raposa do espaço”, no qual Robert Mitchum vive um piloto originado em relatos autobiográficos de Salter.

Hoje, porém, as histórias que Salter gosta de contar são mais pacatas e tratam das angústias, frustrações e esperanças da classe média americana. Agora, ele trabalha num novo romance, em que o protagonista será um editor de livros. Durante este processo de criação, evita ler outros autores para não se influenciar. Diz escrever devagar. E revela uma característica de seus textos: a busca pelo próprio autor em cada história.

— Alguém disse uma vez que você pode contar todas as histórias que quiser contar, mas não consegue escrever somente sobre o que quer contar. Você só consegue escrever sobre o que você é. Eu não faço histórias do nada, sempre faço histórias sobre coisas que conheço.

Influenciado pelo modernismo, Salter diz não ser daqueles que esperam a última novidade da literatura. Romances pós-modernos, por exemplo, não lhe interessam. Escritores com menos de 30 anos, também não — “É preciso esperar que eles amadureçam um pouco”, diz. Blogs, muito menos. O autor passa no máximo meia hora por dia na internet. Suas leituras favoritas são poemas ou obras de autores como a francesa Marguerite Duras e a americana Joan Didion.

— Don DeLillo escreveu que o futuro pertence às multidões. Vivemos esse futuro — diz Salter que, na Flip, certamente trará novidades aos brasileiros.

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