quinta-feira, 9 de julho de 2009

Acordo ortográfico teve 'falsos argumentos', diz Mia Couto

Maputo, 8 jul (Lusa) - O escritor moçambicano Mia Couto disse nesta quarta-feira que foram usados "falsos" argumentos para introdução do novo acordo ortográfico, principalmente para a literatura, e afirmou sentir-se "ambíguo" em relação às novas regras.

"Tenho posição ambígua porque acho que houve quem estudou o assunto e sabe mais que eu. Houve linguistas que estiveram anos trabalhando sobre isso", disse a jornalistas, em relação à nova grafia do português na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Provavelmente, há algumas áreas em que nós saímos todos beneficiados, como por exemplo, na área do livro escolar, da aprendizagem da língua. O fato de os manuais angolanos, moçambicanos e cabo-verdianos poderem ser feitos no Brasil ou Portugal, indiferentemente. Isso, se calhar, essas são questões práticas que pesam", afirmou.

Mia Couto, autor de "O Gato e o Escuro", que narra uma aventura de um gatinho amarelo que se delicia em contrariar os conselhos da mãe, foi recentemente premiada no Brasil, falou à imprensa sobre a premiação.

No Brasil, o escritor apresentou também o seu mais recente romance "Jesusalém", com título alterado para "Antes do Nascer do Mundo".

O livro conta a história de Silvestre Vitalício, um homem que, abalado pela morte da mulher, Dordalma, se afasta do mundo, com os dois filhos, Mwanito e Ntunzi, e um velho criado ex-militar, refugiando-se num lugar remoto, a que dá o nome de Jesusalém e onde aguarda a chegada de Deus, para pedir desculpa aos homens.

Acordo

Questionado pela Lusa sobre como encara o novo acordo ortográfico, Mia Couto afirmou que vai se ajustar à convenção, até porque não é "um militante contra o acordo", embora se distancie da "falsificação das razões" apresentadas para introdução do pacto.

"Do ponto de vista literário, não acho necessário, acho dispensável, terei dificuldades em escrever da maneira nova e acho que grande parte dos argumentos que foram feitos a favor do acordo são argumentos falsos", disse o escritor moçambicano.

"Muitas vezes se argumenta que este acordo é necessário porque os nossos países (CPLP) viviam distantes e agora a nova ortografia comum vai aproximar-nos. Acho que isto é uma mentira", afirmou Mia Couto, que também é biólogo.

Para o escritor, a distância entre os países se deve ao fato de existirem "razões de diferentes políticas, da falta de vontade de criar uma proximidade e apostas geoestratégicas diferentes".

"O Brasil tem aquele universo da América Latina, tem a sua posição no mundo, Portugal tem outra, os africanos têm outra, estas são as grandes razões (..), mas vou ter que me ajustar" às novas regras da língua portuguesa, disse.

Moçambique ainda não aderiu ao novo acordo ortográfico da língua portuguesa.

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